Conexão Brasil                                                       novembro de 2004
 

 

Opinião Pessoal

 

          Com certa freqüência, leitores do Osho Conexão Brasil e outras pessoas que visitam nosso site, têm-nos formulado consultas. Sempre que possível, orientamos a leitura direta de textos do Osho sobre o assunto em questão, e, assim, reforçamos o foco do nosso trabalho que é a divulgação da sua mensagem. 
          Há casos, porém, em que nos é solicitada uma orientação e sentimos que não podemos  deixar de compartilhar o nosso entendimento, a nossa visão, enfim, a nossa opinião.
          Assim, nesta seção, estamos apresentando mensalmente algumas desses nossos pareceres sobre algumas questões que julgamos relevantes. 


Sw.Bodhi Champak

          As questões que respondemos neste mês foram formulada pelo Marcelo e está sendo divulgada com a sua devida permissão. Ele nos escreveu: 

"Desde o primeiro livro "Além das Fronteiras da Mente", estou sempre lendo um livro do OSHO ao longo dos últimos 5 anos. Também vivo a experiência da meditação em grupo com a turma do yoga, pois a professora também vive os ensinamentos do OSHO. Estou experimentando insights na busca do viver em estado meditativo o que tem proporcionado uma qualidade diferente em minha vida. E minha dúvida é:  por que a uma certa altura do caminho as pessoas vão viver em uma comuna ou coisa parecida ? Já conheci algumas comunidades, já recebi convite pra viver em uma delas e apesar de minha desidentificação com o sistema em que vivo, parece que por inércia me mantenho nele. Qual é a relação da vivência em sistemas alternativos com a busca espiritual ? Será isso essencial em algum momento do buscador ? A meditação traz um vislumbre do que é real, mas como ficar indiferente ao não real que se impõe pela força constantemente ? Sinto realmente que a auto-realização ou iluminação acontece na dimensão interior do ser, mas até que ponto o exterior interfere nisso ? Já garimpei muito por tais respostas nos livros e vídeos do OSHO, porém como as respostas são pessoais, sinto falta de contato direto com um mestre. Bem isso é um privilégio somente daqueles que são iniciados diretamente.
Até mais...     Marcelo"

Muitas dessas questões têm estado presente em muitas consultas que recebemos. Dividimos os questionamentos do Marcelo em 5 tópicos para melhor respondê-lo.  Eis a nossa resposta:          

1) você diz: "também vivo a experiência da meditação em grupo com a turma do yoga, pois a professora também vive os ensinamentos do OSHO" 

A que meditação em grupo você se refere? Quais técnicas? Esse é um ponto muito importante, pois as meditações do Osho representam um conceito absolutamente novo em relação a tudo o que se falou e se fala a respeito desse assunto. As meditações do Osho foram adaptadas para o homem ocidental moderno. As meditações tradicionais, tal como sempre existiram no oriente, não funcionam da mesma forma para o homem ocidental moderno. Nós podemos até praticá-las, mas os resultados não serão os mesmos. Além disso, eu vou lhe repetir o que escrevi há poucos dias para uma outra pessoa: "atualmente todo mundo fala em meditação aqui no ocidente, mas as pessoas estão lhe dando um tratamento a partir da ótica ocidental. É o mesmo que fizeram com a Yoga. Ou seja, a meditação sendo encarada como um método eficiente para combater o stress e nos deixar mais aliviados e tranqüilos para conseguirmos um desempenho melhor no trabalho e nos negócios e nos relacionarmos melhor com as pessoas e com a vida em geral. Isso pode até acontecer, mas será uma conseqüência e não o propósito da meditação. Meditação, mais do que isso. é uma chave muito especial que nos possibilita abrir as portas do nosso próprio ser interior. Ao longo de nossa vida, nós fomos recebendo tantas informações, tantas instruções sobre como pensar, sentir e agir, que perdemos o contato com o nosso próprio ser interior, com a nossa essência. Nos esquecemos de nossa face original e adotamos máscaras mais convenientes e convencionais para estarmos convivendo com a sociedade. Entrar nesse nosso mundo interior tornou-se, agora, o mesmo que mergulhar no desconhecido, pois nem sabemos ao certo quem somos. O caminho da meditação é um caminho de redescobrir o que somos/quem somos. E nesse sentido é o caminho do auto-conhecimento. E no caminho da meditação, a mente é uma ferramenta de muito pouca ajuda. Como Osho diz, a mente é todo o problema. Foi através dela que adotamos toda essa fachada que carregamos na vida. Assim, antes de tudo é preciso que você saiba que meditação significa uma profunda transformação e requer coragem e ousadia. Existe um livro do Osho que é básico para quem quer meditar. Ele é indispensável tanto para quem está começando como para quem já pratica há muito tempo. Esse livro é "Meditação: A Primeira e Última Liberdade". Ele tem uns capítulos iniciais, bem didáticos, onde Osho nos esclarece bem o que é e o que não é meditação e dá várias dicas para o meditador. Depois, o livro apresenta cerca de 60 técnicas de meditação que você pode praticar no seu próprio espaço." Assim, Marcelo, eu não sei bem que tipo de meditação é essa que você está praticando em grupo e que tipo de experiência você está tendo. Mas eu acho importante lhe dizer todas essas coisas acima a respeito da meditação.

