.
Aqui
mesmo, agora mesmo
“Querido Osho,
Enquanto ouvia sua palestra ontem, eu senti como
se não estivesse nesta Terra; eu era uma
pequena partícula de luz no céu infinito e
aberto. Depois da palestra, também uma experiência
de claridade e vazio continuou e eu quis me
manter perambulando neste céu. Eu não sei o
que são conhecimento, karma e devoção, mas na
solidão eu quero permanecer imerso neste
estado. Todavia algumas vezes surge o sentimento
de que isso pode ser loucura, de que isso pode
ser um truque do meu ego. Por favor, clareie o
meu caminho.
Nós estamos nesta Terra, mas na verdade
nós não podemos estar nela, e nós não
estamos. Eu sinto isto: nós somos estranhos
nesta Terra. Nós fizemos um lar em nosso corpo,
mas o nosso corpo não é o nosso lar.
É
como se alguém se estabelecesse no estrangeiro
e esquecesse sua terra natal. De repente, no
mercado, ele se encontra com alguém que fala a
sua língua materna e o faz lembrar de casa. Por
um momento o país estrangeiro desaparece e sua
terra natal se faz presente.
Este
é o significado das escrituras.
Este
é o verdadeiro propósito das palavras dos
mestres.
Após
ouvi-los, por um momento, nós não estamos mais
aqui. Nós vamos para o lugar onde pertencemos.
Nós fluímos em sua música. As situações que
nos haviam envolvido completamente desaparecem e
aquilo que estava muito longe se aproxima.
As
palavras de Ashtavakra são absolutamente únicas.
Ouvindo-as, isso acontecerá muitas vezes, você
sentirá que não é desta Terra, mas que se
tornou parte do céu, porque essas palavras são
do céu. Essas palavras vêm da terra natal, vêm
daquela fonte da qual todos nós viemos e à
qual todos nós retornaremos. Sem voltar para
ela, nós nunca encontraremos paz.
O
lugar onde nós estamos é como uma pousada e não
um lar. Não importa o quanto nós possamos
insistir que ele é um lar, ainda assim uma
pousada permanece uma pousada. Para esquecer o
lar, tentamos argumentar que ele está longe,
mas isso não faz diferença. O espinho
continuará nos espetando, a memória continuará
retornando. E se em algum momento, nos acontece
encontrar uma certa verdade que nos atrai como
um magneto e nos mostra um outro mundo, então nós
percebemos que não somos parte desta Terra.
Isso
é bom: ‘Enquanto ouvia sua palestra ontem,
eu senti como se não estivesse nesta Terra.’
Não há quem seja desta Terra. Nós aparentamos
ser dela, nós sentimos como se fôssemos dela;
na verdade, nós existimos no céu. A nossa
natureza é do céu.
O
ser significa o céu interior.
O
corpo significa a Terra, o corpo é feito com a
Terra. Você é feito com o céu.
Esses
dois se encontram dentro de você.
Você
é o horizonte onde a Terra parece encontrar o céu.
Mas alguma vez eles se encontram? Ao longe, no
horizonte, parece que o céu está tocando a
Terra. Você começa a caminhar naquela direção
achando que vai alcançar aquele ponto em um ou
dois minutos. Pode continuar caminhando por várias
vidas e você nunca alcançará o ponto onde o céu
toca a Terra. Ele é apenas uma miragem. Sempre
vai parecer que um pouco mais adiante você vai
conseguir chegar, só um pouquinho mais adiante.
O
horizonte não existe, é só aparência. No
nosso interior ocorre o mesmo que no horizonte
externo. Internamente nenhum contato jamais
aconteceu também. Como o ser toca o corpo? Como
o imortal encontra o mortal? O leite se mistura
com água, ambos são da Terra. Mas como o ser
irá se fundir com o corpo? Suas qualidades básicas
são diferentes. Por mais próximo que eles
cheguem, eles não conseguem se tocar. Eles
podem permanecer próximos para sempre, ainda
assim eles não conseguirão se tocar, eles não
conseguirão se encontrar. É apenas a nossa
suposição, a nossa idéia. O horizonte existe
apenas como uma idéia nossa.
