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O
ego e o desejo
Querido Osho,
O
que eu quero?
“Krishna, ninguém sabe exatamente o
que quer porque ninguém está consciente nem
mesmo de quem é. A questão do querer é secundária,
a questão básica é: quem é você? A partir
disso, as coisas poderão ser resolvidas –
quais são seus desejos, suas vontades, suas
ambições.
Se você é um ego, então naturalmente
você quer dinheiro, poder, prestígio, quer
lutar com outras pessoas, você será
competitivo – ambição significa competição.
Você estará continuamente pisando na garganta
dos outros e eles estarão continuamente pisando
na sua. Então a vida se torna aquilo que
Charles Darwin disse: a sobrevivência dos mais
aptos. Na verdade o uso que ele faz da expressão
“os mais aptos” não é correto. Na verdade,
o que ele chama de mais apto, é o mais esperto,
o mais animalesco, o mais inflexível, o mais
estúpido, o mais feio. Charles Darwin não
diria que Buddha é o mais apto, ou Jesus, ou Sócrates.
Essas pessoas seriam mortas facilmente e aqueles
que os tivessem matado iriam sobreviver. Jesus não
conseguiria sobreviver. Certamente, de acordo
com Darwin, Jesus não é a pessoa mais apta.
Poncios Pilatos é muito mais apto, está mais
no caminho certo. Sócrates não era o mais
apto, mas as pessoas que o envenenaram, que o
condenaram à morte, eram. O uso que ele faz da
expressão ‘o mais apto’ é muito infeliz.
Se você está vivendo no ego, Krishna,
então a sua vida será uma luta; ela será
violenta e agressiva. Você criará miséria
para os outros e para si mesmo, porque a vida de
conflito não consegue ser nada além disso.
Assim, tudo depende de você, de quem você é.
Se você está no ego, ainda pensando em si em
termos de ego, então você terá uma certa
qualidade fétida. Mas, se você chegou a
compreender que você não é o ego, então a
sua vida terá uma fragrância. Se você não
conhece a si mesmo, você está vivendo na
inconsciência, e uma vida de inconsciência só
pode ser uma vida de equívocos. Você pode
ouvir Buda, você pode me ouvir, você pode
ouvir Jesus, mas você interpretará de acordo
com a sua própria inconsciência – você
interpretará mal.
O cristianismo é a má interpretação
de Jesus, assim como o budismo é a má
interpretação de Buda, assim como o jainismo
é a má interpretação de Mahavira. Todas
essas religiões são interpretações errôneas,
distorções, porque as pessoas que seguem Buda,
Mahavira, Krishna, são pessoas comuns sem
consciência. O que elas fazem é preservar os
escritos e matar o espírito.
Um filósofo estava caminhando ao redor
de um parque e notou um homem sentado em posição
de lótus, com os olhos abertos olhando para o
chão. O filósofo viu que o homem estava
totalmente absorvido em seu olhar fixo ao chão.
Depois de observá-lo por um longo tempo, o filósofo
não mais resistiu e foi até o estranho
camarada perguntando, ‘O que você está
procurando? O que está fazendo?’
O homem respondeu sem
deslocar o seu olhar fixo, ‘Eu estou seguindo
a tradição Zen de sentar silenciosamente, nada
fazer e então a primavera vem e a grama cresce
por si mesma. Eu estou observando a grama
crescer, mas ela ainda não cresceu coisa
alguma.’
Não é preciso observar a grama crescer
– mas isso é o que sempre acontece. Jesus diz
uma coisa e as pessoas escutam, mas elas escutam
apenas as palavras e dão àquelas palavras os seus
significados.
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Uma mãe
levou seu filhinho ao psiquiatra e por mais de
três horas ela lhe contou toda a história de
seu filho. O psiquiatra estava ficando cansado,
cheio, mas a mulher estava tão absorvida na sua
fala que nem mesmo lhe deu oportunidade de
impedi-la. Uma frase seguia a outra sem qualquer
intervalo.
