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Sem
Zorba não há Buda
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Querido
Osho,
É realmente possível o encontro de Zorba e Buda?
Se
assim for, por que outros líderes religiosos
nunca pensaram a esse respeito?
A primeira coisa a ser entendida: eu não
sou um líder religioso. Um líder religioso não
consegue pensar nem ver da maneira como posso –
pela simples razão que ele tem um imenso
investimento na religião e eu não tenho. (...)
Os
líderes religiosos não podiam ter pensado no
encontro de Zorba e Buda porque isso teria sido o
fim da liderança deles e o fim de suas chamadas
religiões. Zorba, o Buda é o fim de todas as
religiões. Ele é o início de um novo tipo de
religiosidade que não precisa de rótulo –
cristianismo, judaismo ou budismo. A pessoa
simplesmente curte a si mesma, curte este imenso
universo, dança com as árvores, brinca na praia
com as ondas do mar, coleciona conchinhas do mar
sem qualquer propósito – apenas por pura
alegria. A maresia, a areia fresca, o sol
nascente, uma boa corrida – o que mais você
quer?
Para
mim, isto é religião – curtir o ar, curtir o
mar, curtir a areia, curtir o sol – porque não
existe outro Deus além da própria existência.
Zorba, o Buda, por um lado, é o fim do velho
homem – de suas religiões, suas políticas,
suas nações, suas discriminações raciais e
todos os tipos de estupidezes. Por outro lado,
Zorba, o Buda é o início de um novo homem – um
homem totalmente livre para ser ele mesmo,
permitindo sua natureza desabrochar. Não existe
conflito algum entre Zorba e Buda. O conflito foi
criado pelas chamadas religiões.
Existe
algum conflito entre seu corpo e sua alma? Existe
algum conflito entre a sua vida e a sua consciência?
Existe algum conflito entre a sua mão direita e
sua mão esquerda? Todos eles são um em uma
unidade orgânica.
O
seu corpo não é algo a ser condenado, mas sim
algo ao qual se deve estar agradecido, porque ele
é uma das grandes coisas da existência, a mais
milagrosa; o seu funcionamento é simplesmente
inacreditável. Todas as partes de seu corpo
funcionam como uma orquestra. Os seus olhos, as
suas mãos, as suas pernas têm uma comunhão
interna. Não acontece de seus olhos quererem ir
para o leste e suas pernas irem para o oeste, ou
que você esteja faminto, mas sua boca se recuse a
comer: a fome está no estômago, e o que isto tem
a ver com a boca? - a boca está fazendo greve. Não,
o seu corpo não tem conflito algum. Ele se move
com uma sincronicidade interna, sempre junto.
E
sua alma não é algo oposto ao seu corpo. Se o
seu corpo é a casa, a alma é a sua hóspede. E não
há qualquer necessidade do hóspede e o anfitrião
brigarem continuamente. Mas as religiões não
conseguiriam existir sem que você brigasse
consigo mesmo.
A
minha insistência em sua unidade orgânica, para
que o seu materialismo não seja mais oposto ao
espiritualismo, é basicamente para demolir todas
as religiões sobre a terra. Uma vez que seu corpo
e sua alma comecem a se mover de mãos dadas, dançando
juntos, você se torna Zorba, o Buda. Então você
pode curtir tudo desta vida, tudo o que está fora
de você, e também pode curtir tudo o que está
dentro de você.
Na
verdade, o dentro e o fora são dimensões
totalmente diferentes; eles nunca entram em
conflito. Mas, milhares de anos de
condicionamento, de que se você quiser o interior
tem que renunciar ao exterior, criaram raízes
profundas em você. Do contrário, isto é uma idéia
tão absurda... Você tem que desfrutar o interior
– E qual o problema em desfrutar o exterior? O
desfrute é o mesmo; este é o elo de ligação
entre o interior e o exterior.
Ouvir uma bela canção, ou ver uma grande
pintura, ou assistir um dançarino como Nijinski
– isto está do seu lado de fora, mas não é de
jeito algum uma barreira para o seu desfrute
interior. Ao contrário, é uma grande ajuda. A
dança de Nijinski pode despertar uma qualidade
dormente de sua alma de modo que você também
possa dançar. A música de um Ravi Shankar pode
começar a tocar nas cordas de seu coração. O
exterior e o interior não estão divididos. É
uma só energia, dois polos de uma existência.
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Zorba pode se tornar Buda mais facilmente
que o papa polaco. Não há qualquer possibilidade
do papa polaco, nem dos seus chamados santos, se
tornarem realmente espirituais. Eles nem mesmo
conhecem as alegrias do corpo. Como você pode
achar que eles serão capazes de conhecer as
verdadeiras alegrias sutis do espírito?
O corpo é a escola onde você aprende a
nadar em águas rasas. E uma vez que você tenha
aprendido a nadar, então não interessa qual a
profundidade da água. Então você pode ir para a
parte mais profunda do lago; tudo será a mesma
coisa para você. (...)
Mas é preciso lembrá-lo a respeito da
vida do Buda. Até os seus vinte nove anos, ele
era um puro Zorba. Ele tinha disponível, às dúzias,
as melhores garotas de seu reino. Todo o seu palácio
era cheio de música e dança. Ele tinha as
melhores comidas, as melhores roupas, belos palácios
para viver, jardins fantásticos. Ele vivia mais
profundamente que o pobre Zorba o Grego.
