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Osho
e a Cultura Indiana
Osho,
A
sua compaixão com a Índia lhe traz, como retorno, raiva e
condenação. Todos os dias, os jornais e revistas indianos
estão repletos de críticas de baixo nível contra você.
Ainda assim, você continua martelando essa cultura
apodrecida. Que negócio é esse? A Índia merece tanta
compaixão?
Chaitanya Keerti, isso acontece porque eu estou
dizendo algo que a Índia esqueceu completamente. E isso
machuca. A Índia esqueceu a verdade. Por
milhares de anos ela viveu num nebuloso estado mental – não
apenas isso, ela também se tornou muito apegada a esse
estado mental nebuloso pela simples razão de que ela não
tem nada mais para se agarrar. Essa é a única estaca para
seu ego se sustentar.
Por
vinte dois séculos a Índia esteve numa escravidão política.
Ora, um país existindo por vinte e dois séculos em
escravidão não consegue ter qualquer alimento de ego no
que diz respeito à vida política. Ela não pode se
vangloriar de ter tido conquistadores do mundo como
Alexandre, o Grande.
Por cinco mil anos, a Índia
tem vivido de uma maneira muito supersticiosa. Os sacerdotes
têm dominado a Índia mais do que em qualquer outro país,
e eles são as pessoas mais espertas do mundo. Por causa de
sua exploração, opressão, porque envenenaram a alma
indiana por cinco mil anos, a Índia não tem sido capaz de
encontrar qualquer caminho para a verdade. Os sacerdotes
estiveram em pé, firmes como uma muralha da China contra a
verdade.
Era uma questão de vida
e morte para os sacerdotes. Ou a verdade ou o sacerdote –
ambos não conseguiam conviver lado a lado, não havia
qualquer possibilidade para sua coexistência. Se a verdade
vence, os sacerdotes desaparecem. Por isso, não se pode
permitir que a verdade vença e assim os sacerdotes
continuam dominando. Nenhum outro país foi dominado pelos
sacerdotes como a Índia. Por cinco mil anos uma escravidão
espiritual...
Nada existe para dar
suporte ao ego da nação – nenhuma ciência, nenhuma
tecnologia, nenhuma riqueza, nenhuma liberdade política,
nenhuma democracia. Você pode entender o problema. Uma nação
depende de algumas estacas, porque uma nação não é uma
realidade verdadeira, lembre-se; ela necessita de estacas.
O indivíduo pode
existir sem o ego, porque o indivíduo é uma realidade e a
realidade não tem qualquer necessidade do ego. Mas a nação,
a raça, a igreja, o estado – estes não conseguem existir
sem egos. Sem egos eles serão desfeitos. É o ego que
funciona como um falso centro e os mantém juntos. Por essa
razão, um Buda pode existir sem o ego, mas os budistas não.
Krishna pode existir sem um ego mas os hindus não.
Lembre-se disso sempre, uma falsa entidade necessita de um
falso centro, caso contrário ela irá murchar e
secar.
A Índia enquanto país,
nação e raça, necessitava tremendamente criar um falso
centro. E não havia qualquer alternativa usual disponível
– dinheiro, tecnologia, ciência, poder político –
assim, a única coisa para se recorrer era o anseio
espiritual, o outro mundo. E isso é fácil porque então
você está lidando com bens invisíveis. Ninguém pode prová-lo,
ninguém pode contestá-lo. É muito fácil viver esperando
pelo outro mundo. Mas quem criará tal esperança? Por isso
você tem que depender dos astutos sacerdotes, dos brâmanes
– eles se tornam os mediadores. Eles começaram a falar
sobre o outro mundo. Eles dão até mesmo mapas do outro
mundo; eles não conhecem sequer o mapa deste mundo... Se
você lhes perguntar, “Onde está Timbuktu?”, é possível
que eles não sejam capazes de responder, mas eles conseguem
lhe dizer TODOS os detalhes do céu – não apenas de um céu,
mas de sete céus, um céu de sete histórias. Eles podem
lhe contar todos os detalhes, cada minuto detalhado dos sete
infernos. Não há dificuldade alguma para isso; isso é ficção
religiosa. Os hindus acreditam em sete infernos. Os jainas
acreditam em três infernos e três céus. (...)
