OSHO CONEXÃO BRASIL                                 setembro de 2003


Notícias de Puna


Mensalmente, o boletim Osho Conexão Brasil apresenta aos seus leitores notícias diretamente de Puna, Índia. Esta coluna é de responsabilidade do Sw. Prasado, brasileiro, há alguns anos residente em Puna, na Osho Commune International, onde é o responsável pela tradução para o português do site oficial do Osho:   www.osho.com


                                

    Amor, Sexo, Relações e Relacionamentos 
na Comuna de Osho

 

          Sempre fomos ensinados a amar os outros: amar a Deus, amar a natureza, amar a humanidade, amar a esposa, amar os pais, amar os filhos. Não podíamos imaginar que isso não passava de um truque ardiloso arquitetado pelas religiões para nos manter espiritualmente débeis e fracos, para nos explorar. Parece absurdo, e é um absurdo! mas é o que acontece.
          O papa, os assim chamados santos, os políticos, os líderes religiosos, declaram que amam a humanidade. Afirmam que estão orando e trabalhando com amor pela paz e pela salvação do homem. De acordo com as religiões amar a si mesmo é ser egoísta.
         
Aqui na comuna de Osho em Puna aprendemos a amar a nós mesmos. Aprendemos a aceitar a nós mesmos como somos. Aprendemos que amando a nós mesmos o ego desaparece, evapora. Como fruto da meditação, aprendemos que só amando a nós mesmos temos algo para compartilhar com os outros.
         
Segue a tradução do trecho de um discurso de Osho sobre o assunto:

                                     Amar a si mesmo

          "Amor é a única religião, o único Deus, o único mistério que tem que ser vivido, entendido. Quando o amor é entendido, você entendeu todos os mistérios do mundo.
Não é algo difícil. É tão simples como as batidas do seu coração ou como sua respiração. Você nasce com ele, ele não é dado a você pela sociedade. O amor é o alimento da alma. Assim como a comida é para o corpo, o amor é para a alma. Sem comida o corpo enfraquece, sem amor a alma enfraquece. E nenhum estado, nenhuma igreja e nenhum interesse investido jamais quiseram que as pessoas tivessem almas fortes pois uma pessoa com energia espiritual está fadada a ser rebelde.
         
O amor o faz rebelde, revolucionário. O amor lhe dá asas para voar alto. O amor lhe dá insight nas coisas, assim ninguém pode enganá-lo, explorá-lo, oprimi-lo. E os padres e os políticos só sobrevivem com o seu sangue – eles só sobrevivem na exploração. Eles são parasitas, todos os sacerdotes e todos os políticos.
          Para torná-lo espiritualmente fraco eles descobriram um método seguro, cem por cento garantido, e esse é ensinar a você a não amar a si mesmo – pois se um homem não pode amar a si mesmo ele também não pode amar a mais ninguém. O ensinamento é muito ardiloso. Eles dizem: Ame os outros – porque eles sabem que se você não puder amar a si mesmo você não poderá amar de maneira alguma. Mas eles continuam dizendo: Ame os outros, ame a humanidade, ame a Deus, ame a natureza, ame sua esposa, seu marido, seus filhos e seus pais, mas não ame a si mesmo, porque, segundo eles, amar a si mesmo é egoísta.
          Eles condenam o amor-próprio mais do que qualquer outra coisa – e eles fizeram seu ensinamento parecer muito lógico. Eles dizem: Se você amar a si mesmo você se tornará um egoísta, se você amar a si mesmo você se tornará um narcisista. Isso não é verdade. Um homem que ama a si mesmo descobre que não existe nenhum ego nele. É amando os outros sem amar a si próprio, é tentando amar os outros que surge o ego.
         
Um homem que ama a si mesmo respeita a si mesmo e um homem que ama e respeita a si próprio respeita os outros também, porque ele sabe, ‘Assim como eu sou, os outros também são. Assim como gosto do amor, do respeito, da dignidade, os outros também gostam’. Ele torna-se cônscio de que não somos diferentes, no que diz respeito ao essencial, nós somos um. Estamos debaixo da mesma lei: Es dhammo sanantano. 
          O homem que ama a si mesmo desfruta tanto do amor, torna-se tão contente, que o amor começa a transbordar, começa a afetar os outros. Tem que afetar! Se você vive o amor, você começa a compartilhá-lo. Você não pode continuar a amar a si mesmo para sempre porque uma coisa ficará absolutamente clara para você: que se amando você mesmo é um êxtase tão tremendo e tão belo, tanto mais êxtase estará esperando por você se você começar a compartilhar seu amor com muitas pessoas!
         
