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A maior parte dos milagres é ficção.

 

Querido Osho,

Você nos tem falado sobre Lázaro se levantando e sobre o milagre de Jesus andando sobre as águas. Mas e a respeito do milagre que é você? Você tem transformado tigres em cordeiros, gorilas em budas e pensadores preocupados em estados de não-mente, e tem criado um oásis num deserto. Por favor, Osho, fale-nos do milagre dos milagres que é você!

 

      “Zareen, eu não acredito em milagres, mas ainda assim os milagres acontecem. E pelo fato de não acreditar em milagres, eu não posso reivindicar ser o fazedor. No máximo, eu sou também um observador. 
      Os milagres que Jesus fazia eram corriqueiros: caminhar sobre a água, ou transformar água em vinho ou trazer Lázaro morto de volta à vida. Para mim isto não é milagre.
      Eu me lembro de um dos maiores místicos que este país produziu: Ramakrishna. Ele era um dos homens mais simples que pode existir. Um dia, um grande santo que era muito conhecido por seus milagres veio até ele. Ramakrishna estava sentado às margens do rio em Dakshineshwar, próximo de Calcutá, onde o Ganges se torna imenso e muito lindo. O santo estava muito orgulhoso dos milagres que costumava fazer. E ele veio com o propósito específico de mostrar a Ramakrishna como a sua religiosidade era inútil. 
      Ele disse com grande orgulho e ego em seu coração, ‘O que você está fazendo sentado debaixo desta árvore? Vamos caminhar sobre o Ganges, sobre as suas águas.’
      Ramakrishna disse, ‘Você veio de muito longe. Descanse um pouco e, depois, nós poderemos ir caminhar sobre o Ganges.’
      O homem sentou-se e Ramakrishna lhe disse, ‘Posso lhe perguntar uma coisa? Quanto tempo você levou para aprender a arte de caminhar sobre as águas?’
      O homem disse, ‘Quase trinta e seis anos.’
      Ramakrishna riu e disse, ‘Quando eu quero ir para a outra margem do rio, o preço é de apenas dois centavos, mas o barqueiro nunca me cobra, pois vê que eu sou um homem pobre. Você desperdiçou trinta e seis anos numa arte que vale apenas dois centavos. Você deve ser um idiota.’
      Mesmo que você consiga caminhar sobre águas, isto não torna você espiritual, isto não lhe dá um vislumbre do divino. Ao contrário, isto o leva a uma distância maior de Deus. Você se torna mais egoísta, porque consegue fazer algo que os outros não conseguem.
      Jesus trouxe Lázaro de volta à vida. Naturalmente isto parece ser um grande milagre, mas não é, porque Lázaro não foi transformado, e ele viveu mais alguns anos, repetiu as suas velhas rotinas e depois teve que morrer. Ele trouxe-o de volta à vida, mas não lhe deu algo do eterno. A mesma história se repetiu na vida de Goutama Buda e você poderá ver a diferença entre um milagre real e um pseudo milagre. 
      Um jovem morreu e ele era a única esperança para a sua mãe. O pai havia morrido, assim como haviam morrido seus outros irmãos e irmãs. A mãe estava vivendo apenas com esse rapaz. E este rapaz também morreu. A mãe quase ficou louca. Ela chorava aos prantos e pedia a todo mundo, ‘Digam-me o nome e o endereço de um médico que possa curar e trazer de volta meu filho, porque sem ele eu não consigo viver, eu não tenho nenhuma razão para viver. Eu já tenho carregado tantas feridas: meus outros filhos morreram, meu marido morreu. Mas eu consegui manter o controle por causa deste pequeno e lindo rapazinho, mas agora ele também se foi.’

      Alguém lhe disse, ‘Não se preocupe, Goutama Buda chegou na cidade hoje. Ele está no mangueiral, na outra parte da cidade. Leve o rapaz até Goutama Buda.’
      A mulher com grande esperança e um grande desejo foi até Goutama Buda, levando o cadáver de seu filho. Ela colocou o corpo de seu filho aos pés de Goutama Buda e disse, ‘Se você é verdadeiramente espiritual, se você está acordado, então dê a vida de volta ao meu filho.’
      Goutama Buda disse, ‘Isto não é difícil. Apenas uma pequena condição você terá que cumprir.’
      A mulher disse, ‘Eu cumprirei qualquer condição.’
      Ele disse, ‘Não é uma grande condição. Eu sei que toda a sua vila está colhendo sementes de mostarda. Você vai e me traga apenas uma mão cheia de sementes de mostarda.’
      A mulher começou a correr e disse, ‘Eu estarei de volta em poucos minutos.’
     
Buda lhe disse, ‘Você tem que ouvir toda a condição. A condição é: as sementes de mostarda devem vir de uma família onde jamais alguém tenha morrido.’


