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Quando a eternidade penetra o tempo

 

Osho,

Uma vez você disse: "O momento é raro quando a Eternidade penetra o tempo.

Você pode falar mais sobre isto?

      Vadan,

      A questão parece ser simples, mas a resposta é muito complexa. E a complexidade se torna multi-dimensional, porque a resposta pode vir somente a partir de sua própria experiência, não de fora. Assim como a questão está surgindo em você, a resposta também tem que ser parte da sua interioridade.

      Mas eu vou entrar num pequeno detalhe, para explicar o que quero dizer quando eu digo que o momento é raro quando a Eternidade penetra o tempo.

      Tempo é o que vivemos, ele é horizontal. Ele vai do A ao B ao C ao D, ele é uma linha.

      Eternidade é vertical. Ela não vai do A ao B e do B ao C. Ela vai do A a mais A, e a mais A ainda. Ela segue para cima.

      O momento é raro porque isto acontece somente quando a meditação tiver alcançado a colheita, a maturidade, quando você tiver tocado seu centro mais interno. Então, repentinamente, você se torna ciente de que você é um cruzamento. Uma linha vai na horizontal, em outras palavras, é medíocre, comum, sem significado e finalmente à morte. A linha horizontal está continuamente movendo na direção do cemitério.

      Eu contei a vocês a história, significativa em muitos sentidos. Um grande rei, nos seus sonhos, viu uma sombra e ficou com medo, mesmo dentro do sonho. E perguntou: "O que você quer?" A sombra disse: "Eu não vim pedir nada. Eu só vim para informar você que, neste entardecer, no lugar certo, quando o sol estiver se pondo, você respirará seu último suspiro. Normalmente eu não venho informar as pessoas, mas você é um grande imperador; isto é só para mostrar respeito a você."

      O imperador ficou com tanto medo que ele acordou, transpirando, não podia pensar o que fazer. A única coisa que ele pôde pensar foi em chamar todos os homens sábios, astrólogos, profetas e descobrir o significado do sonho. Pensa-se que análise de sonho teve sua origem com Sigmund Freud - isto não é verdade. Ela se originou com este imperador, mil anos antes.

      No meio da noite, todos os profetas da sede do governo, todos os homens sábios, todos aqueles que estavam ligados, de alguma forma, com o futuro, pessoas que leem sonhos. A eles foi contada a estória. A estória era simples. Eles trouxeram as escrituras deles e começaram a discutir entre si. "Este não pode ser o significado." - ou - "Isto é, obrigatoriamente, o significado." Eles perdiam tempo, o sol começou a surgir.

      O rei tinha um antigo criado, o qual ele tratou exatamente como um pai porque seu pai tinha morrido muito cedo. Ele era muito jovem e o pai dele tinha dado a tutela a este criado, e dito a ele: "Tome conta para que ele se torne meu sucessor e não perca o reino." E o criado assim conduziu. Agora ele estava muito velho, mas ele não era tratado como um criado. Ele era quase tão respeitado como um pai.

      Ele se aproximou do imperador e disse: "Eu quero dizer duas coisas a você. Você tem me ouvido sempre. Eu não sou um profeta e eu não sou um astrólogo e eu não sei qual é esta tolice que está acontecendo. As escrituras estão sendo consultadas. Uma coisa é certa, que uma vez que o sol tenha nascido, o pôr-do-sol não está tão distante. E estas pessoas, as assim chamadas pessoas de conhecimento, nunca chegaram a nenhuma conclusão em séculos. Em apenas um dia eles irão brigar, discutir, destruir cada argumento do outro, mas você não pode esperar que eles cheguem a um consenso, a uma conclusão. Deixe-os ter a discussão deles. Minha sugestão é a seguinte: você tem o melhor cavalo do mundo. Pegue o cavalo e escape deste palácio tão rápido quando possível. Já agora, é certo que você não deveria estar mais aqui, você deveria estar muito longe."

      Isso era lógico, racional, embora muito simples. O rei deixou as grandes pessoas sábias e inteligentes discutindo - eles nem se deram conta de que o imperados tinha saído. E, ele certamente tinha um cavalo que valia um império. Ele estava muito orgulhoso do cavalo. Não existia nenhum outro cavalo conhecido com aquela força. E havia tanto amor entre o cavalo e o imperador, uma afinidade tão profunda, um tipo de sincronicidade que o rei disse ao cavalo: "Parece que minha morte está se aproximando. Aquela sombra não era nada, senão morte. Você tem que me levar tão longe deste palácio quanto você possa conseguir." O cavalo concordou com a cabeça e cumpriu sua promessa.

