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Religiosidade
sem religião
“Querido Osho,
Como pode o mestre ajudar o discípulo a viver a
religiosidade sem religião?
Esta
é a coisa mais simples do mundo.
O
inverso é o mais difícil: é quase impossível
ser religioso e fazer parte de uma religião
organizada. Mas, apenas ser religioso, sem fazer
parte de qualquer religião é a coisa mais
simples.
Você
tem que entender o que religiosidade significa
para mim. Para mim, religiosidade significa uma
gratidão para com a existência. Ela lhe deu
tanto que não há como você reembolsá-la.
Ouvi contar...
Um homem ia cometer suicídio e um mestre
estava sentado à beira do rio onde ele ia se
jogar. O mestre disse: ‘Espere um pouco! Espere!
Você vai cometer suicídio?’
O
homem disse, ‘Quem é você para me impedir?’
O
mestre lhe disse, ‘Eu não estou impedindo você.
Na verdade, eu gostaria de vê-lo cometendo suicídio,
mas antes de fazê-lo, se você puder doar os seus
dois olhos, porque o rei deste país ficou cego e
os médicos disseram que se alguém puder doar-lhe
os olhos, eles poderão ser transplantados e o rei
poderá enxergar novamente. Mas tem que ser olhos
de uma pessoa viva, não de um morto. E o que você
quiser como recompensa, como prêmio, é só dizer
e será seu. Assim, antes de suicidar, por que não
fazer um pequeno negócio?’
O
homem disse, ‘Quanto ele pagará?’ Ele já
havia esquecido o suicídio.
As
pessoas estão sempre pensando em negócios.
O
mestre disse, ‘O quanto você pedir, é só
dizer.’
Ele
disse, ‘Eu sou um pobre homem, não posso pedir
muito. Dê-me uma sugestão. Eu vou cometer suicídio.’
Então
o mestre disse, ‘Pense alto. Que tal, vinte mil
rúpias?’
O
homem disse, ‘Vinte mil rúpias? Meu Deus, eu
nunca pensei que poderia ter vinte mil rúpias.’
Mas o
mestre disse, ‘Você ainda pode pensar. Eu posso
até mesmo dizer ao rei que você precisa de vinte
milhões. Tudo depende de você, pois o rei quer
os olhos e paga qualquer preço.’
O
homem disse, ‘Vinte milhões? Mas então, por
que eu deveria cometer suicídio?’
O
mestre disse, ‘Isto é com você. Mas, viver uma
vida sem os olhos, mesmo tendo vinte milhões de rúpias,
não será muito agradável.’
Já
estavam a caminho do palácio, quando o homem começou
a dizer ao mestre, ‘Eu estou pensando outra
coisa.’
Ele
disse, ‘Que outra coisa? Você já subiu o seu
preço de novo?’
Ele
respondeu, ‘O preço não é a questão. Eu
estou pensando: só por dois olhos, vinte milhões?
E quanto às duas orelhas, o nariz, os dentes,
todo o meu corpo? Qual o preço de todo o meu
corpo?’
O
mestre disse, ‘Você pode calcular, pois se são
vinte milhões por apenas dois olhos...’
O
homem disse, ‘Eu não vou vender. Eu vou para a
minha casa.’ O mestre disse, ‘E quanto ao suicídio?’
Ele
disse, ‘Eu pensava que você era um homem
religioso. Você é um assassino! Você quer que
eu cometa suicídio? Agora que pela primeira vez
eu pude reconhecer o que a existência me deu, e
eu não tive que pagar nem um tostão. Estes dois
olhos que têm visto todo tipo de beleza, estas
duas orelhas que têm ouvido todo tipo de música,
esta vida que tem experienciado tanta coisa... E
eu nada paguei por isto, nem mesmo disse muito
obrigado. E o suicídio nada mais é que a última
reclamação, a mais feia reclamação contra a
existência: ela me deu tanto e eu estou
destruindo tudo. Ao invés de estar agradecido, eu
estou traindo. Não, eu não posso cometer suicídio
e não posso vender os meus olhos, eles não têm
preço. Você pode dizer isto ao rei. Nem mesmo
por todo o seu reino eu não posso doar os meus
olhos, mesmo sendo eu um mendigo.’
