correto a ser adotado,
do contrário você se extraviará. Esse é o começo
certo! Parta dessa visão e não fique preocupado que isso
possa criar algum tipo de ego – o de que “eu sou um
Buda”. Não se preocupe, porque todo o processo do Sutra
do Coração vai deixar claro para você que o ego é a única
coisa que não existe – a única coisa que não existe!
Tudo o mais é real.
Neste mundo existiram
sábios que disseram que o mundo é ilusório e que a alma
é existencial – o “eu” é verdadeiro ao passo que
todo o restante é ilusório, maya. Buda diz exatamente o
adverso: ele diz que apenas o “eu” é irreal, tudo o
mais é real. E eu concordo com Buda mais do que com
qualquer outro ponto de vista. A percepção de Buda é
muito penetrante, é a mais aguda e intensa. Ninguém
jamais penetrou esses reinos, profundidades e alturas da
realidade.
Mas parta dessa visão,
comece com essa ideia e ela criará um clima em torno de
você. Deixe-a ser declarada a todas as células de seu
corpo e a cada pensamento de sua mente; deixe que isso
seja declarado em todos os cantos e recantos de sua existência:
“EU SOU UM BUDA!”. E não se preocupe com o “eu”.
Nós daremos conta dele.
O estado de buda e o
“eu” não podem existir ao mesmo tempo. Quando o
estado de buda se revela o “eu” desaparece, assim como
a escuridão desaparece quando você se aproxima com a
luz. (...)
Este sutra pode
ocasionar uma revolução em você.
A primeira coisa a se
fazer é iniciar com a pergunta: “Quem sou eu?”. E
prossiga indagando. Não pare de investigar. Muitas
respostas virão, a mente dirá: “Você é um corpo! Que
absurdo! Não há necessidade de perguntar, você já sabe
disso”, ou até mesmo “você a alma, o espírito, a
consciência suprema”... Lembre-se, você deve parar
apenas quando nenhuma resposta estiver vindo, jamais
antes. Enquanto vir alguma resposta dizendo “você é
isso, você é aquilo”, saiba bem que a mente o está
suprindo com respostas. Quando você chegar ao ponto de
indagar “Quem sou eu?” e nenhuma resposta estiver
vindo de qualquer lugar, então há silêncio absoluto. A
sua pergunta ressoa em si mesmo: “Quem sou eu?”, e há
um silêncio e nenhuma resposta surge de lugar algum. Você
está absolutamente presente, absolutamente silencioso, e
não há sequer uma única vibração. “Quem sou Eu?”
– e apenas o silêncio. Então um milagre acontece: de
repente você não pode sequer formular a pergunta. A
pergunta final tornou-se absurda. As respostas tornaram-se
absurdas e por isso as perguntas também se tornam
absurdas. Primeiro desaparecem as respostas e depois
desaparecem as perguntas – porque uma somente pode
existir ao mesmo tempo que a outra. Elas são como os dois
lados de uma moeda – se um lado for retirado o outro não
pode ser mantido. Primeiro as respostas desaparecem,
depois desaparecem as perguntas. E com o desaparecimento
da pergunta e da resposta, você chega à realização:
você é transcendental! Então você sabe, e no entanto
você não pode dizer; você sabe, mas não consegue
articular sobre isso. A partir de seu próprio ser você
sabe Quem você é, mas isso não pode ser verbalizado. E
esse conhecimento é vívido, existencial; não se trata
de um conhecimento emprestado retirado das escrituras. É
um conhecimento seu, e não dos outros. Ele surgiu em você.
E com esse surgimento,
você é um Buda. Então você começa a rir, porque você
veio a saber que você tem sido um Buda desde o princípio
de todos os tempos; você apenas não tinha notado esse
fato tão profundamente. Você esteve correndo em voltas,
para lá e para cá, do lado de fora de seu ser. Mas agora
você está em casa. (...)
Reverenciada seja a Perfeição da Sabedoria, O Adorável, o
Sagrado!
Avalokita, o Senhor Sagrado e Bodhisatva, moveu-se nos
cursos profundos da sabedoria, para o mundo-além.
Daquelas alturas, Ele olhou para baixo e viu cinco
agregados.
E Ele viu que em si próprios, os agregados eram vazios.
Quando você olha
daquelas alturas, a partir daquele referencial... Por
exemplo, eu disse que estava saudando o seu Buda interior.
Essa visão ocorre daquele referencial: essa de que eu
vejo todos vocês como Budas. E a outra visão é a de que
vocês são apenas cascos vazios.
Aquilo que você pensa
que é nada mais é do que uma couraça vazia. Uma pessoa
pensa que é um homem, isso nada mais é do que uma ideia
vazia. A Consciência não é masculina nem feminina.
Outra pessoa pensa ter um corpo extremamente belo, ela é
bonita, forte, isso e aquilo – tudo isso são ideias
vazias, todas elas são o ego te enganando. Uma pessoa
pensa que conhece/sabe o bastante – algo totalmente
insignificante. O mecanismo dela apenas tem
acumulado memória e ela está sendo enganada por suas próprias
memórias. Todas essas coisas são vazias.
