Você simplesmente pensa que tem uma alma. Você
acredita que você tem uma alma devido ao seu medo
da morte. Mas você não a conheceu a não ser que
você tenha amado. Somente no amor a pessoa vem a
sentir que ela é mais do que o corpo, mais do que
a mente.
É por isso que eu digo que a compaixão é terapêutica.O
que é compaixão? Compaixão é a forma mais pura
de amor. No sexo, o contato é basicamente físico,
na compaixão o contato é basicamente espiritual.
No amor, compaixão e sexo estão misturados. O
amor está no meio do caminho entre sexo e compaixão.
Você também pode chamar a compaixão de prece.
Você também pode chamar a compaixão de meditação.
A forma mais elevada de energia é a compaixão. A
palavra 'compaixão' é bela. Metade dela é 'paixão'.
De alguma forma a paixão se tornou tão refinada
que ela não é mais como uma paixão. Ela se
tornou compaixão.
No sexo, você usa o outro, você reduz o outro a
um meio, você reduz o outro a uma coisa. É por
isso que numa relação sexual você se sente
culpado. Essa culpa nada tem a ver com
ensinamentos religiosos, essa culpa é mais
profunda que os ensinamentos religiosos. Numa relação
sexual, enquanto tal, você se sente culpado. Você
se sente culpado porque você está reduzindo um
ser humano a uma coisa, a uma mercadoria para ser
usada e jogada fora.
É por isso que no sexo você também tem uma
sensação de escravidão, você também está
sendo reduzido a uma coisa. E quando você é uma
coisa, a sua liberdade desaparece, porque a sua
liberdade somente existe quando você é uma
pessoa. Quanto mais você for uma pessoa, mais
livre será; quanto mais você for uma coisa,
menos livre será.
Os móveis de seu quarto não são livres. Se você
deixar o quarto fechado e voltar muitos anos
depois, os móveis estarão nos mesmos lugares,
com a mesma disposição, eles não se arrumarão
numa nova disposição. Eles não têm liberdade.
Mas se você deixar um homem num quarto, você não
irá encontrá-lo do mesmo jeito, nem mesmo no dia
seguinte, nem mesmo no momento seguinte. (...)
Para uma coisa, o futuro está fechado. Uma pedra
permanecerá uma pedra. Ela não tem qualquer
potencial para o crescimento. Ela não pode mudar,
ela não pode evoluir. O homem nunca permanece o
mesmo. Ele pode retornar, ele pode ir adiante, ele
pode ir para o inferno ou para o céu, mas nunca
permanece o mesmo. Ele segue se movendo, deste ou
daquele jeito.
Quando você tem uma relação sexual com alguém,
você reduz aquela pessoa a uma coisa. E ao
reduzi-la, você também se reduz a uma coisa,
porque isso é um acordo mútuo do tipo: 'Eu lhe
permito reduzir-me a uma coisa e você me permite
reduzi-lo a uma coisa. Eu lhe permito usar-me e
você me permite usá-lo. Nós usamos um ao outro.
Nós ambos nos tornamos coisas'.
É por isso... Observe dois amantes: enquanto eles
ainda não se acomodaram, o romance ainda está
vivo, a lua de mel não termina e você vê as
duas pessoas vibrando com a vida, prontas para
explodir-se, prontas para explodir-se no
desconhecido. E depois, observe um casal de marido
e mulher, e você verá duas coisas mortas, dois
cemitérios, lado a lado, ajudando um ao outro a
se manter morto, forçando um ao outro a se manter
morto. Esse é o conflito constante no casamento.
Ninguém quer ser reduzido a uma coisa.
O sexo é a forma mais baixa daquela energia 'X'.
Se você é religioso chame isso de 'Deus";
se você é um cientista, chame isso de 'X'. Essa
energia, X, pode se tornar amor. Quando ela se
torna amor, então você começa a respeitar a
outra pessoa. Sim, algumas vezes você usa a outra
pessoa, mas você se sente agradecido por isso.
Você nunca diz muito obrigado a uma coisa. Quando
você está amando uma mulher e você faz amor com
ela, você lhe diz: muito obrigado. Quando você
faz amor com sua esposa, alguma vez você lhe
disse muito obrigado? Não, você não dá valor
algum. A sua esposa já lhe disse alguma vez
obrigado? Talvez, muitos anos atrás, você
consegue se lembrar de um tempo quando vocês
ainda estavam indecisos, quando estavam
experimentado, fazendo a corte, seduzindo um ao
outro, talvez. Mas uma vez que vocês se
acomodaram, ela disse alguma vez muito obrigado a
você por alguma coisa? Você tem estado fazendo
tantas coisas por ela, ela tem estado fazendo
tantas coisas por você, vocês ambos têm vivido
um para o outro... mas a gratidão desapareceu.
No amor existe gratidão, existe uma profunda
gratidão. Você sabe que a outra pessoa não é
uma coisa. Você sabe que o outro tem uma
grandeza, uma personalidade, uma alma, uma
individualidade. No amor você dá liberdade total
ao outro. Na verdade você dá e você recebe, é
uma relação de dar e receber, mas com respeito.