      Pelo entardecer, assim que o sol se punha, eles estavam a centenas de milhas distantes do reino deles. Eles tinham alcançado outro reinado, disfarçados. O imperador estava muito alegre, ele desceu do seu cavalo. Ele estava amarrando o cavalo a uma árvore porque nem ele tinha comido coisa alguma, nem o

cavalo. Então ele disse ao cavalo: "Obrigado, meu amigo: agora vou nos arranjar a sua comida e a minha. Nós estamos tão distantes, não existe nenhum medo. Mas você provou as estórias que contaram sobre você. Você se tornou quase como uma nuvem com uma velocidade daquelas."
     
E enquanto ele amarrava o cavalo à arvore, a sombra escura apareceu e disse ao imperador: "Eu até estava com medo de que você não fosse capaz de fazer isto, mas seu cavalo é bom mesmo. Eu também agradeci a ele. Este é o lugar e esta é a hora e eu estava preocupada, você estava tão distante, como eu iria fazer para levar você? O cavalo serviu ao destino.”

      É uma estória estranha, mas mostra que, onde quer que você vá horizontalmente, seja com que velocidade for, você acabará em algum cemitério. É estranho que a cada momento nossas sepulturas estejam se aproximando de nós, mesmo que você não se mova seu túmulo está movendo na sua direção. A linha horizontal do tempo é, em outras palavras, a mortalidade do homem.

      Mas, se você puder alcançar o centro do seu Ser os silêncios do seu centro mais interno, você poderá ver duas vias: uma horizontal, uma outra vertical.

      Vocês vão se surpreender ao saber que a cruz cristã não é cristã de forma alguma. Ela é um símbolo ariano oriental, muito antigo: a suástica. Foi por isso que Adolf Hitler, que estava pensando que ele era o mais puro sangue ariano, escolheu a suástica como seu símbolo. A suástica não é nada mais que duas linhas se cruzando. Na Índia, sem se saber o porquê, no início de cada ano, as pessoas de negócios escrevem em seus livros, começam os seus novos livros com uma suástica. A cruz cristã é simplesmente uma parte da suástica. Mas ela também representa a mesma coisa: o vertical; o horizontal. As mãos de Cristo estão horizontais, a sua cabeça e o Ser dele estão apontando em uma direção diferente.

      Em um momento de meditação você, repentinamente, vê que pode se mover em duas direções: ou horizontal, ou vertical. A vertical consiste em silêncios, bem-aventurança, êxtases; a horizontal consiste em mãos, trabalho, o mundo. Uma vez que o homem tenha conhecido a si mesmo como um cruzamento ele não consegue estar desinteressado, ele não consegue estar não intrigado com a vertical. O horizontal ele conhece, mas a vertical abre uma porta para a eternidade, onde a morte não existe, onde nos tornamos, simplesmente, mais e mais parte da totalidade cósmica, onde se soltam todas as amarras, mesmo as amarras do corpo.

      Gautama Buda costumava dizer, "Nascimento é dor, vida é dor, morte é dor." O que ele está dizendo é, ao mover-se na linha horizontal, você está continuamente miserável, cheio de dor. Sua vida não consegue ser uma vida de dança, de alegria. Se isto é tudo, então o suicídio é a única solução. Essa é a conclusão a que chegou a filosofia ocidental contemporânea do existencialismo de Jean-Paul Sartre, Jaspers, Heidegger, Kierkegaard e outros, a de que a vida é sem significado. No plano horizontal ela é, porque ela é simplesmente agonia, dor, doença, enfermidade e velhice. E você está preso em um pequeno corpo enquanto sua Consciência é tão vasta quanto o Universo inteiro.

      Uma vez que o vertical é descoberto, começa-se o movimento na linha vertical. Aquela linha vertical não significa que você tenha que renunciar ao mundo. Mas certamente quer dizer que você não está mais no mundo, que o mundo se torna efêmero, perde a importância. Isto não significa que você tenha que renunciar ao mundo e escapar para as montanhas e os monastérios. Isto simplesmente significa que você começa, onde quer que você esteja, a viver uma vida interna que não era possível anteriormente.

      Antes, você era um extrovertido, agora, de repente, você se torna introvertido. No que concerne ao corpo você pode lidar muito facilmente, se você tiver a lembrança de que você não é o corpo. Mas o corpo pode ser usado em várias formas para ajudar você a se mover na linha vertical. A penetração da linha vertical, exatamente um raio de luz entrando na sua escuridão da vida horizontal, é o início da iluminação. Você parecerá o mesmo, mas você não será o mesmo. Para aqueles que tem a clareza de ver, você não parecerá mais o mesmo. E, ao menos para você próprio, você nunca mais parecerá o mesmo. E você nunca mais conseguirá ser o mesmo.  Você estará no mundo mas o mundo não estará em você.

