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A mente é orientada por metas

Amado Osho,
Durante o exercício do caminhar consciente no grupo de Vipassana, hoje, eu observei que a minha velocidade foi diminuindo e parou. Parecia não haver necessidade alguma de movimento. Para onde, para quê? Simplesmente não havia mais qualquer meta.
Osho, você poderia falar a respeito do segredo de estar no corpo e do que o mantém em movimento?

 

            "É a ambição, é algum desejo, é alguma esperança no futuro que mantém o corpo movimentando-se. A palavra usada por Gautama Buda para essa ambição, desejo ou esperança é tanha. Ela contém todas essas coisas. Você está sempre buscando alguma coisa para acontecer em sua vida; você não viveu ainda. O passado está vazio; você sabe que ele foi um deserto. A única maneira para movimentar-se é manter os olhos lá longe, em alguma estrela. Isso é apenas a sua imaginação, mas é suficiente para manter o corpo em movimento.
            Se nada aconteceu até agora, não há qualquer garantia de que acontecerá no futuro. O amanhã está sempre aberto, e é o amanhã que mantém o corpo e a mente em movimento. E não apenas durante uma vida. A compreensão oriental  é muito mais profunda que a ocidental a respeito dos segredos internos.
            Todos os místicos nascidos no Oriente podem discordar em todos os outros pontos, mas em um ponto a concordância deles é absoluta, e esse ponto é a reencarnação. Não é apenas em uma vida que você segue movimentando-se por causa de alguns ou muitos desejos. Você segue movimentando-se de uma vida para outra, de um útero para outro, mas a razão é a mesma: o movimento significa que você tem alguma coisa no futuro a ser alcançada. 

            O seu futuro está atraindo você. Você está fascinado por todas as possibilidades que podem ser suas. Você não se acabou só porque o passado foi vazio. O futuro pode ser mais completo, mais rico e melhor. É essa esperança que está sempre ali e nunca morre. Todo dia você vê essa esperança sendo decepcionada, por toda a sua vida você vê ela sendo decepcionada, mas ainda assim, o futuro está aí, sempre disponível, aberto e dando a você tantas chances quantas você queira. 
            Pode ocorrer, em meditação profunda, que você chegue a uma parada completa, a um estado de não-movimento, à simples sensação de que não há qualquer necessidade de se movimentar, nenhuma necessidade de se ir a lugar algum, porque não há lugar algum para se ir. Você tem estado correndo atrás de sombras por muitas vidas e até agora tudo tem provado ser sem sentido, você nunca chegou a meta alguma.

 

