Não
é Fácil
Osho,
O
que é o desejo de perfeição?
Adheera, o
desejo de perfeição é a busca do útero
perdido, do paraíso perdido. A criança é
totalmente feliz no útero da sua mãe; essa memória
persiste. Ela não é apenas uma memória no cérebro;
ela está em cada célula do corpo, em cada
fibra do corpo. Ela envolve todo o seu ser.
Essa
memória persiste. Aqueles nove meses foram de
gozo eterno, de relaxamento e entrega tamanhos,
que não é fácil esquecer. Embora
conscientemente você tenha se esquecido –
devido ao trauma do nascimento, sua consciência
se desconectou – seu inconsciente ainda anseia
pelo útero; ele tenta, de todas as formas,
voltar ao paraíso perdido.
A
religião consiste nessa busca, e a ciência
igualmente consiste nessa busca. O esforço
científico tenta criar o mesmo útero no
exterior – aquecimento central, ar
condicionado, boas roupas, melhor tecnologia.
Você se empenha em criar o útero exterior. E a
religião tenta criar o útero interior – com
a prece, técnicas de meditação, com o amor,
com Deus. Mas seu empenho é o mesmo, voltar àqueles
lindos dias. Esse útero perdido é a fonte da
parábola de Adão e Eva no Jardim do Éden.
Você
pergunta: O
que é o desejo de perfeição?
O
desejo de perfeição consiste nisto: seja qual
for a sua situação, ela nunca satisfaz. Nunca
é como deveria ser, há sempre um senão. Você
ainda fica imaginando um estado melhor das
coisas, melhores dias, melhores possibilidades.
E fica ansiando por elas.
Você
só pode abandonar a busca da perfeição se
voltar ao passado e passar novamente pelo trauma
do nascimento. Se você o reviver
conscientemente, se recordar conscientemente
aqueles dias no útero, o desejo de perfeição
desaparecerá instantaneamente. O
desaparecimento desse desejo é um grande alívio,
porque só então você poderá começar a viver
cada momento. Como você consegue viver com esse
desejo de perfeição? Ele é a fonte de todas
as neuroses.
O
homem que deseja ser perfeito, inevitavelmente
torna-se um neurótico, porque não consegue
estar aqui. Ele vive no futuro, que não existe.
Não pode desfrutar o presente momento, só
condená-lo. Não pode amar esta
mulher, porque tem uma idéia da mulher
perfeita. Não pode amar este
homem, porque ele não é perfeito. Não pode
saborear este alimento, esta refeição, esta
manhã, nada mais o satisfaz, não pode
satisfazer. Sua expectativa está sempre
presente: ele está sempre comparando e sempre
se decepcionando.
O
homem que vive com desejo de perfeição, tem a
vida condenada. E a sociedade colabora com isso.
Os pais, as escolas, os colégios, as
universidades, os mahatmas
, os sacerdotes, os políticos, todos
colaboram para neurotizá-lo.
Desde
a infância, você não é aceito como você é.
Disseram-lhe: “Seja desta maneira, só assim
você será aceito”. Se quiser viver a vida do
seu jeito, você será condenado por todos,
todos ficarão contra você. Seus pais não
poderão suportá-lo. Precisam moldar, formar,
mudar, manipular. Eles precisam fabricar
você de acordo com os desejos deles.
E
qual é o problema dos seus pais? Eles também
estão sofrendo o trauma do nascimento.
Tentaram, por toda a vida, ser perfeitos e
falharam. Ninguém jamais pode ter êxito nisso;
esse desejo é de tal natureza, que está fadado
ao insucesso. O fracasso é inevitável, porque
você pode estar vencendo, mas a idéia da
perfeição começa a se sofisticar cada vez
mais. Na medida em que se vai vencendo, a idéia
começa a se distanciar mais para o futuro. Ela
fica mais sofisticada, há mais expectativas...
