O
Caminho da Auto-Realização
Este
discurso é um marco na obra do Osho, pois foi quando ele
pela primeira vez teve suas palavras gravadas e depois
publicadas. Este discurso tornou-se o primeiro capítulo do
primeiro livro publicado do Osho. Trata-se da palestra
introdutória ao Campo de Meditação de Ranakpur que ele
conduziu em junho de 1964. O livro, originalmente publicado
em hindi com o título Path to Self-Realization,
foi recentemente traduzido para o inglês como título The
Perfect Way (O Caminho Perfeito).
"Almas conscientes,
Antes de tudo, por favor, aceitem o meu amor. Essa é a única
coisa com a qual eu posso dar-lhes as boas vindas ao
isolamento e reclusão destas montanhas. Na verdade, eu nada
mais tenho a dar a vocês. Eu quero compartilhar com vocês
o infinito amor que a proximidade com o divino criou em mim.
Eu quero distribuí-lo. E a maravilha disso é que quanto
mais eu compartilho esse amor, mais ele cresce! Talvez a
verdadeira riqueza seja aquela que aumenta com a distribuição.
A riqueza que diminui quando é compartilhada, não é
verdadeira riqueza, de modo algum.Vocês então aceitam o
meu amor?
Eu
vejo aceitação em seus olhos e eu vejo também que seus
olhos se tornaram repletos de amor em reciprocidade. Amor
invoca amor e ódio invoca ódio. Tudo aquilo que nós damos
retorna para nós. Essa é uma lei eterna. Assim, tudo
aquilo que você deseja receber, é aquilo que você deve
dar ao mundo. Você não pode receber flores em retribuição
a espinhos.
Eu
vejo flores de amor e paz desabrochando em seus olhos. Eu
estou em profunda gratidão por isso, agora, nós não
somos muitos aqui: o amor nos junta e faz com que muitos se
tornem um. Corpos físicos estão separados e continuarão
separados, mas existe alguma coisa por trás dos corpos que
se encontra no amor, que se torna um através do amor. Só
depois dessa unidade, de nos tornarmos um, é que alguma
coisa pode ser dita e compreendida. A comunicação só é
possível no amor.
Nós
nos reunimos nesse lugar isolado para que eu possa dizer
algo a vocês e vocês possam me ouvir. Esse dizer e esse
ouvir não são possíveis sem uma corrente de amor. As
portas do coração somente se abrem para o amor. E
lembre-se de que somente quando alguém ouve com o coração,
e não com a cabeça, é que o ouvir acontece. Você pode me
perguntar, 'o coração também ouve?' e eu lhe direi que
sempre que o ouvir acontece, é sempre através do coração.
A cabeça nunca ouviu qualquer coisa. A cabeça é uma pedra
surda. E isso também é verdadeiro quanto ao falar. Somente
quando as palavras vêm do coração, elas são cheias de
significado. Somente quando as palavras vêm do coração,
elas têm a fragrância das flores frescas; se não for
assim, elas serão apenas envelhecidas e murchas, elas serão
artificiais - flores plásticas.
Eu
vou derramar o meu coração em vocês, e se os corações
de vocês permitirem-me entrar, haverá um encontro e uma
comunicação. E então, naquele momento de encontro, aquilo
que as palavras são incapazes de expressar, será
comunicado. Muitas coisas não ditas serão ouvidas dessa
maneira - aquilo que não pode ser colocado em palavras,
aquilo que fica entrelinhas, também será comunicado.
Palavras são indicações muito impotentes, mas se ouvidas
em paz total da mente e em silêncio, elas se tornam
potentes. Isso é o que eu chamo de ouvir com o coração.
Mas,
geralmente, mesmo quando ouvimos alguém, nós permanecemos
cheios de nossos próprios pensamentos. Esse é o 'falso
ouvir'. Então você não é um shravak, um ouvinte.
Você está apenas sob a ilusão de que você está ouvindo,
mas de fato você não está. Para 'ouvir corretamente', é
necessário que a mente esteja em estado de observação,
completamente silenciosa. Quando você está apenas ouvindo
e nada mais está fazendo, somente então você será capaz
de ouvir e compreender, e essa compreensão se tornará luz
e transformação dentro de você. Se assim não acontecer,
então você não está ouvindo a quem quer que seja, mas
apenas a si mesmo, você permanece cercado por um tumulto
enfurecido dentro de você. E quando você está envolvido
dessa maneira nada pode ser comunicado a você. Então você
parece estar vendo, mas não está; você parece estar
ouvindo, mas não está.
Cristo disse: 'aqueles que têm olhos para ver, que vejam.
Aqueles que têm ouvidos para ouvir, que ouçam.' Estava ele
dizendo que as pessoas não tinham olhos nem ouvidos? É
claro que elas tinham olhos e ouvidos, mas a mera presença
de olhos e ouvidos, não é suficiente para ver e ouvir.