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Zorba
tinha apenas uma Babulina – uma mulher velha e
enrugada, uma prostituta que tinha perdido todos
os seus clientes. Ela tinha dentes e cabelos postiços
– e Zorba era seu cliente somente porque ele não
tinha como pagar. E você o chama de Zorba? –
Você se esqueceu completamente dos vinte e nove
anos da vida do Buda que era muito mais rica.Dia
sim, dia não, ele vivia no luxo, cercado por tudo
que ele podia imaginar. Ele estava vivendo numa
terra de sonhos. Foi essa experiência que o
tornou um Buda. Isto não tem sido analisado desta
maneira. Ninguém se preocupa com a primeira parte
de sua vida – que é a verdadeira base.
Ele
ficou enfastiado daquilo. Ele experimentou todas
as alegrias do lado de fora, agora ele queria algo
mais, algo mais profundo, que não estava disponível
no mundo exterior. Para ir ao mais profundo você
tem que se lançar para dentro de si. Com a idade
de vinte e nove anos ele deixou o palácio à
noite em busca do interior. Era o Zorba partindo
em busca do Buda.
Zorba
o Grego nunca se tornou um Buda pela simples razão
que a sua qualidade de Zorba estava incompleta.
Ele é um belo homem, cheio de vivacidade, mas um
pobre homem. Ele quer viver a vida em sua
intensidade, mas ele não tem oportunidade de vivê-la.
Ele dança, ele canta, mas ele não conhece as
nuances mais altas da música. Ele não conhece a
dança na qual o dançarino desaparece.
O
Zorba no Buda conhecia as partes mais altas e mais
profundas do mundo exterior. Conhecendo tudo isso,
ele estava pronto agora para continuar uma busca
mais interior. O mundo é bom, mas não é bom o
suficiente; algo mais é necessário. Ele lhe dá
uns vislumbres momentâneos; o Buda quer algo
eterno. E todos esses jogos acabarão com a morte.
Ele quer conhecer algo que não se acaba com a
morte.
Se
eu tivesse que escrever a vida de Goutama Buda, eu
começaria do Zorba. E quando ele já conhece
completamente o mundo exterior e tudo o que ele
pode dar e descobre que ali está faltando
sentido, ele parte em busca – porque ir para
dentro era a única direção que ele não tinha
olhado. Ele nunca olhou para trás – não havia
motivo para ele olhar para trás, ele já tinha
vivido tudo aquilo. E ele não era um buscador
religioso que desconhecia o mundo exterior, de
modo algum. Ele era um Zorba – ele foi para
dentro de si com a mesma vivacidade, com a mesma
força, com o mesmo poder. E, obviamente, ele
descobriu em seu ser mais interno o contentamento,
o preenchimento, o sentido, a benção que ele
estava procurando.
É
possível que você consiga ser um Zorba e pare
nisso. É possível que você possa não ser um
Zorba e comece a procurar pelo Buda – você não
irá encontrá-lo. Somente o Zorba pode encontrar
o Buda; de outra forma você não terá a força:
você não viveu no mundo exterior, você o
evitou. Você é um escapista.
Para
mim, ser um Zorba é o começo da jornada, e
tornar-se um Buda é alcançar a meta. E isto pode
acontecer no mesmo indivíduo – isto só pode
acontecer no mesmo indivíduo. É por isto que eu
estou insistindo continuamente: não crie qualquer
divisão em sua vida, não condene coisa alguma de
seu corpo. Viva-o – não de má vontade –
viva-o totalmente, intensamente. Este próprio
viver torná-lo-á capaz de uma outra busca.
É
por isto que eu digo que meus sannyasins não têm
que ser ascetas, que meus sannyasins têm que
deixar suas esposas, seus maridos, seus filhos.
Todas essas tolices têm sido ensinadas há séculos,
e quantas pessoas – dentre esses milhões de
monges e freiras – quantas pessoas floresceram?
Nem mesmo uma simplesmente. Eu quero que vocês
vivam a vida sem divisão. E primeiro vem o corpo,
primeiro vem o seu mundo exterior.
No
momento em que a criança nasce e abre os olhos, a
primeira coisa que ela vê é todo o panorama da
existência ao seu redor. Ela vê tudo, exceto a
si mesma – isto é para as pessoas mais
experientes. Isso é para aqueles que viram tudo
do mundo externo e se libertaram dele.
Livrar-se
do mundo externo não acontece através do
escapismo. A libertação do mundo externo chega,
quando se vive esse mundo totalmente, até já não
mais haver para onde ir. Resta então apenas uma
dimensão e é natural que você queira buscar
internamente essa dimensão remanescente. E ali
está o seu buda, a sua iluminação.
Você
está dizendo, ‘É possível o encontro de
Zorba e Buda?’ Esta é a única
possibilidade. Sem Zorba não há Buda. Zorba,
naturalmente, não é o fim completo. Ele é a
preparação para o Buda. Ele é a raiz; Buda é o
florescimento.
Não
destrua as raízes; de outra forma não haverá
florescimento algum. Aquelas raízes suprem
continuamente a nutrição das flores. Todas as
cores nas flores vêm das raízes. Toda a dança
das flores no vento vem das raízes.
Não
divida. Raízes e flores são dois lados de um
mesmo fenômeno.
Osho
– From Bondage do Freedom – capítulo 40
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL
FOUNDATION, Suiça.
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os direitos reservados
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