Nunca tinha pensado, nem mesmo
nos meus sonhos que um grande mestre poderia fazer uma
coisa como essa. Você queimou meu Buda mais precioso. Ele
era feito de madeira de sândalo."
O mestre pegou seu bastão e começou a
procurar nas cinzas do Buda queimado.
O sacerdote disse: "O que você está
fazendo agora?"
Ele disse: "Estou procurando os ossos
dele."
O sacerdote disse: "Meu Deus, você
está mesmo louco! Esta é uma estátua de madeira, ela não
tem nenhum osso!" Ele falou: "Isto é o que eu
estava dizendo: isto não é Buda, isto é só uma réplica
de madeira. Basta você trazer outra estátua. Nenhuma de
suas estátuas são budas, elas são somente madeiras
esculpidas. Traga-a, a noite é por demais fria e um buda
vivo está pedindo para você."
O sacerdote pensou que aquele homem iria
queimar o templo inteiro. Ele o empurrou porta afora,
fechou a porta...
O mestre falou: "Escute, você se
arrependerá depois. Você está jogando fora o buda vivo
em troca de estátuas de madeira. Mas... isto está bem,
pela manhã, vejo você." Nenhuma raiva, nenhum
sentimento de humilhação.
Pela manhã, quando o sacerdote abre a
porta, ele abre com muita cautela, olhando para onde
aquele homem louco tinha ficado sentado. Ele não estava
ali. Então ele abre as portas e, quando ele o viu,
sentado do outro lado da estrada...
Havia uma marcação de estrada, e ele
tinha coletado algumas flores selvagens e as tinha
colocado na marcação, e ele estava fazendo seu louvor
matinal: Buddham sharanam gachchhami.
O sacerdote disse: "Que homem é
esse? Na noite ele queima o Buda e, agora, de frente para
um marcador de estrada ele está dizendo: 'Eu cheguei aos
pés de Buda.'" O sacerdote se aproximou dele, mas
ele não o olhou. Ele estava em profunda meditação, em
profunda serenidade. Enquanto o sol estava nascendo,
alguma coisa dentro dele estava ficando cada vez mais
leve. Quando ele abriu os olhos, o sacerdote olhou em seus
olhos. Ele nunca havia visto tamanha beleza, profundidade
semelhante. Ele nunca havia visto tanto silêncio, tanta
graça.
Talvez ele tivesse cometido um erro. Ele
tocou os pés do mestre. O mestre disse: "Falei a você,
antes, que você se arrependeria. Voce está jogando um
buda para fora do templo e preservando os budas de
madeira."
O Zen é muito honesto. Nem as estátuas
podem ajudar, nem as escrituras podem ajudar. A única
coisa que pode ajudar é ir mais profundamente dentro de
você mesmo, se dando conta do céu interior e da
liberdade que vem com isto, e a fragrância do além.
O mestre perguntou: "Qual é a intenção
em receber os conhecimentos básicos? O que você vai
fazer quando tiver aprendido? Quando você tiver recebido
todos os ensinamentos de Buda o que você vai fazer? Qual é a meta?"
Gao respondeu: "Escapar do nascimento
e da morte."
Ele deve ter ouvido isto, que esses
budistas estão tentando sair do círculo do nascimento e
da morte. E, obviamente, a maior parte das pessoas vive a
vida dessa forma, o que cria mais e mais miséria. Toda a
programação da humanidade é para a miséria, assim alguém
começa a pensar em como sair do círculo do nascimento e
da morte. Isto não vai realmente ajudar.
Você tem que aprender como sair da
programação que a sociedade deu a você. Uma vez que você
saia desta programação você está fora do nascimento e
da morte, e do assim-chamado círculo. Mas sentindo-se
miserável, ele pode ter pensado: "É melhor sair do
nascimento e da morte."
Yakusan disse: "Há alguém que não
recebe os conhecimentos básicos e não tem nascimento e
morte para escapar - você sabe quem?" Ele está
indicando em direção ao buda interno dele: "Há
alguém que não recebe os conceitos básicos
e não tem nascimento e morte para escapar
- você conhece ele?"
Gao perguntou: "Então qual é a
utilidade dos conhecimentos básicos de Buda?" Ele
perdeu o ponto de novo. O mestre foi muito claro.
