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A
relação entre mestre e discípulo
“Querido
Osho,
Sinto um amor carinhoso quando estou
na sua presença, mas percebo que quando não
estou próximo a você, não é do mesmo jeito.
É verdade que espaço e tempo não fazem
qualquer diferença na grande relação entre
mestre e discípulo?
Deva Suria, é sempre verdade que espaço
e tempo não fazem qualquer diferença na grande
relação amorosa entre discípulo e mestre. Não
que em algumas vezes seja verdade e em outras, não.
Essa questão é eterna. Mas, na experiência
real, particularmente no começo, o amor do discípulo
ainda não é tão puro; ainda existem
expectativas. Não é um amor sem desejos; ele
está poluído por muitas coisas.
Por
causa dessa poluição de desejos e
expectativas, tem-se a impressão que espaço e
tempo fazem alguma diferença. Eles não fazem
diferença no que se refere ao amor, mas o seu
amor não é apenas amor; ele tem muitas outras
coisas envolvidas. Mesmo a expectativa da
iluminação é suficiente para destruir a sua
pureza.
O
princípio se aplica ao amor puro, ao amor que
é simplesmente feliz sem que haja qualquer
motivo, ao amor que já juntou a dança do
mestre ao coração. Então, o mestre não está
mais fora, você o carrega dentro de si, onde
quer que esteja. É por isto que espaço e tempo
não fazem qualquer diferença. Mas se o mestre
ainda estiver do lado de fora, como um objeto de
amor, então o espaço fará diferença, o tempo
fará diferença. A diferença vem através das
impurezas e elas são quase inevitáveis no começo,
porque você não consegue pensar que o desejo
pela iluminação seja uma impureza.
De
fato, para você, a grande relação amorosa
entre o mestre e o discípulo está acontecendo
somente por causa de seu anseio pela iluminação.
Naturalmente, quando você está próximo, você
sente mais confiança. Quanto mais próximo
estiver, mais você sentirá a presença do
mestre. Quanto mais longe você for, mais a sua
confiança começará a estremecer porque o
mestre ainda é apenas um meio para se chegar a
um certo fim.
Quando
Gautama Buda morreu, havia dez mil discípulos
que sempre o seguiam em suas longas jornadas.
Naquela grande multidão de discípulos, havia
pessoas como Sariputta, Maudgalyan, Mahakashyapa,
Manjushri, Vimal Kirti e muitos outros que já
tinham se tornado iluminados, que já haviam
cruzado a barreira entre o mestre e o discípulo,
que já haviam entrado no mundo da devoção.
Quando
Gautama Buda morreu foi um grande choque para
todo mundo, mesmo para o seu discípulo mais próximo,
Ananda, que desatou a chorar. Ele era mais velho
que Gautama Buda. Buda tinha oitenta e dois anos
e Ananda, cerca de oitenta e cinco ou mais. Ele
desatou a chorar como uma criança que perdeu a
mãe. Mas Manjushri, Vimal Kirti e Sariputta
permaneceram completamente silenciosos, como se
nada estivesse acontecendo, ou se o que
estivesse acontecendo não lhes dissesse
respeito.
Muitos
discípulos ficaram chocados com a frieza de
Sariputta e dos outros; eles não conseguiam
entender. Eles podiam entender o Ananda
desatando a chorar. Na verdade, eles pensavam
que Ananda era o mais íntimo. Enquanto
Sariputta, Maudgalyan e Mahakashyapa permaneciam
sentados em silêncio.As pessoas lhes
perguntavam, ‘Por que vocês estão em silêncio,
enquando Ananda está chorando?’
Sariputta
respondeu, ‘Porque para mim, meu mestre nunca
pode morrer. A morte não consegue nos separar.
Ele apenas deixou o seu corpo, mas ele continua
aqui; meu coração ainda está sentindo a sua
presença, na verdade, sentindo mais do que
nunca.’
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E as respostas dos outros discípulos
iluminados foram as mesmas, sem uma simples lágrima
em seus olhos. Eles não eram duros nem frios.
Eles simplesmente já tinham cruzado a barreira
entre mestre e discípulo. Ou você pode dizer
que eles entraram na consciência do mestre, ou
eles permitiram que a consciência do mestre
entrasse neles, o que quer dizer a mesma coisa:
os dois desapareceram e agora existe apenas um.
O
entendimento das pessoas estava absolutamente
errado que Ananda devia ter amado mais o mestre,
porque ele havia desatado a chorar. Perguntado,
ele disse, ‘Eu estou chorando porque enquanto
ele estava vivo, por quarenta e dois anos eu fui
o seu discípulo mais íntimo, intimidade no
sentido de que eu estava sempre com ele. Nestes
quarenta e dois anos, nem por um simples dia eu
me separei dele, mesmo à noite eu costumava
dormir em seu quarto, só para estar presente,
no caso dele precisar de algo. Eu não estou
chorando porque eu era o mais íntimo; eu choro
porque mesmo com essa prolongada intimidade, eu
permaneci separado dele. Alguma coisa permanecia
como uma barreira.’
