Logo a mente entra, toma posse de você e começa a
administrar as coisas. Você começa a pensar sobre a
garota como sua namorada, você começa a pensar em como
se casar, e começa a pensar sobre ela como sua esposa.
Agora, tudo isso são coisas: a namorada, a esposa –
essas são as coisas. A verdade não está mais lá, foi
recuada para um plano secundário. As “coisas”
passaram a ser mais importantes. O definível é mais
seguro, o indefinível é inseguro. Você começou a
matar/envenenar a verdade. Cedo ou tarde haverá uma
esposa e um marido, que são suas coisas. Mas a beleza se
foi, a alegria desapareceu, a lua de mel acabou.
A lua de mel termina no exato momento em que a
verdade se torna realidade, quando o amor se torna um
relacionamento. A lua de mel é muito curta, infelizmente
– eu não estou me referindo sobre a lua de mel para
onde vão você e seu cônjuge. A lua de mel é muito
curta. Ela estava lá por um breve momento. A pureza e a
beleza que ela carrega, aquela pureza cristalina, divina e
transcendente – é pertencente à eternidade, não é do
tempo. Não faz parte desta vida mundana, é como um raio
trazendo luz para um lugar escuro. Ela vem do
transcendental. É absolutamente apropriado chamar o amor
de Deus, porque o amor é a verdade. A coisa mais próxima
da verdade a que você pode chegar na vida comum é o
amor.
Chilvilas pergunta: “O que é a verdade?”
A pergunta deve desaparecer; somente então você
saberá.
Quando você pergunta “O que é a
verdade?”, o que você está peguntando? Tente entender
isso. Se eu digo que “A” é verdade, “B” é
verdade, “C” é verdade... isso seria realmente uma
resposta? Se eu disser que A é a verdade, então A
certamente não pode ser a verdade: é apenas algo que
estou usando como sinônimo da verdade. Se A for um sinônimo
total e completo a verdade, então haverá uma tautologia.
Então eu poderia dizer: “A verdade é a verdade”, mas
isso de nada adiantaria, seria só uma tolice sem sentido.
Se ambos forem exatamente o mesmo, ou seja, se A for
exatamente a verdade, então isso significará que “a
verdade é a verdade”. Por outro lado, se A for
diferente, ao invés de exatamente a verdade, então eu
estarei falsificando e enganando. Então dizer “A é a
vedade” será apenas aproximado. E lembre-se, em se
tratando da verdade, não pode haver nada que seja
aproximado. Ou é a verdade, ou não é. Logo, mesmo que
tentasse lhe responder com significado aproximado, eu não
poderia dizer que A é a verdade.
Eu não posso nem mesmo dizer que "Deus é a
verdade", pois se Deus é a verdade, isso seria uma
tautologia, significando que "A verdade é a
verdade". Nesse caso, apesar de eu estar lhe dizendo
a resposta, não estaria dizendo realmente nada. Se,
todavia, Deus é diferente da verdade, então eu poderia
dizer alguma coisa, mas então eu estaria dizendo algo
errado/falso. Porque, se Deus é diferente da verdade,
como Ele poderia ser a verdade? Se eu disser que minha
resposta é aproximada, linguisticamente parece tudo bem,
mas não é certo. "Aproximado" significa que um
pouco de mentira está lá, que há algo falso lá. Do
contrário, o que mais poderia impedir uma verdade cem por
cento? Se é 99 por cento verdade, então existe algo que
não é verdade. E a verdade e a mentira não podem
existir juntos, assim como a escuridão e a luz não podem
existir juntos - porque a escuridão nada mais é do que
ausência. Ausência e presença não podem existir
juntos, mentira e verdade não podem existir juntos. A
inverdade nada mais é do que a ausência da verdade.
Portanto, nenhuma resposta é possível. Foi por
isso que Jesus permaneceu
em silêncio. Mas
se você puder olhar para o silêncio de Jesus com
simpatia profunda, você perceberá que há uma resposta.
O silêncio é a resposta. Jesus está dizendo:
"Fique silencioso, assim como eu estou silencioso, e
você vai saber". Note que ele não está dizendo
isso com palavras. Esse é um gesto muito, muito Zen.