Se
você permitir que as afirmações de Ashtavakra
penetrem seu coração como flechas, elas irão
acordá-lo e relembrá-lo. Elas irão despertar
aquela memória esquecida há muito tempo. Por
um momento o céu se abrirá, as nuvens irão
separar-se e a sua vida será preenchida com a
luz do sol.
Isto
pode ser difícil, pois esta experiência é
contra todo o nosso modo de viver. Isto causará
desconforto. E não foi você quem dispersou as
nuvens no seu interior. Elas foram dispersas
pelas palavras de um mestre. Depois elas se
reunirão novamente. Antes que você volte para
casa, de novo as nuvens o estarão rodeando. Você
não abandona seus hábitos assim tão
rapidamente. De novo as nuvens irão se reunir e
você se sentirá ainda mais incomodado. Você
duvidará. Não terá sido um sonho, aquilo que
você viu? Não foi um certo tipo de projeção?
Será que não foi um truque do ego, da mente?
Talvez você tenha entrado numa certa loucura?
Naturalmente,
o peso de seus hábitos é grande; eles são
muito antigos. A escuridão é antiga, embora
ela não tenha existência real. Sempre que os
raios da luz do sol explodem internamente, eles
são novos, absolutamente frescos. Mas você vê
os raios só por um instante e novamente já está
perdido na escuridão. A sua escuridão tem uma
história muito longa. Quando você coloca os
dois na balança, dúvidas surgem sobre a luz do
sol, mas não a respeito da escuridão. A
escuridão é que deveria ser colocada em dúvida.
Ao invés disto, duvida-se da luz do sol, porque
os seus raios são novos e a escuridão é muito
velha. A escuridão é como uma tradição avançando
ao longo dos séculos. Os raios de luz acabaram
de chegar, frescos e novos. Tão novos... Como
é possível confiar neles?
‘Eu
senti como se não estivesse nesta Terra.’ Ninguém
é desta Terra. Não podemos ser desta Terra.
Pensar de outra maneira é apenas crença e
projeção nossa. Parece que é, mas não é a
verdade.
|
Existence - Osho Zen
Tarot
|
’Eu
era uma pequena partícula de luz no céu
infinito e aberto.’ Isto é apenas o começo.
’... uma pequena partícula de luz no céu
infinito.’ Logo você sentirá, ‘Eu sou o céu
infinito’. Isto é apenas o começo.
Neste
exato momento nós não estamos prontos para
estar completamente absorvidos no céu infinito.
E se nós sentirmos que o vôo está chegando, a
tempestade chegando e que os ventos estão nos
levando embora, ainda assim nós estaremos nos
sentindo separados e nos preservando. ’ ...uma
partícula de luz...’ Você não é mais a
escuridão, você tornou-se uma partícula de
luz. Mas ainda existe ali uma distinção em
relação ao céu; a divisão permanece, uma
separação permanece. O máximo vai acontecer
no dia em que você se tornar o céu. Por ora, a
partícula de luz ainda está separada. No dia
em que você se tornar integrado, você sentirá:
‘Eu sou o vasto céu vazio.’
|
É
assim que expressamos isto em palavras: ‘eu
sou um céu vazio.’ Mas como isto é possível
enquanto o ‘Eu’ está ali? Se o ‘Eu’ está,
então o céu permanece separado. Quando a
percepção de céu vazio chega, então ‘Eu’
já terá ido e somente o céu vazio permanece.
As
pessoas dizem, ‘Aham brahmasmi – Eu
sou Deus, eu sou Brahma.’ Mas quando Brahma é,
como pode ‘Eu’ permanecer? Somente Brahma
permanece, não eu. Mas não existe outra
maneira de expressá-lo.
A
linguagem é para pessoas que estão dormindo.A
linguagem pertence àqueles que se estabeleceram
num país estrangeiro, mas o consideram como sua
terra natal.
O
silêncio é para aqueles que sabem.
A
linguagem é para o ignorante.
