no seu ser. Ele é recompensado imensamente. Mas ele
não pode fazer nada se o discípulo for um pouco
relutante, um pouco fechado, um pouco amedrontado, não se
rendeu totalmente. Então nada acontecerá.
A propósito, eu me lembrei do tika no terceiro
olho usado pelas mulheres orientais, recomendado pelos
homens para usá-lo. É uma marca redonda vermelha
exatamente no mesmo lugar onde está o terceiro olho. Eles
persuadiram as mulheres, ‘Este é o sinal de estar
casada’. Mas a verdade é outra coisa. É novamente a
longa história de criar a mulher como escrava do homem. A
marca vermelha no terceiro olho está impedindo a mulher
de receber a energia de um mestre. A cor da energia é
vermelha, e o tika que foi recomendado para a mulher pôr
na testa também é vermelho.
As cores funcionam de tal uma forma que se você
tiver uma mancha vermelha em sua testa, todas as cores
serão absorvidas menos o vermelho. O vermelho será
mandado de volta. Assim, o que nós vemos no mundo é um
fenômeno muito estranho. Quando você vir alguém em
roupas azuis, a realidade é que essas roupas não são
azuis, elas estão refletindo de volta a cor azul. Eles
estão absorvendo todas as seis cores do arco-íris dos
raios do sol, mas não aceitando o azul. E porque o azul
não é aceito, ele atinge em seus olhos e você vê a cor
das roupas como azul. Mas tudo isto é muito ilusório -
essas roupas não são azuis.
E desta forma uma estratégia usada por milhares de
anos na Índia, mostra que eles sabiam como funcionam as
cores. Pôr uma marca vermelha no terceiro olho significa
que todas as cores podem ser absorvidas, podem ser
absorvidos todos os tipos de energias, mas não a energia
que tem a cor vermelha. A energia do mestre tem a cor
vermelha; é a cor do sangue, a cor de vida, a cor do
calor.
Impedir as mulheres de se tornarem discípulas ou,
mesmo se eles o fizeram, não lhes permitindo o
privilégio de ser uma discípula, uma estratégia muito
esperta foi usada. Assim se você gosta do tika, use
qualquer cor, porém não use o vermelho. Parece bonito,
use o espectro inteiro de cores, mas exclua vermelho.
Quando o mestre toca o terceiro olho do discípulo,
se o discípulo está disponível - e isso é um grande
SE, que raramente acontece - então de repente um fluxo de
calor, vida, e consciência começa a atingir o ponto que
por razões específicas nós chamamos o terceiro olho. É
o ponto que, se abrir, faz de você um vidente. Então
você pode ver coisas sobre você e sobre outros mais
claramente, mais transparentemente--e sua vida inteira
começará a mudar com esta nova visão.
Mas eu não usei o método de shaktipat por mais
que seis anos porque sentia que havia algumas falhas nele.
Primeiro, o discípulo tem que estar em um estado mais
baixo que o mestre, do que eu não gosto. Aqui, ninguém
é mais baixo; como ninguém é mais alto. O discípulo
tem que ser apenas um receptor. Ele não pode contribuir
em nada. E também ele fica dependente, porque somente
quando o mestre o toca é que ele se sente cheio de
energia, cheio de alegria, mas não de outra forma.
Depois, a mesma idéia de rendição é basicamente
difícil, e pedir rendição total é pedir o impossível.
Nós deveríamos pensar nas condições humanas. Nós
estamos lidando com seres humanos, e não deveríamos
pedir algo que eles não podem fazer. E quando eles não
podem fazer algo e são condenados, eles começam a se
sentirem culpados por não estarem abertos, e por não
terem se rendido totalmente, e por haver dúvidas em suas
mentes. Assim é criada a culpa. Em vez de rendição
você criou a culpa.
Durante seis anos tentei achar métodos mais
refinados, e eu os achei. Talvez eles nunca tenham sido
usados antes, mas são mais civilizados, refinados e mais
humano. Por exemplo, quando estou falando com você, eu
não estou lhe pedindo que se renda, que fique aberto,
não estou lhe pedindo nada. Mas apenas por me escutar,
tudo acontece automaticamente -- você não tem que fazer
nada.
