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“The Zen Manifesto” é o nome da última série
de palestras proferidas por Osho. Após o dia 10
de abril de 1989 Osho não voltou a falar em público.
Permaneceu em silêncio até 19 de janeiro de
1990, quando deixou o corpo.
O texto
que selecionamos para esta seção foi extraído
da primeira palesta da série "The Zen
Manifesto".
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O
Zen nada tem a ver com a mente
"Amigos,
Este é o
tempo, o tempo propício para um manifesto Zen.
A intelligentsia
ocidental tornou-se familiarizada com o Zen,
apaixonou-se pelo Zen, mas ela ainda está
tentando abordar o Zen a partir da mente. Ela
ainda não chegou à compreensão de que o Zen
nada tem a ver com a mente.
A
tarefa extraordinária do Zen é livrá-lo da
prisão da mente. Ele não é uma filosofia
intelectual; ele não é uma filosofia de jeito
algum. Nem é uma religião, porque ele não tem
ficções, nem mentiras, nem consolações. Ele
é um rugido de leão. E a maior coisa que o Zen
trouxe para o mundo é a liberdade de si mesmo.
Todas
as religiões têm falado a respeito de
abandonar o ego – mas este é um fenômeno
muito estranho: eles querem que você abandone o
seu ego, e o ego é exatamente a sombra de Deus.
Deus é o ego do universo, e o ego é a sua
personalidade. Assim como Deus é o centro exato
da existência, de acordo com as religiões, o
seu ego é o centro de sua mente, de sua
personalidade. Todos eles têm falado a respeito
de abandonar o ego, mas ele não pode ser
abandonado a não ser que Deus seja abandonado.
Você não consegue cortar uma sombra ou um
reflexo, a não ser que a fonte de sua manifestação
seja destruída.
Assim,
as religiões têm dito continuamente, por séculos,
que você deve se livrar do ego – mas por razões
erradas. Eles estiveram lhe pedindo para
abandonar o seu ego para que você possa se
entregar a Deus, para que você possa se
entregar aos sacerdotes, para que você possa se
entregar a todo tipo de tolices, a todo tipo de
teologia, superstição, sistema de crenças.
Mas você não consegue abandonar o ego se ele
é um reflexo de Deus. Deus é uma mentira, lá
fora no universo, e o ego é uma mentira dentro
de sua mente. A sua mente está simplesmente
refletindo uma mentira maior de acordo com o seu
tamanho.
As
religiões colocaram o homem num grande dilema:
eles ficaram louvando a Deus e ficaram
condenando o ego. Assim as pessoas ficaram num
estado de divisão, num espaço esquizofrênico.
Elas tentaram arduamente abandonar o ego, e
quanto mais arduamente elas tentaram, mais difícil
de ser abandonado ele se tornou – porque, quem
iria abandoná-lo? O ego estava tentando
abandonar a si mesmo. Isto é uma
impossibilidade. Assim, mesmo nos mais humildes
dos chamados povos religiosos, o ego se torna
muito sutil. Mas ele não é abandonado. Você
pode ver isso nos olhos de seus santos. (...)
Eu
disse que todas as religiões estão pregando,
‘Abandone o ego.’ O Zen continua além do
ego e além do self. Exceto o Zen,
nenhuma religião chegou no ponto de ir além do
self, além do atman, além de seu espírito,
além de sua individualidade. Isto é
absolutamente uma contribuição de um simples
homem à consciência humana – Goutama Buda.
O
Zen é o florescimento maior. Pouco a pouco,
aperfeiçoando a imagem de Goutama Buda, cada
mestre contribuiu com alguma coisa, uma nova
dimensão. Goutama Buda é a única pessoa em
toda a história da humanidade que disse,
‘Simplesmente abandonar o ego não vai ajudar.