Assim,
tão-logo você diz alguma coisa, só por dizê-lo,
a verdade se torna não-verdade. ‘Aham
Brahmasmi’ – eu sou Brahma, eu sou o céu.
Diga e isto se torna uma mentira. Apenas o céu
é. Mas dizer, ‘apenas o céu é’ não é a
verdade total, porque o ‘apenas’ indica que
deve haver alguma coisa mais, caso contrário,
por que a ênfase no apenas? ‘Céu é’?
Mesmo isto é difícil dizer porque ‘é’
pode tornar-se ‘não é’.
Nós
dizemos ‘a casa é.’ Um dia ela deixará de
ser. Ela pode desabar, tornar-se uma ruína. Nós
dizemos, ‘o homem é’ pois algum dia o homem
morrerá. O céu não é como isto, que algumas
vezes é e algumas vezes não é. O céu sempre
é. Assim, dizer ‘o céu é’’ é uma
repetição. A própria natureza do céu é ser.
Então, por que repetir ‘é’?É correto
dizer ‘é’ para aquelas coisas que um dia
deixam de existir. Um homem é. Um dia ele não
era, hoje ele é e amanhã novamente não será.
O nosso ‘é’ existe entre dois ‘não’.
O
‘é’ do céu, era ontem, é hoje e será
amanhã. Qual o sentido de ‘é’ entre dois
‘é’? O ‘é’ tem sentido entre dois ‘não
é’. Assim, dizer, ‘o céu é’ também é
uma repetição. Vamos dizer ‘céu’. Mas
quando eu digo céu significa que existe alguma
coisa que é diferente dele, separado dele, caso
contrário, qual a necessidade de uma palavra?
Se só existe um não há necessidade de dizer
um. O um tem sentido quando existe o dois, o três,
o quatro, quando existem números. Por que dizer
céu?
Por
isso a sabedoria é silenciosa. É impossível
trazer a sabedoria definitiva ao mundo das
palavras.
Mas
nós somos afortunados por indivíduos raros
como Ashtavakra terem feito esforços incansáveis
e impossíveis. O tanto quanto foi possível,
eles fizeram para traduzir em palavras a fragrância
da verdade. E observe que poucos foram tão bem
sucedidos quanto Ashtavakra em suas tentativas.
Muitos tentaram traduzir em palavras a verdade e
todos foram derrotados. A derrota é certa. Mas
se você olhar entre os derrotados, Ashtavakra
foi o último a sê-lo. Ele é o que mais
sucesso obteve. Se você ouvir corretamente, você
se relembrará de seu lar.
É
auspicioso você ter sentido que era uma partícula
de luz. Prepare-se para se perder. Um dia você
perceberá que a partícula de luz também se
perdeu e somente o céu permanecerá. Então, a
embriaguez dominá-lo-á completamente. Então,
você se afogará no vinho da verdade. Então,
você dançará e experienciará o sabor total
do néctar.
‘Depois
da palestra também uma experiência de
claridade e vazio continuou e eu quis me manter
perambulando nesse céu.’ Aqui nós
cometemos um pequeno engano. Quando nós temos
qualquer experiência prazerosa, nós queremos
repeti-la várias vezes. Como é fraca a mente
humana. Ela é cheia de desejos. Cheia de ganância;
tentações continuam surgindo. Ela quer repetir
tudo o que é prazeroso. Mas lembre-se de uma
coisa: a repetição já está errada. Assim que
você deseja, ‘deixe acontecer novamente’,
aquilo nunca acontece, porque a primeira vez que
ocorreu, não foi por causa do seu desejo.
Aquilo aconteceu por si mesmo, não foi um ato
seu.