A
distância entre você e a idéia da perfeição
permanece a mesma. Se você tem dez mil rúpias,
precisará de cem mil para ser feliz. Quando
tiver cem mil, seu desejo já caminhado para a
frente; agora isto já não basta. Acontece em
todas as áreas da vida.
Os
pais vivem os seus próprios traumas. Por toda a
vida tentaram e fracassaram; agora desejam viver
através do filho. Com isso, começam a fazer
dele um ser neurótico, começam a ensinar ao
filho. Esta é uma forma alternativa de viver.
Eles fracassaram; agora sabem que a morte se
aproxima, que seus dias estão contados; eles
estão perdendo a esperança. Mas então surge
uma nova esperança: poder viver através do
filho. Já que eles não foram perfeitos, ao
menos os filhos poderão sê-lo. Dizem que uma
árvore se conhece pelos seus frutos. Se os
filhos forem perfeitos, os pais devem ter sido
perfeitos.
É
assim que a neurose se perpetua, de geração em
geração. Os pais estão constantemente
tentando, de todas as formas, aperfeiçoar a
criança. Só o que conseguem com essa atitude
é fazer com que ela se sinta condenada como ela
é. Eles tornam impossível que ela ame a si
mesma, respeite a si mesma. E quando perde o
amor e o respeito por si, uma pessoa está
perdida.
O
mundo sofre tanta loucura, todo tipo de
problemas mentais, de doenças físicas. Noventa
e nove por cento das causas de todos esses
problemas do corpo e da mente vêm da
mentalidade que a criança tem de ser perfeita.
Uma
família foi a um restaurante. Depois de anotar
o pedido dos adultos, a garçonete virou-se para
o garotinho.
“O
que você vai querer, filhinho?”
“Eu
quero um cachorro-quente”, respondeu o garoto,
timidamente.
Antes
que a garçonete pudesse anotar o pedido, a mãe
interrompeu: “Não, nada de cachorro-quente.
Traga batatas, um bife e cenouras”.
A garçonete
ignorou-a totalmente.
“Você prefere ketchup ou mostarda em seu cachorro-quente?” perguntou ao garoto.
“Ketchup”,
respondeu ele, com um sorriso de felicidade.
“Já
vai sair”, disse a garçonete, indo para a
cozinha.
Foi
um espanto geral.
Finalmente, o garoto perguntou aos pais. “Vocês
viram? Ela acha que eu sou real!”
É
aí que nasce o problema: vocês não permitem
que seus filhos sejam reais. Fazem com que eles
se sintam irreais, vocês os forçam a se sentir
falsos, rejeitados, inúteis. E quando essa idéia
é criada na mente de vocês, que eles são inúteis
do jeito que são, é natural que surja neles
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Ordinariness -
Osho Neo Tarot
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um
grande desejo de ser perfeitos, e com isto todo
o tipo de neurose.
Meu
empenho aqui é em ajudar você, não a ser
perfeito, mas a abandonar toda essa besteira.
Abandonando-a, pela primeira vez você será
real.
A
realidade nunca é perfeita, lembre-se. Se a
realidade está sempre crescendo, como ela pode
ser perfeita? Se alguma coisa é perfeita, o
crescimento é impossível. Só a imperfeição
pode sentir a alegria do crescimento.
Você deseja permanecer como uma flor,
crescendo, abrindo-se? Ou deseja tornar-se
apenas uma pedra morta, perfeita, sem abertura,
sem crescimento, sem mudança? Seja imperfeito
respeite suas imperfeições, e você poderá
alegrar-se e celebrar, poderá ser saudável e
inteiro. E não precisará procurar um
psiquiatra ou um psicanalista para ficar por
anos deitado num divã, falando besteiras. E
também não haverá necessidade de qualquer
tratamento de choque. Na verdade, se o seu
estresse mental desaparecer, o seu corpo se
sentirá imediatamente relaxado.