Death / That which never dies
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      A mulher estava em tal miséria que nem percebeu qual era o propósito. Ela correu de casa em casa. E as pessoas diziam, ‘Nós podemos lhe dar tantas sementes de mostarda quantas você queira. Nós podemos trazer todas as sementes de mostarda da vila para que o seu filho possa ser trazido de volta à vida. Mas nossas sementes não lhe serão de ajuda alguma, porque muitas pessoas já morreram em nossas famílias e você não conseguirá encontrar uma família na qual ninguém tenha morrido.’ 
      O número de pessoas mortas em todas as famílias era maior do que o número de vivos. Seus pais morreram, seus avós morreram, e assim por diante. Desde Adão e Eva as pessoas nada mais têm feito senão morrer. A fila de mortos é muito grande atrás de cada pessoa.
      Mas ela foi de casa em casa e pouco a pouco, já no final da tarde, ela chegou à consciência. Suas lágrimas secaram, ela voltou ao Goutama Buda e tocou-lhe os pés, dizendo, ‘Perdoe-me sobre o rapaz, neste mundo todo mundo morre. Não importa quando. Inicia-me como sua sannyasin, assim eu poderei experienciar algo que não morre, algo que é imortal, algo que é eterno, que vive para sempre.’
      Buda lhe disse, ‘Você é inteligente e compreendeu o meu propósito.’
      A mulher tornou-se não uma sannyasin comum. Ela iluminou-se antes que Buda morresse. Ela foi a sua primeira discípula, mulher, que se iluminou. Seu nome era Kisha Goutami. Eu chamo a isto um milagre. 
      Aparentemente, parece que trazer Lázaro de volta à vida é um milagre. Mas, qual é o propósito? Ele vai morrer de novo; e você não lhe deu o sabor da imortalidade. Os verdadeiros milagres são invisíveis para a mente comum. Eu não acredito em tais milagres porque eles não são milagres. 
      Zareen, você está perguntando a respeito dos meus milagres. Eu nunca fiz coisa alguma deliberadamente, pois fazer deliberadamente é ir contra o fluxo natural da existência. Eu estou num estado de deixar as coisas acontecerem totalmente por elas mesmas. Sim, coisas acontecem ao meu redor. Mas eu não posso ficar com o crédito por essas coisas, porque eu não fiz coisa alguma.
      As pessoas vêm conhecer pela primeira vez os mistérios do amor e da vida. As pessoas entram em sua própria interioridade, em sua subjetividade, onde elas encontram a si mesmas. 
      E este é o maior milagre no mundo: encontrar a si mesmo.
      As pessoas se tornam silenciosas, serenas, calmas e quietas. As pessoas se tornam uma unidade orgânica. Uma profunda harmonia acontece a elas e toda a vida delas fica ressoando música e poesia. 
      Eu tenho visto paralíticos ganhando força e entregando-se à dança. E quase todo mundo se torna paralítico devido à sociedade. E dançam até o ponto em que o dançarino desaparece e somente a dança continua. Cantam até o ponto em que o cantor desaparece e somente a canção continua. 
      Esses são os momentos em que as portas do divino se abrem. Estes são os momentos em que você não é mais um ser comum, você se torna parte da plenitude, do ser universal. 
      Estes são milagres. Transformar a água em vinho é um crime, não é um milagre. Mas sem água eu tenho visto o meu povo tão embriagado, e nessa embriaguês eles percebem a sua divindade. Mas eu não estou fazendo coisa alguma. E por muitos anos eu nem tenho estado aqui. E no dia em que desapareci, os milagres começaram a acontecer ao meu redor. O amor desabrochou, as pessoas se tornaram despertas de seus sonos de muitas vidas. 
      Mas você não pode atribuir isto a mim.No máximo, a minha presença é um agente catalítico. Talvez isto desencadeie algo dentro de você, transforme você, traga-o para novos sonhos, novas realidades e novos espaços. Mas lembre-se, você não tem que agradecer a mim. Você tem que estar agradecido à própria existência por ela lhe ter dado a oportunidade. 
      Aquele que reivindica para si próprio ser o autor do milagre não é uma pessoa religiosa. Ele nem mesmo conhece o sabor da espiritualidde.
      Uma pessoa espiritual está ausente enquanto pessoa e presente apenas como uma presença – assim como a luz. Depende de você tornar-se radiante com aquela luz ou não. A luz está disponível. Você pode usá-la e tornar-se uma luz em si mesmo. A decisão é sua. Então, se você quiser ver um milagre, você poderá vê-lo em sua própria vida. A maior parte dos outros milagres é ficção. 
      Jamais alguém andou sobre a água. Isto não diz respeito apenas a Jesus – diz respeito as qualquer um. Muitos milagres foram atribuídos a Mahavira, a Buda, a Bhodidharma, a Zaratustra. E todos esses milagres eram coisas corriqueiras. O verdadeiro milagre permanece invisível, não registrado na história, porque somente a pessoa que entra no processo do milagre o conhece, e mesmo ela não consegue provar, não consegue mostrar nenhuma evidência dele.
     
Eu tenho sido um observador aqui. Eu vi você mudar da morte para a vida, eu vi você mudar da escuridão para a luz, eu a vi mudar de uma vida de mentiras para a glória da verdade. Mas eu sou um observador, eu não sou um fazedor. Todo o crédito vai para a própria existência.

                                  OSHO – The Rebellious Spirit – Capítulo 23 – pergunta n° 1
                                 Tradução: Sw. Bodhi Champak

 

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