É
aqui que Ashtavakra coloca toda a sua ênfase: a
verdade acontece. Ela não é um ato, ela é um
acontecimento. Isso aconteceu com você enquanto
ouvia. O que você estava fazendo? Ouvindo
significa que você nada estava fazendo. Você
estava sentado completamente vazio. Você estava
silencioso, você estava alerta, você estava
desperto, você não estava dormindo. Bom! Mas o
que você estava fazendo? Você era simplesmente
um receptor. Sua mente era como um espelho, o
que vinha diante dela era refletido, o que era
dito, era ouvido. Você não estava
acrescentando coisa alguma. Se você tivesse
acrescentado alguma coisa, aquilo nunca teria
acontecido. Você não estava fazendo comentários,
você não estava dizendo em sua mente: ‘Sim,
isto é certo e aquilo é errado. Eu concordo
com isto ou eu discordo. Isto está de acordo
com as escrituras.’ Ou ‘Isto não é’. Você
não estava fazendo afirmações lógicas a
respeito daquilo. Se você tivesse se perdido na
lógica, este acontecimento nunca teria
acontecido.
Eu
sei quem fez a pergunta: é o Swami Om Prakash
Saraswati. Sua mente já está muito longe da lógica,
muito longe das dúvidas e argumentações.
Aqueles dias já se foram. Um dia ele formulou
argumentos lógicos, levantou dúvidas. Mas
agora ele está amadurecido com as experiências
da vida. Agora aquela infantilidade não está
mais em sua mente. Foi por isto que a experiência
pode acontecer. Ele estava simplesmente ouvindo,
sentado, nada fazendo. Ele simplesmente
sentou-se e aconteceu.
Aconteceu
a primeira vez sem que você tenha feito alguma
coisa. Se você quiser que aconteça uma segunda
vez, isto irá criar uma perturbação. O desejo
não foi causa para que aquilo acontecesse.
Assim quando um raro acontecimento surge, não
deseje. Quando ele acontece, aceite-o
alegremente. Quando ele não acontece, não
reclame, não peça para que ele aconteça. Se
pedir, você perderá. Pedir é uma exigência,
uma insistência: ‘Aquilo devia acontecer.
Aconteceu uma vez, por que não acontece
agora’?
Isto
ocorre todos os dias. Quando as pessoas vêm
aqui para meditar, no começo elas estão
frescas e novas. Elas não têm qualquer experiência,
por isto acontece. Isto é muito surpreendente.
Você precisa compreender isto. Isto irá ajudá-lo
a entender melhor o Ashtavakra. Esta é a minha
experiência diária. Quando as pessoas vêm
novas e frescas e sem qualquer experiência com
meditação, ela acontece. Ela acontece e eles
ficam preenchidos com alegria. Mas a própria
experiência cria dificuldades, pois surge a
expectativa. O que aconteceu hoje, deverá
acontecer amanhã; e não apenas acontecer, mas
ainda com mais força. Mas ela não acontece e
eles se aproximam de mim chorando. E dizem, ‘O
que aconteceu? Por acaso cometemos algum engano?
Ela aconteceu uma vez, mas não agora.’
‘Este
é o seu engano’, eu lhes digo. ‘Quando a
meditação aconteceu na primeira vez, você não
estava esperando coisa alguma; agora você está.
Agora a mente não é mais inocente. Ela foi
contaminada pela sua expectativa.Agora você não
é genuíno, você não está aberto. O
questionamento fechou as portas. A expectativa
surgiu e ela deteriora tudo. Agora o desejo foi
desperto e a ganância entrou.’
Isto
acontece todos os dias. Pessoas que meditaram
por longo tempo continuam tentando muitos métodos,
mas somente conseguem se entregar à meditação
com grande dificuldade. A experiência delas
torna-se uma barreira.
Algumas
vezes alguém simplesmente vem, fluindo com a
vibração... sem nem mesmo pensar em meditação.
Um amigo estava vindo e então ele pensou,
‘vamos ver o que é isto’. Ele veio só por
curiosidade, sem desejos, sem buscas
espirituais, sem esforços em direção à
meditação; simplesmente veio. Alguma coisa
disparou internamente quando ele viu outras
pessoas meditando e juntou-se a elas. E então a
meditação aconteceu! Ele ficou surpreso: ‘eu
não vim para meditar, mas a meditação
aconteceu.’ Agora os problemas começam.