Raramente os mestres Zen são tão claros, mas vendo que
aquele homem é um iniciante, Yakusan deve ter sido muito
claro, descomplicado.
Ele tinha dito exatamente isto:
"Existe alguém que não recebe os conhecimento básicos
e não tem nascimento e morte para escapar - você conhece
ele?" Ele está simplesmente perguntando: você
conhece a si mesmo? Você sabe de alguém dentro de você
que não precisa de nenhum conhecimento, que não precisa
de escapar do nascimento e da morte, o qual já está mais
além? aquele que nunca nasceu e nunca morreu? Ele não
precisa de nenhum conhecimento dos princípios básicos,
ele conhece diretamente a própria Existência."
Mas Gao não podia entender. Gao
perguntou: "Então, qual é a utilidade dos
conhecimentos básicos de Buda?" Ele começou a
argumentar, o que é quase sempre
o que acontece com os recém-chegados. Eles pensam que
eles podem argumentar com o mestre. Eles não conhecem
coisa alguma, mas a mente deles é cheia de lixo e de
todos os argumentos e teorias e credos. Ele começou a
argumentar sem escutar o que o mestre tinha dito. O
argumento dele era: "Se há alguém que não precisa
de conhecimentos básicos e que não precisa de sair do círculo
de nascimento e morte, então, qual é a utilidade dos
conhecimentos básicos de Buda?" Isso parece lógico,
racional, mas só para aqueles que não conhecem meditação,
só para aqueles que conhecem apenas a mente.
Yakusan disse: "Este novato ainda tem
lábios e dentes." Lábios para falar, dentes para
morder. Ele não entende nada, mas ao menos ele tem lábios
que movem e ele tem dentes para morder ao argumentar.
Nisto, o novato inclinou-se e retirou-se.
Essa inclinação tornou-se um ritual no Japão. Ele não
entendeu coisa alguma. Ele tinha desperdiçado o tempo do
mestre. O fato de ter-se inclinado não tem nenhuma gratidão
nisto, é simplesmente uma formalidade, assim como quando
você cumprimenta com as mãos, sem amor e ternura. Você
já viu pessoas se cumprimentando? Mãos diferentes dão
mensagens diferentes. Algumas mãos são tão frias, como
se você estivesse segurando um galho morto de uma árvore,
nada se move a partir daquelas mãos. Algumas mãos são tão
afetuosas e amorosas que você pode sentir um arrepio,
alguma energia movendo dentro de você: elas estão
prontas a compartilhar. E há mãos que sugam sua energia:
depois de segurar mãos assim você sentirá uma estranha
fraqueza vindo sobre você.
No Japão, inclinar-se se tornou um
ritual. Perdeu a beleza de sua gratidão. Tenho visto isto
acontecer por quase quinze anos agora, desde que os
ocidentais começaram a vir até mim. Os indianos podem
tocar os pés, mas muito raramente como uma gratidão,
mais frequentemente apenas como uma formalidade. Milhares
de pessoas tem tocado meus pés, e eu tenho estado
observando as nuances sutis, as diferenças das energias
deles. A maioria deles não tinha nenhuma gratidão, nada:
era só uma coisa rotineira, na Índia. Quando os
ocidentais começaram a vir até mim... Isto não é uma
rotina no ocidente. O fato é que toda a cultura
ocidental, e o sistema educacional, ensinam a você
orgulho, ego. Isso é contra tocar os pés de alguém.
Portanto, quando os ocidentais estiveram aqui, foi muito
difícil para eles tocarem os pés, na mesma medida que
foi muito fácil para os indianos tocarem os pés. Muito
raramente um indiano realmente tocou os pés com gratidão,
mas quando o ocidental sentia a gratidão emergindo nele o
toque nos pés era mais autêntico, não era uma
formalidade. Não era um programa predeterminado na mente
dele. Em verdade, ele mesmo se espantava. O que ele está
fazendo?... Contra toda a educação dele, contrário à
toda cultura dele, ele está tocando os pés! Mas, quando
você se depara com uma pessoa, que você sente gratidão,
não há como, não há outro caminho para expressar isto.
Este iniciante não entendeu nada, mas inclinou-se e
retirou-se.
Dogo, então, veio em seguida e ficou
junto a Yakusan, que lhe disse, "Este iniciante, que
anda com dificuldade, que acaba de vir, apesar de tudo tem
alguma vida nele."
