Em meditação profunda, a percepção pode vir
de que não há meta alguma e que todo movimento
é fútil. Se não há meta alguma, não há
qualquer necessidade de se movimentar, uma vez
que todo movimento é orientado por metas. Eles
estão juntos. Se a meta desaparece de sua
mente, você vai sentir diminuindo a marcha em
seu corpo e em sua mente. Um relaxamento
profundo vai se assentando. Esta é uma das mais
belas experiências. A proposta da meditação
é, na verdade, trazê-lo a essa parada
completa, onde, pela primeira vez, você não
está mais motivado por qualquer desejo, por
qualquer ambição, por qualquer anseio.
Pela primeira vez, o futuro terá desaparecido.
Ele nunca existiu. Era apenas a sua imaginação.
O futuro é a sua projeção de desejos não
realizados. Quanto mais desejos não realizados
você tiver, maior será o seu futuro projetado.
Quanto mais o seu ser não se realizar, mais
ricos sonhos você terá sobre o futuro. Mas
isso existe apenas em sua mente.
Nós dividimos o tempo em 3: passado, presente e
futuro. Mas é uma divisão errada. O tempo
consiste apenas no presente e a mente consiste
apenas no passado e no futuro. Você está
misturando as duas coisas juntas. A meditação
lhe ajudará a dar clareza para dividi-los
exatamente como eles são. A mente é memória
do passado e imaginação do futuro. Mas o tempo
em si mesmo é indivisível, é somente o
presente. Você nunca encontra o ontem e nunca
encontra o amanhã. O que você, na verdade,
encontra sempre é o momento presente.
No momento em que você percebe isso, você começa
a assentar em si mesmo. Todo movimento é do
lado de fora, todo movimento é extroversão. Não-movimento
é introversão, é ir para dentro, simplesmente
assentando-se no verdadeiro centro de seu ser...
sem qualquer agitação, sem qualquer
pensamento, sem qualquer sonho e sem qualquer
desejo.
Esse é na verdade o estado de meditação. A
mente se foi com o movimento. Ela era apenas um
outro nome para movimento. Ela o mantém ocupado
e atarefado com o futuro, com o passado, com
tudo, exceto com o presente. Ela é muito
relutante em vir para o presente. É por isso
que as pessoas sentem dificuldades para meditar.
A mente puxa você ou para o passado, onde ela
é perfeitamente feliz, ou para o futuro, porque
somente no passado ou no futuro ela consegue
viver. O presente nada mais é do que a morte
para a mente, mas a morte para a mente é o começo
de sua vida autêntica. A mente o mantém
vivendo uma vida não autêntica. Todo o seu
desespero, toda a sua agonia, toda a sua miséria
são filhos de sua mente. Assim que o movimento
pára, a mente pára. De repente, você está
aqui e agora. Pela primeira vez você toca a
Existência. Pela primeira vez você está
acordado. O sonho da mente, o sono da mente não
mais estão aí.
Nesse momento de despertar, você se encontra. Não
o ego que você costumava pensar que era você,
não a velha personalidade na qual você sempre
acreditou e com a qual você permaneceu
identificado. Aquela personalidade e aquele ego
eram partes da mente. Com a mente, eles
desapareceram. Toda aquela cerração não está
mais ali, mas uma claridade limpa como cristal,
uma transparência, um silêncio vivo e cheio de
paz. E surge uma alegria sutil e profunda como
nunca você conheceu igual. Você nem mesmo pode
ter concebido ou sonhado tal alegria.
Isso não é apenas o seu 'self', isso é o 'self'
universal também. E porque isso é também o 'self'
universal, Gautama Buda decidiu chamar essa
experiência de 'não-self', simplesmente para
enfatizar que você não é mais. A Existência
é, você já se foi. Agora o Todo assumiu a
direção. Você está consciente, pela primeira
vez, consciente em totalidade.
E novas coisas começam acontecer a você. Elas
são exatamente o oposto daquilo que a mente
estava criando. No lugar da agonia, você tem êxtase;
no lugar da miséria, uma tremenda felicidade;
no lugar do desespero, você estará
completamente tranqüilo; no lugar da sensação
de falta de sentido, pela primeira vez você verá
a significância, a beleza e a glória de tudo
que a existência tem lhe dado. E sem qualquer
esforço de sua parte, um tremendo impulso surge
para agradecer o Todo, para estar grato, para
dançar e cantar em gratidão.
Para mim, a única prece verdadeira é aquela
que vem da gratidão, não endereçada a um deus
qualquer, ou para obter alguma coisa, mas endereçada
a toda a Existência por tudo aquilo que já foi
dado a você. Isso é tanto... De repente você
vê que você não merece tudo isso. Você
jamais ganhou algo assim: toda essa beleza,
todas essas bênçãos e todo esse êxtase. Você
nem consegue conceber que tenha ganho isso. Isso
é simplesmente um presente do além. Você
apenas consegue curvar-se diante disso, não
diante de alguém em particular, mas
simplesmente diante do Todo que circunda você.