Agora, quando ele vem novamente, existe
expectativa. A mente está interessada; aquilo
deve acontecer de novo. Existe uma ganância, um
desejo pela repetição. A mente entrou e todo o
processo ficou perturbado.
Aconteceu
apenas quando não havia mente.
Lembre-se:
a mente é o desejo pela repetição.
Deixe
que o prazeroso aconteça de novo, não deixe
que o desagradável repita; isto é a mente. A
mente escolhe: deixe que isto aconteça e que
aquilo não aconteça. Deixe que aconteça mais
vezes deste jeito e nunca daquele jeito; isto é
a mente.
|
Quando
você começa a fluir com a vida, o que acontece
está ok, o que não acontece, também está ok.
O sofrimento chega e é aceito. O sofrimento
chega e não há resistência alguma. A
felicidade chega e ela é aceita. A felicidade
chega e não há qualquer excitação. Quando há
tranqüilidade em ambas as situações,
felicidade e sofrimento, uma serenidade começa
a surgir. Então, felicidade e sofrimento começam
a parecer muito semelhantes, porque nenhuma
escolha é feita. Agora está fora de nossas mãos.
O que acontecer, aconteceu.
Nós
continuamos observando. É a isto que Ashvakra
chama de sakshi-bhav, o testemunhar. E
ele diz que se o testemunhar é alcançado, tudo
é alcançado. Internamente, sakshi-bhav
desperta a testemunha, externamente ela traz
serenidade.
Serenidade
é a sombra do testemunhar.
|
Silence - Osho
Zen Tarot
|
Ou,
se você alcançar serenidade, o testemunhar
chega. Os dois seguem juntos. Eles são os dois
pés ou as duas asas de um mesmo fenômeno.
‘Eu
quis me manter perambulando neste céu.’ Fique
alerta. Não dê à mente a chance de destruir
os momentos de meditação. Essa mesma mente já
destruiu sua vida. Ela deteriorou todos os seus
relacionamentos. Essa mente fez toda a sua vida
ficar seca como um deserto. Onde muitas flores
poderiam ter desabrochado, existem apenas
espinhos. Não traga essa mente com você em sua
jornada interior. Diga-lhe adeus e peça-lhe
licença. Amorosamente despeça-se dela.
Diga-lhe, ‘já é o bastante. Eu não quero
pedir mais nada. Qualquer coisa que aconteça,
eu estarei acordado e observando.’
Assim
que você pede algo, já não consegue mais ser
uma testemunha. Você se torna identificado com
aquele que se alegra e sofre. Então a meditação
desaparece. Estar identificado significa que você
está dizendo: ‘Eu sou aquele que gostou
disso, isso me fez feliz’.
’Eu
não sei o que são conhecimento, karma e devoção,
mas na solidão eu quero permanecer imerso neste
estado.’ Jogue fora esse querer e você irá
entrar nesse mesmo estado. E não apenas na
solidão, mas no meio da multidão você irá
entrar nele. Mesmo se você estiver no mercado,
você vai permanecer imerso. Este estado nada
tem a ver com solidão ou multidão, com mercado
ou com templo, com massas ou isolamento. Este
estado está relacionado com a sua mente
tornando-se quieta, estando em equilíbrio. Esse
acontecimento terá lugar onde quer que haja
paz, serenidade. Mas não peça para que ele
ocorra, do contrário, o próprio pedido se
tornará intranqüilidade, criará tensão.
Ashtavakra
diz, ‘aqui mesmo, agora mesmo.’ O pedido é
sempre pelo amanhã. Ele não pode ser aqui e
agora. A natureza do pedido é que ele não está
no presente. Ele dá um salto. Pedir significa:
‘deixe que aconteça amanhã ou daqui a uma
hora.’ O pedido não consegue ser agora mesmo.
Um tempo é requerido. Pode ser um tempo muito
curto, mas ainda assim, um tempo é requerido. E
o futuro não existe. O futuro significa aquilo
que não é. Presente significa aquilo que é. O
presente e o pedido não se relacionam.