Dogo disse: "Ele ainda não está
acreditando inteiramente, você deveria testá-lo de novo,
primeiro."
O mestre disse: "Ele pode não ter me
entendido - este não é o problema, ele é um homem novo,
mas uma coisa é certa: este iniciante que anda com
dificuldade, que acaba de vir, apesar de tudo tem alguma
vida nele." Ele veio de tão longe. Embora ele nada
saiba, ele não conseguiu entender uma palavra, mas, ainda
assim, ele tem alguma vida.
Dogo, seu discípulo antigo disse:
"Ele ainda não está acreditando totalmente, você
deveria testá-lo de novo, primeiro."
Quando o início da noite veio, Yakusan
seguiu para o hall, e chamou: "Onde está o iniciante
que veio mais cedo?"
Gao, então, veio em direção à reunião
e ficou ali.
E Yakusan disse a ele: "Ouvi dizer
que Changan é muito barulhento." O lugar de onde ele
estava vindo era um mercado, muito barulhento.
Gao disse: "Minha província é pacífica."
Quando ele disse: "Minha província é muito pacífica",
ele estava dizendo: "Meu território interior é
muito pacífico. Não importa se o lugar do qual eu venho
seja muito barulhento, o barulho é só externo. Dentro de
mim, o espaço é muito pacífico."
Yakusan perguntou, como muita alegria:
"Você ficou consciente disso lendo escrituras ou
fazendo perguntas?"
Ao que Gao respondeu: "Não aprendi
isto lendo escrituras ou fazendo perguntas."
Yakusan falou: "Muitas pessoas não
leem escrituras ou fazem perguntas, por que elas não
alcançam isto?"
Gao disse: "Não digo que elas não
alcançam isto, apenas que elas não concordam em se
interessar por isso."
Por que não são muitas, as pessoas que
se tornam budas? Por que, se todo mundo é, intrinsecamente, um buda? Isso é só porque você está
muito ocupado com outras coisas. Talvez, a sede não tenha
aparecido, talvez você esteja com medo de se tornar um
buda. Nesta multidão insana, tornar-se um buda é assumir
um grande risco.
Gao diz: "Eu não digo que eles não
alcançam - apenas que eles não concordam em se
interessar por isso."
O mestre ficou muito alegre. Embora o
iniciante não tivesse entendido o que Yakusan lhe dissera
cedo, mas ele deve ter meditado sobre isto, tentando
encontrar o que o mestre estava dizendo. "Por que
falhei ali?" Mas, com a noite chegando, ele era uma
pessoa totalmente diferente.
Pela manhã, ele tinha vindo como um recém-chegado;
ao final da tarde, ele tinha se tornado um discípulo
antigo, um discípulo muito antigo.
Suas respostas mostram uma tremenda
transformação, em apenas um dia.
Isto pode acontecer em um minuto!
Isto pode acontecer em um segundo!
Isto pode acontecer em menos de um
segundo!
É só uma questão de quão intenso é o
seu esforço para alcançar o seu centro.
Ele deve ter sentido, profundamente, a
tristeza de ter se deparado com um mestre e ter perdido a
oportunidade, e ele deve ter se sentido totalmente estúpido
porque ele tinha começado a argumentar com o mestre.
Ele se purificou em apenas um dia, e no
finalzinho da tarde, quando o mestre fez perguntas, ele
era quase uma pessoa diferente. O mestre estava muito,
muito alegre.
Tais buscadores são necessários no
mundo. Estas são as pessoas que podem alcançar à
altitude definitiva.
Eu sei que vocês estão aqui com uma
intensa urgência, e esta urgência intensa me faz muito
alegre. Sua primavera não está distante, logo vocês
estarão cheios de
florescimentos espirituais. Sua
potencialidade chegará à sua realização. Você se verá
como um buda! Esta não é uma questão de acreditar. Eu
sou absolutamente contrário à crenças. Eu sou um
cientista do mundo subjetivo.
Da mesma forma que a ciência não permite
a crença, mas somente a pesquisa, investigação no mundo
objetivo, eu sou um cientista do mundo subjetivo. Eu não
permito nenhuma crença, mas somente a pesquisa, a busca.
E se você tem a sede, não há nenhuma
necessidade de esperar. Antes que o sol nasça a sua
Iluminação pode estar completa.
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