Finalmente o psiquiatra teve que
dizer,’Por favor, pare agora! Deixe-me
perguntar algo ao seu filho!’
E ele perguntou ao filho, ‘Sua mãe está
reclamando que você não ouve o que ela lhe
diz. Você tem alguma dificuldade de audição?’
O
filho disse, ‘Não. Eu não tenho dificuldade
de audição – os meus ouvidos estão
perfeitamente bem – mas no que se refere a
escutar, você pode julgar por si mesmo. Você
consegue escutar a minha mãe? Ouvir eu posso:
eu tenho que ouvir. Eu estava observando-o –
você estava incomodado. Não
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há como não ouvir, mas escutar – pelo menos eu sou
livre para escutar ou não. Se eu escuto ou não,
é uma questão minha. Se ela grita comigo,
ouvir é natural, mas escutar é uma questão
totalmente diferente.’
Você
ouviu, mas você não escutou, e todo tipo de
distorção se juntou ao redor. As pessoas
seguem repetindo aquelas palavras sem qualquer
idéia do que elas estão repetindo.
Você me pergunta, Krishna, ‘O que eu
quero?’ Eu é que devo lhe perguntar, ao invés
de você me perguntar, porque depende de onde
você está. Se você estiver identificado com o
corpo, então o seu querer será diferente; então
comida e sexo serão suas únicas vontades, seus
únicos desejos. Esses são dois desejos
animais, os mais baixos. Eu não os estou
condenando ao chamá-los de mais baixos, eu não
os estou avaliando. Lembre-se, eu estou apenas
afirmando um fato: o mais baixo degrau da
escada. Mas se você estiver identificado com a
mente, os seus desejos serão diferentes: música,
dança, poesia, e depois existem mil coisas.
O corpo é muito limitado; ele tem uma
polaridade simples: comida e sexo. Ele se move
como um pêndulo entre esses dois, comida e
sexo, nada mais existe para ele. Mas se você
está identificado com a mente, então ela tem
muitas dimensões. Você pode estar interessado
em filosofia, em ciência, em religião – você
pode estar interessado em muitas coisas que
consegue imaginar.
Se você estiver identificado com o coração,
então os seus desejos serão de uma natureza
ainda mais elevada, mais do que a mente. Você
se tornará mais estético, mais sensitivo, mais
alerta, mais amoroso.
A mente é agressiva, o coração é
receptivo.
A mente é masculina, o coração é
feminino.
A mente é lógica, o coração é amor.
Assim, depende de onde você está
ligado: no corpo, na mente ou no coração.
Esses são os três mais importantes locais nos
quais a pessoa pode funcionar. Mas também
existe um quarto local em você; no oriente ele
é chamado de turya. Turya simplesmente
significa o quarto, o transcendental. Se você
está consciente de sua transcendentalidade, então
todos os desejos desaparecem. Então a pessoa
apenas é, sem qualquer desejo, sem nada
para ser pedido, para ser atendido. Não existe
futuro ou passado. Então a pessoa vive neste
momento completamente satisfeita, realizada. No
quarto, o seu lótus de mil-pétalas desabrocha;
você se torna divino.
Você está perguntando, Krishna, ‘O
que eu quero?’ Isso simplesmente mostra que
você nem mesmo sabe onde está, onde você está
ligado. Você terá que investigar dentro de si
mesmo – e isso não é muito difícil. Se é
comida e sexo que toma a maior parte de você,
então eli é onde você está identificado; se
é algo que diz respeito ao pensar, então é a
mente; se diz respeito a sentimentos, então é
o coração. E, naturalmente, Krishna, não pode
ser o quarto; senão a pergunta nunca teria
surgido.
Assim, ao invés de responder a você, eu
gostaria de lhe perguntar onde você está.
Investigue.
Eu devo lhe perguntar, ‘Onde você está?
Qual o tipo de identificação? Onde você está
ligado?’ Somente então as coisas podem ficar
claras – e isso não é difícil. Mas acontece
muitas vezes das pessoas formularem belas
perguntas, particularmente os indianos, Krishna.
