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Observar, entregar, compartilhar, amar 

 

      Nos anos 70, além das palestras diárias, Osho recebia, em encontros mais íntimos, grupos de buscadores num pequeno auditório . Esses encontros, chamados darshans, aconteciam todas as noites e deles participavam as pessoas que queriam ser iniciadas no sânias, as pessoas que estavam chegando ou partindo, e, num esquema rotativo, grupos de saniássins (discípulos) que trabalhavam na comuna. Nesses darshans, Osho respondia perguntas e dava toques para questões do dia-a-dia. Esses encontros foram gravados e depois publicados em vários volumes, integrando uma série chamada "Diários de Darshan".
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      Let Go! é o título de um Diário de Darshans ocorridos em abril de 1978, em Puna-Índia. Os textos abaixo foram extraídos dos comentários do Osho nos primeiros dias daquele mês. Let Go! É uma expressão que nos dicionários está traduzida como deixar ir, permitir, largar, deixar fluir. Osho usou muito essa expressão trazendo para ela a idéia de relaxar, de se entregar.

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Dia 1°  --  A arte de observar

      “... A mão está se movendo e você está observando – não apenas pelo lado de fora, mas também pelo lado de dentro. Você está separado, a testemunha está separada. Ela está não-identificada com qualquer coisa que conheçamos. Ela é idêntica apenas com Deus, mas nós nada sabemos a respeito de Deus. Essa testemunha é Deus.
      Quando você se torna uma perfeita testemunha, você é um deus, não é mais um ser humano. É por isso que chamamos Buda de deus, Krishna de deus, é por essa razão – não porque eles tenham criado o mundo, mas porque naquele momento de observação, naquele estado de alerta, eles não estão mais identificados com o corpo, com a mente; eles não estão mais identificados de maneira alguma. A mente está separada, o corpo está separado, o mundo está separado, e ali está apenas o observador. 
      Isso dá uma paz tão grande – apenas a idéia de alguém ser um observador. Alguém lhe bate no rosto. Se você é apenas um observador, então nada afeta você. É como se tivessem batido em outro alguém; você foi apenas uma testemunha ocular, e isso é tudo. Aquilo não é um problema seu. Pode-se até mesmo rir de todo o ridículo daquilo, pode-se até curtir aquilo. Alguém o insulta e você pode observar. Existem milhões de oportunidades na vida nas quais, se você observar, os problemas não surgem. Os problemas surgem quando você se torna identificado com o corpo ou com a mente. Então você fica perturbado, se desvia. 
      É exatamente isso, precisamente isso: pense apenas que esse observador está sentado no topo da montanha, lá longe, distante, apenas olhando para o vale lá em baixo. Enquanto as outras pessoas estão se movimentando, você também está. Pouco a pouco, será capaz de pairar sobre o seu corpo, e poderá ver que o corpo está fazendo coisas. E o corpo será capaz de fazer as coisas com mais perfeição, porque não haverá distração: haverá um certo silêncio, muita paz, interioridade.”

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Dia 2  --  A arte da entrega

      “... A mente está sempre em conflito com uma coisa ou outra; ela precisa de conflito para existir. Ela só consegue existir no conflito e através do conflito. Ela é uma guerra constante, ela é violência. Ou ela briga com os outros ou começa a brigar consigo mesma, mas uma coisa é certa, ela não consegue existir sem briga. Isso é a sua própria respiração.
      No momento em que você pára de brigar, a mente começa a desaparecer naturalmente, e o desaparecimento da mente é o aparecimento de Deus. O desaparecimento da mente é o desaparecimento de você enquanto entidade separada do todo. Então o todo toma posse de você, você fica inundado pelo todo. E essa experiência de estar inundado pelo todo é a busca. Chame isso de satori, samadhi, iluminação, realização, libertação, salvação – estas são somente palavras, elas apenas descrevem aspectos da experiência. Na verdade, nenhuma palavra consegue descrever a experiência, ela está além das palavras! Ela é um sabor, um gosto.
      Nós podemos nomear um sabor, mas não conseguimos descrevê-lo. Por exemplo, baunilha: você pode nomear, mas não consegue descrever. É uma experiência e o nome é apenas um indicador. O mesmo acontece com o samadhi, com iluminação, Deus; esses são apenas nomes dados para alguma experiência tremenda – a experiência em que o experienciador não está mais ali. É por isso que ela é 

tremenda, porque ela não está confinada por qualquer limitação. Não existe observador algum nela, nenhum conhecedor nela. Ela é puro conhecer, é total experiência; o próprio experienciador se dissolveu nela. 
      E o caminho para isso é a entrega. Pare de brigar. E para parar de brigar, apenas uma compreensão é necessária, porque isso cria miséria, nunca traz felicidade. Por isso, parar não é um problema. O único problema é compreender como nós estamos criando a nossa própria miséria. O ego é um auto-criador de inferno. A mente é nossa própria criação e ela é um pesadelo, um constante pesadelo em andamento.
      Quando a mente não está mais ali, pela primeira vez se percebe o quanto a vida é bela, quanta bênção. Daí começa a celebração. Aprenda a estar no estado de deixar as coisas acontecerem.”

