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Por
favor, não se inspire em mim
Querido Osho,
Você
é a minha inspiração.
Eu
ouvi você dizer que nunca teve um mestre; mas
houve alguma fonte de inspiração quando você
começou a sua jornada?
"A
vida em si é o bastante.
Ver
as pessoas ao redor – cadáveres ambulantes
– é inspiração suficiente, não para ir com
elas, não para seguir seus caminhos, mas para
encontrar uma pequena trilha, a sua própria, se
você quiser estar vivo.
Eu
nunca tive um mestre, e eu sou feliz por nunca
ter encontrado algum. Em minhas vidas passadas
eu estive com alguns poucos mestres vivos. Eles
eram pessoas lindas, amáveis, mas uma coisa
ficou clara o tempo todo para mim – que ninguém
poderia ser uma fonte de inspiração para mim,
porque essa palavra ‘inspiração’ é
perigosa.
Primeiro
é inspiração, depois se torna seguimento,
depois se torna imitação – e você acaba
sendo uma cópia carbono. Não há necessidade
alguma de ser inspirado por alguém. E não é
apenas não ser necessário, é perigoso também.
Apenas observando, eu tenho visto... cada indivíduo
é único. Ele não pode seguir ninguém mais.
Ele
pode tentar – milhões tem tentado por
milhares de anos. Milhões são cristãos, milhões
são hindus, milhões são budistas. O que eles
estão fazendo? A inspiração de Goutama Buda
fez milhões de pessoas budistas e agora eles
estão tentando seguir seus passos. E eles não
estão chegando a lugar algum; eles não
conseguem.
Você
não é um Goutama Buda e o rastro dele não se
ajusta a você, nem os sapatos dele servem para
você; você terá que encontrar o tamanho exato
de sapato que lhe sirva. Ele é belo, mas isso não
significa que você tenha que se tornar como
ele. E este é o significado da palavra
‘inspiração’. Ela significa que você está
tão influenciado que o homem se tornou o seu
ideal, que você gostaria de ser como ele. Isso
tem confundido toda a humanidade.
A
inspiração tem sido um infortúnio, não uma bênção.
Eu
gostaria que você aprendesse em toda fonte,
para apreciar todo ser singular que encontrar.
Mas jamais siga alguém e nunca tente se tornar
exatamente como alguma outra pessoa; o que não
é permitido pela existência. Você somente
pode ser você mesmo.
E
isto é um fenômeno estranho: as pessoas que se
tornaram uma inspiração para milhões de
outras pessoas, elas próprias nunca se
inspiraram em ninguém – mas ninguém observa
esse fato.
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Goutama
Buda nunca se inspirou em alguém, e isto é o
que fez dele uma grande fonte de inspiração. Sócrates
não se inspirou em alguém, mas isso é o que o
fez tão singular.
Todas essas pessoas, as quais você considera
como fontes de inspiração, nunca foram
inspiradas por outros. Isto é algo muito
fundamental para ser compreendido. Sim, elas
aprenderam; elas tentaram compreender todos os
tipos de pessoas. Elas amaram pessoas
singulares, mas nenhuma para ser seguida. Elas
experimentaram ser elas mesmas.
Assim, por favor, não se inspire em mim;
caso contrário você nunca se tornará uma
fonte de inspiração. Você será apenas uma cópia
carbono, você não terá a sua autêntica e
original face. Você será um hipócrita: você
dirá uma coisa e fará outra. Você mostrará a
sua face em situações diferentes com máscaras
diferentes, e aos poucos você se esquecerá
qual é a sua face verdadeira; são tantas máscaras...
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Ouvi contar sobre um homem... Cem anos
haviam se passado desde que Abraão Lincoln
havia morrido baleado, de modo que por todo
aquele ano foi organizada uma grande celebração
em sua homenagem por toda a América. Um homem
parecia com Abraão Lincoln; apenas uns pequenos
toques aqui e ali e ele era quase uma cópía
fotográfica do Abraão Lincoln.