Quando
você está no presente, você descobre que não
há o que pedir, não há o querer. E então o
acontecimento tem lugar. Quando não há
qualquer desejo por ele, ele acontece com abundância.
Compreenda
bem esse nó duplo. Familiarize-se com todos os
seus aspectos. No dia em que você não pedir
coisa alguma, tudo acontecerá. No dia em que
você não estiver correndo feito um louco atrás
do divino, ele chegará até você. No dia em
que você não mostrar ânsia alguma por meditação,
quando não houver qualquer tensão dentro de
você, naquele dia você estará preenchido,
transbordando com meditação.
A
meditação não vem de fora. O que fica dentro
quando você não está tenso é o que se chama
meditação. Aquilo que permanece quando não
existe desejo dentro de você, é o que se chama
meditação.
É
como um lago: ventos tempestuosos vêm de
repente e as ondas surgem. A superfície do lago
fica coberta com tempestade e ventos, tudo fica
turvo. A lua está no céu, mas nenhum reflexo
é feito porque a superfície está toda
ondulada. Como ela pode ser um espelho? O
reflexo da lua está quebrado em milhares de
pedaços, como prata espalhada por todo o lago,
mas nenhuma imagem é revelada.
O
lago se torna quieto. Para onde foram as ondas?
De onde elas tinham vindo? Elas vieram do próprio
lago. Agora elas voltaram a dormir, retornaram
ao lago. O lago recuperou a sua quietude. A lua
que estava espalhada como prata por toda a
superfície do lago, está agora reunida em um só
lugar. A imagem se torna clara.
Assim
que as ondas no lago de sua mente desaparecem,
ondas de desejo, ondas de exigências, ondas de
‘isto deve ser assim e aquilo não deve ser
assim’, quando não mais existem ondas no lago
da mente, então a verdade é refletida como ela
é. E como a beleza da sua lua interior pode ser
descrita? Como o seu êxtase pode ser descrito?
Um rio de êxtase banha você. O amado interior
é encontrado. Então existe uma lua-de-mel,
somente então.
Mas
se você desejar isto, você o perde.
E eu
sei que este desejo é completamente natural.
Mas esta é uma grande barreira. É tanta
alegria que vem em tais momentos, como evitar
desejá-la? É humano. Eu não digo que você
cometeu um grande erro, indigno de um ser
humano. É um erro absolutamente humano. Quando
por um momento a janela se abre e o vasto céu
flui em você, quando por um momento a escuridão
desaparece e raios de luz descem, é impossível,
quase impossível, não desejar que aconteça
mais vezes. Mas o impossível tem que ser
aprendido. Aprenda hoje, aprenda amanhã ou
aprenda depois de amanhã, mas isto terá que
ser aprendido. Quanto mais cedo aprender,
melhor. Esteja pronto agora mesmo e isto
acontecerá imediatamente. Não haverá
necessidade de esperar nem por um instante.
‘...eu
quero permanecer imerso neste estado.’ Este
estado virá. Ele nada tem a ver com a sua
mente. Assim, deixe sua mente de lado. Sempre
que ela entrar de mansinho, você terá que
dizer-lhe, ‘desculpe-me mas você já se
intrometeu o bastante! Você já desarrumou o
mundo, não queira desarrumar o divino também.
Você deteriorou toda a felicidade da vida.
Agora a felicidade está vindo de profundezas
mais internas; pelo menos não deteriore
isto.’
Permaneça
alerta e diga adeus à mente.
Pouco
a pouco, cada vez mais, tais momentos irão
chegar.
Eles
chegam através de sua experiência. Sempre que
a mente não está, imediatamente a janela se
abre de novo. Então correntes de alegrias
celestiais fluem, de novo a luz desce. E você
estará outra vez radiante e intoxicado, afogado
no néctar.
Quando
acontecer repetidas vezes, ficará claro. Você
se tornará hábil em manter a mente longe.
Quando o momento acontecer, deixe que aconteça.