Certa vez um seguidor de Radhaswami veio até a
mim. Eles acreditam em quatorze céus, em quatorze estágios
do paraíso. Naturalmente, o fundador da religião deles
deve ter alcançado o décimo quarto. Os outros estão em
algum degrau da escada. Rama, Krishna e Buda devem estar no
sétimo; Jesus, Moamé e Zoroastro em algum lugar do sexto,
Nanak, Kabir, Meera no quinta... e assim por diante, cada um
de acordo com sua necessidade e sua capacidade.
Ele me trouxe todo o mapa. Ele queria a minha aprovação: o
que eu achava desse mapa, o que eu iria dizer – estava
certo ou errado?
Eu disse, “Ele está absolutamente certo”
Ele ficou um pouco chocado porque as pessoas lhe disseram para não vir
até a mim, porque eu iria criar problemas para ele. E eu disse, “Ele está
absolutamente certo. Eu sei. O
seu guru alcançou o décimo quarto – eu o vi lá.”
Ele disse, “O que você quer dizer?”
Eu disse, “Eu estou no décimo quinto, e ele está sempre
me pedindo para puxá-lo do décimo quarto”
Ele ficou chocado e com raiva.
Mas, se existem quatorze, porque não pode haver quinze?
Ninguém pode provar isso e também ninguém pode contestar.
Ouvi contar que
em Nova York
um comerciante estava vendendo invisíveis grampos para
cabelo. E, naturalmente, as mulheres se sentiram imensamente
atraídas – grampos invisíveis!
Uma mulher olhou dentro de uma caixa... É claro, se os
grampos são invisíveis, você não consegue vê-los – a
caixa parecia vazia. Ela disse, ‘Eles estão realmente
aqui?’
O comerciante disse, ‘Eles devem estar. Ninguém jamais os
viu. Na verdade, há meses que o estoque se acabou, mas eles
continuam sendo vendidos!’
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Quando algo é invisível, você pode continuar
vendendo, não há qualquer dificuldade para se fazê-lo.
A Índia tem vendido bens invisíveis para o mundo, mas
nenhum bem visível. Naturalmente eles ficam com raiva de
mim porque eu insisto que os bens devem ser visíveis, que
vocês estão carregando uma caixa vazia, que não existe
nenhum ganso dentro da garrafa. E por cinco mil anos eles
têm feito esses bons negócios – e eu estou destruindo
todo o fundamento deles.
Chaitanya Keerti, é natural que eles estejam com
raiva de mim. Mas a raiva simplesmente revela o medo.
Lembre-se sempre: a raiva é o medo estancado à sua
frente. É sempre o medo que se esconde atrás da raiva;
medo é o outro lado da raiva. Sempre que você fica com
medo, a única maneira de esconder o medo e ficar raivoso,
porque com o medo você fica exposto. A raiva cria uma
cortina ao seu redor; você pode se esconder atrás da
raiva. A mente indiana está se realmente ficando com medo
de mim. E não é apenas a mente indiana mas todas as
outras mentes no mundo que estão fazendo esse mesmo tipo
de negócio de explorar bens invisíveis. Todos eles estão
ficando com medo.
|
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Quando eles ficam raivosos comigo, eu sei que
acertei o ponto exato. Eu me divirto com isso. Eles têm
estado fingindo amor, compaixão, solidariedade, compreensão
e eu estou expondo o verdadeiro âmago deles. Sem saber o
que estão fazendo, eles estão fazendo o que eu quero que
eles façam. Eles estão em minhas mãos. Qualquer um que
fique com raiva de mim está sendo pego por mim. Ele
entra num redemoinho. Eu
irei chocalhá-lo, irei assombrá-lo. Mais cedo ou mais
tarde ele irá tirar as roupas e ficará nu diante do sol.