Energia não é algo físico, que você tem que
tocar a pessoa. Ela pode acontecer apenas olhando nos
olhos da pessoa. Ela pode acontecer apenas por seu gesto,
ou apenas no silêncio entre duas palavras. Deste modo
nada é pedido e ainda está mais facilmente disponível.
Depois, o discípulo não necessita ser um escravo,
um escravo espiritual. Ele pode ser um amigo. Eu sinto que
você pode confiar mais em um amigo do que pode confiar em
qualquer outra pessoa.
Amizade é o mais alto florescimento do amor onde
tudo que é primitivo no amor foi derrubado e somente o
perfume permanece. E o perfume pode ser alcançado sem
qualquer conexão física. Nestes seis anos eu vi isto
acontecendo mais e mais em uma vasta escala. Você nem
está esperando pela energia, nem está preparando para a
energia e inesperadamente, ela vem como uma surpresa e
enche o seu coração.
No método antigo a rendição é pedida; no
método novo é pedido somente uma amizade amorosa que é
mais humana, mais natural. No antigo método a rendição
tinha que ser à base de tudo. Mas lembre-se, a quem quer
que você se renda, você levará um rancor contra essa
pessoa.
Não é apenas uma coincidência que Judas, um dos
discípulos mais proeminentes de Jesus, o traiu. O
próprio genro de Mahavira o traiu. O próprio
primo-irmão de Buddha, Devadatta, o traiu. Não é uma
exceção, mas uma regra. Estas pessoas podem ter se
rendido, mas um pouco de relutância deve ter continuado
neles.
Por exemplo, o caso de Judas. . . . Ele era mais
educado, culto, e filosoficamente mais instruído que o
próprio Jesus, e ele teve que se render e ter fé em um
homem que sabia menos que ele. Alguma coisa estava
acontecendo dentro dele, mordendo-o--" Algo tem que
ser feito. Uma vingança tem que ser tomada".
O genro de Mahavira. . . . Na Índia é a
tradição que o genro seja muito respeitado; até mesmo o
sogro tem que tocar os seus pés. A única filha de
Mahavira se tornou uma sannyasin, e assim o genro pensou
que como de costume ele seria o sucessor de Mahavira--"
quem mais poderia reivindicar? Houve um momento que até
mesmo Mahavira tinha tocado os seus pés!
Mas Mahavira não quis isto porque haviam na
comunidade pessoas mais sábias, mais iluminadas. Ele
recusou o genro, dizendo, ‘não é uma questão de
relacionamento, e no momento em que você se tornou um
monge você deveria ter esquecido esta relação’.
Ele rebelou-se contra e traiu Mahavira. Então
Mahavira escolheu uma outra pessoa que era o mais
instruído, o mais carismático, e um orador muito
influente.
Goshalak tinha tremendo poder, de muitas formas
sobre muitos reis. Mas Goshalak estava acostumado, tomou
isso como garantido, e começou a usar o poder dele em
cima de outros, enquanto dizia, ‘eu vou ser o sucessor
de Mahavira.’
Tem uma história muito bonita. . .
Goshalak e Mahavira ambos estavam indo para a sua
mendicância diária. Eles passavam por uma planta que
tinha brotado recentemente. Goshalak disse a Mahavira, ‘Senhor,
você diz que tudo acontece de acordo com uma certa lei do
karma. Agora, o que você pode dizer sobre esta planta,
ela sobreviverá ou não? Você é onisciente, você pode
saber’.
Mahavira disse, ‘ela sobreviverá, e se tornará
uma árvore muito grande com grande folhagem’.
Goshalak foi até a planta, arrancou-a e jogou
fora, dizendo, ‘Agora nós veremos como essa árvore
crescerá com uma grande folhagem’.
Mahavira simplesmente sorriu, e eles caminharam
para a aldeia.