Ele pode ser abandonado facilmente se você
abandonar Deus.’ Ele abandonou Deus e o ego
desapareceu. A lua desapareceu. O reflexo
desapareceu. Ele saiu do espelho, o espelho
estava vazio. O seu reflexo no espelho
desapareceu. Ele estava lutando com o reflexo.
(...)
Goutama
Buda abandonou a idéia de Deus, e foi incrível
que à medida que Deus desapareceu, o ego
desapareceu. Ele era apenas um reflexo de Deus.
Daí o meu esforço para remover Deus. Sem
remover Deus você não consegue remover o ego.
Ele é a sombra da mentira maior no pequeno lago
de sua mente. Então, à medida que o ego
desapareceu com Deus, Buda veio a compreender
que mesmo o self tinha que desaparecer.
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Existem religiões que têm Deus, ego e o
self: Judaismo, Cristianismo, Maometismo,
Hinduismo. E existem religiões que não têm
Deus – Taoismo, Budismo, Jainismo – mas elas
têm o self. Porque elas não têm Deus,
o ego desaparece por si próprio. Agora, todo o
esforço delas é como fazer o seu self puro e
piedoso.
Buda
é o único homem que disse, ‘Se não existe
Deus, não existe ego, o self também é
arbitrário e artificial. Conforme você for
mais profundo em sua interioridade, você de
repente se descobre desaparecendo no oceano da
consciência. Não existe nenhum self
como tal. Você não é mais, somente a existência
é.’
Então, eu chamo o Zen essencialmente
liberdade de si mesmo. Você tem ouvido a
respeito de outras liberdades, mas liberdade de
si mesmo é a maior liberdade - não ser e
permitir que a existência se expresse em toda a
sua espontaneidade e grandeza. Mas é a existência,
não você, não eu. É a vida dançando, ela
mesma, não você, não eu.
Este
é o Manifesto Zen: liberdade de si mesmo.
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E
somento o Zen refinou, nesses vinte cinco séculos,
métodos e dispositivos para fazê-lo consciente
de que você não é, de que você é arbitrário,
apenas uma idéia.
À medida que você
vai além da mente, mesmo a idéia de ‘eu
sou’ desaparece. Quando o ‘eu’ desaparece
e você começa a sentir um profundo
envolvimento na existência, sem quaisquer
limites, somente então o Zen floresceu em você.
Na verdade, este é o estado, o espaço da
consciência desperta. Mas ele não tem qualquer
‘eu’ no centro, nenhum atman, nenhum self.
Para
tornar isso claro para você... Sócrates diz
‘Conheça a si mesmo.’ Goutama Buda diz,
‘Conheça – apenas conheça, e você não
encontrará a si mesmo.’ Entre profundamente
em sua consciência, e o mais profundo que você
for, o seu self começa a se dissolver.
Talvez essa seja a razão porque nenhuma das
religiões, exceto o Zen tenha tentado meditação
– porque meditação destruirá Deus, destruirá
o ego, destruirá o self. Ela o deixará
no nada absoluto. É apenas a mente que o faz
ter medo do nada.
Quase
todos os dias eu recebo questinamentos, ‘Por
que nós temos medo do nada?’
Você
tem medo porque você não conhece o nada. E você
tem medo apenas porque intelectualmente avalia,
‘Qual é o sentido? Se em meditação você
tem que desaparecer, então é melhor permanecer
na mente.’ Pelo menos você é – talvez
ilusoriamente, talvez seja apenas uma idéia,
mas pelo menos você é. Qual é o sentido de
fazer todo esse esforço sem esforço só para
desaparecer no nada?
A
mente simplesmente faz você se precaver quanto
a ir além dos limites da mente, porque além
desses limites, você não é mais. Essa será a
morte maior.
Um
Goutama Buda morre da forma maior, você morre
apenas temporariamente. Talvez por apenas poucos
minutos, poucos segundos, e você entra num
outro útero. Alguns idiotas estão sempre
fazendo amor ao redor do mundo, nas vinte e
quatro horas, e você não tem que viajar longe,
ali mesmo na vizinhança.