Isso é o que está acontecendo. Quando estão com raiva
de mim eles estão realmente mostrando que foram
expostos.
E a única maneira de
se defender é sendo agressivo. Eles estão se defendendo,
mas eles só conseguem se defender se eles se tornarem
agressivos. Sua raiva está simplesmente revelando sua
impotência.
Eu ouvi uma bela história, uma antiga história:
Um homem foi à China. Quando ele entrou no país, logo na
fronteira ele viu uma multidão. Duas pessoas estavam
quase prontas para matar uma a outra. Eles estavam
gritando, pulando, fazendo todo tipo de gestos raivosos,
espadas expostas em suas mãos. Mas nada real estava
acontecendo, como se aquilo fosse um filme, como se fosse
um jogo. Ele não conseguiu nem mesmo detectar qualquer
raiva em suas faces. Seus olhos estavam calmos e quietos,
suas faces estavam relaxadas. Eles pareciam muito
centrados e firmes. Então por que todos esses gritos e
luta de espadas, pulando e correndo um para o outro?
Ninguém está sendo golpeado e ninguém os está
impedindo também. A multidão estava simplesmente parada
ali, observando toda a cena.
Depois de um tempo, o homem se sentiu um pouco cansado, um
pouco entediado também. Faltava um pouco de excitação,
algo deveria acontecer. Foi quando um dos homens ficou com
raiva; sua face tornou-se vermelha, seus olhos ficaram
flamejantes. Aí, a multidão se dispersou e a luta
terminou.
O recém-chegado não podia acreditar, não conseguia
entender o que estava acontecendo. Ele perguntou a uma
pessoa, ‘Qual é o problema? Eu não consegui acompanhar
toda a seqüência. Eles estavam prontos para matar, mas
quando chegou o momento para a ação de fato – quando
um homem ficou realmente com raiva, perdeu a sua calma –
por que a multidão se dispersou?’
O homem da multidão disse, ‘Eles eram ambos taoístas, seguidores de
Lao-Tzu, e este é o critério nas escolas taoístas; o de
que no momento em que a pessoa fica com raiva, ela foi
derrotada. Não há necessidade da luta – ele revelou a
sua impotência, revelou o seu medo. Isso é o bastante! A
sua raiva revelou que ele é um covarde. Agora não há
mais sentido em continuar; a outra pessoa já ganhou, ela
é a vitoriosa – aquela que permaneceu calma. Ela não
pode ser desviada de seu centro. Ela não pode ser tirado
de seu enraízamento. Ele permaneceu com sua integridade.’
Chaitanya Keerti, Eu sei o que está acontecendo
por toda a Índia: milhares de pessoas escrevendo contra
mim. Eles estão perdendo aquilo que elas chamam de calma
– a qual era falsa, porque somente uma falsa calma pode
ser perdida. Toda a idéia deles a respeito de
tolerância, aceitação dos outros, aceitação de
diferentes pontos de vista, tudo foi perdido. Um simples
homem, que nem mesmo se move para sair de seu quarto é o
bastante para criar um tumulto em todo o país.
Mas isso é um fenômeno
significante. Isso mostra que todos esses cinco mil anos
de falsa espiritualidade não fez bem algum para a Índia.
Isso é o que eu queria mostrar para todo o mundo. Eles
estão enfatizando o meu ponto. Eu estou proclamando o
ponto e eles estão dando apoio ao argumento. Eles estão
dando suporte a mim.
Um homem sugeriu que
me fosse dado um tratamento de choque, de choque
elétrico. Essa é a verdadeira cultura indiana. Um outro
homem sugeriu que eu deveria ser imediatamente deportado
do país. Essa é a tolerância, aceitação de diferentes
pontos de vista. Um terceiro homem sugeriu que eu fosse
atirado no Mar Arábico – nem mesmo no Oceano Índico,
porque eu poderia envenenar o oceano. Este é o país
não-violento, o país dos videntes e dos sábios, dos
santos, dos mahatmas... e todos os tipos de tolos.
