cavalo. Então ele disse ao cavalo: "Obrigado, meu
amigo: agora vou nos arranjar a sua comida e a minha. Nós
estamos tão distantes, não existe nenhum medo. Mas você
provou as estórias que contaram sobre você. Você se
tornou quase como uma nuvem com uma velocidade
daquelas."
E enquanto ele
amarrava o cavalo à arvore, a sombra escura apareceu e
disse ao imperador: "Eu até estava com medo de que
você não fosse capaz de fazer isto, mas seu cavalo é
bom mesmo. Eu também agradeci a ele. Este é o lugar e
esta é a hora e eu estava preocupada, você estava tão
distante, como eu iria fazer para levar você? O cavalo
serviu ao destino.”
É uma estória estranha, mas
mostra que, onde quer que você vá horizontalmente, seja
com que velocidade for, você acabará em algum cemitério.
É estranho que a cada momento nossas sepulturas estejam
se aproximando de nós, mesmo que você não se mova seu túmulo
está movendo na sua direção. A linha horizontal do
tempo é, em outras palavras, a mortalidade do homem.
Mas, se você puder alcançar o centro do seu Ser
os silêncios do seu centro mais interno, você poderá
ver duas vias: uma horizontal, uma outra vertical.
Vocês vão se surpreender ao saber que a cruz
cristã não é cristã de forma alguma. Ela é um símbolo
ariano oriental, muito antigo: a suástica. Foi por isso
que Adolf Hitler, que estava pensando que ele era o mais
puro sangue ariano, escolheu a suástica como seu símbolo.
A suástica não é nada mais que duas linhas se cruzando.
Na Índia, sem se saber o porquê, no início de cada ano,
as pessoas de negócios escrevem em seus livros, começam
os seus novos livros com uma suástica. A cruz cristã é
simplesmente uma parte da suástica. Mas ela também
representa a mesma coisa: o vertical; o horizontal. As mãos
de Cristo estão horizontais, a sua cabeça e o Ser dele
estão apontando em uma direção diferente.
Em um momento de meditação você, repentinamente,
vê que pode se mover em duas direções: ou horizontal,
ou vertical. A vertical consiste em silêncios,
bem-aventurança, êxtases; a horizontal consiste em mãos,
trabalho, o mundo. Uma vez que o homem tenha conhecido a
si mesmo como um cruzamento ele não consegue estar
desinteressado, ele não consegue estar não intrigado com
a vertical. O horizontal ele conhece, mas a vertical abre
uma porta para a eternidade, onde a morte não existe,
onde nos tornamos, simplesmente, mais e mais parte da
totalidade cósmica, onde se soltam todas as amarras,
mesmo as amarras do corpo.
Gautama Buda costumava dizer, "Nascimento é
dor, vida é dor, morte é dor." O que ele está
dizendo é, ao mover-se na linha horizontal, você está
continuamente miserável, cheio de dor. Sua vida não
consegue ser uma vida de dança, de alegria. Se isto é
tudo, então o suicídio é a única solução. Essa é a
conclusão a que chegou a filosofia ocidental contemporânea
do existencialismo de Jean-Paul Sartre, Jaspers,
Heidegger, Kierkegaard e outros, a de que a vida é sem
significado. No plano horizontal ela é, porque ela é
simplesmente agonia, dor, doença, enfermidade e velhice.
E você está preso em um pequeno corpo enquanto sua
Consciência é tão vasta quanto o Universo inteiro.
Uma vez que o vertical é descoberto, começa-se o
movimento na linha vertical. Aquela linha vertical não
significa que você tenha que renunciar ao mundo. Mas
certamente quer dizer que você não está mais no mundo,
que o mundo se torna efêmero, perde a importância. Isto
não significa que você tenha que renunciar ao mundo e
escapar para as montanhas e os monastérios. Isto
simplesmente significa que você começa, onde quer que
você esteja, a viver uma vida interna que não era possível
anteriormente.
Antes, você era um extrovertido, agora, de
repente, você se torna introvertido. No que concerne ao
corpo você pode lidar muito facilmente, se você tiver a
lembrança de que você não é o corpo. Mas o corpo pode
ser usado em várias formas para ajudar você a se mover
na linha vertical. A penetração da linha vertical,
exatamente um raio de luz entrando na sua escuridão da
vida horizontal, é o início da iluminação. Você
parecerá o mesmo, mas você não será o mesmo. Para
aqueles que tem a clareza de ver, você não parecerá
mais o mesmo. E, ao menos para você próprio, você nunca
mais parecerá o mesmo. E você nunca mais conseguirá ser
o mesmo. Você
estará no mundo mas o mundo não estará em você.
