Rebelião
não é luta, é pura compreensão.
Pergunta:
Osho, freqüentemente eu ouço você falar sobre rebelião.
Os padres e as freiras e os pais que definiram minha educação,
agora estão velhos. A maioria já morreu. Parece que não
vale a pena rebelar-me contra aquelas pessoas velhas e
desamparadas.
Agora, eu mesmo sou o padre e as doutrinas. Eu sinto que me
rebelar contra qualquer coisa do lado de fora de mim é um
desperdício de tempo e esse não é exatamente o ponto.
Isso torna a situação muito mais frustrante e embaraçosa.
Parece que algo dentro de mim tem que se rebelar
contra algo dentro de mim. Eu aceito que não é o meu ser
essencial - a face original - que tem que se rebelar. É o
self treinado - o subterfúgio. Mas, para me rebelar, eu
tenho que usar esse "self" pois ele é o único
que eu conheço. Como pode o subterfúgio se rebelar contra
o subterfúgio?
"A rebelião da qual eu tenho falado não tem que ser
feita contra ninguém. Ela não é na verdade uma rebelião,
mas somente uma compreensão. Não, você não tem que lutar
contra os padres, as freiras e os pais externos. E você não
tem também que lutar contra os padres, freiras e pais
internos. Porque, internos ou externos, eles estão
separados de você. O externo está separado, e o interno
também está separado. O interno é apenas o reflexo do
externo.
Você
está perfeitamente certo ao dizer: 'parece que não vale a
pena rebelar-me contra aquelas pessoas velhas e
desamparadas'. Eu não estou dizendo a você para se rebelar
contra aquelas pessoas velhas e desamparadas. E eu
também não estou dizendo a você para se rebelar contra
tudo o que eles incutiram em você. Se você se rebelar
contra sua própria mente, isso será uma reação, não uma
rebelião. Note a diferença. A reação surge a partir da
raiva; a reação é violenta. Numa reação você se torna
cego de raiva. Numa reação você passa para o outro
extremo.
Por
exemplo, se os seus pais ensinaram você a ficar limpo e
tomar um banho todo dia, e mais isso e mais aquilo, e se foi
ensinado a você desde pequenino que a limpeza está próxima
de Deus; o que você fará, se um dia você começar a se
rebelar? Você vai parar de tomar banho. Você vai começar
a viver imundo.
Isso
é o que os Hippies seguiram fazendo ao redor do mundo. Eles
pensavam que isso era rebelião. Eles passaram para o outro
extremo. A eles foi ensinado que a limpeza era divina; agora
eles estão pensando que a imundície é divina, que a
sujeira é divina. De um extremo, eles passaram para o
outro. Isso não é rebelião. Isso é raiva, isso é ira,
isso é desforra.
Enquanto você estiver reagindo aos seus pais e às suas idéias
de limpeza, você ainda está apegado àquelas mesmas idéias.
Elas ainda estão dentro de você, elas ainda têm um poder
sobre você, elas ainda são dominante, elas ainda são
decisivas. Elas ainda decidem a sua vida, embora você tenha
se tornado o oposto delas; mas elas decidem. Você não pode
tomar um banho tranqüilo, pois você se lembrará de seus
pais que o forçavam a tomar banho todos os dias. Agora você
não quer tomar mais banho, de jeito algum.
Quem
está dominando você? Ainda os seus pais. O que eles
fizeram com você, você ainda não foi capaz de desfazer.
Isso é uma reação, isso não é rebelião.
Então
o que é rebelião? Rebelião é pura compreensão. Você
simplesmente compreende qual é o caso. Então você não
fica mais obcecado por limpeza, e isso é tudo. Isso não
quer dizer que você vá se tornar sujo. A limpeza tem sua
própria beleza. Mas a pessoa não deve ficar obcecada por
ela, porque obsessão é doença.
Por
exemplo, uma pessoa lavando suas mãos continuamente por
todo o dia - isso é neurose. Lavar as mãos não é uma
coisa ruim, mas lavar suas mãos por todo o dia é loucura.
Mas se, de lavar as mãos por todo o dia, você passar a não
lavá-las; se você parar de lavá-las para sempre, então
de novo você terá caído na armadilha, num outro tipo de
loucura, o tipo oposto.
Um
homem de compreensão lava suas mãos quando é necessário,
ele não está obcecado com isso. Ele é simplesmente espontâneo
e natural a respeito disso. Ele vive inteligentemente e isso
é tudo.