No sexo há uma relação de dar e receber, mas
sem respeito. Na compaixão, você simplesmente dá.
Não há qualquer idéia, em lugar algum em sua
mente, de receber algo em troca. Você
simplesmente compartilha. Não que nada retorne.
Mil desdobramentos retornam, mas espontaneamente,
simplesmente como uma conseqüência natural. Não
há qualquer espera por isto.
No amor, se você dá alguma coisa, no fundo você
fica esperando aquilo que deve vir em troca. Se
aquilo não vem, você percebe uma reclamação
interna. Você pode não dizer, mas de mil e uma
maneiras você pode insinuar que você não está
satisfeito, que você está se sentindo traído. O
amor parece ser uma barganha sutil.
Na compaixão, você simplesmente dá. No amor,
você está agradecido porque o outro deu alguma
coisa a você. Na compaixão você está
agradecido porque o outro recebeu alguma coisa de
você, porque o outro não rejeitou você. Você
veio com energia para dar, você veio com muitas
flores para compartilhar e o outro lhe permitiu, o
outro estava receptivo. Você está agradecido
porque o outro estava receptivo.
A compaixão é a mais elevada forma de amor.
Muita coisa vem em troca, mil desdobramentos eu
digo, mas esse não é o ponto, você não fica
esperando por isto. Se não vier, não há
qualquer reclamação. Se vier, você simplesmente
fica surpreso. Se vier, isso será inacreditável.
Se não vier, não há qualquer problema, você
nunca dá o seu coração a alguém por qualquer
barganha. Você simplesmente distribui porque você
tem. Você tem tanto que se você não distribuir,
você se sentirá sobrecarregado. É exatamente
como uma nuvem carregada que tem que chover. E da
próxima vez quando uma nuvem estiver chovendo
observe atentamente e você sempre ouvirá; quando
a nuvem estiver chovendo e a terra tiver
absorvido, você sempre ouvirá a nuvem dizendo à
terra 'muito obrigado'. A terra ajuda a nuvem a se
descarregar.
Quando uma flor desabrocha, ela tem que
compartilhar a sua fragrância ao vento. Isso é
natural. Não é uma barganha, não é um negócio.
Isso é simplesmente natural. A flor está repleta
de fragrância. O que fazer? Se a flor mantiver a
fragrância para si mesma, ela irá se sentir
muito, muito tensa, em angústia profunda. A maior
angústia na vida é quando você não pode
expressar, quando você não pode comunicar,
quando você não pode compartilhar. O homem mais
pobre é aquele que nada tem a compartilhar, ou
aquele que tem algo a compartilhar mas que perdeu
a capacidade, a arte, a maneira de como
compartilhar, aí o homem é pobre.
O homem sexual é muito pobre. Em comparação, o
homem amoroso é mais rico. O homem de compaixão
é o homem mais rico, ele está no topo do mundo.
Ele não tem qualquer confinamento, qualquer
limitação. Ele simplesmente dá e segue o seu
caminho. Ele nem mesmo espera você lhe dizer um
muito obrigado. Com tremendo amor ele compartilha
a sua energia.
É isso que eu chamo terapêutico. (......)
Para ser compassivo é preciso que se tenha, em
primeiro lugar, compaixão por si mesmo. Se você
não amar a si mesmo, você nunca será capaz de
amar um outro alguém. Se você não for amável
consigo mesmo, você não conseguirá ser amável
com ninguém mais. Os seus chamados santos, que são
muito duros consigo mesmos, estão simplesmente
fingindo que são amáveis com os outros. Isso não
é possível. Psicologicamente isso é impossível.
Se você não puder ser amável consigo mesmo,
como você poderá ser amável com os outros?
Qualquer coisa que você for consigo mesmo, você
será com os outros. Deixe que isso seja um ditado
básico. Se você se detesta, você irá detestar
os outros. E foi-lhe ensinado detestar a si mesmo.
Ninguém jamais disse a você 'ame a si mesmo'.
Essa própria idéia parece absurda: amar a si
mesmo? A própria idéia não faz sentido: amar a
si mesmo? Nós sempre pensamos que, para amar, nós
precisamos de uma outra pessoa. Mas se você não
aprender consigo mesmo, você não será capaz de
praticar com os outros.
Foi-lhe dito constantemente, você foi
condicionado, que você não tem qualquer valor.
De todas as direções lhe foi mostrado, lhe foi
dito que você é sem valor, que você não é o
que deveria ser, que você não é aceito como você
é. Existem muitos 'deves' pendurados sobre a sua
cabeça e todos esses 'deves' são quase impossíveis
de serem satisfeitos. E quando você não consegue
satisfazê-los, quando você tem um pequeno tropeço,
você se sente condenado. Uma profunda raiva surge
em você em relação a si mesmo.