Ambições, desejos, ciúmes começarão a
evaporar. Nenhum esforço será necessário para largá-los,
basta seu movimento pela linha vertical e eles começarão
a desaparecer: porque eles não podem existir pela linha
vertical. Eles só podem existir na escuridão da
horizontal, onde todo mundo está em competição: todo
mundo está cheio de luxúria, cheio de desejo por poder,
um grande desejo de dominar, de se tornar alguém
especial.
Na linha vertical todas estas estupidezes
simplesmente desaparecem. Você se torna tão leve, tão
sem peso, simplesmente como uma flor de lótus: ela está
dentro da água, mas a água não a toca. Você permanece
no mundo, mas o mundo já não tem qualquer impacto
em você. Pelo
contrário, você começa a influenciar o mundo, não com
seu esforço consciente, mas só por seu Ser puro: sua
presença, sua graça, sua beleza. Na medida em que cresce
internamente, isto começa a se espalhar ao seu redor.
Isto tocará pessoas que tem um coração aberto e fará
pessoas terem medo - aquelas que tem vivido com um coração
fechado, com todas as janelas, todas as portas fechadas.
Estas não virão se contactar com uma pessoa assim. E,
para se convencerem do porquê de não estarem vindo
entrar em contato com uma pessoa assim, elas encontrarão
mil e uma desculpas, mil e uma mentiras. Mas o fato básico
é que elas estão com medo de serem expostas. O homem que
está movendo verticalmente se torna quase um espelho. Se
você se aproximar dele, você verá a face real sua, você
verá a feiúra sua, você verá sua contínua ambição,
você verá a sua vasilha de pedinte. (,,,)
Na linha horizontal, somente pedintes existem,
porque eles estão se apressando por mais, e porque o
'mais' não pode ser preenchido. Não que você não possa
ascender à posição que você queria, mas no momento que
você a obtém, verá que há posições ainda mais altas.
Por um momento, talvez, uma tremida de alegria, e no
momento seguinte, novamente o mesmo desespero, a mesma
corrida por mais. Você não consegue preencher a idéia
de 'mais'. Ela é intrinsicamente impreenchível. E esta
é a linha horizontal, a linha de mais, e mais, e mais.
O que é a linha vertical? É ser menos, menos e
menos, até o ponto de vazio total, ao ponto de ser ninguém:
Só uma assinatura, nem mesmo na areia, mas na água. Você
ainda nem a fez e ela desapareceu. O homem da linha
vertical é o sannyasin autêntico, aquele que é
imensamente feliz em não ser ninguém; imensamente feliz
com sua pureza interna de esvaziamento, porque somente o
vazio pode ser puro; aquele que é absolutamente contente
com sua nudez, porque somente o nada pode estar em
sintonia com o Universo.
Uma vez que esta sintonia com o Universo acontece,
num sentido, você deixa de ser. No velho sentido, você não
é mais. Mas, pela primeira vez, você é o Universo
inteiro. Até mesmo as estrelas mais distantes estão
dentro de você, o seu nada pode contê-las, assim como as
flores e o sol e a lua e toda a música da Existência.
Você não é mais um ego, o seu "eu"
desapareceu. Mas isto não significa que você tenha
desaparecido. Ao contrário, no momento em que o seu
"eu" desaparece, você aparece. É um êxtase tão
grande estar sem o sentimento de "eu", sem o
sentimento de qualquer ego, sem pedir por mais coisa
alguma. Pelo que mais você pode pedir? Você tem o nada.
Neste nada você se tornou, sem conquistar, o Universo
inteiro. Então, os pássaros cantantes não estão
cantando só fora de você. Eles aparecem fora porque este
corpo cria a barreira.
Na linha vertical você se torna mais e mais consciência
e menos e menos corpo. Toda a identificação com o corpo
desaparece. No nada, estes pássaros estarão dentro de
você, estas flores, estas árvores e esta manhã linda
estarão dentro de você. Na verdade, então não existe o
fora. Tudo se torna a sua visão. E você não pode ter
uma vida mais rica do que quando tudo vira seu interior.
Quando sol, lua e as estrelas e todo o infinito do espaço
e do tempo está dentro de você... o que mais você quer?
Este é exatamente o significado de iluminação:
tornar-se tão inexistente enquanto ego, que toda a Existência
Oceânica se torna parte de você. (...)
Na linha vertical você se torna menos, menos,
menos e menos. E, um dia, você não é mais.