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Muitas
doenças desapareceriam automaticamente da face
da Terra, se essa idéia idiota de tornar-se
perfeito desaparecesse. Mas ela tem sido
ensinada de toda parte, nas igrejas, nos
templos, nas mesquitas, nas universidades. Em
todo lugar, todos parecer estar envolvidos nessa
conspiração. Parecem absolutamente
determinados a tornar todas as pessoas
perfeitas. Ora, jamais existiu um único ser
humano perfeito, e não pode existir. A imperfeição
é o modo de ser das coisas. A imperfeição é
bela, porque tem potencial para crescer e fluir.
A perfeição é simplesmente a morte, nada
mais. A vida é imperfeita. E a vida gosta da
imperfeição.
Eu
lhes ensino a totalidade e não a perfeição: são
dois objetivos diferentes. A perfeição é um
objetivo neurótico, a totalidade é um objetivo
saudável. A perfeição está no futuro, a
totalidade está aqui e agora. Você pode ser
total neste
momento. Pode ser total em sua raiva, pode ser
total em seu sexo, pode ser total em tudo o que
esteja fazendo, limpando o chão, cozinhando,
escrevendo poesia. Você pode ser total! neste
momento! Isso não exige preparação, não
exige treinamento.
Sendo
total, você entrará em Deus, entrará no nirvana.
Quando se é total, o eu desaparece – esta é
a beleza da totalidade. Tente entender, é
sutil, é imensamente importante: quando se é
total, o eu desaparece.
Você
já experimentou um momento total? Então sabe
que o eu desaparece imediatamente. Se você está
totalmente apaixonado por uma mulher ou por um
homem, o eu desaparece. Quando está fazendo
amor, se é total, o eu desaparece. Se você sai
de manhã para um passeio e é total
nisso, nada mais importa, nesses lindos
momentos, apenas a manhã e você, você e a
manhã, os pássaros, as árvores e o sol. Você
está totalmente imerso, profundamente imerso no
momento – o eu desaparece.
O
desaparecimento do eu é uma bênção. Você
saberá o que Buda quer dizer com o “não-eu”,
a total bem-aventurança. Ele jamais usa as
palavras: “total bem-aventurança”, porque
conhece você – você poderia fazer dela um
objetivo, e começar a lutar por alcançá-la.
Poderia fazer dela o objetivo de um
perfeccionista e dizer: “Não descansarei até
que me torne totalmente bem-aventurado”. Nesse
caso. você não entendeu.
Se
você é total, a bem-aventurança acontece por
acréscimo, porque o eu desaparece. Dançando,
cantando, ouvindo música, ou apenas estando
aqui comigo, às vezes acontece. Eu posso vê-la
acontecendo com muitas pessoas. Quando olho para
o seu rosto, sei se há um eu ou não; o rosto
assume imediatamente uma outra qualidade. Quando
olho para você e não existe o eu, você é
apenas uma abertura, uma janela, e eu posso ver
claramente Deus em você. Nesses momentos, Deus
está presente, você não está. Todas as
nuvens desapareceram, o céu ficou claro e
transparente, o sol está brilhando.
Sempre que o seu
eu desaparece por um momento, de repente
posso ver a luminosidade que vem em seu rosto, a
qualidade de magia que nasce ao seu redor. Mas
fomos ensinados a viver de um modo não-total
através da idéia de perfeição.
Eu
lhes ensino a totalidade. Na totalidade, o eu
desaparece; com a perfeição, acontece
justamente o contrário. Com a idéia de perfeição,
o eu é reforçado. É um ideal egoísta: “Eu
quero ser perfeito”. O eu não pode ser total,
porque nenhum eu pode ser encontrado na
totalidade. Por isso, o ego tem interesse em
tornar-se perfeito, ser o homem mais perfeito ou
a mulher mais perfeita no mundo. O ego se sente
muito bem, começa a lutar nesse sentido. O ego
está envolvido com a idéia de perfeição.
Com a
experiência da totalidade, o ego simplesmente não
existe. Se você aprender como estar aqui e
agora, pouco a pouco verá que a vida é linda
do jeito que é. A vida é linda em ser-assim,
em sua qualidade de ser como Não necessita de
nenhum aperfeiçoamento.
