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N.T.:
Após deixar os Estados Unidos em novembro de
1985, Osho retornou à Índia, de onde seguiu
para o Nepal. Em fevereiro de 1986 partiu para
um tour mundial, mas 21 países, sob pressão da
administração Reagan (EUA), o deportaram ou
recusaram sua entrada. Em julho de 1986, Osho se
estabeleceu em Bombaim e no final de dezembro
daquele ano retornou a Puna, dando início ao
período que se convencionou chamar de
“Puna-2”, onde permaneceu até deixar o
corpo em janeiro de 1990. Em outubro de 1986 ele
proferiu uma série de palestras denominada
“Beyond Enlightenment”. O texto seguinte foi
extraído dessa série.
Espere
e observe
Bombaim, 13 de
outubro de 1986.
“Querido Osho,
Depois que saí de Rajneeshpuran em novembro
passado, eu tive a experiência de sentir como
se fosse quase impossível encontrar o que
fazer. No começo foi um pouco assustador, mas
depois eu pude perceber que bastava esperar e
muitas coisas bonitas começaram a acontecer
comigo, sem que eu tivesse que tomar qualquer
iniciativa.
É assim que as coisas funcionam quando estamos
com você?”
Esta
é a maneira como as coisas acontecem, mas não
apenas ao meu redor. Esta é a maneira, em toda
a existência.
Você simplesmente espera e tudo acontece no
momento certo. Espere e observe. Não caia no
sono, porque na espera é muito natural cair no
sono. Nada tendo a fazer, é fácil cair no
sono. Aí as coisas estarão acontecendo, mas
você nem saberá. Por isto, espere e observe.
A vida tem sido perturbada pelos que se
intitulam praticantes de boas ações, pelos que
estão continuamente pregando ao redor do mundo:
‘Faça isto, faça aquilo, ajude os pobres’.
O fazer tem sido tão exaltado que temos
esquecido completamente a arte de esperar,
embora seja certo que existem coisas que só
podem acontecer se você as fizer.
Por exemplo, a sua riqueza não irá crescer se
você ficar só esperando.
Mas há pessoas que até ensinam isto. Um
pensador americano, Napoleon Hill, escreveu
belos livros. Ele é um mestre na arte de
escrever. Eu sempre gostei de um de seus livros
– ‘Pense e Enriqueça’ – embora seja uma
absoluta tolice. Mas ele escreve bem. E há
pessoas que acreditam que tudo o que têm por
fazer é simplesmente esperar. Semeie as
sementes do pensamento de que um automóvel
Cadillac deverá entrar em sua garagem, e fique
esperando. E um dia, de repente, um Cadillac
chegará e será entregue a você. Existem
pessoas que acreditam nisto, que o pensamento
tem muito poder.
Na
América existe uma seita cristã que, há cinqüenta
anos, foi muito importante porque uma grande
maioria acredita nisto. A seita se denomina
‘Ciência Cristã’. E a ciência é que você
nada precisa fazer, você apenas tem que pensar.
Deus é um fazedor. Você pensa, reza e espera;
simplesmente dá um tempo para Deus. E o que você
pensa? Um Cadillac é maior do que todo o
universo? Deus consegue criar todo um universo,
por que não conseguirá criar um Cadillac?
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Eu
ouvi contar uma história de um jovem que estava
indo para a escola e encontrou no caminho uma
velha senhora. Ela lhe perguntou, ‘O que
aconteceu com seu pai? Ele não tem vindo aos
nossos encontros de domingo.’ Eles eram
Cientistas Cristãos.
O rapaz disse, ‘Ele está doente’.
A velha senhora riu e disse, ‘Que tolice, ele
deve estar pensando que está doente. O
pensamento é o que importa. Lembre apenas ao
seu velho pai que por toda a sua vida ele foi um
membro da Ciência Cristã, mas que ele ainda não
entendeu uma coisa simples. Diga-lhe para parar
de pensar que está doente e ele não ficará
mais doente.’
O rapaz disse, ‘Eu vou dar o recado a ele.’
Uma
semana depois o rapaz encontrou-se novamente com
a velha senhora e ela lhe disse, ‘O que
aconteceu? Por que ele não veio para o encontro
semanal dos Cientistas Cristãos desta
semana?’
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O Fardo - Osho
Zen Tarot
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O
rapaz disse, ‘Senhora, ele agora está
pensando que está morto. E não é apenas ele
que está pensando que está morto, toda a
vizinhança também está pensando o mesmo, e
chegaram até a enterrá-lo num caixão. Eu
tentei convencê-los. Eu lhes disse para
esperar, pois talvez ele estivesse apenas
pensando que estava morto. Mas eles acharam que
eu estava maluco.’