Para Joana, uma secretária com corpo bem
delineado, período de férias era tempo de bronzear e ela
passou quase todo o seu dia no terraço do Hotel Taj Mahal
em Bombaim, curtindo os quentes raios de sol. Ela usou uma
roupa de banho no primeiro dia, mas no segundo, como
ninguém podia vê-la no terraço, ela tirou a roupa para
ter um bronzeado total.
Ela estava começando quando ouviu alguém subindo as
escadas. Ela estava deitada de bruços, e assim, puxou um
toalha sobre as costas e continuou deitada como antes. ‘Desculpe-me
senhorita,’ disse o atrapalhado pequeno ajudante do
gerente do hotel, com a respiração ofegante por ter
subido as escadas correndo, ‘o hotel não se preocupa
com seu banho de sol no terraço, mas nós ficaríamos
muito agradecidos se você usasse a sua roupa de banho
como fez ontem.’
‘Que diferença faz?’ Joana perguntou calmamente. ‘Ninguém
consegue me ver aqui em cima, e além disso eu estou
coberta por uma toalha.’
‘Eu sei, eu sei’ disse o pequeno indiano embaraçado,
‘mas a não ser que você use a sua roupa de banho, o
jantar não consegue ter início. E o governador de
Bombaim está oferecendo um grande jantar para todos as
pessoas respeitáveis da cidade.’
A mulher não conseguia entender. ‘Mas qual é o problema?’ ela
disse. ‘Eu não vejo qual é o ponto. Por
que o jantar não pode começar? O que ele tem a ver com
minha roupa de banho?’
‘Certo, donzela,’ disse o embaraçado
homemzinho. ‘Você está deitada sobre a coberta de
vidro da clarabóia da sala de jantar.’
E agora, como pode o jantar começar? Todos os
indianos estão olhando para o céu – eles estão sempre
olhando para o céu. E que vista! Eles
não podem perdê-la. Mas eles fingirão – eles estarão
de joelhos com as mãos postas olhando para Deus. Eles
não olharão diretamente para a clarabóia, eles não
dirão que estavam se divertindo com a cena, eles farão
uma longa prece, tão longa que eles esquecerão
completamente do jantar. E todos estarão fingindo que
não estão olhando para a mulher deitada nua no terraço.
Este é um
país de fingidos. E eu os estou ferindo. E eu quero
feri-los porque esta é a única maneira de puxar o pus de
suas velhas feridas seculares. Eles estão com raiva de
mim, estão me condenando. Isso mostra que eu estou na
trilha certa. Eles não conseguem me ignorar. Ou eles estão
comigo ou eles têm que estar contra mim. Eu gostaria que
isso fosse um fenômeno decisivo.
Mesmo se umas poucas
pessoas inteligentes estiverem comigo – e elas estão
comigo – nós poderemos transformar toda essa cultura
podre e lhe dar uma nova vida. Isso necessita compaixão.
Cinco mil anos de escravidão espiritual, política,
econômica... Que outra razão eu preciso, Chaitanya
Keerti, para ter compaixão por essa cultura?
Mas eles não estarão
facilmente prontos para a mudança. Mudança é difícil;
ela vai contra as suas origens, vai contra seus costumes,
vai contra a sua ressaca. E a ressaca da Índia é muito
longa. Eles estão sofrendo pelo passado – eles têm
somente o passado.
Lembre-se de uma
coisa: a criança somente tem o futuro, ela não tem
passado. Por isso uma criança nunca pensa em termos de
nostalgia. Nada existe atrás dela. Ela é tão nova que
não tem memórias. O jovem vive o presente. O presente é
tão belo; o passado foi a época infantil, uma
preparação para algo melhor. O jovem não se preocupa
com o futuro – começa-se a pensar no futuro quando o
presente começa a escorregar das mãos.
O velho pensa apenas
no passado, ele não tem futuro. Lá na frente só existe
a morte, uma noite escura esperando por ele. Ele quer evitá-la.