Naquele momento
em que Jesus
permaneceu em silêncio, ele se colocou muito perto da
abordagem Zen, e também da abordagem budista. Naquele
momento ele era um Buda. Em sua vida, Buda nunca respondeu
a perguntas como esta. Ele tinha 11 perguntas enumeradas:
aonde quer que ele fosse, seus discípulos iam na frente e
declaravam às pessoas: "Buda está vindo, mas nunca
perguntem a ele essas 11 questões" - questões que são
fundamentais, questões que são realmente significativas.
Você poderia perguntar qualquer outra coisa e Buda se
prontificaria imediatamente a responder. Mas não pergunte
sobre o fundamental, porque o fundamental pode apenas ser
experimentado. E a verdade é de todo o mais fundamental,
o mais essencial; a própria substância da existência é
o que é a verdade.
Analise bem a questão. A questão é realmente
significativa, e está surgindo em seu coração: "O
que é a verdade?". Um desejo de conhecer aquilo que
é está surgindo. Não deixe de lado a sua pergunta, vá
bem fundo nela. Chidvilas, sempre que a pergunta surgir
novamente, feche os seus olhos, e olhe atentamente para a
questão. Deixe que a questão esteja muito, bastante
focada... "O que é a verdade?"... E deixe haver
grande concentração. Esqueça tudo, como se toda a sua
vida dependesse dessa única pergunta – "O que
é a verdade?". Permita que isso se torne uma questão
de vida ou morte. E não tente respondê-la, porque você
não sabe a resposta.
Muitas respostas podem vir para você, a mente
sempre tentará supri-lo com respostas. Mas veja o fato de
que você não conhece a resposta – é justamente
por isso que você está perguntando. Isso não é óbvio?
Então, como pode a sua mente fornecer a resposta? Perceba
esse fato e tenha-o
em mente. A
mente não sabe, não conhece; desse modo, sempre que ela
vier com respostas, diga a ela: "Fique quieta".
Você não conhece a resposta, daí a sua pergunta.
Portanto, não seja enganado pelos brinquedos da
mente. Ela o provê com muitos brinquedos; ela diz:
"Veja, está escrito na Bíblia. Veja, está escrito
nos Upanishads. A resposta é X. Veja, Lao Tzu escreveu
que Y, essa é a resposta." A mente pode atirar todos
os tipos de escrituras sobre você, pode fazer citações,
pode usufruir da memória. Em sua vida, você ouviu falar
sobre bastantes coisas, leu muito sobre várias coisas; a
mente carrega todas essas memórias. Ela pode repetir tudo
de forma mecânica. Mas olhe de perto para este fenômeno:
a mente não sabe realmente nada, e tudo o que a mente está
repetindo nada mais é do que conhecimento emprestado.
Cuidado com a mente. A mente fará citações, ela
tentará provar de todas as formas possíveis ter a
resposta certa pra tudo. A mente sabe tudo sem saber nada.
A mente é um fingidor, uma enganadora. Olhe para este
outro fenômeno (a isso eu chamo insight): não é uma
questão de pensamento. Sempre que você pensar sobre
isso, é novamente a mente. Você deve ver (intensamente e
de uma vez por todas) através de toda atuação, de todo
funcionamento e do mecanismo da mente. A sua visão tem de
apreender tudo de uma vez, do contrário sua visão será
superficial. E uma visão superficial não é realmente
uma visão, é um pensamento. Você tem de
compreender/olhar profundamente para o fenômeno: para o
funcionamento da mente, o modo como a mente atua/trabalha.
Ela toma conhecimento emprestado daqui e dali, e segue
acumulando conhecimento da mesma forma como um ferro velho
acumula todo tipo de entulho. A mente é como o dono de um
ferro velho. Ela se enche de conhecimento, e sempre que
lhe ocorre uma pergunta que é realmente importante, a
mente o providencia com uma resposta sem importância –
fútil, superficial, lixo.
Um homem comprou um papagaio em uma loja de
animais. O proprietário da loja garantiu a ele que o pássaro
iria aprender a dizer “alô” em apenas meia hora. Ao
voltar para casa ele passou uma hora cantando “alô”
para o pássaro, mas o pássaro não tinha pronunciado uma
palavra sequer. Quando o homem foi desistindo e se
afastando em grande frustração, o pássaro disse: “o número
está ocupado.”