Quando não acontecer, espere quietamente por
ele. Ele virá. O que já veio, virá mais
vezes; simplesmente não o deseje. Não entre no
meio com sua mente. Não crie obstáculo.
|
The Master - Osho
Zen Tarot
|
‘Todavia
algumas vezes surge o sentimento de que isso
pode ser loucura...’ Tais sentimentos
surgem no intelecto, porque ele não consegue
acreditar que a felicidade é possível. O
intelecto sente-se absolutamente à vontade com
a infelicidade. Ele aceita totalmente a
infelicidade porque foi ele quem a criou. Quem não
vai aceitar seu próprio filho? Assim o
intelecto diz, ‘se existe infelicidade, está
absolutamente certo. Mas a felicidade
definitiva? Certamente deve ter ocorrido algum
engano. Ela tem acontecido sempre? Deve ser
imaginação. Você viu um sonho, perdeu-se em
algum devaneio. Você está hipnotizado.
Certamente você ficou louco.’ O intelecto
muitas vezes diz tais coisas. Não escute. Não
preste atenção a isto. Se você prestar atenção,
a experiência irá parar. Aquelas portas e
janelas não irão se abrir de novo.
Lembre-se
de uma coisa: felicidade é a definição de
verdade.
Sempre
que você encontrar alegria, saiba que ela é
verdade.
|
É por isto que temos
chamado o divino de sat-chit-anand,
verdade, consciência, felicidade. Anand é a
definição final para isto. A felicidade está
mesmo acima da verdade e da consciência.
Verdade, consciência e felicidade. A verdade e
a consciência são degraus mais baixos e a
felicidade é o último degrau. Sempre que a
felicidade flui, sempre que você encontra o êxtase,
não se preocupe, você está próximo da
verdade.
É
como alguém se aproximando de um jardim. A
brisa se torna mais fresca; o canto dos pássaros
começa a ser ouvido, um frescor começa a ser
percebido. O jardim ainda não está visível,
mas estes sinais lhe dizem que este é o caminho
certo, que está se aproximando do jardim. Da
mesma maneira, quando você começa a
aproximar-se da verdade, fontes de felicidade
informam. A mente começa a ficar mais fresca,
você fica mais equilibrado, a paciência fica
maior, a felicidade aumenta. Uma grande alegria
domina você, sem motivo algum. Nenhuma razão
pode ser encontrada. Você não ganhou na
loteria, não fez um negócio muito lucrativo,
nem conseguiu um emprego de muito prestígio. Ou
pode acontecer que você perdeu o emprego que
tinha, que perdeu o que estava em suas mãos, o
seu negócio foi à falência; mas existe uma
grande alegria sem motivo que continua dançando
internamente e nunca pára. O intelecto dirá,
‘você ficou louco? Estes são os sinais de
loucura!’
Este
é um mundo muito estranho. Somente os loucos
parecem felizes. É por isto que o intelecto diz
que você deve ter ficado louco.Existem milhares
de motivos para estar feliz, todavia o homem está
infeliz. Ele pode ter um grande palácio,
riquezas, todo tipo de conforto, ainda assim ele
não estará feliz. Este é um mundo de pessoas
miseráveis, a maioria é miserável. Se você
começar a rir sem motivos, as pessoas vão
dizer que você está louco. E se você disser,
‘este riso surgiu sem qualquer razão, ondas
de risos surgiram dentro de mim e simplesmente
espalharam-se,’ as pessoas dirão, ‘É o
bastante! A sua mente está perturbada.’
Mas
se você ficar com a cara triste, parecendo tão
abatido que mesmo um fantasma ao vê-lo ficará
amedrontado, então você está bem, está ok,
sem problemas, e tudo acontecerá normalmente
para você. Então você é um homem como outro
qualquer. Você é humano da maneira como os
seres humanos devem ser. Mas quando você começa
a sorrir, começa a gargalhar, a cantarolar canções,
a dançar nas calçadas, então certamente você
enlouqueceu.
É
desta maneira que nós temos negado Deus. Se ele
viesse aqui, nós o colocaríamos num manicômio.
Talvez seja por esta razão que ele não vem.
Ele deve ter medo de vir.