Como você pode amar os outros? Tão cheio de ódio,
onde você irá encontrar amor? Assim, você
simplesmente finge, você simplesmente demonstra
que está amoroso. No fundo você não está
amoroso com ninguém, você não pode estar. Esses
fingimentos são bons por uns poucos dias, depois
o colorido desaparece, então a realidade se
revela por si mesma.
Todo caso amoroso está em cima de pedras. Mais
cedo ou mais tarde, todo caso amoroso se torna
muito envenenado. E como ele se torna tão
envenenado? Ambos fingem que estão amando, ambos
seguem dizendo que amam. O pai diz que ama a criança,
a criança diz que ama o pai, a mãe diz que ama a
filha e a filha segue dizendo a mesma coisa. Irmãos
dizem que amam um ao outro. Todo o mundo conversa
a respeito de amor, canta canções de amor, e você
poderia encontrar outro local tão destituído de
amor? Nem uma pitada de amor existe, e
montanhas de falatórios, um Himalaia de poesias a
respeito do amor.
Parece que todas essas poesias são apenas
compensações. Porque nós não conseguimos amar,
nós temos que acreditar de alguma maneira, através
da poesia, da canção, que nós amamos. Aquilo
que nos falta na vida, nós colocamos na poesia. O
que nós vamos perdendo na vida, nós colocamos no
filme, na novela. O amor está absolutamente
ausente porque o primeiro passo ainda não foi
dado.
O primeiro passo é: aceite-se como você é.
Abandone todos os 'deves". Não carregue
qualquer 'deve' em seu coração. Não é para você
ser algo diferente do que é. Não é de se
esperar que você faça algo que não pertença a
você. Você existe para ser exatamente você
mesmo. Relaxe e seja simplesmente você mesmo.
Seja respeitoso para com sua individualidade e
tenha a coragem de assinar a sua própria
assinatura. Não siga copiando as assinaturas de
outros.
Não é de se esperar que você se torne um Jesus
ou um Buda ou um Ramakrishna. O que se
espera é que você se torne simplesmente você
mesmo. Foi bom que Ramakrishna nunca tentou se
tornar alguma outra pessoa, assim ele se tornou
Ramakrishna. Foi bom que Jesus nunca tentou
tornar-se Abraão ou Moisés, assim ele se tornou
Jesus. E é bom que Buda nunca tenha tentado
tornar-se Patanjali ou Krishna. Foi por isso que
ele se tornou Buda.
Quando você não está tentando se tornar um
outro alguém, então você simplesmente relaxa e
uma graça surge. Então você está cheio de
grandeza, esplendor e harmonia, porque aí não
existe qualquer conflito. Nenhum lugar para ir,
nada pelo qual brigar, nada para forçar nem para
obrigar-se violentamente. Você se torna inocente.
Em tal inocência, você sentirá compaixão e
amor por si mesmo. Você se sentirá tão feliz
consigo mesmo que ainda que Deus venha bater em
sua porta e diga: 'Você gostaria de se tornar uma
outra pessoa?, você dirá: 'Você ficou louco? Eu
sou perfeito! Obrigado, e nunca mais tente fazer
isso, eu sou perfeito como sou.' (......)
As rosas desabrocham tão lindamente porque elas não
estão tentando se tornar lótus. E a flor de lótus
desabrocha tão lindamente porque ela nunca ouviu
as lendas a respeito das outras flores. Tudo na
natureza segue tão belamente em harmonia porque
ninguém está tentando competir com algum outro,
ninguém está tentando se tornar algum outro.
Tudo é do jeito que é.
Simplesmente veja o ponto! Seja apenas você mesmo
e lembre-se de que você não pode ser alguma
outra coisa, faça o que você fizer. Todo esforço
é fútil. Você tem que ser simplesmente você
mesmo.
Existem dois caminhos: um é: rejeitando, você
pode permanecer o mesmo; condenando, você pode
permanecer o mesmo. Ou, aceitando, entregando-se,
curtindo, deliciando-se, você pode permanecer o
mesmo. A sua atitude pode ser diferente, mas você
vai continuar do jeito que você é, a pessoa que
você é. Uma vez que você aceite, a compaixão
surge. E então, você começa a aceitar os
outros. (......)
Mova-se lentamente, alerta, observando, estando
amoroso. Se você for sexual, eu não digo para
abandonar o sexo; eu digo faça-o mais alerta, faça-o
como uma prece, faça-o mais profundo, assim ele
pode tornar-se amor. Se você está amando, então
faça isso com mais gratidão, traga uma gratidão,
uma alegria, uma celebração e uma prece mais
profunda ao amor, traga meditação para ele,
assim ele pode se tornar compaixão.
A não ser que a compaixão tenha acontecido para
você, não pense que você viveu corretamente, ou
que você viveu de alguma maneira. Compaixão é o
florescimento. E quando a compaixão acontece para
uma pessoa, milhões são curadas. Qualquer um que
chegue ao seu redor será curado. A compaixão é
terapêutica."
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