Isto
pode ser facilitado por intermédio do trauma do
nascimento. Se você passar pelo trauma do
nascimento, se o reviver conscientemente, o próprio
significado do nascimento mudará.
Neste
exato momento, a experiência uterina permanece
no seu inconsciente, ela é tão importante que
você está inconscientemente lutando por ela.
É por isto que as pessoas continuam pensando
que no passado tudo era bom. É apenas uma projeção,
por causa da experiência do útero. Em todas as
sociedades do mundo, em todas as religiões do
mundo, persiste a idéia de que, em algum lugar
no passado, existiu uma idade de ouro. Quando Adão
viveu no Jardim do Éden, era o paraíso. Na Índia,
dizem que a idade de ouro aconteceu muito antes
da história. Depois dela, as coisas começaram
a decair – o pecado original. Vivíamos uma
situação de felicidade total, e então começamos
a decair e a perdemos.
É a
mesma história com roupagem filosófica. A
queda original nada mais é do que a queda do útero.
A lembrança de que antes, algum tempo antes,
muito longe no passado, tudo era dourado e
lindo, não passa de uma lembrança projetada na
história, uma lembrança individual projetada
na história coletiva. E nós precisamos retomá-la,
por isso ficamos interessados no futuro. O
passado é importante, o futuro é importante, só
o presente não é importante – porque
perdemos o passado, e só no futuro, graças às
nossas tentativas e aos nossos esforços, um dia
o alcançaremos.
Então,
há dois tipos de pessoas, que basicamente não
diferem. As pessoas religiosas dizem que a idade
de ouro aconteceu no passado. As não religiosas
dizem que vai acontecer no futuro, que a utopia
está chegando. Os hindus dizem que a idade de
ouro – satyayuga,
a era da verdade – aconteceu no passado. E os
comunistas dizem que a idade de ouro - samyuga, a idade da igualdade – vai chegar no futuro.
Eles
não são diferentes. Parecem diferentes, porque
um fala do passado, e o outro fala do futuro.
Mas o mecanismo é o mesmo: ambos querem evitar
o presente. Comunistas e anticomunistas não são
muito diferentes.
A
espiritualidade autêntica começa no presente e
termina no presente. Não tem passado e não tem
futuro. Este momento é tudo.
Assim, Adheera, procure entrar conscientemente
em seu inconsciente. Tente penetrar onde nasce
esse desejo de perfeição. Vá para a sua infância
. Você foi ensinado, condicionado, camada por camada; terá de
descascar a cebola de sua mente. E então,
finalmente, chegará ao trauma do seu
nascimento, ao dia em que nasceu.
|
Você pode revivê-lo. Esse é o processo do
renascimento: você pode revivê-lo. E assim que
o reviver, ele desaparecerá. O que acontecerá?
Uma total mudança de perspectiva.. Se puder
revivê-lo conscientemente, se puder regredir,
tornar-se uma criança, uma criança pequena, um
bebê que acaba de sair do útero, você irá
passar por muito sofrimento e agonia. Sofrerá a
mesma dor do nascimento; se sentirá sufocado,
sua respiração ficará ofegante. Algumas
vezes, a respiração poderá cessar totalmente;
o corpo ficará paralisado. Você poderá sentir
que está morrendo, porque foi o que você
sentiu quando estava saindo do útero. Sentirá
que está passando por um túnel muito estreito,
sufocante, escuro. Um grande medo surgirá em
seu ser, você será sacudido e agitado pelo
medo. Vai precisar de alguém para ajudá-lo.
Daí
a necessidade de um Mestre. Você precisará de
alguém para protegê-lo, precisará de alguém
para lhe dar suporte e dizer-lhe: “Não tenha
medo, vá em frente. Deixe |
Rebirth /
Moment-to-moment
Osho Neo Tarot
|
que
passe, não fuja disso”. Assim que tiver
atravessado e vivenciado conscientemente o que
aconteceu inconscientemente em seu nascimento,
tudo se apagará. Este é o processo da mente.