Assim como um peixe é circundado pelo oceano,
você é circundado pelo Todo.
Você está dizendo: 'Durante o exercício do
caminhar consciente no grupo de Vipassana, hoje,
eu observei que a minha velocidade foi
diminuindo e parou. Parecia não haver
necessidade alguma de movimento. Para onde, para
quê? Simplesmente não mais havia qualquer
meta.' Certamente não existe meta. A Existência
é suficiente em si mesma. Uma meta é necessária
somente para aqueles que estão se sentindo
vazios. Uma vez que você conheça a sua
plenitude, você não tem qualquer espaço para
alguma meta dentro de você. Você não apenas
está completo, você está transbordando. E a
questão de ir a algum lugar nem mesmo surge,
porque onde você estiver, você estará no
Todo, onde você estiver, você estará no mesmo
oceano.
Então uma tremenda transformação surgirá em
você.
Por todas as suas vidas passadas, num movimento
contínuo, de um corpo para outro corpo, de uma
vida para outra vida, sempre estão aí os
mesmos desejos, a mesma cobiça, a mesma raiva,
a mesma violência, a mesma competição, a
mesma inveja.
A palavra oriental para mundo é sansara.
E sansara significa a roda. Você segue
movendo-se numa roda. Ela é a mesma roda. Ela não
vai a lugar algum. Você simplesmente está
agarrado a algum raio da roda, e a roda segue
movendo-se. Você pensa que está chegando
a algum lugar, mas você não está chegando a
lugar algum. Mas porque, continuamente, você
pensa que está chegando a algum lugar, você
nunca olha para dentro para ver que você já
está onde você quer estar.
O lar, pelo qual você está procurando, está
dentro de você. E o deus, pelo qual você tem
procurado, está dentro de você. Você é o
maior tesouro de consciência em toda esta Existência.
No momento em que você perceber a sua glória e
esplendor, você verá a si mesmo na altura do
Everest no céu, e você nem conseguirá
conceber que algo mais ainda possa ser
acrescentado. O seu preenchimento é tão
completo que virá uma parada absoluta, e essa
parada se tornará uma explosão de iluminação,
de despertar da sua natureza búdica.
O que aconteceu a você é tremendamente belo.
Permita que isso aconteça mais e mais. Vá mais
fundo nessa parada, vá ainda para mais longe do
movimento e você estará mais próximo de si. Não
seja pego novamente na teia da mente. Fique
atento pois ela logo tentará lhe pegar. Você
pode ter tido uns poucos vislumbres, mas ela
imediatamente tentará agarrar você de volta e
não lhe permitir mais do que pequenos
vislumbres. De novo um desejo surgirá, de novo
o amanhã se tornará real, de novo o futuro se
tornará significante e o movimento e o processo
de pensamentos... E toda a mente estará de
volta.
Aprofunde suas experiências. Deixe que elas
aconteçam mais vezes. Esse é o propósito de
todas as meditações que estão acontecendo
aqui: trazê-lo a uma parada total. Então, de
repente, a energia que estava se movendo para
fora, começa a se assentar internamente. Quando
todas as suas forças vitais estiverem centradas
na verdadeira raiz de seu ser, você começará
a crescer numa nova direção.
Agora, isso não será um movimento, será um
crescimento. Movimento é sempre horizontal e
crescimento é vertical. As árvores crescem
verticalmente, você se movimenta
horizontalmente. O mundo é horizontal e a
espiritualidade é vertical.
Uma vez que as suas energias estejam todas
concentradas nas raízes, surgirão novos
brotos, novas folhagens, novos ramos, e você
começará a mover-se para cima, em direção às
estrelas. E esse não é o velho movimento, este
é um fenômeno totalmente diferente. O
movimento horizontal nós conhecemos, é quando
dizemos que alguém está ficando velho. O
movimento vertical é quando nós dizemos que
alguém está crescendo.
Simplesmente tornar-se velho não irá levar você
a lugar algum, a não ser à morte e a uma nova
vida com os velhos desejos novamente... o mesmo
círculo. Uma vez que a sua vida começa a
expandir-se, ao invés de movimentar-se, ela
toma uma dimensão totalmente diferente, para
cima, contra a gravitação deste mundo, em direção
ao céu aberto. E somente nessa expansão, um
dia, a sua potencialidade irá desabrochar.
No dia em que você vir as suas flores se
abrindo e liberando sua fragrância, você irá
conhecer pela primeira vez alguma coisa que pode
ser chamada de espiritual. E isso não é uma
meta. As árvores não estão crescendo atrás
de alguma meta, elas estão crescendo em direção
ao seu potencial, o qual é intrínseco, oculto
nelas. Elas querem chegar a um ponto onde aquilo
que está oculto se torne disponível para toda
a existência, aquilo que está numa semente se
torne uma flor.
A iluminação é o seu florescimento.
A meditação levará você ao ponto onde a sua
existência tomará uma nova dimensão, a dimensão
da iluminação. Você pode chamar isso de
sat-chit-anand. "
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