2) Você diz: "por que a uma certa altura do caminho as pessoas vão viver em uma comuna ou coisa parecida ?"
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Isso pode acontecer ou não. Cada indivíduo é único e cada caminho é individual. Não há regras. Eu posso lhe dizer que, no meu caso pessoal, eu senti muito essa necessidade de estar morando numa comuna com outras pessoas que também estavam buscando. Mas, depois de um certo tempo, eu pude ver que essa necessidade minha de estar vivendo numa comuna nada mais era que uma muleta que eu estava procurando para me apoiar, talvez para compensar o meu "desligamento" das instituições sociais mais formais e respeitáveis que antes supostamente me davam amparo, certezas e segurança. Estar só é difícil. É um grande desafio.


Foto de Gabriel Oliveira

3) Você diz: "apesar de minha desidentificação com o sistema em que vivo, parece que por inércia me mantenho nele"

Talvez você tenha lido ou ouvido a respeito, ou mesmo tenha sido um grande observador de todo esse sistema em que vivemos e tenha chegado às suas próprias conclusões. Mas, ainda assim, esse seu entendimento é resultante de um processo mental. Isso não significa que você tenha se "desidentificado" desse sistema. Caso isso ocorra realmente, sua atitude passaria a ser como a daqueles mestres Zen, totalmente imunes ao que ocorre ao seu redor, totalmente presentes em si, no aqui e agora, mas totalmente desligado das tensões, das pressões, dos apelos, dos ruídos que nos rodeiam. O sistema, esse nome diz muito, inclui não só essa complexidade, essa trama que nos rodeia, mas também toda a estrutura que criamos dentro de nós, entrelaçada com essa rede externa. Enfim, desidentificar-se do sistema, implica em estar só, em silêncio, centrado, em paz, em profunda harmonia com a existência, ainda que esteja no meio da praça do mercado, no mundo dos negócios. Então, qualquer lugar é o aqui e agora, seja na Avenida Paulista ou seja numa comunidade de pescadores do litoral, ou num mosteiro Zen.

4) Você ainda diz: Qual é a relação da vivência em sistemas alternativos com a busca espiritual ? Será isso essencial em algum momento do buscador ? A meditação traz um vislumbre do que é real, mas como ficar indiferente ao não real que se impõe pela força constantemente ?

Se através da prática meditativa você resgata, cada vez mais, a sua face original e vai abandonando suas máscaras, as várias facetas de seu Ego, simultaneamente você vai alcançando o discernimento do que é bom e legal para você a cada momento. No exato momento em que você está vivendo, fica claro, diante de cada situação, o que lhe é bom, prazeroso e fácil. E isso é o certo: o fácil, o prazeroso e o bom, a cada momento. Não há que se buscar um sistema alternativo, algo elaborado mentalmente como um substituto ao sistema corrompido que nos rodeia. Isso seria, de novo, um outro sistema e nos traria novas amarras, novo aprisionamento. Com Osho aprendemos que a meditação nos transporta do mundo da reação para o mundo da resposta. A reação ocorre a partir de nossa programação, a partir da personalidade que desenvolvemos por imposição externa. Eu posso ter-me tornado moralista, contrário a certas práticas que são condenadas pela igreja e pela sociedade. Daí, eu reajo radicalmente contra tais práticas. Com a meditação, eu me reconecto comigo mesmo e acesso minha sabedoria interior, a minha capacidade de discernimento, a minha intuição. E diante de quaisquer situações, condenadas ou exaltadas pelo sistema (igrejas, educação, estado, etc), eu respondo, momento a momento, a partir desse meu puro e não corrompido discernimento interior. Assim, você não "tem" que ficar indiferente ao não real, isso acontece naturalmente. E de uma forma tranqüila. E não há como esse não real se impor pela força constantemente a um Mestre Zen. Ele, no máximo, pode levantar o rosto, olhar toda essa besteira circundante e voltar sua atenção aonde estava anteriormente, sem se perturbar, sem ao menos emitir um juízo de que o que o rodeia é uma besteira. Eu, com minha mente é que estou dizendo que isso tudo é uma besteira, o que bem prova o quanto ainda estou "identificado" ao sistema.

5) Finalmente você diz: "Já garimpei muito por tais respostas nos livros e vídeos do OSHO, porém como as respostas são pessoais, sinto falta de contato direto com um mestre. Bem isso é um privilégio somente daqueles que são iniciados diretamente."

De um dos sannyasins que estiveram mais próximos de Osho no último ano em que ele esteve no corpo, recebemos a seguinte mensagem que muito se aplica ao seu questionamento: "Osho disse que as novas pessoas que iriam chegar, depois que ele deixasse o corpo, já não teriam essa necessidade de sua (do Osho) presença física. Caso elas tivessem tido essa necessidade, elas teriam chegado a ele mais cedo. Ele disse que a existência chama as pessoas para o trabalho de um iluminado, exatamente no momento certo. É por causa desse número incontável de religiões e sacerdotes, que nós nos condicionamos a sentir a necessidade do outro e, assim, nós entregamos ao outro aquilo que é de nossa responsabilidade." Assim, Marcelo, Osho nos ensina que é dentro de nós mesmos que iremos encontrar as respostas que procuramos. Esse é o nosso desafio. E no discurso nº 1 da série "From the False to the Truth", Osho nos conta que no dia em que Buda morreu, um pouco antes dele deixar o corpo, chegou um homem e lhe fez a seguinte pergunta: "Como eu posso fazer para que, sua presença permaneça disponível para mim, estando você no corpo ou não? O que eu posso fazer?" Ao que Buda respondeu: "Se um discípulo está pronto, até mesmo um mestre morto pode estar vivo. Se o discípulo não estiver pronto, até mesmo um mestre vivo não pode fazer nada. Tudo depende do discípulo."
                                                            Sw. Bodhi Champak

 

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