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Meditação
A coragem
de estar só e silencioso
Querido
Osho,
Eu sempre estou com medo de estar só, porque
quando estou só, começo a querer saber quem eu
sou. Parece que se eu investigar mais fundo,
irei descobrir que eu não sou a pessoa que
acreditei ser nos últimos vinte e seis anos,
mas um ser presente no momento do nascimento e
talvez também no momento anterior. Por alguma
razão isso me assusta completamente. Parece um
tipo de insanidade e faz com que eu me perca nas
coisas externas a fim de me sentir mais segura.
Osho, quem eu sou, e por que o medo?
Surabhi, não é apenas o seu medo, é o
medo de todo mundo. Porque ninguém é aquilo
que deveria ser pela própria existência.
A sociedade, a cultura, a religião, a
educação, todos têm conspirado contra
inocentes crianças.
Eles têm todo o poder – a criança é
indefesa e dependente. Assim, tudo o que querem
fazer com ela, eles dão um jeito e fazem.
Eles não permitem que criança alguma se
desenvolva para o seu destino natural.
Todo o esforço deles é para fazer dos
seres humanos, utilidades. Quem sabe, se
deixarmos uma criança desenvolver por si mesma,
se ela terá ou não alguma utilidade para os
interesses velados. A sociedade não está
preparada para correr esse risco. Ela agarra a
criança e começa a moldá-la em alguma coisa
necessária para a sociedade.
Sob certo sentido, ela mata a alma da
criança e lhe dá uma falsa identidade, para
ela nunca ver a sua alma, o seu ser.
A falsa identidade é um substituto. Mas
esse substituto é útil apenas na mesma multidão
que deu essa falsa identidade a você. No
momento em que você está só, o falso começa
a se desmontar e o que é verdadeiro e foi
reprimido começa a se expressar.
Por isso o medo de estar só.
Ninguém quer estar só. Todo mundo quer
pertencer a uma multidão – e não apenas uma
multidão, mas a muitas multidões. A pessoa
pertence a uma multidão religiosa, a um partido
político, a um Rotary Club... E existem muitos
outros pequenos grupos para se pertencer também.
É preciso estar apoiado vinte e quatro
horas por dia, porque o falso, sem apoio, não
consegue ficar de pé. No momento em que estiver
só, começa a sensação de uma loucura
estranha.
Surabhi, é sobre isto que você está
perguntando – porque por vinte e seis anos você
acreditou ser alguém, e então, de repente, num
momento de solidão, você começou a perceber
que você não era aquilo. Isso cria medo: então
quem você é?
E vinte e seis anos de repressão...
Levará algum tempo para que o verdadeiro se
expresse.
O intervalo entre os dois tem sido
chamado pelos místicos de ‘a noite escura da
alma’ – uma expressão muito apropriada. Você
não é mais o falso, e você ainda não é o
verdadeiro. Você está no limbo, você não
sabe quem você é.
Particularmente no Ocidente – e Surabhi
é ocidental – o problema é ainda mais
complicado, porque eles não desenvolveram
nenhuma metodologia para descobrir o verdadeiro,
o mais cedo possível, de modo que a noite
escura da alma possa ser encurtada.
O Ocidente nada conhece a respeito de
meditação.
E meditação é apenas um nome para o
estar só, silencioso, esperando pela manifestação
do verdadeiro. Não é um ato, é um relaxamento
silencioso – porque qualquer coisa que você
faça tem sua origem na sua falsa personalidade.
Tudo o que você fez por vinte e seis anos teve
sua origem ali; este é o seu velho hábito.
Hábitos são duros de morrer.
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Havia um grande místico na Índia,
Eknath. Ele estava indo para uma peregrinação
santa com todos os seus discípulos – seriam
uma jornada de três a seis meses.
Um homem chegou até ele, jogou-se a seus
pés e disse, ‘Eu sei que não sou merecedor.
Você sabe bem disso, todo mundo me conhece. Mas
eu sei que a sua compaixão é maior do que o
meu não-merecimento. Por favor, aceite-me também
como um dos membros de seu grupo que está indo
para a peregrinação santa. ‘
Eknath disse, ‘Você é um ladrão –
e não apenas um ladrão comum, mas um ladrão
mestre. Você nunca foi pego e todos sabem que
você é um ladrão. Eu certamente me sentiria
bem levando você comigo, mas eu também tenho
que pensar nas outras cinqüenta pessoas que estão
indo comigo. Você terá que me fazer uma
promessa – e eu não estou pedindo por nada
mais que, apenas durante aquele tempo de três a
seis meses em
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que
nós estivermos na peregrinação, você não
roube. Depois disso, será sua a decisão. Uma
vez que nós tenhamos voltado para casa, você
estará livre de sua promessa. ‘
O homem disse, ‘Eu estou absolutamente
pronto para prometer, e eu estou imensamente
agradecido pela sua compaixão.’ As outras
cinqüenta pessoas ficaram desconfiadas. Confiar
em um ladrão...