A única maneira é dar as costas para o futuro e olhar
para o passado. A criança olha para o futuro, o velho
olha para o passado e o jovem permanece no presente.
O mesmo é verdadeiro
para as culturas. Quando uma cultura é muito nova, ela
olha para o futuro. Ela tem uma tremenda aspiração pelas
estrelas, ela cresce, expande. Quando uma cultura
permanece realmente jovem – o que é raro acontecer, e
na verdade não aconteceu ainda – então a cultura
permanece no presente. E quando a cultura se torna velha,
ela começa a pensar em termos de nostalgia, de passado,
dos tempos dourados que não existem mais.
Para os indivíduos a
juventude também é um fenômeno novo. Antigamente as
crianças passavam direto da infância para a idade
adulta; a juventude não era um estágio, absolutamente.
Nos países pobres ainda é assim. Você pode ver nas
tribos aborígines dos paises pobres, crianças com cinco,
seis anos de idade trabalhando como adultos. Com sete,
oito anos elas já estão carregadas de preocupações.
Elas não têm chance de serem jovens. Por isso no passado
não havia conflito de gerações. O conflito de gerações
é um fenômeno novo, um fenômeno muito significativo.
Esta é a primeira vez que ele acontece, esta foi a
primeira vez que nós nos demos ao luxo de tê-lo. Quando
o conflito de gerações aparece, ele ocorre em uma
sociedade próspera, ele implica numa certa riqueza.
A criança e o velho
se olham de frente, um para o outro –não há qualquer
conflito. A criança olha para o futuro e o velho olha
para o passado. Por isso, você encontrará sempre uma
grande amizade entre crianças e velhos. Eles
estão se olhando de frente. Isso sempre foi assim –
crianças e velhos viveram juntos. Não houve qualquer
conflito.
A juventude é um novo
fenômeno no mundo. O jovem não é uma criança nem um
velho. Ele está quebrando um novo gelo. Ele está
tentando viver agora, aqui. Sim, uns poucos indivíduos no
passado viveram em tal constante juventude, mas apenas
indivíduos, não culturas. Existe uma possibilidade agora
de mesmo uma cultura poder começar a viver no presente.
Muitos indivíduos serão necessários para preparar o
terreno para culturas viverem no presente.
O conceito indiano de
tempo revela muitas coisas. Dizem que a melhor era foi a
passada, foi a primeira era, a idade de ouro; eles a
chamam de SATYA YUGA, a idade da verdade. Era pré-história. Naquela época, a vida era mais
bela, era o pico dourado. O tempo
andava com quarto pernas – era muito estável. Depois, a
queda começou.
A idéia indiana de
tempo é exatamente anti-darwiniana, não-científica,
totalmente inumana. Depois a queda começou – a idade da
queda, não da evolução, não do progresso – as coisas
começaram a puxar para trás. O tempo começou a andar
com três pernas. As coisas se tornaram nebulosas,
desequilibradas – isso era chamado de TRETA, ‘três
pernas’. Depois as coisas caíram mais: o tempo tinha
apenas duas pernas, ele ficou mesmo mais difícil. Era
chamado de DWAPAR, ‘o tempo das duas pernas’. E agora
é o quarto e último estágio, o mais condenado – ele
é chamado de KALI YUGA. Agora todas as três pernas
desapareceram. O tempo está em pé apenas com uma perna,
pronto para cair a qualquer momento, para perder o
equilíbrio. Tempo de apenas uma perna, e essa única
perna já está na sepultura.
Esta
é uma visão muito obscura e sinistra. Esta é a visão
do velho, do antigo, do apodrecido país. A Índia precisa
de um renascimento, ela precisa de uma nova infância. Mas
a Índia irá proteger essas suas idéias porque está
muito acostumada a elas. Elas são seu único tesouro! Por
isso que quando eu golpeio essas idéias, parece que eu
sou um inimigo. O amigo fica parecendo inimigo e os
inimigos são tidos como amigos. Mas isso é natural, é lógico.