Tudo o que é vivido conscientemente é apagado,
não tem mais poder sobre o seu ser
inconsciente.
E então,
pela primeira vez, você abre os seus olhos e vê
que o mundo é lindo. O salgueiro é verde e a
rosa é vermelha. E então, pela primeira vez,
entende que o útero era bom, mas não é a
meta. O útero era conveniente, mas era somente
uma preparação. Não era a vida real; mas a
vida de um dependente, pura exploração. Era
dependência. O útero não conhecia a liberdade
– como pode ser lindo? Sim, ele era
conveniente e confortável, mas você
simplesmente vegetava, não estava realmente
vivendo. Era um porco satisfeito. O útero não
tem valor por si mesmo.
E
assim você começa a ver que a vida tem belezas
que nenhum útero jamais poderá lhe
proporcionar.
Todo
útero é confinado. É por isso que, após nove
meses, a criança precisa sair dele, por causa do confinamento. O útero é uma prisão;
é confortável e quente, mas uma prisão é
sempre uma prisão. Mesmo que seja confortável,
mesmo que seja quente, nada disso a transforma
em outra coisa. É uma prisão.
Você
está saindo do útero para a liberdade. Todo o
céu se abre, o sol, a lua, as árvores, as
estrelas – eles não existiam para você. E o
canto dos pássaros, a música, toda a poesia e
o amor – eles também não existiam para você.
Seu paraíso pouco tinha de paraíso; seu paraíso
era um paraíso muito bobo.
Assim
que você percebeu que ele não tinha valor...
Ele foi necessário naquele momento, porque você
estava crescendo; era muito frágil e delicado,
precisava de proteção. Quando a criança
completa nove meses, ela anseia por sair, quer
sair, quer se livrar do útero. Ela está pronta
para entrar no mundo, e conhecer as alegrias e
as misérias do mundo. Está pronta para
mergulhar fundo nas experiências da existência.
Quando você tiver vivido conscientemente o
trauma do nascimento e apagado a memória da
dor, ficará espantado ao notar que uma espécie
de névoa se afastou dos seus olhos. E quando os
reabrir os, as árvores serão mais verdes do
que jamais foram e tudo será totalmente
diferente. Você verá o mundo em cores psicodélicas,
sem precisar de drogas.
As
pessoas utilizam drogas para criar uma coisa que
é muito natural. Para isso, não é preciso
destruir quimicamente o corpo. Basta passar pelo
trauma do nascimento e retornar que o mundo
inteiro e toda a experiência do mundo se tornarão
psicodélicos. Tudo fica mais colorido. É uma
permanente celebração. Esta celebração não
terá fim – ela dura do princípio sem princípio
ao fim sem fim. É uma canção eterna.
Quando você começa a enxergar isto, a vida
começa. É o que Jesus quer dizer com estas
palavras: “A não ser que você nasça de
novo, não entrará no reino de Deus”. Ele está
falando do renascimento!
No
Oriente, temos um nome para o homem que se
tornou alerta e total, nós o chamamos dwija
– nascido duas vezes. Ele atingiu o
segundo nascimento.
O
primeiro nascimento está
fadado a ser inconsciente. Se você ficar
apenas no primeiro nascimento, continuará sendo
um perfeccionista. É só nascendo uma segunda
vez, conscientemente, e tendo apagado a dolorosa
memória do primeiro nascimento, que você viverá
a totalidade. Não com o desejo de perfeição
– o desejo de perfeição desaparece quando
você reconhece que este é o mundo mais
perfeito, que você é a pessoa mais perfeita,
que cada pessoa é perfeita, e que tudo é como
deve ser.
Quando você percebe que tudo é como deve ser,
surge uma grande gratidão. A prece é natural.
Você se curva diante da terra, curva-se diante
do sol, curva-se diante da existência. Esta é
a qualidade religiosa; ela não consiste em ir
à igreja e pensar que é religioso, em se
curvar diante de Cristo e pensar que é
religioso: você não é! Não é nada disto.