Mas elas não podiam dizer coisa alguma
ao Eknath. Ele era o mestre.
A peregrinação começou e desde a
primeira noite aconteceram problemas. Na manhã
seguinte havia um caos – o casaco de alguém
tinha sumido, assim como a camisa de um outro, e
também o dinheiro de outro.
E todo mundo estava gritando, ‘Onde está
o meu dinheiro?’ E todos eles foram contar ao
Eknath, ‘Nós estávamos desconfiados desde o
começo em que você trouxe esse homem consigo.
Um hábito de uma vida inteira...’
Mas eles começaram a procurar e então
descobriram que as coisas não tinham sido
roubadas. O dinheiro de alguém tinha sumido,
mas foi encontrado na sacola do outro. O casaco
de alguém estava faltando, mas foi encontrado
na mala do outro. Tudo foi encontrado, mas era
um problema desnecessário – todas as manhãs!
E ninguém
conseguia conceber – qual poderia ser o
sentido disso? E certamente não era o ladrão,
porque nada estava sendo roubado.
Na terceira noite, Eknath permaneceu
acordado para ver o que acontecia. No meio da
noite, o ladrão – devido ao seu hábito –
acordava e começava a tirar as coisas de um
lugar e colocar no outro. Eknath interrompeu-o e
disse, ‘O que você está fazendo? Você se
esqueceu de sua promessa?’
Ele disse, ‘Não, eu não esqueci minha
promessa. E eu não estou roubando coisa alguma,
mas eu não lhe prometi que não iria mudar as
coisas de um lugar para o outro. Depois dos seis
meses eu terei que ser um ladrão novamente;
isto é apenas para praticar. E você deve
entender – isto é um hábito de uma vida
inteira, e você não consegue abandoná-lo num
estalar de dedos. Dê-me um tempo. Você devia
entender o meu problema também. Por três dias
eu não roubei uma simples coisa – isso é
como jejuar! Isto é apenas um substituto, eu
estou me mantendo ocupado.
‘Este é o meu horário de trabalho, no
meio da noite, assim é muito difícil para eu
ficar simplesmente deitado na cama acordado. E
tantos idiotas dormindo... E eu não estou
fazendo mal a ninguém. De manhã eles encontrarão
as suas coisas.’
Eknath disse, ‘Você é um homem
estranho. Você vê que toda manhã existe um
caos e uma ou duas horas são desperdiçadas
desnecessariamente para se encontrar as coisas
– onde você as colocou, de que malas elas
foram tiradas. Todo mundo tem que abrir tudo e
perguntar aos outros... ‘A quem isto
pertence?’
O ladrão disse, ‘Essa concessão você
tem que me fazer.’
Surabhi, vinte e seis anos de uma falsa
personalidade imposta por pessoas que você
amou, que você respeitou... E eles não estavam
fazendo alguma coisa intencionalmente ruim para
você. A intenção deles era boa, apenas a
consciência deles era nula. Elas não eram
pessoas conscientes – seus pais, seus
professores, seus sacerdotes, seus políticos
– elas não eram pessoas conscientes, eles
eram inconscientes.
E mesmo uma boa intenção nas mãos de
uma pessoa inconsciente pode se tornar venenosa.
Assim, sempre que você está só, surge
um medo profundo, porque de repente o falso começa
a desaparecer.
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E o verdadeiro precisa de um certo tempo.
Você o perdeu há vinte e seis anos. Você
precisará ter alguma consideração com o fato
de que terá que fazer uma ponte sobre esse
intervalo de vinte e seis anos.
Nesse medo – de que ‘eu estou
perdendo a mim mesma, meu senso, minha sanidade,
minha mente – tudo’, porque o ‘eu’ que
lhe foi dado pelos outros consiste em todas
essas coisas – parece que você vai
enlouquecer. Você começa imediatamente a fazer
alguma coisa simplesmente para se manter
ocupada. Se não houver pessoas, pelo menos
existe alguma ação. Assim o falso permanece
ocupado e não começa a desaparecer.