Isso pode ser entendido.
Um coveiro,
completamente absorvido em seu trabalho, escavou uma cova
tão profunda numa tarde que não conseguiu sair dela
quando terminou.
A noite caiu e ficou frio, e ele começou a se sentir
muito desconfortável. Ele gritou por ajuda e só
conseguiu atrair a atenção de um bêbado que cambaleava
por ali
‘Tire-me daqui’ o coveiro pedia. ‘Eu estou com frio’.
O bêbado observou a cova aberta atentamente e respondeu
ao coveiro que tremia no escuro. ‘Bem, não é de se
admirar que você esteja com frio, amigo’, disse o
bêbado, chutando um pouco de terra solta para dentro do
buraco, ‘não jogaram nenhuma terra sobre você!’
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Ora, se você perguntar a um bêbado, ele terá sua
própria lógica. Ele verá a realidade através de sua própria
embriaguez.
Os indianos ficam com
raiva porque eles estão acostumados a serem aplaudidos
continuamente. Ninguém jamais os criticou. Ninguém
jamais lhes apontou ‘vocês estão vivendo uma morte,
não uma vida. Vocês estão andando para trás e
morrendo. Vocês perderam o fervor, o prazer, o gosto de
viver autenticamente, de viver totalmente.’
Eles têm sido
exaltados. Sua palidez lhes tem dado a auréola de
santidade. Suas atitudes anti-vida têm sido elevadas como
grandes fantasias espirituais. Suas histéricas experiências
têm sido chamadas de samadhi. Suas loucuras têm sido
respeitadas como se algo do além tivesse descido sobre
eles. Seus falatórios são considerados como sendo esotéricos;
as pessoas ficam procurando significados neles.
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Tolos têm sido adorados, masoquistas têm sido
considerados ascetas, sádicos são considerados grandes
santos. Perversões de todo tipo têm recebido conotações
espirituais. Ora, é arriscado expor toda essa mentira
milenar.
Mas eu quero correr
esse risco porque eu nada tenho a perder – o ganso está
fora! Eu nada tenho a perder. No máximo, eles podem
matar-me; isso não irá ajudá-los. Mesmo a minha morte
será uma grande ajuda para eles. Ela poderá chocá-los
para saírem dessa tolice. Poderá lhes tirar de seu
entorpecimento, de seu sono.
Por isso, Chaitanya
Keerti, eu vou continuar. Eles podem continuar me
criticando. A crítica deles é basicamente por causa de
minha abordagem afirmativa da vida. Eles têm vivido uma
filosofia negativa da vida. Eles são contra tudo o que
lhes dá alegria; eles são supressivos, repressivos; eles
estão fervendo por dentro, mas continuam envoltos em seus
cobertores. Ninguém quer mostrar a sua nudez. E quando
seu cobertor é adorado muito, e não apenas na Índia,
mas ao redor do mundo...
Existem tantos tolos
no mundo que qualquer indiano consegue encontrar discípulos.
Isso não é problema, de jeito algum. Apenas por ser um
indiano é o bastante, e você já é um guru. Eu tenho
visto tais coisas acontecendo diante de meus olhos.
Vocês
devem ter ouvido o nome de um grande sardar yogi na
América, Yogi Bhajan. Ele era apenas um carregador no
aeroporto de Delhi. Ele viu Muktananda chegando com
setecentos americanos... Naquela época o nome dele era
Dardar Harbhajan Singh e ele era um pobre carregador, mas
era certo que ele tinha uma aparência muito melhor que
Muktananda, impressionava mais. E uma idéia veio à sua
mente, ‘Se esse tolo pode ser um PARAMAHANSA, um Satguru,
etc. etc, por que eu devo desperdiçar o meu tempo sendo
simplesmente um carregador?’ Ele abandonou o trabalho,
foi para a América e agora é um grande líder espiritual
da hierarquia Sikh no hemisfério ocidental.