Mas,
se você não prestar muita atenção nos pequenos detalhes,
não verá muita diferença entre obsessão e inteligência
. Por exemplo, se você cruzar com uma cobra no caminho e
você der um salto, naturalmente você deu um salto devido
ao medo. Mas esse medo é inteligência. Se você não for
inteligente, for estúpido, você não vai pular para fora
do caminho e, desnecessariamente, estará colocando a sua
vida em perigo. A pessoa inteligente irá pular
imediatamente - a cobra está ali. Isso é devido ao medo,
mas esse medo é inteligente, positivo, está a serviço da
vida.
Mas
esse medo pode se tornar obsessivo. Por exemplo, você pode
não querer sentar dentro de uma casa. Quem sabe? Ela pode
desmoronar. E sabe-se que casas se desmoronam, isso é
verdade. Algumas vezes, elas têm desmoronado; você não
está absolutamente errado. Você pode argumentar: 'se
outras casas desmoronaram, por que não esta?' Agora você
está com medo de viver sob qualquer teto - ele pode
desabar. Isso é uma obsessão. Isso agora se tornou não-inteligente.
É
bom estar alerta de que você está comendo um alimento
limpo. Mas eu conheço um homem, um grande poeta... Certa
vez ele viajava comigo. Sua esposa me contou, 'Agora você
saberá o quanto é difícil viver com esse homem.' Eu
perguntei: 'Qual é o problema?'. Ela disse: 'Você vai
saber por si próprio.' Ele não bebia nenhum chá, nem água,
em nenhum lugar. Era muito difícil, porque ele dizia, 'quem
sabe se não existem germes no chá ou na água?' Ele não
comia em nenhum hotel. Isso se tornou um tal problema... E nós
tínhamos que viajar trinta e seis horas de trem e ele
estava morrendo de fome e com sede e ele não bebia água.
Eu
tentei de toda maneira persuadi-lo. Ele dizia, 'Não. Quem
sabe? E se houver germes? É melhor,' dizia ele, 'passar
fome por trinta e seis horas e não comer. Eu não vou
morrer, não se preocupe,' Mas eu podia ver que o homem
estava torturando a si mesmo. Era um verão muito quente e
ele estava com sede. E eu tentava em toda estação - eu
trazia soda, trazia coca-cola, eu trazia tudo que podia. Mas
ele dizia, 'Esqueça isso - eu não posso tomar nada a não
ser que eu esteja absolutamente seguro. Qual é a segurança?
Qual é a garantia?'
E ele
não estava absolutamente errado, isso é verdade. Você
conhece a Índia, e você conhece as estações indianas e
os hotéis indianos. Você sabe. Ele está certo, mas agora
ele está levando essa lógica longe demais.
Então
eu disse a ele, 'Pare de respirar também!' Ele disse: 'Por
que?' Eu disse: 'Quem sabe, qual é a garantia? Pare de
respirar! Ou beba esta água ou pare de respirar!' Então
ele olhou para mim assustado, porque eu estava realmente
raivoso. 'Por que você segue respirando? Quem sabe, podem
existir germes, existem germes em toda parte.'
Ele
tomou uma xícara de chá, mas a maneira como ele tomou...!
Sua face... Eu não consigo esquecer. Já se passaram dez
anos, mas eu não consigo esquecer a sua face - era como se
eu estivesse matando aquele homem! Eu era um assassino! E
ele estava obrigando-me a isso.
Na
estação seguinte, ele desceu e disse, 'Eu não posso
viajar com você; eu vou voltar para casa. 'Eu disse, 'Qual
é o problema? 'Ele disse, 'Você estava com tanta raiva, e
parecia que você ia começar a me bater ou alguma coisa
assim. E você disse: Não respire mais. Como eu posso parar
de respirar?' Eu disse, 'Eu só estava dando a você um
argumento, que se você pode respirar, por que não beber a
água? É a mesma água indiana e o mesmo ar indiano. Não há
com que se preocupar.'
Ele
se recusou a viajar comigo. Eu tive que viajar sozinho. Ele
retornou e desde então eu nunca mais o vi.
A
pessoa pode se tornar obsessiva a respeito de qualquer
coisa. Qualquer coisa que pode ser inteligente dentro de
certos limites, pode se tornar uma neurose se você ampliar
esses limites. Reagir é passar para o outro extremo. Rebelião
é uma compreensão muito profunda, compreensão profunda de
um certo fenômeno. A rebelião sempre mantém você no
meio, ela dá a você um equilíbrio.