      Ambições, desejos, ciúmes começarão a evaporar. Nenhum esforço será necessário para largá-los, basta seu movimento pela linha vertical e eles começarão a desaparecer: porque eles não podem existir pela linha vertical. Eles só podem existir na escuridão da horizontal, onde todo mundo está em competição: todo mundo está cheio de luxúria, cheio de desejo por poder, um grande desejo de dominar, de se tornar alguém especial.

      Na linha vertical todas estas estupidezes simplesmente desaparecem. Você se torna tão leve, tão sem peso, simplesmente como uma flor de lótus: ela está dentro da água, mas a água não a toca. Você permanece no mundo, mas o mundo já não tem qualquer impacto em você. Pelo contrário, você começa a influenciar o mundo, não com seu esforço consciente, mas só por seu Ser puro: sua presença, sua graça, sua beleza. Na medida em que cresce internamente, isto começa a se espalhar ao seu redor. Isto tocará pessoas que tem um coração aberto e fará pessoas terem medo - aquelas que tem vivido com um coração fechado, com todas as janelas, todas as portas fechadas. Estas não virão se contactar com uma pessoa assim. E, para se convencerem do porquê de não estarem vindo entrar em contato com uma pessoa assim, elas encontrarão mil e uma desculpas, mil e uma mentiras. Mas o fato básico é que elas estão com medo de serem expostas. O homem que está movendo verticalmente se torna quase um espelho. Se você se aproximar dele, você verá a face real sua, você verá a feiúra sua, você verá sua contínua ambição, você verá a sua vasilha de pedinte. (,,,)

      Na linha horizontal, somente pedintes existem, porque eles estão se apressando por mais, e porque o 'mais' não pode ser preenchido. Não que você não possa ascender à posição que você queria, mas no momento que você a obtém, verá que há posições ainda mais altas. Por um momento, talvez, uma tremida de alegria, e no momento seguinte, novamente o mesmo desespero, a mesma corrida por mais. Você não consegue preencher a idéia de 'mais'. Ela é intrinsicamente impreenchível. E esta é a linha horizontal, a linha de mais, e mais, e mais.

      O que é a linha vertical? É ser menos, menos e menos, até o ponto de vazio total, ao ponto de ser ninguém: Só uma assinatura, nem mesmo na areia, mas na água. Você ainda nem a fez e ela desapareceu. O homem da linha vertical é o sannyasin autêntico, aquele que é imensamente feliz em não ser ninguém; imensamente feliz com sua pureza interna de esvaziamento, porque somente o vazio pode ser puro; aquele que é absolutamente contente com sua nudez, porque somente o nada pode estar em sintonia com o Universo.

      Uma vez que esta sintonia com o Universo acontece, num sentido, você deixa de ser. No velho sentido, você não é mais. Mas, pela primeira vez, você é o Universo inteiro. Até mesmo as estrelas mais distantes estão dentro de você, o seu nada pode contê-las, assim como as flores e o sol e a lua e toda a música da Existência. Você não é mais um ego, o seu "eu" desapareceu. Mas isto não significa que você tenha desaparecido. Ao contrário, no momento em que o seu "eu" desaparece, você aparece. É um êxtase tão grande estar sem o sentimento de "eu", sem o sentimento de qualquer ego, sem pedir por mais coisa alguma. Pelo que mais você pode pedir? Você tem o nada. Neste nada você se tornou, sem conquistar, o Universo inteiro. Então, os pássaros cantantes não estão cantando só fora de você. Eles aparecem fora porque este corpo cria a barreira.

      Na linha vertical você se torna mais e mais consciência e menos e menos corpo. Toda a identificação com o corpo desaparece. No nada, estes pássaros estarão dentro de você, estas flores, estas árvores e esta manhã linda estarão dentro de você. Na verdade, então não existe o fora. Tudo se torna a sua visão. E você não pode ter uma vida mais rica do que quando tudo vira seu interior. Quando sol, lua e as estrelas e todo o infinito do espaço e do tempo está dentro de você... o que mais você quer? Este é exatamente o significado de iluminação: tornar-se tão inexistente enquanto ego, que toda a Existência Oceânica se torna parte de você. (...)

      Na linha vertical você se torna menos, menos, menos e menos. E, um dia, você não é mais.