Direto,
vinte e quatro horas, milhões de casais estão
fazendo amor, seja qual for o casal mais próximo,
aqui você morre e ali você nasce. O intervalo
é muito pequeno.
Mas
um homem iluminado, um homem que veio a conhecer
o seu nada, o seu não-self, o seu anatta,
simplesmente desaparece no cosmos.
Mente
é medo, e isto parece lógico, óbvio. Qual é
o sentido? Por que se deve fazer uma tal coisa
na qual se desaparece?
Goutama
Buda foi questionado repetidas vezes, ‘Você
é um companheiro estranho. Nós viemos aqui
para realizar o nosso self e a sua meditação
é para DESrealizar o nosso self.’
Sócrates
era um grande gênio, mas confinado à sua
mente; ‘Conheça a si mesmo.’ Não existe self
algum para ser conhecido. Este é o manifesto
Zen para o mundo. Nada há para se conhecer. Você
simplesmente tem que ser um com o todo. E não há
necessidade alguma de ter medo...
Apenas
pense por um momento: quando você não era
nascido, havia alguma ansiedade, alguma preocupação,
alguma angústia? Você não estava ali, não
havia problema algum. Você é o problema, o
começo do problema, e depois, à medida que você
cresce, mais e mais problemas... Mas, antes do
seu nascimento, havia algum problema?
Continuamente,
os mestres Zen perguntam aos novatos, ‘Onde
você estava antes de seu pai nascer?’ Uma
questão absurda, mas de imensa significância.
Eles estão lhe perguntando. ‘Se você não
estava, não havia problema. Então, qual é a
preocupação?’ Se a sua morte se torna a
morte maior e todos os limites desaparecem, você
não estará ali, mas a existência estará. A
dança estará ali, o dançarino não estará. A
canção estará ali, mas o cantor não estará.
Isto
somente é possível de experienciar, entrando
mais fundo, além da mente, até a exata
profundidade do seu ser, até a exata fonte da
vida, de onde a sua vida está fluindo. De
repente você percebe que a imagem de si mesmo
era arbitrária. Você é sem imagem, você é
infinito. Você estava vivendo numa gaiola. No
momento em que você percebe que as suas fontes
são infinitas, de repente a gaiola desaparece e
você pode abrir as suas asas pelo céu azul e
desaparecer. Esse desaparecimento é anatta,
esse desaparecimento é liberdade de si mesmo.
Mas isso é possível, não através do
intelecto, isso é possível através da meditação.
Zen é um outro nome para meditação. (...)
Uma
vez que você conheça meditação, você não
tem que seguir alguém. Você tem seus próprios
olhos abertos e você tem a sua luz exatamente
à sua frente, mostrando o caminho, e tudo o que
é certo e tudo o que é bom acontece sem
escolha. Não é que você esteja fazendo
aquilo, você não consegue fazer de outra
maneira.
Por
seiscentos anos na China, o budismo era apenas
um exercício intelectual, uma boa ginástica.
Mas quando Bodhidharma entrou na China, ele
mudou toda a idéia a respeito do Zen. As
pessoas estavam falando sobre o Zen como se ele
fosse uma outra filosofia, o que não é; como
se ele fosse uma outra religião, o que não é.
Ele é uma rebelião contra a mente e todas as
suas religiões e filosofias são parte da
mente.
Esta
é a única rebelião contra a mente, contra o self,
a única rebelião para retirar todos os limites
que o aprisionam e dar um salto quântico no
nada. Mas esse nada é muito vivo. Ele é vida,
ele é existência. Ele não é uma hipótese. E
quando você dá o salto, a primeira experiência
é que você está desaparecendo. A última
experiência é que você se tornou o todo.”
Osho
– The Zen Manifesto – capítulo 1
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL
FOUNDATION, Suiça.
Todos
os direitos reservados
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