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Death -
Osho Neo Tarot
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Gautama Buda não estava morto ainda. Ele
apenas tinha fechado os olhos e estava relaxando
no eterno.Ele voltou, abriu os olhos e disse ao
Ananda, ‘Não se preocupe. Era a minha presença
e o seu amor para comigo que era a barreira,
porque o seu amor tinha uma motivação. Você
queria tornar-se iluminado antes de todos, e você
sempre tinha uma inveja escondida quando os
outros alcançavam o seu potencial, chegando à
própria fonte. No fundo você se sentia
machucado, porque você estava muito próximo,
mas eram os outros que estavam se tornando
iluminados antes de você. Você não conseguia
alegrar-se com a iluminação deles. Você
poderia ter se alegrado, poderia ter celebrado,
mas o foco de sua mente era a sua própria
iluminação, era muito você. E a
sua inconsciência continuou desde o primeiro
dia, preso à idéia de que você é meu
primo-irmão, meu irmão mais velho. Ainda que
desde o primeiro dia você não tenha mais
mencionado isso, a memória piscológica estava
ali. Conscientemente, deliberadamente você
tornou-se um discípulo, mas inconscientemente
você sempre sabia que era o meu irmão mais
velho; você não conseguiu dissolver-se em mim.
Mas não chore, vinte e quatro horas após o
momento em que eu morrer, você se tornará
iluminado. Sem a minha morte, você não
consegue tornar-se iluminado.’
Ananda
ainda não conseguia consolar-se. Ele disse,
‘Depois de vinte quatro horas você não estará
aqui. Para quem eu irei perguntar se eu me
tornei iluminado ou não? E, na eternidade do
tempo, eu não sei quando eu encontrarei um
homem como você, com uma consciência tão
grande e vasta.’
Buda
lhe disse, ‘Não se preocupe, isso vai
acontecer. Eu estava observando continuamente.
Eu mesmo estava intrigado porque não estava
acontecendo com você. Você queria tanto.’
E
esse é o problema: deseje demais a iluminação
e você a perderá, retenha em algum lugar do
seu inconsciente o desejo de alcançá-la e você
não alcançará.
Relaxando,
esquecendo tudo sobre iluminação, esquecendo
tudo sobre o futuro, vivendo no presente, o seu
amor atingirá uma pureza clara e cristalina, não
poluída por qualquer desejo, nem mesmo o desejo
maior pela iluminação.
Então
você não sentirá a distinção entre o mestre
e você mesmo, e carregará o mestre dentro do
seu coração. Então, onde quer que você
esteja, o mestre estará com você. A dualidade
será deixada de lado; as duas chamas se tornarão
uma. Não é a sua chama e não é a chama do
mestre. Quando aquelas duas chamas se tornam
uma, elas se tornam universal. Na separação,
você é um discípulo e existe um mestre.
Tornando-se um, o discípulo desaparece e o
mestre desaparece; o que permanece é apenas a
pura consciência.
A
transformação do amor em pura consciência é
a alquimia a ser aprendida quando se está próximo
de um mestre. Estando próximo de um mestre, você
pode desfrutar de seu carinho, da sua presença,
das suas palavras, da batida de seu coração.
Mas quando você se afasta, você não é capaz
de ouvir a mesma batida do coração, você
volta de novo à estaca zero. Você ouvirá a
batida do coração, mas será do seu próprio
coração. Próximo ao mestre você está sob a
sua influência.
O
segredo do aprendizado é a purificação de seu
amor.
Abandone
todas as ambições.
Nada
há para ser alcançado.
Tudo
que você deseja já está presente em você. O
mestre não vai lhe dar algo que você ainda não
tenha. Na verdade, o mestre continua tirando
coisas que você pensa que tem, mas que não
tem. E o mestre não pode, naturalmente, dar-lhe
aquilo que você já tem. Ele só consegue
retirar todas as barreiras, todos os estorvos,
todos os obstáculos, de modo que só permaneça
aquilo que lhe é próprio. Em tal espaço não
poluído, a distinção entre o mestre e o discípulo
deixa de existir. Isto não significa que você
não se sinta agradecido ao mestre. Na verdade,
somente depois que isto tenha acontecido, você
sentirá pela primeira vez, uma tremenda gratidão.
Sariputta estava muito relutante em
partir para espalhar a mensagem. Buda pediu-lhe
para ir ao seu próprio reino. Ele era um príncipe,
antes de se tornar um discípulo. Buda disse,
‘Agora é sua responsabilidade e sua compaixão
ir até o seu povo: ao seu pai, sua mãe, a todo
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Devotion
- Osho Neo Tarot
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seu
reino. Deixe que eles fiquem cientes do que você
alcançou. Compartilhe, eles também têm o
potencial.’