Um papagaio é um papagaio. Ele deve ter ouvido
aquelas palavras na loja de animais. E este homem seguia
dizendo “olá, olá, olá”, e durante todo o tempo o pássaro
estava escutando, apenas esperando ele parar. Então ele
poderia dizer, “o número está ocupado!”.
Você pode continuar perguntando à mente, “O que
é a verdade, o que é a verdade, o que é a verdade?”.
E no instante em que você parar, a mente imediatamente
dirá: “o número está ocupado”, ou algo parecido.
Tenha cuidado com a mente.
A mente é o diabo, ela é o demônio, não
existe nenhum outro. E é a sua mente. Essa percepção/insight
tem de ser desenvolvido: de olhar inteiramente para ela de
uma única e só vez, inteiramente, totalmente, por
completo. Corte a mente em duas com um golpe forte e
afiado da espada. Essa espada é a presença, a consciência.
Corte a mente em duas e siga em frente atravessando-a,
para além dela! E, ao atravessá-la, se você puder ir além
da mente, e um momento de não-mente eclodir para você,
subitamente você verá a resposta – não uma resposta
verbal, não um texto citado entre aspas, mas uma resposta
autenticamente sua, uma experiência. A verdade é uma
experiência existencial.
A questão é imensamente significante, mas você
tem que ser muito respeitoso para com a questão. Não
tenha pressa para encontrar qualquer resposta, caso contrário
alguns entulhos acabarão por matar a resposta. Não
permita que a sua mente destrua a sua pergunta. A maneira
que a mente tem de destruir a pergunta é fornecendo uma
resposta sem vida, sem experiência.
Você é a verdade! Mas a realização/constatação
disso somente pode acontecer quando você estiver em
completo e total silêncio, quando não há nem mesmo um
único pensamento, quando a mente não tem nada a dizer,
quando não há nem mesmo uma única ondulação em sua
consciência. Quando não há ondulação em sua consciência,
sua consciência permanece sem distorções. Quando há
uma ondulação, existe uma distorção.
Basta ir a um lago. Fique em pé sobre a margem do
lago, e olhe para o seu reflexo. Se houver ondulações no
lago e o vento estiver soprando, o seu reflexo ficará trêmulo.
Você não poderá definir onde exatamente estão as
coisas – qual parte é o seu nariz e qual parte são os
seus olhos – poderá apenas tentar adivinhar. Mas quando
o lago está silencioso e o vento não está soprando e não
há uma única ondulação na superfície do lago, de
repente você está lá. Inteiramente, em absoluta perfeição,
o seu reflexo está lá. O lago se torna um espelho.
Sempre que houver um pensamento em movimento em sua
consciência, as coisas ficarão distorcidas. E há muitos
pensamentos, milhões de pensamentos estão correndo
continuamente, e para eles sempre é a hora do rush. Todas
as vinte quatro horas do dia são a hora do rush, e o tráfego
continua infindavelmente por todas as horas do dia. E cada
pensamento está associado com milhares de outros
pensamentos; eles estão todos de mãos dadas
relacionando-se entre si, completamente interligados, e
toda essa multidão está correndo em volta de você. Como
você pode saber o que é a verdade? Saia dessa multidão.
Isso é o que é meditação, é disso que a meditação
se trata: uma consciência sem mente, uma consciência sem
pensamentos, uma consciência firme sem oscilações, límpida
como um lago. Então subitamente a resposta está lá em
toda sua beleza e bendição. Então a verdade é
conhecida – chame-a Deus, Nirvana, ou use qualquer
outro nome que você preferir. De repente ela está lá,
simplesmente; e está lá na forma de uma experiência.
Você está nela e ela está em você.
Utilize bem a sua pergunta. Tire dela todo o proveito
possível. Torne-a cada vez mais penetrante e focada;
coloque tudo em jogo a fim de que a mente não possa enganá-lo
com suas respostas superficiais. Uma vez que a mente
desaparecer, quando ela não mais estiver jogando com seus
velhos truques, você vai saber o que é a verdade. Você
saberá disso
em silêncio. Você
saberá em um estado de consciência sem pensamentos.
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