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Por isso as pessoas têm a maior
dificuldade nos feriados de finais de semana.
Por cinco dias elas trabalham, esperando que no
final de semana possam relaxar. Mas o final de
semana é o pior tempo em todo o mundo – mais
acidentes acontecem nos finais de semana, mais
pessoas se suicidam, mais assassinatos, mais
roubos, mais estupros. Estranho... E essas
pessoas estavam ocupadas por cinco dias e não
havia problema algum. Mas o final de semana, de
repente, lhes dá uma escolha, ou estar ocupado
com alguma coisa ou relaxar, mas relaxar é
espantoso; a falsa personalidade desaparece.
Mantenha-se ocupado, faça alguma coisa
estúpida. As pessoas estão correndo para as
praias, para-choques colados nos para-choques,
num trânsito com filas quilométricas. E se você
lhes perguntar para onde elas estão indo, elas
estão indo para longe da multidão – e toda a
multidão está indo com elas. Elas estão indo
procurar um espaço solitário e silencioso –
todas elas.
Na verdade, se elas permanecessem em
casa, elas estariam mais solitárias e
silenciosas – porque todos os idiotas foram em
busca de um lugar solitário e silencioso. E
eles estão correndo como loucos, porque dois
dias se acabarão logo e eles têm que chegar lá
– não pergunte aonde!
E nas praias você vê... Estão tão
apinhadas de gente, nem mesmo os shoppings estão
tão lotados. E muito estranhamente, as pessoas
estão se sentindo muito à vontade, tomando um
banho de sol. Dez mil pessoas numa pequena praia
tomando um banho de sol, relaxando.
A mesma pessoa na mesma praia, sozinha não
seria capaz de relaxar. Mas, você sabe,
milhares de outras pessoas estão relaxando,
todas ao redor dela. As mesmas pessoas estiveram
nos escritórios, as mesmas pessoas estiveram
nas ruas, estiveram nos shoppings, e agora as
mesmas pessoas estão na praia.
A multidão é essencial para o falso
‘eu’ existir.
No momento em que ele está só, você
começa a ficar nervosa.
É aqui que se deve compreender um pouco
a respeito de meditação.
Não fique preocupada, porque aquilo que
pode desaparecer, merece desaparecer. Não faz
sentido agarrar-se àquilo – aquilo não é
seu, aquilo não é você.
Quando o falso tiver ido, você é aquele
ser fresco, inocente e puro que crescerá em seu
lugar.
Nenhuma outra pessoa pode responder a sua pergunta ‘Quem sou
eu?’ – Você saberá.
Todas as técnicas de meditação são
uma ajuda para destruir o falso. Elas não lhe dão
o verdadeiro – o verdadeiro não pode ser
dado.
Aquilo que pode ser dado não pode ser
verdadeiro.
Você já tem o verdadeiro; apenas o
falso tem que ser jogado fora.
Isso pode ser dito de uma maneira
diferente: o mestre lhe tira coisas que você de
fato não tem e lhe dá aquilo que você já
tem.
Meditação é apenas uma coragem para
estar só e silenciosa.
Aos poucos, você começa a sentir uma
qualidade em si mesma, uma nova vida, uma nova
beleza, uma nova inteligência – que não é
tomada de empréstimo de ninguém, que cresce
dentro de você, que tem raízes na sua existência.
E se você não for uma covarde, começará
a fruir, a florescer.
Somente o bravo, o corajoso, as pessoas
que têm firmeza, podem ser religiosas. Não os
freqüentadores de igrejas – esses são
covardes. Não os hindus, não os muçulmanos, não
os cristãos – eles são contra a busca. A
mesma multidão, eles estão tentando tornar
suas falsas identidades mais consolidadas.
Você nasceu. Você veio ao mundo com
vida, com consciência, com uma tremenda
sensitividade. Apenas olhe uma pequena criança
– veja os seus olhos, o frescor. Tudo aquilo
foi coberto por uma falsa personalidade.
Não há necessidade alguma de ter medo.
Você pode perder apenas aquilo que tem
que ser perdido. E é bom que perca logo –
porque quanto mais tempo ficar, mais forte
aquilo se torna.
E ninguém sabe coisa alguma a respeito
do amanhã.
Não morra antes de realizar o seu autêntico
ser.
Somente umas poucas pessoas são
afortunadas, aquelas que viveram com ser autêntico
e que morreram com ser autêntico - porque elas
sabem que a vida é eterna e que a morte é uma
ficção.
Osho – Beyond Enlightenment –
capítulo 18
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
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os direitos reservados
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