Há poucos dias, ele estava de volta a Delhi com todos os
seus discípulos. Um de seus antigos patrões passava por
ali. Ele o viu sentado no gramado do Hotel Delhi Taj Mahal
com seus discípulos, mas não conseguiu reconhecê-lo,
ele tinha mudado muito. Ele pensou, ‘Um grande Mahatma’.
Mas Yogi Bhajan é um homem simples, muito mais simples
que Muktananda. Ele enviou um discípulo até o patrão
para lhe dizer, ‘Venha ao meu quarto, eu tenho algo a
lhe dizer.’
O patrão não conseguiu entender porque o grande yogi o
estava chamando; ele ficou excitado, emocionado. E foi ao
quarto. Yogi Bhajan veio e lhe disse, ‘Patrão, você
não me reconhece? Eu sou aquele pobre Sardar Harbhajan
Singh, o seu carregador. Você me esqueceu?’
Ele então pode reconhecer o rosto. E disse, ‘Mas, o que
aconteceu? Você se tornou um grande yogi com muitos
discípulos!’
Daí, ele contou-lhe a história.... que era devido ao
Muktananda. Todo o crédito deveria ir para o Muktananda.
Os indianos não conseguem
abandonar esse lixo facilmente porque esse é o único
lixo que eles são capazes de vender ao mundo. Eles não conseguem se livrar dessa merda. Ela fede! Mas
ela vende. Existem milhões de pessoas no mundo que estão
querendo isso e não sabem aonde ir. A Índia tornou-se a
esperança deles... e eles são explorados.
Eles estão com raiva
de mim, todos os gurus da Índia estão com raiva de mim,
porque eu não pertenço à tradição deles. Eu não
estou aqui para explorar ninguém, eu não estou aqui para
forçar uma doutrina em você: nem a cultura indiana, nem
a religião indiana, nem todas essas tolices. Eu estou
aqui apenas para ajudá-lo a se livrar do cristianismo, do
hinduismo, do jainismo, do budismo. Eu estou aqui para
ajudá-lo a ser você mesmo, apenas ser você mesmo.
Meus sannyasins não são
meus seguidores, eles são apenas meus amigos. Eu os amo e
eles me amam, mas não existe hierarquia. Eu não sou mais
santo que você, ou mais elevado que você. Isso vai
contra todos os investimentos dos indianos. É de se
esperar que eles sejam contra mim, Chaitanya Keerti. Eu
estou afirmando a vida, eles a têm negado todo o tempo.
E eles encontrarão
todo tipo de argumento contra mim. Eles são um povo
argumentador. Por séculos eles nada mais têm feito senão
argumentar. Mas seus argumentos não irão ajudá-los
porque eu não estou argumentando em favor de alguma
filosofia; caso contrário eles seriam capazes de me
confundir. Eu estou argumentando em favor da existência,
e aí eles estão perdidos.
Se
isto fosse apenas um argumento filosófico, não haveria
problema. A Índia já conheceu muitas filosofias. Buda
argumentou contra os Vedas e não houve problemas.
Mahavira argumentou contra os Upanishades e não houve
problemas. Ramanuja argumentou contra
Shankara e não houve problema. É um fato aceito que, se você argumentar apenas por uma questão
filosófico, ninguém irá se preocupar, porque isso é
apenas amenidades; não fará mudança alguma na vida de
alguém.
Eu não estou
argumentando em favor de uma filosofia. Eu são sou filosófico,
de jeito algum, eu sou totalmente existencial. É por isso
que eles acham difícil. Eles estão achando totalmente
difícil decidir como me enfrentar, o que fazer comigo.
Por isso a raiva, por isso a condenação, por isso todo
tipo de crítica de baixo nível. Com isso, eles
simplesmente revelam sua realidade. As críticas de baixo
nível que eles continuam fazendo contra mim, simplesmente
está trazendo a realidade deles à superfície. Eles estão
mostrando a sua nudez, a sua feiúra. E isso serve ao meu
propósito.