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Você já percebeu o quanto a existência
tem dado a você?
Não,
você tem isto como certo, como se você tivesse
feito por merecer, como se tivesse sido uma
conquista sua.
Você
não fez por merecer. Não foi algo que você
conquistou. É um presente, é uma bênção, é
simplesmente um ato de amor da existência ter-lhe
dado tanto. E ela está pronta para lhe dar muito
mais. Você é que não está pronto para receber.
A
religião o impede de ser religioso. Ela o envia
para os mosteiros, para os templos, para as
igrejas. Ela ensina você a rezar para um deus
hipotético com o qual você nunca encontrou, com
o qual ninguém jamais encontrou.
O
verdadeiro templo está por toda a sua volta, sob
as estrelas, sob a verde folhagem das árvores, ao
lado do oceano. O verdadeiro templo está por toda
a volta e o verdadeiro deus nada mais é que o fenômeno
vivo e consciente dentro de você.
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Existence - Osho
Zen Tarot
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Onde
houver vida, onde houver consciência, ali está
deus.
E
quando você chegar à experiência máxima de
consciência, você se torna um deus. É direito
natural de todo mundo tornar-se um deus, não
adorar Deus, mas tornar-se um deus.
Todas
as religiões estão impedindo você. Elas não
lhe ensinam a ser sem ambição. Elas lhe ensinam
a ambição, como se tornar virtuoso para que
consiga alcançar o paraíso. Elas não lhe
ensinam a não ter medo. Elas lhe ensinam a ter
medo, pois se você não fizer certas coisas, será
lançado ao inferno e irá sofrer pela eternidade.
Todas as religiões são basicamente uma exploração
da humanidade. Elas escravizam você, elas o
humilham, elas o chamam de pecador e destroem o
seu auto-respeito.
Religiosidade
é uma humilde gratidão para com a existência.
E
porque a existência tem dado tanto a você,
existe um humilde auto-respeito; humilde, não egoísta.
Você não se vangloria disto.
Ela
ensina-o a amar, a estar mais vivo, a brincar
mais, a celebrar mais. A sua vida deve ser uma canção,
uma dança e uma festividade.
Qual a
necessidade de pertencer a um aglomerado? Todas
essas coisas são suas experiências individuais,
elas nada têm a ver com qualquer aglomerado. Você
não precisa ir a uma igreja, você não precisa
adorar um deus, você não precisa adorar um livro
que está morto e cheio de toda espécie de
tolices, estupidez e superstições.
Religiosidade
é um fenômeno absolutamente individual. Ele não
é algo relacionado a coletividade, você não vai
brigar com alguém... ‘Assim, estejam unidos.’
Os muçulmanos têm que estar unidos contra os
hindus; os hindus têm que estar unidos contra os
cristãos; os cristãos têm que estar unidos
contra os judeus. Estas coisas não são religiões.
Elas são multidões insanas que querem praticar
violência em nome da religião, em nome de Deus.
Eu
tenho visto algumas revoltas e nem posso
acreditar... Pessoas muito amáveis, de repente,
se tornam como animais.
Eu
conheci uma pessoa que era um professor na mesma
universidade onde eu lecionava. Eu o tinha como
uma das mais amáveis pessoas. Mas ele era muçulmano
e quando houve um levante entre muçulmanos e
hindus, eu vi aquele professor estuprando uma
mulher. Eu não pude acreditar no que vi. Eu
arrastei o professor para fora e lhe disse, ‘O
que você está fazendo?’ Ele recuperou seus
sentidos, como se estivesse fazendo algo num
estado de sono.
Ele
disse, ‘Sinto muito, perdoe-me. Toda a multidão
estava fazendo aquilo e eu simplesmente tornei-me
parte da multidão. Eu esqueci a minha
individualidade completamente e o animal dentro de
mim começou a fazer coisas. Primeiro eu comecei a
tremer e pensei - Eu não devo fazer isto, o que
eu vou fazer não é certo -. Mas o animal interno
é muito forte e está ali há muito tempo. Quando
toda a multidão começou a fazer aquilo...’