Assim, quando vejo do
ponto de vista transcendental, vejo todos vocês como
Budas; por outro lado, eu os vejo como couraças vazias.
Buda disse que a existência
do homem consiste na acumulação de cinco elementos, de
cinco skandhas (amontoados/agregados), todos eles vazios.
E devido à combinação dos cinco, surge um subproduto
chamado ego, o self. É exatamente como o funcionamento de
um relógio-tique-taque. Você sabe que o tique-taque está
vindo dali. Você pode abrir o relógio e separar todas as
partes na tentativa de descobrir de onde exatamente está
vindo o ruído. Mas você não conseguirá encontrá-lo em
lugar algum. O som do tique-taque é um subproduto que
surge da combinação de algumas peças. Umas poucas peças
funcionando juntas estavam produzindo o ruído.
O seu “eu” nada
mais é que isso: cinco elementos combinados e funcionando
juntos, produzindo o ruído chamado “eu”. Mas esse
“eu” é vazio, não existe nada nele. Tente encontrar
ali qualquer coisa substancial e você não conseguirá.
Essa é uma das percepções
mais profundas de Buda: que a vida é vazia – esta vida
como a conhecemos é vazia. Mas a vida é plena também,
mas nós não sabemos nada sobre isso. A partir deste
vazio você tem de se mover em direção a uma plenitude,
mas essa plenitude é inconcebível para você neste
momento – porque do atual referencial em que você se
encontra, essa plenitude parecerá ser vazia. A partir de
onde você está olhando, a plenitude parece ser um vazio
– um rei parecerá ser um mendigo, um homem de
conhecimento e sabedoria parecerá ser tolo e ignorante.
Uma pequena história:
Certa vez um homem
santo aceitou um discípulo, e disse-lhe: “Seria muito
bom se você pudesse escrever registrando tudo o que você
entende sobre a vida religiosa e sobre o que trouxe você
à ela.”
O discípulo foi
embora e começou a escrever. Um ano depois ele voltou ao
mestre e disse: “Eu trabalhei muito duro nisso, e aqui
estão as principais razões da minha busca.”
O mestre leu os
registros, que comportavam milhares de palavras, e então
disse ao jovem aluno: “seu trabalho está admiravelmente
embasado e fundamentado, mas está um pouco longo demais.
Tente diminuir um pouco.” Assim, o novato foi embora e
depois de cinco anos voltou com apenas cem páginas.
O mestre sorriu e,
depois de ter lido os papeis, disse: “Agora você está
realmente se aproximando do centro da questão. Seus
pensamentos têm clareza e força, mas ainda está um
pouco longo... tente reduzir mais.”
O novato foi embora
triste, pois ele tinha trabalhado duro para alcançar a
essência. Mas depois de dez anos ele voltou e,
curvando-se perante o mestre, ofereceu-lhe apenas cinco páginas,
e disse: “Esse é o núcleo da minha fé, o âmago da
minha vida, e peço sua bênçãos por ter me conduzido até
ele.”
O mestre leu bem
devagar e com cuidado: “É realmente maravilhoso”,
disse ele, “toda essa simplicidade e beleza... mas ainda
não está perfeito. Tente chegar a uma clarificação
final."
E quando o mestre
tinha chegado aos seus últimos tempos e estava se
preparando para o seu fim, seu aluno veio a ele novamente
e, de joelhos dobrados diante dele para receber suas bênçãos,
entregou-lhe uma folha de papel em que nada estava
escrito.
Em seguida o mestre
colocou as mãos sobre a cabeça de seu amigo e disse:
“Agora... agora você entendeu.”
Se você está imerso
no referencial mundano, ao tentar compreender o
transcendental, ele terá uma aparência de NADA para você.
E se você estiver imerso no referencial transcendental,
ao olhar para o mundano, ele também terá a MESMA aparência
de nada para você. Olhando daqui onde estou, tudo o que
você tem é vazio; e olhando a partir do lugar onde você
está, o que eu tenho é vazio, nada.
Buda parece vazio –
apenas o puro nada – para você. Por causa de suas
ideias, por causa de seus apegos, por causa de sua
possessividade sobre as coisas, Buda parece vazio. Buda é
pleno, completo: você é vazio. E a visão dele é
absoluta, e sua visão é apenas relativa.
O Sutra diz:
Reverenciada seja a Perfeição da Sabedoria, O Adorável, o
Sagrado!
Avalokita, o Senhor Sagrado e Bodhisatva, moveu-se nos
cursos profundos da sabedoria, para o mundo-além.
Daquelas alturas, Ele olhou para baixo e viu cinco
agregados.
E Ele viu que em si próprios, os agregados eram vazios.
O vazio é a chave do
Budismo – shunyata. Medite sobre este sutra – medite
com amor, com simpatia, não com a lógica e a razão. Se
você lidar com este sutra com a lógica e a razão,
acabará por matar o seu espírito. Não raciocine,
e não tente dissecá-lo. Tente compreender os sutras como
eles são, e não traga a sua mente – sua mente será
uma interferência.
Se você puder lidar
com este sutra sem a interferência da mente, uma grande
claridade ocorrerá a você.
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