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MANUAL DE DICAS PARA TRADUTORES DO OSHO

   

(Esta página é uma colaboração carinhosa do Nisargan, baseada em sua larga experiência de ter traduzido dezenas de livros do Osho e desenvolver, atualmente, o projeto Osho Vídeos em português)

 

Traduzir Osho é, para algumas pessoas, uma atividade imensamente enriquecedora e gratificante. Esse Manual se destina a quem está disposto a mergulhar nesta atividade, consistindo de dicas que a experiência demonstrou como sendo valiosas além de uma boa dose de bom senso.  
          Quanto melhor a tradução do Osho, em suas diferentes dimensões, mais o leitor poderá ser abençoado pela sua leitura. 
          Ciente disso, um tradutor do Osho precisa dar o melhor de si em toda e qualquer tradução que faça, com a intenção de, através dela, transmitir com fidelidade não só sua mensagem, como também “algo” que permeia suas palavras.

“As palavras do Mestre transportam um silêncio à sua volta; suas palavras não são ruidosas, elas têm uma melodia, um ritmo, uma musicalidade e, em seu próprio âmago, há completo silêncio. Se você puder penetrar em suas palavras, entrará em contato com um infinito silêncio. Mas, para penetrar nas palavras de um buda, a maneira é não analisar, a maneira é não argumentar, a maneira é não discutir. A maneira é ter empatia por ele, se sintonizar com ele, estar em sincronicidade com ele. Nessa sintonia, nesse congraçamento, a pessoa entra no próprio âmago das palavras do Mestre e, lá, você não encontrará nenhum som, nenhum ruído; lá, você encontrará absoluto silêncio. E saborear isso é compreender o Mestre.”

 Osho, The Dhammapada: The Way of the Buddha

Para haver essa sintonia, o tradutor precisa estar imensamente alerta ao traduzir, a fim de que possa captar em profundidade o que Osho está de fato transmitindo, sem permitir que suas próprias idéias e pensamentos interfiram nessa percepção. Um tradutor traduz, sem adicionar e sem omitir o que Osho diz! 
          Nesse sentido, traduzir Osho tem algo a ver com meditação, já que a mente do tradutor precisa estar vazia, estando ativa apenas para encontrar a melhor maneira de transmitir o que captou do Osho.
          Assim, um tradutor do Osho precisa estar disposto a fazer uma excelente tradução, não importa o tempo que isso leve. Se ele precisar ficar meia hora em um único parágrafo, até ficar satisfeito com a sua construção, ele fica, sem hesitar. A qualidade deve ser prioritária, independentemente do tempo necessário para atingir essa qualidade.
          Com freqüência um bom dicionário deve ser consultado, não só para palavras desconhecidas, mas também para algumas conhecidas, dependendo do contexto. Na dúvida, sempre consulte o dicionário! E, quanto às conhecidas, uma simples palavra pode ser traduzida de várias maneiras, e a melhor maneira sempre deve ser encontrada. Se não lhe ocorrer qual é essa melhor maneira, não hesite em consultar o dicionário, mesmo se for para a palavra “love”, por exemplo, já que “amor” não é a sua única tradução!
          Para isso, o tradutor deve ter pelo menos um bom dicionário inglês-português e um bom dicionário de português. Sugestões: 
- Dicionário Inglês-Português de Antônio Houaiss, da Editora Record
- Dicionário de Português Novo Aurélio (Aurelião), da Editora Nova Fronteira, edição completa.

Falando de dicionários, eis uma fala do Osho relacionada com o tema:

“Alguém deve ter traduzido de uma maneira errada. Ele não pode ser solitário, ele pode ser somente só. Mas as pessoas traduzem literalmente: é isso o que pretendo dizer quando digo ‘um professor’. Ora, quem traduziu esta passagem dos Upanixades não sabe coisa alguma; ele conhece palavras, ele pode ser um erudito — conhece o sânscrito, o inglês. A tradução é literal, mas não espiritual, e traduções literais fizeram muito mal. As pessoas traduzem tratados antigos, mas eles podem ser traduzidos somente por um Mestre, pois aquelas palavras não são usadas no sentido comum. Não se pode encontrá-las no dicionário; elas são encontradas apenas na experiência interior. É claro que as palavras exteriores devem ser usadas, mas um Mestre dá novos significados a elas.
          “Gostei da sugestão de Pradeepa: ela quer fazer um dicionário de minhas palavras, do significado que dou a elas.” 
                                                                                             Osho, A Sabedoria das Areias