Existem coisas que continuam acontecendo sem que
você faça algo; você tem apenas que esperar.
E existem coisas que você tem que fazer para
que elas aconteçam. Pouco a pouco, as coisas
que acontecem devido ao seu fazer passam a ser
mais importantes. Elas são as suas posses
materiais, o seu poder, o seu prestígio, os
seus palácios, os seus impérios. Elas não irão
acontecer se você apenas esperar. Se ficar
esperando, você não se tornará um Alexandre,
o Grande. As coisas que somente acontecem se você
as fizer tornam-se importantes e por isso a
humanidade se esquece completamente de todo o
conjunto de coisas que acontecem
independentemente do seu fazer.
O amor acontece, você não consegue fazê-lo,
embora em todo o mundo as pessoas têm tentado
fazê-lo. E é tão estranho como o mundo ainda
não tenha reconhecido este seu completo
fracasso.
Por séculos, os pais estiveram combinando
casamentos para seus filhos. Astrólogos e
quiromantes eram consultados, tudo era
investigado a respeito da família, das
riquezas, do caráter das pessoas, mas ninguém
perguntava ao rapaz e à moça se eles se
amavam. O amor não era objeto de suas investigações.
Era tido como certo que se eles se casassem,
eles se amariam.
Por milhares de anos a humanidade fez isto, e
ainda faz. E quando os meninos e as meninas se
casavam, eles começavam como irmãos e irmãs,
brigando e brincando um com o outro. Eles nunca
vieram a conhecer o que era o amor. Eles achavam
que aquilo era o amor. Eles tinham filhos, os
maridos compravam belos vestidos para suas
esposas, enquanto elas tentavam tornar as vidas
de seus maridos o mais difícil possível. De
todas as maneiras, eles se ajudavam mutuamente.
Foi somente no século XX que as pessoas começaram
a dizer, “A não ser que haja amor, nós não
nos casaremos’. E isto aconteceu apenas em países
mais avançados.
Mas o amor é uma questão a respeito da qual
você nada pode fazer. Ou ele acontece ou ele não
acontece. Ele não está sob o seu controle.
O ‘casamento por amor’ chegou ao mundo, mas
ele não irá sobreviver, pela simples razão
que o amor vem, acontece e um dia, de repente,
ele se vai. Não está em suas mãos trazê-lo,
nem está em suas mãos mantê-lo.
O casamento à moda antiga fracassou devido à
insistência que você deveria amar a sua
esposa, você deveria amar o seu marido. Era um
‘dever’. E você nem mesmo conseguia
conceber como poderia ser o amor; no máximo,
você conseguia fingir e representar.
Mas o amor não é um fingimento nem uma
representação. Você nada consegue fazer. Você
não tem poder algum no que se refere ao amor.
O casamento à moda antiga fracassou. O novo
casamento está fracassando porque ele é
simplesmente uma reação ao velho casamento.
Ele não é o resultado de uma compreensão, mas
apenas uma reação, uma revolta, o ‘casamento
por amor’.
Você não sabe o que é o amor. Você
simplesmente vê um belo rosto, um belo corpo e
pensa: ‘Meu Deus, eu estou apaixonado’. Este
amor não irá durar porque depois de dois dias,
vendo o mesmo rosto, vinte quatro horas por dia,
você ficará entediado. O mesmo corpo... Você
já explorou toda aquela topografia; agora nada
mais existe para ser explorado. Explorar a mesma
geografia novamente fará você sentir-se como
um idiota. Qual é o sentido disso?
Esse encontro amoroso, esse casamento por amor
está fracassando. O amor não é uma paixão
nem um desejo. O amor não é sexual. O amor é
um sentimento de dois corações batendo num
mesmo ritmo. Não é uma questão de belos
rostos ou de belos corpos. É alguma coisa muito
profunda, uma questão de harmonia.
Se o amor surge da harmonia, somente então nós
conheceremos uma vida de sucesso, uma vida de
preenchimento na qual o amor continuará se
aprofundando porque ele não depende de nada
externo, ele depende de algo interior. Ele não
depende do nariz nem do tamanho do nariz. Ele
depende de um sentimento interno de dois corações
batendo num mesmo ritmo. Esse ritmo pode
continuar crescendo, pode alcançar novas
profundidades, novos espaços. O sexo pode ser
uma parte dele, mas ele não é sexual. O sexo
pode acontecer e pode desaparecer nele. Ele é
muito maior que o sexo.
Assim, se a pessoa que ama é mais jovem ou mais
velha não interessa. Volta e meia, toda mulher
pensa nisto; muitas mulheres já perguntaram aos
seus amantes, ‘Você continuará me amando
quando eu envelhecer?’