            Em meditação profunda, a percepção pode vir de que não há meta alguma e que todo movimento é fútil. Se não há meta alguma, não há qualquer necessidade de se movimentar, uma vez que todo movimento é orientado por metas. Eles estão juntos. Se a meta desaparece de sua mente, você vai sentir diminuindo a marcha em seu corpo e em sua mente. Um relaxamento profundo vai se assentando. Esta é uma das mais belas experiências. A proposta da meditação é, na verdade, trazê-lo a essa parada completa, onde, pela primeira vez, você não está mais motivado por qualquer desejo, por qualquer ambição, por qualquer anseio. 
            Pela primeira vez, o futuro terá desaparecido. Ele nunca existiu. Era apenas a sua imaginação. O futuro é a sua projeção de desejos não realizados. Quanto mais desejos não realizados você tiver, maior será o seu futuro projetado. Quanto mais o seu ser não se realizar, mais ricos sonhos você terá sobre o futuro. Mas isso existe apenas em sua mente. 
            Nós dividimos o tempo em 3: passado, presente e futuro. Mas é uma divisão errada. O tempo consiste apenas no presente e a mente consiste apenas no passado e no futuro. Você está misturando as duas coisas juntas. A meditação lhe ajudará a dar clareza para dividi-los exatamente como eles são. A mente é memória do passado e imaginação do futuro. Mas o tempo em si mesmo é indivisível, é somente o presente. Você nunca encontra o ontem e nunca encontra o amanhã. O que você, na verdade, encontra sempre é o momento presente. 
            No momento em que você percebe isso, você começa a assentar em si mesmo. Todo movimento é do lado de fora, todo movimento é extroversão. Não-movimento é introversão, é ir para dentro, simplesmente assentando-se no verdadeiro centro de seu ser... sem qualquer agitação, sem qualquer pensamento, sem qualquer sonho e sem qualquer desejo. 
            Esse é na verdade o estado de meditação. A mente se foi com o movimento. Ela era apenas um outro nome para movimento. Ela o mantém ocupado e atarefado com o futuro, com o passado, com tudo, exceto com o presente. Ela é muito relutante em vir para o presente. É por isso que as pessoas sentem dificuldades para meditar. 
            A mente puxa você ou para o passado, onde ela é perfeitamente feliz, ou para o futuro, porque somente no passado ou no futuro ela consegue viver. O presente nada mais é do que a morte para a mente, mas a morte para a mente é o começo de sua vida autêntica. A mente o mantém vivendo uma vida não autêntica. Todo o seu desespero, toda a sua agonia, toda a sua miséria são filhos de sua mente. Assim que o movimento pára, a mente pára. De repente, você está aqui e agora. Pela primeira vez você toca a Existência. Pela primeira vez você está acordado. O sonho da mente, o sono da mente não mais estão aí. 
            Nesse momento de despertar, você se encontra. Não o ego que você costumava pensar que era você, não a velha personalidade na qual você sempre acreditou e com a qual você permaneceu identificado. Aquela personalidade e aquele ego eram partes da mente. Com a mente, eles desapareceram. Toda aquela cerração não está mais ali, mas uma claridade limpa como cristal, uma transparência, um silêncio vivo e cheio de paz. E surge uma alegria sutil e profunda como nunca você conheceu igual. Você nem mesmo pode ter concebido ou sonhado tal alegria.
            Isso não é apenas o seu 'self', isso é o 'self' universal também. E porque isso é também o 'self' universal, Gautama Buda decidiu chamar essa experiência de 'não-self', simplesmente para enfatizar que você não é mais. A Existência é, você já se foi. Agora o Todo assumiu a direção. Você está consciente, pela primeira vez, consciente em totalidade. 
            E novas coisas começam acontecer a você. Elas são exatamente o oposto daquilo que a mente estava criando. No lugar da agonia, você tem êxtase; no lugar da miséria, uma tremenda felicidade; no lugar do desespero, você estará completamente tranqüilo; no lugar da sensação de falta de sentido, pela primeira vez você verá a significância, a beleza e a glória de tudo que a existência tem lhe dado. E sem qualquer esforço de sua parte, um tremendo impulso surge para agradecer o Todo, para estar grato, para dançar e cantar em gratidão.
            Para mim, a única prece verdadeira é aquela que vem da gratidão, não endereçada a um deus qualquer, ou para obter alguma coisa, mas endereçada a toda a Existência por tudo aquilo que já foi dado a você. Isso é tanto... De repente você vê que você não merece tudo isso. Você jamais ganhou algo assim: toda essa beleza, todas essas bênçãos e todo esse êxtase. Você nem consegue conceber que tenha ganho isso. Isso é simplesmente um presente do além. Você apenas consegue curvar-se diante disso, não diante de alguém em particular, mas simplesmente diante do Todo que circunda você. Assim como um peixe é circundado pelo oceano, você é circundado pelo Todo.