Eu
tenho segurado pessoas queimando templos,
queimando mosteiros; pessoas que eu conhecia e eu
tive que puxá-las para fora e lhes perguntar ‘O
que vocês estão fazendo? Vocês conseguiriam
fazer isto se estivessem sozinhas? Se não
estivesse ali uma multidão, você conseguiria
queimar este mosteiro? O que este mosteiro tem a
ver com você? Ele é uma bela peça de
arquitetura. Por que você o está destruindo? Ele
não faz mal a ninguém.’
E a
pessoa diz, ‘Sozinha? Não, sozinha eu não
conseguiria fazer isto, mas todo mundo está
fazendo. E eu também sou um hindu e os hindus têm
que estar unidos.’
Unidos
para que? Para matar e queimar pessoas vivas?
Por
milhares de anos, as religiões nada mais têm
sido senão matar, assassinar e queimar. E toda a
estratégia delas é que a multidão tem sua própria
psicologia. Simplesmente não deixe que o indivíduo
esteja separado, caso contrário você não
conseguirá fazer com que ele estupre uma mulher,
queime uma casa ou mate uma criança. Basta mantê-lo
dentro da multidão e quando todo mundo estiver
fazendo alguma coisa ele começará a fazer também,
o seu animal saltará para a superfície.
Certa
vez eu estava sentado numa livraria e de repente
ocorreu um levante. Do outro lado da rua havia uma
loja muito bonita cheia de relógios. E as pessoas
começaram a tirar os relógios. E um velho homem
estava gritando bem alto, ‘Isto não é correto!
Se hindus e muçulmanos estão em luta, vocês
podem lutar. Mas tirar as coisas das lojas... Eu não
vejo nenhuma religião nisto.’
Eu
estava na livraria e o ouvia, mas ninguém estava
ouvindo o velho homem. Eu conhecia aquele velho
homem; nós costumávamos nos encontrar de vez em
quando em nossas caminhadas matinais e conversávamos
sobre alguns assuntos. Ele era um homem muito bom
e tinha uma abordagem muito filosófica a respeito
da vida. Ele era muçulmano e era uma multidão de
muçulmanos que estava destruindo uma loja de um
hindu. Quando terminaram com toda a loja, ficou
restando apenas um grande relógio de parede. Ele
era muito grande e ninguém quis levá-lo porque
seria facilmente visto. Por onde a pessoa fosse,
ele seria visto. Ele teria que ser carregado nas
costas. Mesmo assim o velho homem pegou o grande
relógio.
Eu não
pude acreditar naquilo. Eu me aproximei da loja e
disse, ‘Espere! O que você está fazendo?’
Ele
disse, ‘O que mais eu poderia fazer? Eles tinham
levado tudo e somente restou este relógio. Assim,
eu disse para mim mesmo, agora, o que fazer? Eles
não me ouviram. Eu tentei de tudo para salvar a
loja. Mas quando eu vi que todos os relógios já
tinham sido levados, de repente um desejo cresceu
em mim - O que você está fazendo aqui, de pé,
como um tolo? Pegue este que sobrou e leve para
casa -. E eu estou indo.’
Eu
disse, Você está perfeitamente certo. Você
ganhou isto. Você gritou, você fez o que pode.
Você não está roubando, eu sou testemunha. Se
surgir algum problema, você pode me chamar. Você
fez o seu trabalho, o trabalho religioso de
ensinar as pessoas. Ninguém ouviu você e o dono
da loja fugiu com medo de ser morto. Agora isto é
puro ganho. Você, com sua idade avançada,
desperdiçou todo o seu dia. Eu posso ajudá-lo?’
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Sorrow - Osho Zen
Tarot
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Ele
disse, ‘Não me faça sentir vergonha. Este relógio
é tão grande e minha casa é tão distante.’