A
felicidade tem sido boicotada.
Nós
banimos a alegria de nossas vidas.
Nós
nos sentamos abraçados com a infelicidade.
Aqui, um homem pessimista parece inteligente, um
homem alegre parece insano. Todo o nosso critério
está de cabeça para baixo. É natural: se de
repente o que você considerou inteligente ao
longo de sua vida começar a desaparecer, começar
a desmontar; se as bases de sua chamada inteligência
começar a chacoalhar e você começar a ver
alegria em todo lugar, e lembre-se, ‘sem
motivo’ ... Isto é o que as pessoas chamam de
insanidade: feliz sem motivo, absolutamente sem
motivo. Você está sentado sozinho e começa a
rir. É o suficiente. Você ficou louco, porque
somente pessoas loucas fazem isto.
Compreenda:
o insano e o paramahansa o iluminado, são
um pouco semelhantes. Os insanos riem e são
felizes; eles perderam sua inteligência. Os
paramahansas também riem e são felizes; eles
foram além do intelecto. Ambos riem, o insano
porque está abaixo do intelecto e o paramahansa
porque foi além. Existe esta pequena semelhança
entre os dois. O insano e o paramahansa têm uma
coisa em comum: ambos perderam o intelecto. Um
abandonou-o conscientemente e o outro,
inconscientemente. Por isto a diferença é
vasta, tão diferente quanto o céu e a Terra,
mas ainda assim existe esta semelhança. Assim,
algumas vezes você vê um paramahansa como se
fosse um louco e outras vezes vê um louco como
se fosse um paramahansa. Enganos continuam
acontecendo.
No
ocidente há muitas pessoas trancadas em manicômios
que não são insanas. Se elas tivessem nascido
no oriente, elas seriam respeitadas como
paramahansas. No oriente existem muitos loucos
que são considerados como paramahansas. Estes
enganos acontecem. Esta confusão é natural.
Tenha
com você este critério: se a alegria está
crescendo, não é preciso se preocupar. Mas a
alegria também pode crescer devido à
insanidade. Então o critério seguro é: se a
sua alegria está crescendo e com isto você não
está fazendo a infelicidade de terceiros
aumentar, então continue sem se preocupar. A
sua alegria não pode ser dependente de violência
contra terceiros, agressões, ou de fazer com
que os outros sejam infelizes. Não há qualquer
razão para se ter medo de enlouquecer. Ainda
que você esteja enlouquecendo, isto é um bom
sinal. Entre nisto sem qualquer hesitação.
Você
precisa se preocupar somente quando começar a
fazer mal a alguém. Ninguém é incomodado pela
sua dança. Mas se alguém está dormindo e você
toca o seu tambor em cima de sua cabeça e começa
a dançar...? Dance; não há nenhum problema
nisto. Cante suas preces; isto é bom. Mas se no
meio da noite você pega seu microfone e começa
a cantar um kirtan sem fim, então você
está realmente louco, embora na Índia ninguém
diga que você está louco por cantar canções
devocionais. Muitos loucos fazem isto. Eles
dizem, ‘Nós estamos apresentando um kirtan
sem interrupção, direto por vinte quatro
horas. Se você dorme ou não, o problema é
seu. E se você fizer objeção ao nosso
programa, é você que não é religioso.’
Observe
para que a sua alegria não seja violenta. Isto
é o suficiente. A sua alegria deve ser sua. Não
perturbe a vida de ninguém com ela. Deixe que
suas flores desabrochem, mas não deixe que
ninguém seja arranhado pelos seus espinhos. Se
você sempre se certificar disto, você estará
se movendo na direção certa. Quando você
perceber que os outros estão sendo perturbados
pelo seu comportamento, preste atenção. O seu
movimento não estará sendo em direção à
iluminação, mas sim estará no caminho da
insanidade.
Ninguém
é perturbado pelo Om Prakash. Você pode ir
adiante sem hesitação e sem medo.”
OSHO
– Enlightenment: The Only Revolution- Cap. 2
– pergunta n° 1
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.
|
|
|
|