            Você está dizendo: 'Durante o exercício do caminhar consciente no grupo de Vipassana, hoje, eu observei que a minha velocidade foi diminuindo e parou. Parecia não haver necessidade alguma de movimento. Para onde, para quê? Simplesmente não mais havia qualquer meta.' Certamente não existe meta. A Existência é suficiente em si mesma. Uma meta é necessária somente para aqueles que estão se sentindo vazios. Uma vez que você conheça a sua plenitude, você não tem qualquer espaço para alguma meta dentro de você. Você não apenas está completo, você está transbordando. E a questão de ir a algum lugar nem mesmo surge, porque onde você estiver, você estará no Todo, onde você estiver, você estará no mesmo oceano. 
            Então uma tremenda transformação surgirá em você. 
            Por todas as suas vidas passadas, num movimento contínuo, de um corpo para outro corpo, de uma vida para outra vida, sempre estão aí os mesmos desejos, a mesma cobiça, a mesma raiva, a mesma violência, a mesma competição, a mesma inveja.
            A palavra oriental para mundo é sansara. E sansara significa a roda. Você segue movendo-se numa roda. Ela é a mesma roda. Ela não vai a lugar algum. Você simplesmente está agarrado a algum raio da roda, e a roda segue movendo-se.  Você pensa que está chegando a algum lugar, mas você não está chegando a lugar algum. Mas porque, continuamente, você pensa que está chegando a algum lugar, você nunca olha para dentro para ver que você já está onde você quer estar.
            O lar, pelo qual você está procurando, está dentro de você. E o deus, pelo qual você tem procurado, está dentro de você. Você é o maior tesouro de consciência em toda esta Existência. No momento em que você perceber a sua glória e esplendor, você verá a si mesmo na altura do Everest no céu, e você nem conseguirá conceber que algo mais ainda possa ser acrescentado. O seu preenchimento é tão completo que virá uma parada absoluta, e essa parada se tornará uma explosão de iluminação, de despertar da sua natureza búdica.
            O que aconteceu a você é tremendamente belo. Permita que isso aconteça mais e mais. Vá mais fundo nessa parada, vá ainda para mais longe do movimento e você estará mais próximo de si. Não seja pego novamente na teia da mente. Fique atento pois ela logo tentará lhe pegar. Você pode ter tido uns poucos vislumbres, mas ela imediatamente tentará agarrar você de volta e não lhe permitir mais do que pequenos vislumbres. De novo um desejo surgirá, de novo o amanhã se tornará real, de novo o futuro se tornará significante e o movimento e o processo de pensamentos... E toda a mente estará de volta. 
            Aprofunde suas experiências. Deixe que elas aconteçam mais vezes. Esse é o propósito de todas as meditações que estão acontecendo aqui: trazê-lo a uma parada total. Então, de repente, a energia que estava se movendo para fora, começa a se assentar internamente. Quando todas as suas forças vitais estiverem centradas na verdadeira raiz de seu ser, você começará a crescer numa nova direção. 
            Agora, isso não será um movimento, será um crescimento. Movimento é sempre horizontal e crescimento é vertical. As árvores crescem verticalmente, você se movimenta horizontalmente. O mundo é horizontal e a espiritualidade é vertical. 
            Uma vez que as suas energias estejam todas concentradas nas raízes, surgirão novos brotos, novas folhagens, novos ramos, e você começará a mover-se para cima, em direção às estrelas. E esse não é o velho movimento, este é um fenômeno totalmente diferente. O movimento horizontal nós conhecemos, é quando dizemos que alguém está ficando velho. O movimento vertical é quando nós dizemos que alguém está crescendo.
            Simplesmente tornar-se velho não irá levar você a lugar algum, a não ser à morte e a uma nova vida com os velhos desejos novamente... o mesmo círculo. Uma vez que a sua vida começa a expandir-se, ao invés de movimentar-se, ela toma uma dimensão totalmente diferente, para cima, contra a gravitação deste mundo, em direção ao céu aberto. E somente nessa expansão, um dia, a sua potencialidade irá desabrochar. 
            No dia em que você vir as suas flores se abrindo e liberando sua fragrância, você irá conhecer pela primeira vez alguma coisa que pode ser chamada de espiritual. E isso não é uma meta. As árvores não estão crescendo atrás de alguma meta, elas estão crescendo em direção ao seu potencial, o qual é intrínseco, oculto nelas. Elas querem chegar a um ponto onde aquilo que está oculto se torne disponível para toda a existência, aquilo que está numa semente se torne uma flor. 
            A iluminação é o seu florescimento.
            A meditação levará você ao ponto onde a sua existência tomará uma nova dimensão, a dimensão da iluminação. Você pode chamar isso de sat-chit-anand. "

                                    OSHO - Sat-Chit-Anand - Truth-Consciousness-Bliss  - discourse nº 22
                                                                                           tradução: Sw.Bodhi Champak

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