Elas podem estar ligadas ao centro sexual delas,
mas elas perguntam a respeito do samadhi.
Elas perguntam, ‘O que é nirvikalpa
samadhi, onde todos os pensamentos
desaparecem, aquela consciência sem
pensamentos? O que é isso? O que é nirbeef
samadhi, o sem semente, onde mesmo as
sementes para qualquer futuro estão
completamente queimadas? Qual é o estado
supremo onde não se necessita de retorno à
terra, ao útero, as vida novamente?’ Essas são
apenas perguntas tolas que eles estão
formulando; eles não estão formulando as
perguntas deles. Eles não estão preocupados
com a verdadeira situação deles. Eles estão
formulando belas perguntas, metafísicas, esotéricas,
para mostrar que eles são seres da mais alta
qualidade, que eles são eruditos, que eles
conhecem as escrituras, que eles são buscadores,
que eles não são pessoas comuns, eles são
extraordinários, religiosos. Isto está
conduzindo os indianos a uma bagunça cada vez
maior.
É
sempre bom perguntar algo que seja relevante
para você ao invés de perguntar algo que não
lhe diz respeito.As pessoas me perguntam se Deus
existe ou não, e elas nem mesmo sabem se elas
existem ou não.
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Há poucos dias, Divakar Bharti, um outro
indiano, perguntou-me, ‘Por que eu estou
aqui?’
Divakar,
você está realmente aqui? Pergunte a si mesmo,
você está realmentre aqui? Eu não acho que
você esteja aqui. Fisicamente, é claro que você
está aqui, mas espiritualmente, na verdade, você
não está aqui. A não ser que você abandone
essa idéia de ser um indiano, de ser um hindu,
você não conseguirá estar aqui, você não
conseguirá ser parte da minha comuna. Você tem
carregado todos os tipos de tolices dentro de
si, e ainda está agarrado a elas.
Krishna, é sempre bom formular perguntas
sobre
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questões
que existem de fato, porque
elas podem ser de alguma ajuda para você. Se
você estiver sofrendo de um resfriado comum e
for ao médico perguntando sobre câncer... pois
como um homem como você pode sofrer de uma
coisa usual como um resfriado comum...? Todas as
pessoas ordinárias sofrem de resfriado comum,
por isso que ele é chamado de resfriado comum.
Mas você é uma pessoa fora do comum – você
não é nenhum Tom, Harry ou Dick. Você é tão
especial que você tem que sofrer de alguma
coisa muito especial; assim você pergunta sobre
o câncer. E se o médico ajudá-lo a curar o câncer,
você vai ter mais problemas – aquele
tratamento não vai ser adequado para você de
maneira alguma. Ele vai criar mais complicações
em você porque aqueles remédios podem matá-lo,
pois nada existe para a ação deles; não
existe câncer em você e eles não podem ser úteis
para um resfriado comum.
Na verdade, para um resfriado comum, não
existe medicação. Se você tomar remédio, o
resfriado comum desaparece em sete dias; se você
não tomar remédio, ele desaparece em uma
semana! Na verdade, ele é tão comum que a ciência
médica não se preocupa com ele. Quem vai
cuidar de uma coisa tão pequena? As pessoas se
preocupam com a ida à lua. Quem se preocupa com
pequenas questões como um resfriado comum, ou o
vazamento de uma caneta-tinteiro? As
canetas-tinteiro ainda vazam! As pessoas já
chegaram à lua, mas ainda não foram capazes de
fazer uma caneta-tinteiro com cem por cento de
garantia de que não vai vazar.
Simplesmente olhe para dentro de si
mesmo, Krishna. Onde exatamente está o seu
problema?
Um general visitando um hospital de
campanha perguntou a um dos soldados carregados
na maca, ‘O que está errado com você?’
‘Senhor,’ respondeu o soldado, ‘Eu
tive furúnculos.’
‘Qual tratamento você teve?’
‘Eles me esfregaram com tintura de
iodo, senhor.’
‘E isso ajudou?’ perguntou o general.
“Sim, senhor!’ respondeu o soldado.