Os corretores de imóveis em Bombaim ganham a
vida inteiramente com fatos prosaicos falsos. Um desses
senhores estava mostrando uma propriedade a um possível
comprador, um homem rico, e ele tinha uma saída para
todas as questões.
E ele terminou dizendo, ‘Você sabe por que este é o
melhor clima do país? – é porque ninguém jamais morre
aqui.’
Naquele exato momento um cortejo funerário se aproximou,
passou devagar pela rua e desapareceu. O corretor deu um
passo atrás por um segundo, e se recuperou rapidamente.
Tirando o chapéu, ele disse solenemente, ‘Pobre velho
agente funerário – morreu de fome.’
Os indianos são espertos na argumentação. Se eu
estivesse argumentando filosoficamente, eles teriam
levantado mil e um argumentos. Mas eu não estou
argumentando, eu estou simplesmente apontando para a lua.
Os meus dedos não são argumentos, mas apenas
indicadores. Não se agarre a meus dedos, olhe para a lua.
E este é o tempo em que a lua deve ser vista.
Você me pergunta,
Chaitanya Keerti:
Ainda assim, você continua martelando essa
cultura apodrecida...
Eu continuarei martelando. Ela está tão
apodrecida que existe a esperança de que possamos nos
livrar dela. Ela está se desmontando por si mesma; só é
preciso martelar um pouco. Eu vou golpeá-la sem
piedade.
E você pergunta:
Que negócio é esse?
Esse é o negócio de pessoas como eu. Esse tem
sido sempre o negócio de pessoas como eu.
Foi dito a Sócrates
pela suprema corte em Atenas, ‘Se você parar de falar
sobre a verdade, nós podemos soltá-lo. Você não será
levado à morte.’ Sócrates recusou, e as palavras que
ele usou foram muito belas. Ele disse, ‘Esse é o meu
negócio. Eu não posso parar de falar sobre a verdade. Da
mesma forma como eu respiro, eu falo sobre a verdade. Esse
é o meu negócio.’
Eu vou continuar. O
meu martelar vai se tornar mais duro porque eu tenho que
trazer mais e mais lixo para a superfície. O meu martelar
irá mais fundo. Ele será um martelar cirúrgico –
muitas partes apodrecidas desse pais têm que ser
removidas. Ele precisa disso. Medicamento não irá
ajudar, ele precisa de uma operação cirúrgica. E eu
estou preparando a mesa de operação...
Será uma grande
aventura; Mas ainda que o paciente morra, não haverá
nenhum dano. Pelo menos haverá algum espaço, haverá uma
multidão a menos. E, de qualquer forma, o paciente já
está mesmo morto. Este país está vivendo uma existência
póstuma. Ele
morreu há muito tempo: ele perdeu todas as qualidades de
vida no dia que começou a idéia de que estávamos
caindo, que a idade de ouro estava perdida, que estávamos
caindo cada vez mais fundo na escuridão e no inferno. Desde
então este país tem vivido uma existência póstuma.
Meu esforço é para
dar a este país uma morte verdadeira, de modo que um
nascimento verdadeiro se torne possível. A ressurreição é possível após a crucificação.
Não existe outra maneira. A morte é o caminho para a vida voltar, assim não tenha medo da
morte! Na verdade, vida e morte não são opostas, elas
não são contraditórias entre si. Elas são como duas
asas – uma ajuda a outra, elas são complementares.
Eu lhes ensino a viver
totalmente, e também ensino a morrer totalmente. A
totalidade tem que ser o sabor de uma pessoa
verdadeiramente religiosa. E quando eu digo ‘uma pessoa
verdadeiramente religiosa’ eu não quero dizer algo
sobrenatural, mais elevado, mais santo – eu simplesmente
quero dizer uma vida inocente, uma vida ordinária. Eu
exalto o ordinário, eu aplaudo o ordinário, eu adoro o
ordinário.
OSHO
- The Goose is Out - Capítulo #6
- Pergunta
n° 2
manhã
de 6 de março de 1981 – Buddha Hall – Puna/Índia
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
Copyright
©
2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos
os direitos reservados
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