Ele
estava muito relutante para partir. Buda disse,
‘Qual é a relutância? Agora eu estou dentro
de você. Eu estou enviando-o para longe,
sabendo perfeitamente bem que você não sentirá
qualquer distância.’
Sariputta
disse, ‘A distância não é o problema. Eu
posso ir até a estrela mais distante e você
ainda estará dentro do meu coração. O
problema é que, estando aqui, eu toco os seus pés
todos os dias. Você poderá estar em meu coração,
mas como eu vou tocar os seus pés?’
Gautama Buda disse, ‘Você é um ser
iluminado. Você não tem que tocar os meus pés.’
Sariputta
disse, ‘Antes da iluminação, isto era um
ritual. Eu tocava os seus pés apenas porque
todo discípulo estava tocando. Mas agora não
é mais um ritual. Agora é autêntica gratidão,
porque sem você, eu não teria alcançado a mim
mesmo. Embora isto estivesse sempre dentro de
mim, eu não acho que sozinho seria capaz dessa
descoberta, pelo menos, não nesta vida. A sua
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compaixão,
o seu amor, as bênçãos que continuamente você
derramou sobre mim, pouco a pouco, removeram
tudo aquilo que não era eu mesmo. Agora, quando
eu toco os seus pés, não é um ritual, é um
alimento do coração. Eu me sinto nutrido. No
dia em que eu deixo de tocar-lhe os pés, sinto
um vazio. E sei que você está dentro de
mim.’
Buda
disse, ‘Todos vocês que se tornaram
iluminados terão que aprender a estar longe de
mim, e ao mesmo tempo não estarem longe de mim.
É verdade que vocês não conseguirão tocar os
meus pés, mas, de onde vocês estiverem,
simplesmente se voltem para o lado onde vocês
acham que eu estou e curvem-se até a terra. O
meu corpo pertence à terra. Se vocês tocarem a
terra com a mesma gratidão, estarão tocando a
mim.’
Sariputta
partiu. E as pessoas de seu reino não
conseguiam acreditar; ele havia alcançado uma
grande glória, uma grande magnificência, uma
grande beleza. Tudo isto era milagroso, mas a
curiosidade deles era porque todos os dias, pela
manhã e ao anoitecer ele se voltava para a direção
onde, longe, Buda estava morando, e tocava a
terra com tremenda gratidão.
Eles
diziam, ‘Você é um ser iluminado, não tem
que tocar a terra.’
Ele
dizia, 'Eu não estou tocando a terra. Aprendi
um novo segredo, que o corpo nada mais é do que
terra, e que ela contém não apenas os pés do
meu Buda, meu mestre, mas todos os budas do
passado, do presente e do futuro. Tocando-a, eu
toco todos aqueles que tornaram-se despertos e
fizeram com que o caminho ficasse claro para
mim, mostraram-me o caminho.’
Mesmo
depois que Buda morreu, ele continuou
curvando-se, voltado para a mesma direção onde
estava o corpo de Buda em seus últimos
momentos. Ele nunca sentiu qualquer separação.
E isto não foi apenas com ele, mas com todos os
vinte e quatro discípulos que haviam se
iluminado.
Ananda
iluminou-se, conforme Buda predisse, vinte
quatro horas após ele deixar o corpo. Na
verdade, ele nem se moveu do lugar. Quando Buda
morreu, ele fechou os olhos e permaneceu sem
comer, sem beber, sem dormir. Aquelas vinte e
quatro horas foram o tempo mais importante de
sua vida, um tempo de transformação de um ser
ignorante em uma alma desperta. Ele somente
abriu os olhos quando as lágrimas haviam
desaparecido e um sorriso havia brotado em seu
rosto.
Manjushri
estava próximo e disse, ‘O que aconteceu? Você
esteve chorando, esteve sentado como se
estivesse morto, e, de repente, você está
rindo’.
Ananda
disse, ‘Eu estou rindo porque a sua predição
provou estar certa. O obstáculo era a impureza
de meu amor. E agora que ele se foi, não há
mais razão para sentir-me como seu irmão mais
velho, para sentir qualquer apego. Em sua pira
funerária, na medida em que o seu corpo
desaparecia na fumaça, todos os meus apegos
também desapareciam.’
Não
será necessário, Suria, que eu tenha que estar
numa pira funerária para você se tornar
iluminada. Pode ser assim, se você precisar. Um
dia eu estarei lá, mas será muito mais bonito
se no dia em que eu estiver numa pira funerária,
você estiver sem lágrimas. Quando eu
desaparecer do corpo, você saberá que eu
tornei-me mais profundamente envolvido dentro de
você e dentro de toda a existência.”
OSHO
– The Invitation – Disc n° 3 – pergunta n°
1
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.
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