Algo mais é necessário e sem isso a existência ou não
existência de olhos e ouvidos dá no mesmo. Aquele algo
mais é o silêncio interior e a consciência observadora.
Somente quando essas qualidades estão presentes é que as
portas da mente se abrem e algo pode ser dito e ouvido.
Eu
espero que vocês me ouçam dessa maneira durante o período
deste campo de meditação. Uma vez que vocês tenham
aprendido isso, isso se tornará sua companheira por toda a
vida. Isso será o suficiente para livrá-lo de preocupações
triviais.Você poderá se despertar para o grande universo
misterioso externo e você poderá experienciar a eterna e
infinita luz de consciência escondida por trás do tumulto
de sua mente.
Ver
corretamente e ouvir corretamente não são meras
necessidades para este campo de meditação, são, na
verdade, os pilares para todo um viver corretamente. Da
mesma maneira que tudo é claramente refletido através de
um lago totalmente calmo, sem ondas, também é verdade que
o divino será refletido em você quando você se tornar
calmo e quieto como o lago. Eu estou vendo um grande silêncio
crescendo em vocês. Os seus olhos - a sede pela vida que eu
vejo em vocês - estão me convidando a dizer aquilo que eu
quero dizer. Eles estão me apressando a revelar as verdades
que eu tenho visto e que mexeram com minha alma, porque os
seus corações estão ansiosos e impacientes por compreendê-las.Vendo
o quanto vocês estão desejosos e prontos, meu coração
está também pronto para se derramar em vocês. Nessa paz
que nos circunda, com o estado cheio de paz de suas mentes,
eu certamente serei capaz de dizer o que quero dizer para
todos vocês. Se eu tivesse encontrado ouvidos surdos diante
de mim, eu iria me segurar. A luz não permanece do lado de
fora quando ela encontra as portas de sua casa fechadas? Da
mesma forma eu fico parado do lado de fora de muitas casas.
Mas é um bom sinal as suas portas estarem abertas. É um
bom começo.
Amanhã
de manhã começaremos a nossa jornada de experimento de
meditação por cinco dias. Como suporte para isso, eu
gostaria de dizer algumas poucas coisas para vocês. Para a
meditação, para a percepção da verdade, o solo de suas
mentes tem que estar preparado da mesma maneira que uma
pessoa precisa preparar o solo para cultivar flores. Assim
eu gostaria que vocês compreendessem alguns sutras, alguns
pontos chaves.
O
primeiro sutra é: viva no presente. Durante os dias
do Campo não se deixem levar pelo fluxo mecânico de seus
pensamentos a respeito do passado e do futuro. É por causa
disso que o momento vivo, o momento que realmente existe, é
desperdiçado e se perde desnecessariamente. Nem o
passado nem o futuro existem. Um é apenas a memória, o
outro é apenas imaginação. Somente o presente é o
momento vivo e verdadeiro. E se é para se conhecer a
verdade, ela só pode ser conhecida se estivermos no
presente.
Durante esses dias de meditação, mantenham-se
conscientemente livres do passado e do futuro. Aceite que
eles não existem. Somente o momento em suas mãos, o
momento em que você está, existe. Você tem que viver
nele, e vivê-lo totalmente.
Esta
noite durma tão profundo como se todo o seu passado tivesse
sido deixado de lado. Morra para o passado. E de manhã,
acorde como um novo homem numa nova manhã. Não deixe que
acorde aquele mesmo que foi para a cama. Deixe que aquele
tenha um bom sono. Deixe que no lugar dele acorde o
que está sempre novo e sempre revigorado.
Mantenha continuamente em sua lembrança por todo o tempo
esse viver no presente, e fique alerta para que aquele
pensamento mecânico a respeito do passado e do futuro nem
volte de novo. Para isso, é suficiente permanecer atento.
Se você permanecer atento, ele não vai se desencadear. A
consciência destrói o hábito.
O
segundo sutra é: viva naturalmente. Todo o
comportamento do homem é artificial e formal. Nós sempre
nos mantemos encobertos por um falso manto e por causa dessa
coberta nós gradualmente esquecemos nossa própria
realidade. Você tem que deixar cair essa pele falsa e jogá-la
fora. Nós nos reunimos aqui, não para encenar um drama,
mas para nos conhecermos, para compreendermos a nós mesmos.
Da mesma forma que os atores de uma peça removem seus
trajes e maquiagem e colocam-nos de lado após a apresentação,
nestes cinco dias, você tem que remover suas falsas máscaras
e jogá-las fora. Deixe que aquilo que é original e natural
em você venha à tona e viva nisso. A meditação somente
cresce numa vida simples e natural.
Durante esses dias de meditação, saiba que você não tem
que manter nenhuma posição, você não é especial, você
não tem qualquer status. Jogue fora todas essas máscaras.