Eu
disse, ‘Deixe-me ajudá-lo, do contrário você,
sendo um muçulmano, pode ser pego por algum
hindu. E ninguém acreditará que você comprou
este relógio, numa hora desta em que as pessoas
estão levando tudo da relojoaria.’
Ele
disse, ‘Você está certo. Então faça uma
coisa: chame um táxi, se puder. Ele é muito
pesado.’
Eu
disse, ‘Eu chamarei um táxi.’ Chamei um táxi.
Enquanto estávamos em pé na beira da calçada,
muitas pessoas se reuniram para ver o que estava
acontecendo. Eu disse, ‘Não há problema algum.
Ele ganhou o relógio, ele mereceu.’
Ele se
sentiu tão envergonhado quando o táxi chegou e
disse, ‘Não, isto não é correto. Ponha o relógio
de volta, deixe-o no passeio. Alguma outra pessoa
irá levá-lo.’
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Eu
disse, ‘Alguma outra pessoa irá leva-lo, não
importa quem seja. Simplesmente sente-se no táxi
e leve-o consigo.’
No dia
seguinte, quando eu o vi na praça, disse-lhe,
‘Como vai o relógio?’
Ele
disse, ‘Eu não consegui dormir por toda a
noite. Ele fazia um tick-tack, tick-tack que me
lembrava, - Meu Deus, eu roubei este relógio,
contrariamente a toda minha filosofia e todos os
meus ensinamentos religiosos -. E eu estava
advertindo as pessoas. Isto não é um prêmio,
isto é uma punição. E minha esposa ficou brava
e disse, ‘Você ficou velho, mas na verdade é
um idiota. Enquanto as pessoas estavam levando
lindos relógios de pulso, você me trouxe esse
tick-tack. Você não consegue nem dormir. Jogue
ele fora.’ Minha esposa colocou-o na garagem e
eu estou pensando de que maneira posso devolvê-lo.’
Eu
disse, ‘Esta é uma boa idéia. Eu devo chamar
um táxi? Mas, você não deve ir lá devolvê-lo.
Eu irei, senão você será pego.’
Assim,
eu fui devolver o relógio. E o homem disse,
‘Como você se envolveu nisto?’
Eu
disse, ‘Esta é uma longa história. Mas nós
pudemos recuperar pelo menos um: este grande relógio.
Quanto aos outros, eu sei quem os levou, eu estava
observando. Eu posso lhe dar alguns nomes, mas será
muito difícil encontrá-los. Este aqui foi levado
por um velho homem, mas a sua esposa não
conseguiu agüentar esse ‘tick-tack’. Ele próprio
viria trazê-lo de volta, mas eu lhe disse,
‘Isto é perigoso, ainda existe uma tensão no
ar.’ Assim, apenas aceite-o de volta. Mas quando
a tensão se acalmar, lembre-se que aquele velho
homem tentou de tudo, mas por fim o animal saltou
à superfície e quando ele viu que ninguém o
estava ouvindo, ele pensou, ‘Somente eu estou
perdendo, todo mundo está ganhando alguma
coisa.’ Pura economia apenas.
As
religiões nada mais são que psicologia de
massas, psicologia de multidão, e as massas ainda
estão em seu estado animal. Elas ainda não são
seres humanos. Existem seres humanos individuais,
mas não existem multidões que sejam humanas. As
multidões imediatamente escorregam, retornam e se
tornam inconscientes.
Assim, não existe problema para o indivíduo se
tornar religioso. Você só precisa entender o que
significa religiosidade:
Seja agradecido à existência e curta a bela vida
que o circunda.
Ame, porque o amanhã não é certo.
Não adie qualquer coisa bela para amanhã.
Viva intensamente, viva totalmente, aqui e agora.
E não há necessidade alguma de ser um muçulmano
ou um hindu. E você descobrirá um tremendo êxtase
crescendo. É o seu paraíso.
O paraíso não está em algum lugar, onde quer
que seja. O paraíso é um espaço dentro de você.”
OSHO
– The Osho Upanishad- Disc. 35 – pergunta n°
2
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.
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