 

Dia 6 – A Arte de compartilhar

      “... Existem muitas coisas que você só aprenderá, se ensinar às pessoas, muitas coisas que você só irá obter se compartilhar com as pessoas. A não ser que você compartilhe, as suas alegrias tendem a morrer. Um constante compartilhar é necessário para mantê-las fluindo e cheias de vida.
      Assim, sempre que você experienciar alguma coisa extraordinária, compartilhe isso imediatamente. Compartilhe com seus amigos, seus conhecidos, sua família, compartilhe com todos aqueles que você ama e cuida. E você ficará surpreso: se você compartilhar, aquilo cresce. Compartilhar é alimentar, é cuidar. Quanto mais fragrância for liberada, mais capaz de liberar você se torna. Assim, nunca acumule internamente qualquer experiência, senão ela ficará envelhecida. Ela não apenas morre, ela se torna venenosa para o sistema. Quando uma canção surge no coração, ela tem que ser cantada e quando a energia está pronta para dançar, você tem que dançar. 
      E nunca se sinta tímido. No começo parecerá um pouco embaraçoso, parecerá um pouco pretensioso dizer algo fora do comum. Eles pensarão que você está maluco. Corra esse risco: deixe que eles pensem que você está maluco! Se você conversar com dez pessoas é provável que uma responda. E isto é mais do que suficiente. Nove não ouvirão você; isso é problema deles, não se sinta ofendido. Mas mesmo se eles não o ouvirem, você será beneficiado porque você compartilhou, porque você mostrou a sua compaixão. A palavra compaixão significa exatamente isso: compartilhar – compartilhar a sua paixão. Esse é o significado de compaixão: comunicar a sua paixão, comungar a sua paixão. (...)
      De dez, é provável que uma responda imediatamente e aquela resposta ajudará você tremendamente. Ela lhe dará mais confiança, ela lhe dará uma profunda certeza de que você está no caminho certo e um sentimento de grande realização por você ter sido de alguma ajuda para alguém.”

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Dia 6  -  A Arte do amor

      “... Noventa e nove por cento do que as pessoas chamam de amor, nada mais é que necessidade. E não se perturbe muito com isso. A condição da mente da humanidade é tal que esse é o estado natural. Porque você necessita, naturalmente se torna dependente. E assim, todo amor cria escravidão e um círculo vicioso: a pessoa não quer estar numa escravidão, ela não quer ser dependente – isso fere o ego – daí ela se afasta. Mas quando ela se afasta, as suas necessidades não são atendidas, daí ela se sente faminta e volta novamente. Isso se torna um movimento constante: aproximando-se e indo embora. É assim que o pêndulo da mente fica se movendo. E não existe maneira alguma de decidir, porque quando você está fora, começa a sentir a necessidade. O amor é alimento!
      O seu corpo necessita dele, a sua mente necessita dele, o seu ser necessita dele. Sem amor você se sentirá jogado fora, num mundo frio. Ninguém para abraçar, ninguém para lhe dar calor. Você se sentirá como uma criança perdida. Assim, você fica amedrontado quando está só. Então você começa a se mover em direção à pessoa que ama. Você esquece tudo sobre dependência e tudo sobre escravidão. Mantenha os amantes separados e eles começarão a sentir um amor muito grande um pelo outro; coloque-os juntos e dentro de poucos dias eles odiarão um ao outro. E esse relacionamento de ódio-amor continua, é um círculo vicioso: o ódio leva-o para longe; quando você está longe o amor surge. O amor traz você para perto; quando você está perto, você se sente dependente, surge a escravidão e você fica se sentindo enjaulado, aprisionado. O movimento para se afastar da pessoa começa de novo. 
      Mas este é o estado natural de uma mente inconsciente, assim não anseie por algo melhor do que isto. Neste momento nada melhor é possível. Se você quiser alguma coisa melhor você terá que mudar o seu estado de mente, não o seu relacionamento. Compreende...? Você está tentando mudar o relacionamento – isso não é possível. Com essa mente, somente é possível isso que está acontecendo. Você tem que aceitar isso e curtir. Curta isso o máximo e o melhor que puder, mas mudar isso você não pode. Se você quiser mudar isso, não será mudando diretamente; você terá que mudar a sua mente, você terá que mudar a sua consciência. Você terá que se tornar mais meditativo, você terá que se tornar mais consciente, somente isso poderá trazer alguma mudança em seu amor.Somente quando a mente se tornar maior, chegar ao mais alto nível de consciência, o amor se tornará mais elevado. Com um certo tipo de mente, um certo de amor existe; você não pode mudar o amor. O amor é dependente do estado da mente.”

                                    OSHO – Let Go! - A Darshan Diary
                                   
Tradução: Sw. Bodhi Champak  

 

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