Um mestre Zen, Rinzai, tinha um hábito muito absurdo, mas
belíssimo. Toda manhã, quando ele acordava, antes de
abrir seus olhos ele dizia: "Rinzai, você ainda está
aí?" Seus discípulos falavam: "Que tipo de
tolice é esta? Você pergunta: 'Rinzai, você ainda está
aí?'" Ele disse: "Eu estou esperando pelo
momento quando a resposta for, 'Não. A Existência está,
mas Rinzai não está.'"
Este é o último pico que a Consciência humana
pode alcançar. Esta é a benção irrevogável. E, a não
ser que se alcance este pico, ficamos peregrinando em
caminhos escuros, cegos, sofrendo, miseráveis. Pode-se
acumular muito conhecimento, pode-se vir a ser um grande
erudito, mas isto não ajuda. Só uma única coisa, uma
coisa muito simples é a essência de toda a experiência
religiosa: a meditação. Você vai para dentro. Será difícil
sair da multidão dos seus pensamentos, mas você não é
um pensamento. Você pode sair da multidão, você pode
criar uma distância entre você e seus pensamentos. E
assim que a distância aumenta, os pensamentos começam a
cair como folhas que morrem porque é você, e a sua
identidade com os pensamentos, que dão alimento a eles.
Quando você não dá a eles alimento, os pensamentos não
conseguem existir. Você já encontrou algum pensamento em
algum lugar, de pé por si mesmo?
Apenas tente ser indiferente; a palavra de Gautama
Buda é 'upeksha'. Basta ser indiferente à mente toda e a
distância será criada. E, então, chega-se a um ponto
onde toda a alimentação aos pensamentos é encerrada.
Eles simplesmente desaparecem: eles são bolhas de sabão.
E no momento que todos os pensamentos desaparecem, você
se encontrará na mesma situação, perguntando: "Rinzai,
você ainda está aí?" E você esperará por aquele
grande momento, aquela imensa, rara oportunidade, quando a
resposta será: "Não. Quem é este tal Rinzai?"
Este silêncio é meditação. E isto não é um
talento. Nem todo mundo pode ser um Picasso, e nem todo
mundo pode ser um Rabindranath, e nem todo mundo pode ser
um Michelangelo Aqueles são talentos. Mas todo mundo pode
ser iluminado, porque isto não é talento, isto é sua
Natureza intrínseca da qual você está inconsciente. E
você continuará inconsciente se você continuar
envolvido por pensamentos. A consciência de sua realidade
maior surge somente quando não há nada para evitar isto,
quando ‘nada’ envolve você.
A linha vertical é rara, Vadan. Ela é, talvez, a
única coisa rara na Existência, porque ela leva você à
jornada da eternidade e da imortalidade. E as flores que
florescem nesses caminhos são inconcebíveis pela mente.
E as experiências que acontecem são inexplicáveis. Mas
de um modo muito estranho, o próprio homem se torna a
expressão disso. Seus olhos mostram as profundezas de seu
coração, seus gestos mostram a graça do movimento
vertical. Toda a vida dele irradia, pulsa e cria um campo
de energia. Aqueles que são preconceituosos, aqueles que
já estão determinados e já têm as suas ‘conclusões’
prévias... eu sinto muito por eles. Mas aqueles que estão
abertos, sem preconceito, os que ainda não tiraram
conclusões, eles começarão imediatamente a sentir a
pulsação, a irradiação. E acontece uma certa
sincronicidade entre o coração do homem da verticalidade
e o coração do homem que ainda não é vertical... No
momento em que a sincronicidade acontece, nesse mesmo
momento, você também começa a se mover verticalmente.
Estas são simplesmente palavras para explicar coisas que
não são explicáveis por meio das palavras. Mas aqueles
que são inteligentes o suficiente, não os intelectuais -
aquelas pessoas estão cheias de lixo... Nunca misture o
que é ser intelectual com o que é ser inteligente.
Inteligência é uma pura clareza de ver, uma
perceptividade. O intelectual é um computador, é uma memória.
Inteligência não é memória, inteligência é uma
espada afiada que penetra diretamente dentro na realidade.
(...)
Você tem escutado, você tem lido, coisas têm
sido ditas a você, e você tem juntado tudo isso da
atmosfera, e nunca pensou que você não tem um único
pensamento, próprio, seu. De fato, não existe nenhum
pensamento que seja próprio seu.
Mas existe a clareza, a perceptividade, o silêncio,
a compreensão, a inteligência e tudo isso são seus, próprios.
E, com estes, você pode estar pronto para a Eternidade
entrar no mundo do tempo. Este é o maior momento. Eu não
posso conceber nada mais valioso ou mais precioso. Isto
faz você ser o Universo inteiro, isto tira de você todas
as suas limitações, as quais são, na verdade,
aprisionamentos. Isto torna você um pássaro voando no céu
aberto.
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