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Compromisso - Osho
Zen Tarot
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Um amigo me contou que a garota que ele ama está
continuamente lhe perguntando, ‘Você me amará
quando eu envelhecer?’. Ele me perguntou, ‘O
que eu devo dizer?’
Eu disse, ‘Porque você está me trazendo
desnecessariamente este problema? Este é um
problema seu. Diga qualquer coisa. O que você
sente?’
Ele disse, ‘Se ela ficar como a mãe dela, eu
não conseguirei amá-la. E muito provavelmente
ela se tornará como a mãe, este é todo o meu
medo.’
Então eu disse, ‘Diga isto claramente, que a
sua velhice não é o problema; mas se ela se
tornar como sua mãe, então simplesmente esqueça
você. Você não será capaz de amá-la.’
Ele disse, ‘Mas então tudo acabará, porque a
mãe dela ficará furiosa e tudo depende dela.
Eu estou tentando convencer a mãe dela. O pai já
está morto, ela é a única que pode decidir
sobre o casamento. Em segundo lugar, a garota
também ficará furiosa porque ela sempre soube
que um dia ficará como a sua mãe. Todos os
sintomas já estão ali.’
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Eu
disse, ‘Então fique quieto. Quando as
dificuldades chegarem, venha me ver
novamente.’
Ele disse, ‘Mas aquela garota é tão
insistente. Ela quer saber antes do
casamento.’
Eu disse, ‘É simples. Comece a lhe perguntar
– quando eu envelhecer você me amará?’
Ele disse, ‘Ah! Isto é bom, porque eu vou
ficar velho como o meu pai e ela o odeia, da
mesma forma como eu odeio a sua mãe. Isto está
absolutamente certo.’
Ele lhe disse, mas ela respondeu, ‘Nunca! Se
você ficar como o seu pai, eu não irei amá-lo.
Eu irei me divorciar de você imediatamente.’
O rapaz disse, ‘Então, quando as dificuldades
chegarem nós veremos o que fazer. Mas por que
trazer estes problemas agora?’
Mas todo o seu amor está dependente dessas
coisas tão pequenas – o tamanho do nariz, os
olhos, a cor dos cabelos, as proporções do
corpo. Essas coisas nada têm a ver com o amor.
O amor é um sentimento de harmonia, de consonância
com um indivíduo.
Então,
esta não é apenas uma questão entre o mestre
e o discípulo. Em todos os seus relacionamentos
se você esperar e observar por um momento de
harmonia com a existência, você perceberá que
estão acontecendo coisas que você nunca seria
capaz de fazer.
Muitas flores são possíveis, muitos poemas e
canções são possíveis. Muitas estrelas estão
nascendo a partir da harmonia, esperando e
estando alertas.
Coisas estão acontecendo, mas você necessita
estar consciente.
Muitas vezes as coisas estão acontecendo, mas
você não está consciente. Você perde aquilo
que lhe seria de direito, só porque você está
dormindo.
O meu ensinamento é basicamente deixar
acontecer. As coisas que só acontecem se forem
feitas são mundanas. Eu não sou contra elas,
mas elas não são a parte essencial de sua
vida.
Se você quiser ter uma bela casa, você terá
que construí-la; ela não vai acontecer do
nada. Mesmo se você for um Cientista Cristão e
acreditar no ‘Pense e Enriqueça’, isso não
irá ajudar. Mas essas coisas são não-essenciais.
Coisas essenciais, como o amor, alegria, o senso
de humor, a paz que chega com a compreensão, a
jornada interior para encontrar a si mesmo...
Essas são as coisas essenciais que não podem
ser feitas, que você precisa aprender a
permitir que elas aconteçam.
Assim mantenha uma idéia clara: aquilo que
precisa ser feito, deve ser feito; e aquilo que
precisa se permitir para que aconteça, deve ser
permitido acontecer, nunca interfira nisto.
E lembre-se sempre: o essencial é aquilo que
acontece por si mesmo e o não-essencial é
aquilo que você faz. O seu fazer não pode ser
algo sagrado.
É por isto que eu digo que todos os templos e
todas as igrejas, todas as estátuas de Deus
feitas pelo homem são mundanos. Tudo o que é
feito pelo homem não pode ser maior que o
homem. Isto é uma aritmética simples. O que é
mais elevado que o homem sempre acontece por si
mesmo, está além do seu fazer.
Você está sempre no final, recebendo. Você
simplesmente precisa estar aberto, receptivo e
agradecido à existência.”
OSHO
– Beyond Enlightenment- Disc. 11 – pergunta
n° 4
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.
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