Você é simplesmente você, um ser humano comum, sem nome,
sem status, sem classe, sem família, sem casta -
simplesmente uma pessoa sem nome, um indivíduo muito comum.
Você tem que viver desse jeito. E lembre-se que essa é
também a nossa verdadeira realidade.
O
terceiro sutra é: viva só. A vida de meditação
nasce em completa solidão, quando a pessoa está totalmente
só. Mas geralmente o homem nunca está só. Ele está
sempre cercado pelos outros. E quando ele não está no meio
da multidão externa, ele está em uma multidão interna.
Essa multidão tem que ser dispersada.
Não
permita que a multidão se reúna dentro de você. E quanto
ao lado de fora, viva por si próprio como se você
estivesse sozinho neste Campo. Você não tem que manter
relacionamentos com ninguém mais. No meio desses incontáveis
relacionamentos vocês se esqueceram de vocês mesmos. Todos
esses relacionamentos - nos quais vocês são amigos ou
inimigos de alguém, pai ou filho, esposa ou marido -
absorveram vocês de tal maneira que vocês são incapazes
de conhecer a si mesmos em suas próprias individualidades.
Alguma vez vocês já tentaram imaginar o que vocês são,
fora de todos esses seus relacionamentos? Alguma vez vocês
já se livraram das vestimentas desses relacionamentos e
viram a si mesmos sem elas? Distancie vocês mesmos de todos
esses relacionamentos e vejam que vocês não são filhos de
seus pais e mães, não são os maridos de suas esposas, nem
o pai de suas crianças, nem o amigo de seus amigos, nem o
inimigo de seus inimigos - e o que sobra é o seu verdadeiro
ser. Aquela entidade remanescente é o que você é em si
mesmo. Durante esses dias você tem que viver sozinho nesse
ser.
Seguindo esses sutras, a sua mente chegará a um estado, o
qual é uma necessidade absoluta para a compreensão da paz
e da verdade. Ao lado desses três sutras, eu quero explicar
a vocês os dois tipos de meditação que nós começaremos
a fazer a partir de amanhã de manhã.
A
primeira meditação é para a manhã. Durante essa meditação
você deverá manter sua coluna espinhal ereta, fechar os
seus olhos e manter o seu pescoço reto. Seus lábios devem
estar fechados e sua língua deve tocar o céu da boca.
Respire devagar, mas profundamente. Mantenha a sua atenção
próxima do umbigo. Mantenha-se alerta quanto ao tremor que
você sentir no umbigo devido à respiração. Isso é tudo
o que vocês têm que fazer. Esse experimento acalma a mente
e esvazia os pensamentos completamente. A partir desse vazio
a pessoa finalmente entra dentro de si mesma.
A
segunda meditação é para a noite. Estenda seu corpo no chão
confortavelmente e deixe todos os seus membros se relaxarem
completamente. Feche seus olhos e por cerca de dois minutos
sugira a você mesmo que o corpo está relaxando.
Gradualmente o corpo se tornará relaxado. Então, por dois
minutos sugira que sua respiração está se tornando quieta
e sua respiração se tornará quieta. Finalmente por outros
dois minutos, sugira que seus pensamentos estão parando.
Essa sugestão firme o levará a um completo relaxamento,
tranqüilidade e vazio. Quando a mente se tornar
completamente calma, esteja completamente acordado em seu
ser interior e seja uma testemunha dessa paz. Esse
testemunhar levará você ao seu ser.
Vocês
devem fazer essas duas meditações. Na verdade elas são
estratagemas artificiais e vocês não devem se agarrar a
elas. Com ajuda delas, a inquietação das mentes se
dissolve. E da mesma forma que não mais precisamos da
escada ao completarmos a subida, um dia nós também iremos
deixar esses estratagemas.
A
meditação atinge a perfeição no dia em que ela se torna
desnecessária. Esse estado é o verdadeiro samadhi,
iluminação.
Agora
a noite já está avançada e o céu está coberto de
estrelas. As árvores e os vales já foram dormir. Nós também
vamos dormir agora. Como tudo isso é quieto e silencioso! Nós
também vamos nos fundir nesse silêncio. Num sono profundo,
num sono sem sonhos, nós vamos para o lugar onde o divino
habita. Esse é o samadhi espontâneo, não-consciente que a
natureza deu para nós. Através da meditação, nós também
alcançamos esse mesmo espaço, mas com a meditação nós
permanecemos conscientes e alertas. Essa é a única diferença.
E essa é realmente uma grande diferença. Numa situação nós
vamos dormir e na outra nós nos tornaremos acordados.
Vamos
agora dormir com a esperança de que o despertar também se
tornará possível. Quando a esperança é acompanhada por
determinação e empenho, ela certamente se realiza. É possível
que a existência nos guie ao longo do caminho. Essa é a
minha única prece."
OSHO - The Perfect Way
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