Em seguida, o general dirigiu-se ao
soldado da outra cama e descobriu que o sujeito
tem hemorróidas. Ele também foi esfregado com
tintura de iodo; isso ajudou e ele não teve
outras demandas. O general perguntou então ao
terceiro soldado, ‘O que está errado com você?’
‘Senhor, eu tive as amigdalas inchadas.
Esfregaram-me tintura de iodo e, sim, isso
ajudou.’
‘Algo mais você gostaria?’ perguntou
o preocupado general.
‘Sim, senhor!’ respondeu o soldado.
‘Eu gostaria de ter sido o primeiro a ser
esfregado com a tintura.’
Primeiro você tem que ver a sua situação,
onde você está; somente então você poderá
dizer o que você quer. Se você estiver sendo
esfregado com tintura de iodo depois daqueles
dois camaradas – um que tinha furúnculos e o
outro que tinha hemorróidas – e você está
sofrendo apenas com amigdalas inchadas, então o
problema está claro!
Investigue, olhe para o lugar exato onde
você está. No que me diz respeito, todo desejo
é completo desperdício, todo querer é errado.
Mas se você está identificado com o corpo, eu
não posso dizer isso para você, porque isso
estará muito longe do seu alcance. Se você está
identificado com o corpo, eu lhe direi, mude um
pouco para desejos mais elevados, os desejos da
mente, e depois um pouco mais alto, para os
desejos do coração, e depois finalmente ao
estado sem desejos.
Desejo algum jamais será satisfeito.
Esta é a diferença entre a abordagem científica
e a abordagem religiosa. A ciência tenta
satisfazer os seus desejos e, naturalmente, a ciência
tem sido bem sucedida ao fazer muitas coisas,
mas o homem permanece na mesma miséria. A
religião tenta acordá-lo para a grande
compreensão para que você possa ver que todos
os desejos intrinsecamente não conseguem
ser satisfeitos.
É preciso ir além de todos os desejos e
somente assim haverá contentamento.
Contentamento não é o fim de um desejo,
contentamento não é a satisfação do desejo;
porque o desejo não pode ser satisfeito. Com o
tempo, quando você chegar à satisfação do
seu desejo, irá descobrir que mil e um outros
desejos surgiram. Cada desejo se ramifica em
muitos desejos novos. E isso acontecerá
repetidas vezes e toda a sua vida será desperdiçada.
Aqueles que sabem, aqueles que vêem –
os budas, os despertos – todos concordam em um
ponto. Isso não é uma coisa filosófica, é
factual, o fato do mundo mais interior: o
contentamento acontece quando todos os desejos
tiverem sido abandonados. É com a ausência de
desejos que o contentamento surge dentro de você.
– na ausência. Na verdade, a própria falta
de desejos é contentamento, é preenchimento,
é gozo, é florescimento.
Krishna, mova-se dos desejos mais baixos
para os desejos mais elevados, dos desejos
brutos para os desejos mais sutis, e depois para
o mais sutil, porque é fácil o pulo do mais
sutil para o não-desejo, para o estado sem
desejo. O estado sem desejo é nirvana.
Nirvana tem dois significados. É uma das
mais belas palavras; idioma algum pode
orgulhar-se dessa palavra. Ela tem dois
significados, mas esses dois significados são
como dois lados de uma mesma moeda. Um
significado é a cessação do ego e o outro
significado é a cessação de todos os desejos.
Isso acontece simultaneamente. O ego e os
desejos estão intrinsecamente juntos, eles estão
inseparavelmente juntos. No momento em que o ego
morre, os desejos desaparecem, ou vice-versa: no
momento em que os desejos são transcendidos, o
ego é transcendido. E ser sem desejos, ser sem
ego, é conhecer a felicidade suprema, é
conhecer o êxtase eterno.
Krishna, sannyas é isso: a busca pelo êxtase
eterno, a qual começa mas nunca termina.
OSHO – Come, Come, Yet Again Come -
Cap. 4 – Pergunta 3
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
Copyright
©
2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos
os direitos reservados
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