Ele
foi treinado para falar da maneira que Abraão
Lincoln costumava falar, com seus gestos, sua ênfase,
seu sotaque, tudo, os pequenos detalhes –
mesmo a maneira dele caminhar – vinte quatro
horas por dia... E ele tinha que representar
essa peça teatral da vida de Abraão Lincoln
por todo o país, indo de um lugar a outro, o
ano todo.
Ele
foi baleado e morreu muitas vezes, todas as
noites em todas as apresentações; algumas
vezes, até duas vezes por dia. Aquele foi um
longo ano – ele morreu muitas vezes – e a
sua participação na peça tornou-se quase a
sua segunda natureza. E então, quando as
celebrações terminavam, as pessoas ficavam
surpresas: ele deixava o palco caminhando da
mesma maneira que Abraão Lincoln costumava
caminhar – ele mancava um pouco. Ele estava
mancando.
Sua
esposa lhe dizia: ‘Volte aos seus
sentidos!’, porque ele estava falando daquela
mesma maneira, com aquele sotaque de cem anos
atrás. Sua esposa dizia, ‘Não prolongue a
brincadeira em demasia. Simplesmente volte ao
seu eu verdadeiro e vamos para casa.’
Ele
dizia, ‘Eu sou o meu verdadeiro eu, eu sou
Abraão Lincoln.’ Continuamente por um ano ele
viveu como Abraão Lincoln, ele morreu milhares
de mortes como Abraão Lincoln; ele esqueceu
completamente que ele era uma outra pessoa.
Levaram-no
a um médico. O médico conversou com ele, mas
ele ainda estava em seu papel teatral. O médico
lhe disse, ‘simplesmente esqueça essa peça
teatral.’
O
homem disse, ‘que peça?’
O
médico voltou-se para a sua esposa e disse,
‘esse homem não escutará, a não ser que ele
seja baleado.’
A
familía ficou enlouquecida. Ele perdeu seu
trabalho e ninguém queria tratá-lo, pois ele não
estava doente. Ele estava simplesmente grudado a
uma máscara. Um ano é um longo tempo, e todos
os dias, vinte e quatro horas por dia, ele era
Abraão Lincoln. Ser Abraão Lincoln por um ano
e então, de repente, tornar-se um ser humano
comum – quem gostaria disso? Ele viu os dias
gloriosos, os dias dourados e agarrou-se
firmememente a eles.
Aquele
homem viveu alguns anos como Abraão Lincoln;
ele costumava assinar ‘Abraão Lincoln’
exatamente do mesmo jeito que Abraão Lincoln
costumava assinar. Você diria que esse homem
alcançou alguma coisa ou perdeu? Ele perdeu a
si mesmo, e o que ele ganhou foi apenas um ato
numa peça teatral. Ele tornou-se totalmente
falso.
E esta é a situação de quase todos no
mundo – não tão dramática, nem tão fora de
série, mas todo mundo está representando um
certo papel que lhe foi ensinado, para o qual
foi educado.
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Uma
criança nasce – ela não é cristã, nem
judia, nem muçulmana – e então nós começamos
a lhe colocar uma máscara. Sua face inocente
desaparece. Ele morrerá acreditando que é
cristã. Assim, não ria daquele pobre homem que
morreu acreditando ser Abraão Lincoln, porque
todo mundo está fazendo o mesmo. Pessoas estão
morrendo como hinduístas – elas não nasceram
hinduístas.
Isso sempre foi um problema permanente
para mim, quando havia censo. O recenseador
vinha a mim para preencher o formulário e
quando chegava na religião eu dizia, ‘eu não
tenho religião alguma’.
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Ele ficava chocado, mas dizia, ‘você
deve ter nascido em alguma religião. Seus pais
devem ser hinduístas, muçulmanos, jainistas.’
Eu
dizia, ‘isso não faz qualquer diferença. Meu
pai pode ser um médico ou engenheiro – isso não
fará de mim um médico ou um engenheiro. Ele
pode ser um hinduísta ou um muçulmano – isso
é um assunto dele. Ele não pode biologicamente
transferir sua religião para mim. Se ele não
pode transferir seu conhecimento médico para
mim, como ele poderia transferir o seu
conhecimento espiritual? Isso é uma fraude e eu
não quero participar de qualquer fraude.’