Você
não tem que brigar com ninguém, as freiras e os padres e
os pais, externos e internos. Você não tem que brigar com
ninguém, porque numa briga você nunca sabe onde vai parar.
Numa briga a pessoa perde a consciência; numa briga a
pessoa passa logo para os extremos. Você pode observar
isso.
Por
exemplo, você está sentado com seus amigos e, no meio da
conversa, você diz, 'Aquele filme que eu vi ontem não vale
a pena ser visto.' Isso pode ter sido um comentário à-toa,
mas então alguém diz, 'Você está errado. Eu também vi o
filme. Ele é um dos mais belos filmes que já foram
feitos.' Você foi provocado, desafiado; e agora você se
enche de argumentos. Você diz, 'ele não tem valor, é a
coisa mais sem valor que existe!' E você começa a
criticar. E se o outro também insistir, você vai se tornar
mais e mais raivoso e vai começar a dizer coisas que você
nem mesmo tinha pensado a respeito. E mais tarde, se você
olhar para trás e ver todo o fenômeno que aconteceu, você
ficará surpreso pois quando você mencionou que o filme não
valia a pena ser visto era uma afirmação muito moderada,
mas com o passar do tempo você adotou argumentos e você já
estava numa posição extremada. Você usou tudo que era
possível, todas as palavras mais desagradáveis que você
conhecia. Você condenou de toda maneira, você usou toda a
sua habilidade para condenar. E você não estava com
disposição para fazer isso no começo. Se ninguém tivesse
contestado você, você poderia ter esquecido aquele
assunto, você não iria nunca fazer aquelas afirmações
pesadas.
Isso
acontece - quando você começa a brigar, a tendência é
você passar para os extremos.
Eu não
estou ensinando você a brigar com seus condicionamentos.
Compreenda-os. Torne-se mais inteligente a respeito deles.
Simplesmente veja como eles dominam você, como eles
influenciam o seu comportamento, como eles modelam a sua
personalidade, como eles seguem atingindo você pela porta
dos fundos. Simplesmente observe! Seja meditativo. E um dia,
quando você tiver visto o funcionamento dos seus
condicionamentos, de repente um equilíbrio será alcançado.
Em sua real compreensão você estará livre.
Compreensão é liberdade, e essa liberdade eu chamo rebelião.
O
verdadeiro rebelde não é um lutador; ele é um homem de
compreensão. Ele simplesmente cresce em inteligência, não
em raiva, não em ira. Você não consegue transformar a si
mesmo tendo raiva de seu passado. Dessa maneira, o passado
irá continuar dominando você, o passado continuará sendo
o centro de seu ser, o passado permanecerá o seu foco. Você
permanecerá focado, preso ao passado. Você poderá passar
para o outro extremo, mas você ainda continuará preso ao
passado.
Fique
alerta quanto a isso! Esse não é o caminho de um
meditador, esse não é o caminho de um sannyasin. Sannyas
é rebelião - rebelião através da compreensão.
Simplesmente compreenda.
Você
passa ao lado de uma igreja e um profundo desejo surge em
você de ir ao interior e orar. Ou você passa ao lado de um
templo e inconscientemente você se curva diante de uma
divindade do templo. Simplesmente observe. Por que você está
fazendo essas coisas? Eu não estou dizendo para brigar. Eu
estou dizendo para observar. Por que você se curva diante
do templo? Porque foi ensinado a você que esse é o templo
certo, que a divindade desse templo é a imagem verdadeira
de Deus. Você sabe? Ou isso foi simplesmente dito a você e
você continua seguindo isso? Observe!
Vendo
isso, que você está simplesmente repetindo um programa que
foi dado a você, que você está simplesmente repetindo um
mesmo disco em sua cabeça, que você está sendo um autômato,
um robô, você irá parar de se curvar. Não que você
tenha que fazer qualquer esforço, você simplesmente irá
se esquecer de tudo a respeito disso. Isso irá desaparecer,
isso abandonará você sem deixar qualquer traço.
Quando você reage, o traço permanece lá. Mas, na rebelião
não fica nenhum traço; é liberdade completa.
Você
tem simplesmente que ser um observador. E o observar é a
sua face original; aquele que observa é a sua consciência
verdadeira. Aquilo que é observado é o condicionamento.
Aquele que observa é a fonte divina de seu ser.
OSHO - The Secret - discurso n. 14 - pergunta n. 5
(Tradução: Sw. Bodhi Champak)
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