Osho usa palavras que, de acordo dicionários, são sinônimas, mas ele dá significados próprios a elas. Por exemplo: “alone” e “lonely”, “aloneness” e “loneliness”, “religion” e “religiousness”.  Assim, como de acordo com Osho essas palavras não são sinônimas, precisamos estabelecer palavras diferentes em português para elas. 
          “Alone” é estar só com uma sensação de preenchimento interno, de satisfação, de plenitude. “Lonely” é estar só com uma sensação de infelicidade, de necessidade do outro. Assim, arbitrariamente escolhemos uma palavra para traduzir “alone”, que é “só”, e outro para traduzir “lonely”, que é “solitário”.
          Para “aloneness” usamos a palavra “solitude”, que é o estado de estar só com aquela sensação de plenitude. Para “loneliness” usamos a palavra “solidão”, que é o estado de estar só com aquela sensação de insatisfação. 
          Para “religion” usamos a palavra “religião”, geralmente significando a instituição formal religiosa. Para “religiousness” usamos a palavra “religiosidade”, que é o sentimento religioso que vem de dentro, de nosso ser. 
          Isso não quer dizer que Osho sempre usa a palavra “religion”, por exemplo, com o significado acima; às vezes Osho usa a palavra “religion” também no sentido de “religiosidade” e, nesse caso, dependendo do contexto, podemos traduzi-la tanto como “religiosidade” como “religião”. O contexto e o bom senso devem prevalecer sobre qualquer regra fixa.
          A tradução deve fluir de acordo com o momento ou o contexto, já que por vezes Osho usa expressões poéticas, outras vezes usa expressões agressivas, outras humorísticas, outras imperativas, outras “obscenas”. Para manter a fidelidade, devem ser transcendidos pudores e estilos fixos.

Sobre a fidelidade às suas expressões:

"Lao Tzu é inocente, Buda é inocente, Krishna é inocente, Jesus é inocente; eles não são pessoas cultas. Claro que o que eles disseram foi a partir da própria percepção, mas nós mudamos para conhecimento; o que eles disseram a partir do estado de maravilha, nós reduzimos à filosofia, à teologia. Este é nosso trabalho; destruímos tudo que era belo. Demos-lhe uma certa forma, um certo padrão e estrutura, interpretamos, comentamos, retiramos muitas coisas. E isto sempre acontece.
          “Num outro dia, recebi um bilhete de Arup dizendo que ‘Sarjano está traduzindo seu livro para o italiano, mas ele muda muitas coisas. Ele retira algumas coisas e adiciona outras, extraídas de seu próprio conhecimento.’ 
          “Claro que ele está tentando fazer um bom trabalho, a intenção dele é boa! Ele quer tornar o texto mais lógico, mais intelectual, mais sofisticado. E eu sou um homem de tipo um pouco selvagem! Ele quer me aparar aqui e ali. Olhe para minha barba! Se permitissem, Sarjano a apararia tal qual a de Nikolai Lênin, entretanto não seria MINHA barba. Ele estaria tentando fazê-la mais atraente. Não há nenhuma dúvida sobre suas intenções, mas são tais intenções que sempre destruíram.
          “Quando lhe transmitiram minha mensagem de que ele teria que fazer exatamente assim: ‘Não tente melhorar; deixe como está. Cru, selvagem, ilógico, paradoxal, contraditório, repetitivo, o que quer que seja, deixe como está!’ E isso é tão difícil para ele. Ele disse: ‘Então, não traduzirei. Quero fazer um trabalho limpo.’
          “Viu como a mente funciona? Ele não quer me escutar; ele preferiria fazer o trabalho de limpeza e quer ter permissão para interpolar, mudar, colorir as coisas de acordo com a idéia dele. Porém tudo o que você fizer prejudica, porque o que estou dizendo vem de uma outra dimensão, e o que você fizer será algo totalmente diferente; não pertencerá ao MEU plano, não pertencerá à MINHA dimensão. Pode ser professoral, mas não sou um professor; pode ser culto, mas não sou uma pessoa culta.”