As
pessoas estão sendo treinadas como atores; em
todo este vasto mundo você encontrará todas as
pessoas representando papéis. Todo mundo é
educado para encenar... Belos nomes –
etiquetas, boas maneiras – mas por trás,
escondido, está uma psicologia sutil para fazê-lo
esquecer a sua originalidade e absorver algum
papel que os interesses ocultos querem que você
seja.
Nunca
se inspire em alguém.
Permaneça
aberto.
Quando
você vir um belo pôr do sol, desfrute a beleza
dele; quando você vir um Buda, desfrute a
beleza do homem, desfrute a autenticidade do
homem, desfrute o silêncio, a verdade que o
homem alcançou, mas nunca se torne um seguidor.
Todos os seguidores estão perdidos.
Permaneça
você mesmo – porque esse homem Goutama Buda
encontrou porque permaneceu ele mesmo. E todos
esses belos nomes – Lao Tzu, Chuang Tzu, Lieh
Tzu, Bodhidharma, Nagarjuna, Pitágoras, Sócrates,
Heráclito, Epicuro – todos esses belos nomes,
que têm sido uma grande inspiração para
muitas pessoas, foram eles mesmos e nunca se
inspiraram em alguém. Foi assim que eles
protegeram as suas originalidades; foi assim que
eles permaneceram eles mesmos.
Eu
estive com mestres e os amei. Mas, para mim, o
próprio desejo de ser como eles é feio. Um
homem é o bastante; um segundo como ele não irá
enriquecer a existência, irá apenas
sobrecarregá-la.
Para
mim a singularidade dos indivíduos é a verdade
maior.
Ame
as pessoas quando encontrá-las florescendo em
alguma dimensão verdadeira e autêntica. Mas
lembre-se que elas estão florescendo por causa
da autenticidade e originalidade delas; assim
esteja atento para não cair na armadilha de
segui-las. Seja você mesmo.
A
famosa máxima de Sócrates é: ‘conheça a si
mesmo’. Mas ela deveria ser completada – ela
não está completa. Antes de ‘conheça a si
mesmo’, uma outra máxima é necessária,
‘seja você mesmo’; caso contrário você
pode conhecer apenas algum ator que você está
fingindo ser. Conhecer a si mesmo vem em
seguida; primeiro é ser você mesmo.
Os
verdadeiros grandes mestres têm sido apenas
amigos, uma mão que ajuda, dedos apontando para
a lua; eles nunca criaram uma escravidão. Mas
no momento em que eles morreram, eles deixaram
um impacto tão grande ao seu redor que as
pessoas espertas – os teólogos, os
sacerdotes, os eruditos – começaram a pregar
às pessoas, ‘Sigam Goutama Buda.’
Agora
o homem está morto e ele não pode negar coisa
alguma... E essas pessoas começam a explorar o
grande impacto que Buda deixou. Agora toda a Ásia,
milhões de pessoas por vinte e cinco séculos têm
seguido os passos de Goutama Buda, mas nem um
simples Goutama Buda foi criado. Isso é prova
bastante: dois mil anos e nem um simples Jesus
novamente; três mil anos e nem um simples Moisés
novamente.
A
existência nunca repete.
A
história se repete porque a história pertence
ao inconsciente coletivo.
A
existência nunca repete a si mesma. Ela é
muito criativa e muito inventiva. E isso é bom;
caso contrário, embora Goutama Buda seja um
belo homem, se houvesse milhares de Goutama Buda
por aí – se em qualquer lugar que você
fosse, encontrasse um Goutama Buda, em todos os
restaurantes – você iria ficar realmente
entediado e cansado. Isso iria destruir toda a
beleza do homem. É bom que a existência nunca
repita. Ela só cria um de cada tipo, assim ele
sempre permanece raro.
Você
também é um de um tipo. Você apenas tem que
desabrochar, abrir suas pétalas e liberar a sua
fragrância. “
Osho
– Beyond Psychology - Cap. 5 – Pergunta
2
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
Copyright
©
2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos
os direitos reservados
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