Lentamente as ondulações começam a se expandir cada vez mais longe. Você ama outras pessoas; daí você começa a amar os animais, os pássaros, as árvores, as pedras. Você pode preencher todo o universo com o seu amor. Um simples indivíduo é suficiente para encher todo o universo com amor, assim como um simples seixo pode encher todo o lago de ondulações – um pequeno seixo.
         
O amor começa com você mesmo, assim ele pode se espalhar. Ele vai se espalhando à sua própria maneira; você não precisa fazer nada para espalhá-lo. Crie energia ao redor de si mesmo. Ame seu corpo e ame sua mente. Ame todo seu mecanismo, todo seu organismo.
         
“Ame a si mesmo... “ Diz Buda. E então imediatamente ele acrescenta:...”e observe”. Isso é Meditação, esse é o nome de Buda para a meditação. 
         
Sócrates diz: Conhece a ti mesmo, Buda diz: Ame a si mesmo. E Buda é muito mais verdadeiro porque a menos que você ame a si próprio você nunca conhecerá a si mesmo – conhecer só vem mais tarde, o amor prepara o terreno. Amar é a possibilidade de conhecer a si mesmo. O amor é a maneira certa de conhecer a si mesmo."

                                                                          Osho - The Way of the Buddha

 

                                

Sexo como Diversão

          Algumas pessoas ficam intrigadas quando chegam na comuna para registrar-se no centro de boas-vindas – um teste de AIDS é exigido – logo elas imaginam que essa exigência é devido ao sexo ser livre na comuna. 
          Na verdade, o teste de AIDS foi instituído por Osho no início dos anos oitenta quando a doença começou a se espalhar pelo mundo. Ele declarou na ocasião que a comuna seria uma zona livre de AIDS.
          Relacionamentos entre visitantes realmente acontecem aqui na comuna. Mas aqui está longe de ser o ‘paraíso do amor’. Os primeiros impedimentos são os próprios condicionamentos, inibições e repressões de cada um. As pessoas os receberam em seus ambientes originais e os trazem para a comuna. 
         
Depois vale ressaltar que a comuna está situada na Índia – uma sociedade sexualmente reprimida. A nudez, por exemplo, não é permitida na comuna. Além disso o lugar não é mais oficialmente tido como uma comuna e sim, como um resorte de meditação. O namoro, o sexo não são reprimidos, mas também não são abertamente incentivados no resorte. 
         
Osho foi taxado de ‘guru do sexo’ pela imprensa mundial porque declarou que o sexo era algo divino. O próprio Osho se dizia o maior inimigo que o sexo já teve pois ensinava que o sexo pode ser transcendido não através da renúncia, não pela repressão, mas pela sua compreensão mediante a prática intensa, apaixonada, total do mesmo. E fazer isso de um modo divertido, nada sério. Essa é a única maneira de ir além do sexo.
          Vejamos como Osho aborda a questão do sexo em um dos seus discursos:

           “Isso é seu condicionamento: Você ouviu tantas vezes que sexo é pecado, que sempre que você faz amor, esse condicionamento imediatamente surge entre você e sua amante. Você começa a sentir-se culpado e sério. Você está fazendo algo contra todos os grandes religiosos do mundo.
          Você está sozinho, um ser humano minúsculo, pequeno e você está contra a história inteira de milhares de profetas e messias de todos os lugares, de todas as nações. Naturalmente você se torna sério e sua seriedade faz você sentir-se morto. Seriedade pertence aos mortos. Você já viu algum morto rindo? Ou mesmo sorrindo? O riso pertence a vida; seriedade é parte da morte.
          A pessoa viva é sempre brincalhona, não séria. E porque eu digo que fazer amor não é outra coisa senão diversão... lhe disseram que é pecado e eu estou lhe dizendo que é diversão. A diferença é tamanha que você fica perplexo. Não é pecado, se fosse pecado, a existência o teria criado sem suas genitálias. Qual era a necessidade? A natureza encontraria algum outro modo de produzir crianças.
          A existência não é contra o sexo. Você precisa estar cônscio do fato de que isso não é só com relação a humanidade...
          Os pássaros, os animais, toda a existência depende do sexo para dar nascimento à vida.
          É por isso que digo que sexo é brincadeira, é divertimento.  Você não pode aceitar a idéia de diversão devido ao seu condicionamento de que é um pecado. Isso é um salto quântico do pecado para a diversão! Mas que posso fazer? Sexo é divertimento.
  