Enquanto isso, aconteceu um grande ciclone. . .
chuvas. Quando eles se voltaram, Mahavira mostrou para ele
que a planta estava ficando em pé. O ciclone e as chuvas
tinham mudado sua posição. Estava novamente de volta à
terra. E Mahavira disse, ‘Goshalak, você quer tentar
novamente? Esta planta vai se tornar uma grande árvore,
com grande folhagem, uma bonita árvore. Você não pode
mudar o seu curso.’
Goshalak ficou muito bravo. Mahavira mudou seu
pensamento, este não era o homem certo: ‘Se ele
suspeita de minha abordagem com a vida, toda a minha
filosofia, então ele não pode ser meu sucessor.’
No momento em que Goshalak achou que não iria ser
o sucessor, ele se rebelou imediatamente, levando
quinhentos sannyasins de Mahavira com ele. Ele se
proclamou ser o verdadeiro mestre, e Mahavira apenas uma
fraude.
Meu próprio insight é que estas pessoas tinham se
rendido, mas alguma parte do ser delas permaneceu não
rendida, esperando por uma vingança, e enquanto esperam
por uma oportunidade, cedo ou tarde a oportunidade
acontece.
Eu não sou muito a favor da antiga estratégia. Eu
usei isto porque isso era a única estratégia que estava
disponível. Mas devagarzinho eu vi suas desvantagens,
suas falhas. Ela pode ajudar alguns, mas prejudicou muitos
mais. Desde então eu tenho tentado achar modos mais
sutis, mais humanos, mais invisíveis. Eu os achei e eles
estão funcionando, estão funcionando tremendamente.
Posso fazer o mesmo apenas falando com você, ou apenas
com o meu silêncio. Eu posso fazer o mesmo apenas com a
minha presença.
E eu não lhe peço nada. O que quer que eu esteja
fazendo, se você se envolver nisto, o que vai
acontecer... Se
você estiver me escutando, você vai se envolver. Se eu
estou olhando para você, no momento em que você não
pode pensar em nada, algo exala e você se torna uma
chama. É mais delicado e mais adaptado às camadas mais
altas de consciência.
Nesta referência a palavra `Amigo' pode ser usada,
mas não na primeira. É por isso que eu tenho insistido
na palavra `Amigo'.
Eu não quero ser traído por você.
Eu não quero nenhum Judas, nenhum Goshalak, nenhum
Devadatta. E se eu não estou apresentando uma posição
mais elevada que você, não há nenhuma necessidade de
ser traído.
Eu tenho sido apenas um amigo no caminho,
caminhando junto--ninguém mais alto, ninguém mais baixo.
Nós apenas gostamos um do outro e caminhamos junto! E
como nós caminhamos junto, a preferência se tornou amor.
Enquanto caminhamos juntos, nós nos tornamos mais e mais
íntimos e a energia é transferida.
Isto é algo novo que antes nunca foi dito, e nunca
tinha sido tentado. Eu quero fazer uma linha clara que
divide a história de escravidão espiritual da liberdade
espiritual onde o mestre é tão confiante da sua
autoridade que não precisa fingir ser mais alto. Você
consegue ver o ponto? Sempre que alguém finge ser mais
alto, ele é suspeito da sua altura, ele é suspeito da
sua autoridade.
Somente um verdadeiro mestre pode ser
humilde.
Somente um verdadeiro mestre pode ser humano.
Os antigos métodos de religião, todos eles têm
que ser abandonados. Nós demos bastante tempo para eles;
e não tiveram sucesso transformando a humanidade. Agora
nós temos que trabalhar de um modo diferente, de um modo
novo.
Meu sentimento é que existe milhões de pessoas no
mundo que querem ser transformadas, mas que não querem
ser humilhados diante de um Deus, diante de um mestre;
pessoas que têm um pouco de auto-respeito.
Eu estou abrindo a porta para todas essas pessoas
que têm algum auto-respeito. Nós não tocaremos em seu
auto-respeito. É totalmente seguro. Se ele desaparecer
pela sua própria decisão e deixar uma consciência
melhor dentro de você, foi você quem decidiu.
OSHO, The Sword and the Lotus, Capítulo 7, pergunta 1
Tradução: Ma Shanti Leela
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