Ser fiel à sua mensagem significa traduzir dando o mesmo sentido que ele quis dar, sem alterar o significado, mas isso não quer dizer traduzir “ao pé da letra”. Lembre-se, Osho não escreve, ele fala, e o importante é o que ele quis dizer, e nem tanto como ele disse, já que a maneira de se dizer algo em inglês não necessariamente é a mesma maneira de se dizer esse mesmo algo em português. Ele fala de uma maneira simples e natural, fluida, e essas qualidades precisam ser mantidas em português, mesmo se a composição da frase for diferente da composição da frase em inglês. Mais uma vez, a maneira do Osho falar é simples, natural, coloquial, e isso precisa ser mantido em português. 
          Quanto a isso, um ponto importante é lembrar que a pontuação em inglês é diferente da pontuação em português. Em inglês há muito menos vírgulas do que em português e muito mais pontos do que em português. Nesses casos, seja fiel à maneira brasileira de se falar e escrever! Outra diferença é que em inglês sempre se usa o pronome pessoal antes dos verbos, por exemplo, “I go”; em português não há necessidade de se colocar “eu” antes do “vou”, podendo ser simplesmente “vou”, dependendo do estilo ou do senso estético do tradutor. Outro ponto: a divisão de parágrafos também não precisa ser necessariamente seguida, podendo o tradutor juntar parágrafos ou dividir parágrafos, caso seja possível e mais adequado; é claro que isso não é comum, mas pode acontecer. Resumindo: estamos traduzindo para o português, sem nenhuma obrigação de trazer o estilo inglês para a nossa língua.
          Salvo essas observações que visam manter o estilo simples, natural e coloquial da fala do Osho, há uma maneira própria do Osho falar que deve ser mantida nas traduções! 
          Um outro ponto: Osho muitas vezes usa a palavra “you”, sendo que essa palavra pode ser traduzida tanto por “você” como por “vocês”. A recomendação dada pela Osho International é que, a menos que haja evidências contrárias, devemos traduzir “you” por “você”, estando assim Osho se dirigindo a nós individualmente.
          Mesmo havendo alguém para fazer uma revisão da tradução, o tradutor deve desconsiderar isso, o que significa, deve realmente dar o melhor de si em sua tradução em todas as suas dimensões, como fidelidade ao que Osho disse no texto original em inglês, pontuações corretas, gramática correta, ortografia correta, texto fácil e gostoso de ler, sem erros de digitação... A idéia é que o tradutor eleve o seu nível mais e mais, sem se acomodar por saber que seu texto será revisado de qualquer maneira. O tradutor deve caprichar na busca “utópica” de atingir um texto tão bom a ponto de poder ser publicado com louvor mesmo sem um revisor, ou, dito de uma outra maneira, a ponto de não dar trabalho nenhum ao revisor!
          Para isso, o tradutor deve revisar a si mesmo algumas vezes, antes de entregar sua tradução ao revisor, na persistente intenção de descobrir falhas e de se aprimorar sempre em todos os sentidos. Assim, é recomendado que ele faça pelo menos três revisões de seu próprio trabalho.
          A primeira é, após terminada a tradução, rever trecho por trecho do inglês para o português, a fim de checar se o sentido foi mesmo mantido, aproveitando também para alterar palavras, descobrir erros gramaticais e tornar o texto mais “redondo”. 
          Terminada essa etapa, o tradutor poderá ler na tela do computador todo o texto em português, sem precisar olhar para o texto em inglês, salvo se houver dúvidas, de novo para verificar se as palavras estão adequadas, se existem erros gramaticais e para tornar o texto ainda mais “redondo”.
          Terminada essa etapa, o tradutor imprime em papel sua tradução e faz mais uma revisão do texto em português, já que no papel ele tem uma outra perspectiva.
          Em geral, a melhor maneira de se aprimorar como tradutor é verificar com atenção TODAS as alterações feitas ou sugeridas pelo revisor “externo”. Para isso, o revisor deve diferenciar suas alterações do restante do texto, de modo que seja fácil para o tradutor verificar esses pontos. É claro que o tradutor não precisa concordar com todas as alterações sugeridas pelo revisor e, em caso de definitivamente não concordar com algum ponto, uma terceira pessoa deve dar seu parecer. Mas independentemente disso, é bom nunca se esquecer: ao checar as revisões, o tradutor tem aí uma fonte muito rica para aprender e se aperfeiçoar.

Este Manual está em aberto. Assim, quem tiver outras dicas, por favor, repasse-as a nós, para que eventualmente as acrescentemos aqui.

 

 


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