          Meu próprio entendimento é, se sexo tornar-se diversão, as prostitutas irão desaparecer do mundo. Não há nenhuma necessidade de qualquer mulher descer tão baixo para vender seu amor. Ao menos deixe uma coisa, o amor, fora do sistema de mercado – apenas uma coisa que não é um produto. O amor não tem um rótulo com o preço nele. Ele é imensamente valioso, mas não tem nenhum preço.
          Foram os sacerdotes que forçaram milhões de mulheres a serem prostitutas pois eles criaram a idéia do pecado na mente delas. Todas essas coisas estão interconectadas. E eu sempre vou até a própria raiz. É por isso que enfatizo, deixe que o sexo seja uma brincadeira, uma diversão.
         
E desde a invenção da pílula, não há nenhum problema, você não precisa preocupar-se com filhos. Agora é totalmente diversão, sem qualquer responsabilidade, sem qualquer problema resultante disso. Desfrute-o!  Deixe sua mente de lado. Diga ao padre que está continuamente em sua mente,  falando a você blá, blá, blá,  – Vá para o inferno! 
          Você está fazendo amor e o padre está dando seu sermão dominical! Não, amor é um fenômeno tão bonito que você deve aprender a arte de amar, assim como você deve aprender a arte de viver.

                          Criar um espaço divertido para o amor

          Se você puder fazer isso, seu quarto para o amor deve ser separado, pois é um templo. 
          E quando você entrar no quarto do amor, você deve deixar seus calçados fora – e suas cabeças também; basta deixá-las nos sapatos. E antes de fazer amor, tome um bom banho, fique limpo. Medite por alguns minutos. Faça disso uma bela experiência.
          Deixe que o quarto seja iluminado não por eletricidade, mas por velas. Deixe que haja alguma fragrância assim como nos templos; queime fragrância (incenso). E no quarto de seu amor, nunca faça outra coisa – nenhuma luta, nenhuma discussão. Se você não estiver de bom humor, então é melhor não entrar no quarto do amor.
          Você está inconsciente de muitas coisas... a mesma cama na qual o marido e a esposa dormem, eles brigam ali, eles discutem, eles jogam travesseiros um no outro, e depois eles também fazem amor – na mesma cama.
          Eles não compreendem que cada ação, cada pensamento, cada sentimento tem sua própria vibração. O quarto do amor deve ficar cheio da vibração do amor. Seja brincalhão, alegre. É simplesmente uma questão de entendimento que está acontecendo a você, e o próprio entendimento irá mudar a coisa toda”.

                                                                  Osho: From Death to Deathlessness

 

Relações & Relacionamentos

          Os relacionamentos aqui na comuna geralmente são temporários. A maioria dos visitantes – sejam sannyasins, turistas ou apenas curiosos – estão aqui de passagem por algum tempo. Muitos em busca de crescimento espiritual através da meditação, outros vieram para participar dos cursos e terapias oferecidos aqui pela Osho Multiversity, outros atraídos pelo relacionamento com estrangeiros de todas as partes do planeta e alguns outros são turistas de passagem pelo resorte.
          Naturalmente, depois de certo período, eles precisam retornar para suas casas, suas famílias, para seus afazeres, etc... 
          Logo você descobre que os relacionamentos aqui na comuna, apesar de intensos, não são tão duradouros.
          Neste discurso Osho fala sobre a diferença entre relacionar-se e relacionamento:

 

“Porque reduzimos a beleza do relacionar-se a um relacionamento?

          Porque relacionar-se é inseguro e relacionamento é seguro. O relacionamento tem uma certeza.
          Relacionar-se é apenas um encontro de dois estranhos – talvez por apenas uma noite juntos – e de manhã dizemos adeus. Quem sabe o que irá acontecer amanhã? Ficamos tão assustados que queremos fazer disso uma coisa certa; queremos tornar isso algo previsível. Gostaríamos que amanhã fosse de acordo com nossas idéias; não permitimos que a liberdade tenha seu próprio modo de dizer. Imediatamente reduzimos cada verbo a um substantivo.
         
Você está apaixonado por uma mulher ou por um homem e imediatamente você começa a pensar em casar-se – tornar isso um contrato legal. Porque? Como a lei vem para o amor? A lei chega para o amor porque o amor não está presente. É apenas uma fantasia, e você sabe que a fantasia irá desaparecer. Antes que isso desapareça estabeleça-se. Antes que isso desapareça faça alguma coisa para que seja impossível separar.