Você está simplesmente com medo; está
pensando que Cristo irá salvá-lo.
Ninguém
pode salvá-lo, a não ser que você mesmo se
salve. Nem Cristo, nem Buda podem salvá-lo. Mas
você pode salvar a si mesmo. Salvar-se é sua
responsabilidade. E o caminho para salvar-se é
renascer, é nascer de novo.
Lembre-se: se você sofre com o desejo da perfeição
– e quase todos sofrem – considere como
ponto de grande importãncia a necessidade de
retornar ao processo de seu nascimento, e apagar
toda aquela fita. E então volte a olhar com os
olhos vazios, e ficará surpreso.
Já
trabalhei com muitas pessoas. Sempre que elas se
defrontam com a memória de seu nascimento,
acontecem coisas estranhas, incríveis. Eu
estava ajudando um jovem a fazer a travessia.
Ele chegou a um ponto em que começou a se
sentir sufocado; chorava e soluçava, e então
ficou paralisado. Por um momento, tudo cessou,
até mesmo a respiração. Foi uma grande
agonia. Então ele abriu os olhos, olhou para
mim e disse: “É estranho. Estou sentindo um
cheiro de clorofórmio, um cheiro de
hospital”. Eu lhe perguntei: “Você nasceu
num hospital?” Ele respondeu: “Não sei,
nunca perguntei a minha mãe”. Nós
averiguamos com a mãe e ela confirmou: “Sim,
ele nasceu num hospital. Eu estava com tanta dor
que me deram uma forte dose de clorofórmio”.
A memória
do clorofórmio entrou em suas células. Ele
ainda podia sentir o cheiro, vinte e oito anos
depois!
Mas
assim que você passar por essas memórias, elas
começarão a perder o controle sobre você.
Passar pelo nascimento é o primeiro passo. Se
você puder fazê-lo, o segundo passo será
passar pela morte que precedeu seu nascimento,
nove meses antes. Se você puder atravessar seu
nascimento, você poderá facilmente atravessar
sua morte. E quando tiver atravessado sua morte,
sua vida passada estará acessível a você. E
então ela e toda a sua estupidez...
É
por isto que estes ditos do Buda e estes sutras
de Ikkyu lhe parecem tão depressivos, é que
eles se baseiam numa compreensão da vida
totalmente diferente. Essas pessoas conheceram
suas vidas passadas, e perceberam a tolice dela.
Você não pode perceber. Acredita estar fazendo
grandes coisas; não está consciente.
Se
você esteve apaixonado por muitas e muitas
vidas, muitas e muitas vezes, e sempre
fracassou, e se você vier a saber disto, se
puder ver isto, então o caso de amor que você vive hoje simplesmente se
torna inválido, precisamente em razão dessa
experiência. Você ficou sabendo que esses são
os caminhos em que você esteve constantemente
se enganando. É uma repetição, uma roda que
continua girando.
Estes
sutras não são filosóficos, não propõem
qualquer doutrina. Eles se baseiam numa experiência
de vida totalmente diferente, numa visão
diferente. Em razão disso, você algumas vezes
ficará perturbado.
Há
alguns dias, Arup estava dizendo a alguém:
“Que discursos pesados, e Osho chamou esta série
de Take it
Easy” (Vá com Calma).
Foi
por isto mesmo que chamei esta série de Take
it Easy
(Vá com Calma). Não é fácil; é difícil, é
muito
difícil entender isso. É quase impossível
entender, porque romperá todo o seu estilo de
vida. Não é fácil, e foi por isto que chamei
esta série de Take it Easy.
Verdade é aquela cuja contradição é também
verdadeira.
OSHO - Vá Com Calma, vol. 3 - Cap. 2 -
Editora Gente
Autorizada pela Editora Gente a reprodução
do texto que vai da página 40 à página 51 do
livro Vá com calma - Discursos sobre o
zen-budismo, vol. 3 (São Paulo: Editora Gente,
1999).
Copyright
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