Um mestre Zen, Rinzai, tinha um hábito muito absurdo, mas belíssimo. Toda manhã, quando ele acordava, antes de abrir seus olhos ele dizia: "Rinzai, você ainda está aí?" Seus discípulos falavam: "Que tipo de tolice é esta? Você pergunta: 'Rinzai, você ainda está aí?'" Ele disse: "Eu estou esperando pelo momento quando a resposta for, 'Não. A Existência está, mas Rinzai não está.'"

      Este é o último pico que a Consciência humana pode alcançar. Esta é a benção irrevogável. E, a não ser que se alcance este pico, ficamos peregrinando em caminhos escuros, cegos, sofrendo, miseráveis. Pode-se acumular muito conhecimento, pode-se vir a ser um grande erudito, mas isto não ajuda. Só uma única coisa, uma coisa muito simples é a essência de toda a experiência religiosa: a meditação. Você vai para dentro. Será difícil sair da multidão dos seus pensamentos, mas você não é um pensamento. Você pode sair da multidão, você pode criar uma distância entre você e seus pensamentos. E assim que a distância aumenta, os pensamentos começam a cair como folhas que morrem porque é você, e a sua identidade com os pensamentos, que dão alimento a eles. Quando você não dá a eles alimento, os pensamentos não conseguem existir. Você já encontrou algum pensamento em algum lugar, de pé por si mesmo?

      Apenas tente ser indiferente; a palavra de Gautama Buda é 'upeksha'. Basta ser indiferente à mente toda e a distância será criada. E, então, chega-se a um ponto onde toda a alimentação aos pensamentos é encerrada. Eles simplesmente desaparecem: eles são bolhas de sabão. E no momento que todos os pensamentos desaparecem, você se encontrará na mesma situação, perguntando: "Rinzai, você ainda está aí?" E você esperará por aquele grande momento, aquela imensa, rara oportunidade, quando a resposta será: "Não. Quem é este tal Rinzai?"

      Este silêncio é meditação. E isto não é um talento. Nem todo mundo pode ser um Picasso, e nem todo mundo pode ser um Rabindranath, e nem todo mundo pode ser um Michelangelo Aqueles são talentos. Mas todo mundo pode ser iluminado, porque isto não é talento, isto é sua Natureza intrínseca da qual você está inconsciente. E você continuará inconsciente se você continuar envolvido por pensamentos. A consciência de sua realidade maior surge somente quando não há nada para evitar isto, quando ‘nada’ envolve você.

      A linha vertical é rara, Vadan. Ela é, talvez, a única coisa rara na Existência, porque ela leva você à jornada da eternidade e da imortalidade. E as flores que florescem nesses caminhos são inconcebíveis pela mente. E as experiências que acontecem são inexplicáveis. Mas de um modo muito estranho, o próprio homem se torna a expressão disso. Seus olhos mostram as profundezas de seu coração, seus gestos mostram a graça do movimento vertical. Toda a vida dele irradia, pulsa e cria um campo de energia. Aqueles que são preconceituosos, aqueles que já estão determinados e já têm as suas ‘conclusões’ prévias... eu sinto muito por eles. Mas aqueles que estão abertos, sem preconceito, os que ainda não tiraram conclusões, eles começarão imediatamente a sentir a pulsação, a irradiação. E acontece uma certa sincronicidade entre o coração do homem da verticalidade e o coração do homem que ainda não é vertical... No momento em que a sincronicidade acontece, nesse mesmo momento, você também começa a se mover verticalmente. Estas são simplesmente palavras para explicar coisas que não são explicáveis por meio das palavras. Mas aqueles que são inteligentes o suficiente, não os intelectuais - aquelas pessoas estão cheias de lixo... Nunca misture o que é ser intelectual com o que é ser inteligente. Inteligência é uma pura clareza de ver, uma perceptividade. O intelectual é um computador, é uma memória. Inteligência não é memória, inteligência é uma espada afiada que penetra diretamente dentro na realidade. (...)

      Você tem escutado, você tem lido, coisas têm sido ditas a você, e você tem juntado tudo isso da atmosfera, e nunca pensou que você não tem um único pensamento, próprio, seu. De fato, não existe nenhum pensamento que seja próprio seu.

      Mas existe a clareza, a perceptividade, o silêncio, a compreensão, a inteligência e tudo isso são seus, próprios. E, com estes, você pode estar pronto para a Eternidade entrar no mundo do tempo. Este é o maior momento. Eu não posso conceber nada mais valioso ou mais precioso. Isto faz você ser o Universo inteiro, isto tira de você todas as suas limitações, as quais são, na verdade, aprisionamentos. Isto torna você um pássaro voando no céu aberto.
 
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       OSHO - Hari Om Tat Sat – cap. 27 – pergunta 1
                    Tradução: Sw. Sambodh (Marcelo Innecco)

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