Confiar no Amor

          Num mundo melhor, com pessoas mais meditativas, com um pouco mais de iluminação espalhado pela terra, as pessoas irão amar imensamente, mas o amor delas permanecerá um relacionar-se, não um relacionamento. Não estou dizendo que o amor delas será somente momentâneo. Existe toda possibilidade de que o amor delas se aprofunde mais do que seu amor, possa ter uma qualidade de intimidade mais elevada, algo mais poético nele. Há toda possibilidade de que o amor delas possa durar mais tempo do que o seu chamado relacionamento: Contudo, isso não estará garantido pela lei, pela corte, pelo policial.
          Esqueça dos relacionamentos e aprenda como relacionar-se. Uma vez que vocês estão num relacionamento, vocês começam a tomar um ao outro como coisa certa. Isso é o que destrói todos os casos de amor. A mulher pensa que ela conhece o homem, o homem pensa que conhece a mulher. Ninguém conhece. É impossível conhecer o outro; o outro permanece um mistério. Tomar o outro como certo é insultante, desrespeitoso.
         
Pensar que você conhece sua esposa é bem desagradável. Como você pode conhecer a mulher? Como você pode conhecer o homem? Eles são processos; não são coisas. A mulher que você conheceu ontem não está aí hoje. Tantas águas desceram pelo Ganges; ela é outro alguém, totalmente diferente.
          Relacione-se de novo, comece novamente, não a tenha como coisa certa.
          Olhe para o homem que você dormiu com ele na noite passada. Olhe para o rosto dele novamente pela manhã. Ele não é mais a mesma pessoa. Tanta coisa mudou. Essa é a diferença entre uma coisa e uma pessoa. A mobília no quarto é a mesma, mas o homem e a mulher, eles não são mais os mesmos. Explore novamente. Comece de novo. Isso é o que quero dizer com relacionar-se.
          Relacionar-se significa que você está sempre começando: você está continuamente tentando ficar familiarizado. De novo e novamente, vocês estão apresentando-se um ao outro. Vocês estão tentando ver muitas facetas da personalidade do outro. Vocês estão tentando penetrar cada vez mais fundo na esfera dos sentimentos internos um do outro. Vocês estão tentando desemaranhar um mistério que não pode ser desemaranhado.

A Constante Aventura do Amor

          Essa é a alegria do amor: A exploração da consciência. Se você relaciona-se, e não reduz isso a um relacionamento, assim o outro tornar-se-á um espelho para você. Explorando-o você estará explorando a si mesmo também. Aprofundando-se no outro, conhecendo seus sentimentos, seus pensamentos, seus mais profundos movimentos, você estará conhecendo suas mais profundas agitações também. Amantes tornam-se espelhos um para o outro, e assim o amor torna-se uma meditação. Relacionamento é feio, relacionar-se é belo.
          No relacionamento, ambos ficam cegos um para o outro. Basta pensar; quanto tempo faz que você olhou para sua esposa olho no olho? A quanto tempo você não olha para seu marido? Talvez anos. Quem olha para a própria esposa? Você já tem como certo que a conhece. Que há mais lá para olhar? Você está mais interessado nos estranhos do que nas pessoas que você conhece – você já conhece toda a topografia do corpo dela, você sabe como ele responde, você sabe que tudo que aconteceu irá repetir-se novamente e novamente. É um ciclo repetitivo.
          Isso não é realmente assim. Nada nunca se repete; tudo é novo a cada dia. Somente seus olhos envelhecem, sua presunção envelhece, seu espelho acumula poeira e você se torna incapaz de refletir o outro. Desse modo eu digo, relacionem-se. Ao dizer relacionem-se eu quero dizer permaneçam continuamente numa lua de mel. Prossigam procurando, buscando um ao outro, encontrando novas maneiras de amar um ao outro, encontrando novas maneiras de estar um com o outro. E cada pessoa é um mistério tão infinito, inexaurível, insondável, que jamais será possível que você possa dizer, “eu a conheci”, ou, 'eu o conheci'. No máximo você pode dizer, 'eu tentei o melhor que pude, mas o mistério permanece um mistério'.
          Na verdade, quanto mais você conhece mais o outro se torna misterioso. 
          Desse modo o amor é uma aventura constante”.

                                                                                Osho: The Book of Wisdom

 

 

                                                                    Puna, 31 de agosto de 2003

 

                                                   Swami Prasado

 

 

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