Entre
os anos 1957 e 1966, Osho foi professor de Filosofia na
Universidade de Jabalpur, na Índia. Antes mesmo de abandonar
aquele cargo, ele já havia começado a viajar por todo o seu país,
falando para dezenas de milhares de pessoas sobre todos os temas
possíveis relacionados com a busca espiritual.
Em 1968 Osho fixou residência em
Bombaim onde proferia palestras em grandes auditórios e recebia
pequenos grupos que sempre surgiam ao seu redor. Nesta época
ele desenvolveu suas revolucionárias técnicas de meditação e
viajava, conduzindo os famosos campos de meditação.
No outono de 1970, Osho iniciou os
primeiros neo-sannyasins. E na medida em que a sua mensagem começou
a se espalhar através de seus novos discípulos, correntes de
visitantes e buscadores não pararam de procurá-lo. Pouco a
pouco, Osho teve que se afastar da vida pública e recolher-se
mais em sua residência em Bombaim, onde recebia os visitantes e
os que buscavam a iniciação.
Conforme ele próprio disse na
palestra que traduzimos para este boletim no mês passado, “Eu
costumava falar para milhões de pessoas neste país, mas eu
tive que parar. Eu falava para milhares num simples encontro,
cinqüenta mil pessoas. Eu viajei por todo este país por quinze
anos, de um canto a outro. Eu simplesmente fiquei cansado
daquela coisa toda porque a cada dia eu tinha que começar do
ABC. Era sempre ABC, ABC, ABC. E ficou absolutamente claro que
eu nunca iria alcançar o XYZ. Eu tive que parar de viajar.”
(Osho-The Book of Wisdom). Foi assim que em 1974, Osho mudou-se
para Puna, onde estabeleceu o antigo Shree Rajneesh Ashram. Ali
ele falava diariamente pela manhã para os grupos cada vez
maiores de visitantes e discípulos e, à tarde, recebia indivíduos
e pequenos grupos nos encontros mais íntimos denominados
Darshans.
Ainda
naquela mesma palestra que traduzimos no mês passado, ele diz:
“(Agora) eu não estou falando (mais) para estudantes, mas
somente para discípulos... Eu gostaria de falar apenas para o
meu povo, de modo que eu possa comunicar tudo aquilo que eu
quero, de modo que eu possa estar seguro e confiante de que tudo
o que eu disser será recebido com boa fé e com amor, de modo
que eu saiba desde o começo que tudo poderá lhes ser revelado
e nada será mal compreendido.”. Assim, com o
estabelecimento de um ashram, em Puna, Osho pode aprofundar seus
ensinamentos, seus toques, sua mensagem.
A
trajetória percorrida por Osho é muito rica e variada. Puna
foi palco de inúmeros experimentos e os grupos de discípulos e
visitantes, que ali estavam, cresciam naquele campo cheio de
eletricidade onde não se conseguia cair no sono da inconsciência.
Ou pelo menos, quando caía, havia logo um choque para o
despertar. Ele permaneceu em Puna de 1974 a 1981 e era impossível
definir um ponto central de seus ensinamentos. Ele compartilhava
todos os vários aspectos de sua visão e o seu esforço era
para que todos pudessem compreendê-los. Nesse período
conhecido como Puna I foram introduzidos no ashram os grupos de
terapia, concebidos e utilizados como preparação para uma
imersão mais profunda na meditação. Foi constituída nesta época
a Rajneesh Foundation para administrar os direitos autorais do
Osho e cuidar da expansão de seu trabalho, em particular de
suas publicações ao redor do mundo.
Entre os anos de 1981 e 1985 Osho
mudou-se para os Estados Unidos e estabeleceu-se no Oregon. Ele
permaneceu em silêncio a maior parte desse tempo, enquanto uma
cidade surgia ao seu redor: Rajneeshpuram com seus milhares de
residentes e um número ainda maior de visitantes. O experimento
dessa comunidade foi fantástico, o empenho dos sannyasins era
total para se tentar alcançar a auto-suficiência. Mas as
dificuldades eram muitas e aliadas a uma hostilidade cada vez
maior nas vizinhanças, levaram o experimento a um fim. Os mais
altos escalões do governo Reagan pressionaram os órgãos
federais e estaduais para encontrar meios de desmontar a comuna
e expulsar Osho dos Estados Unidos. Por fim Osho foi preso e
expulso do país enquanto sua comuna foi dissolvida.
O que talvez alguns não saibam é
que “depois de várias apelações, a legalidade da cidade de
Rajneeshpuram foi decretada pela Suprema Corte dos Estados
Unidos, em maio de 1988, quando já fazia mais de dois anos que
Osho retornara à Índia” (para saber mais sobre a estada, a
expulsão e o envenenamento de Osho nos Estados Unidos, leia Autobiografia
de um Místico Espiritualmente Incorreto, editado no Brasil
pela Cultrix).
Após a conhecida “Excursão pelo
Mundo” (the World Tour), em que Osho foi deportado ou teve seu
visto de entrada negado por 21 paises, ele retorna a Bombaim em
julho de 1986 e finalmente para Puna no início de 1987. Neste
último período conhecido por Puna II, Osho deu prosseguimento
às séries de suas palestras, muitas vezes interrompidas por
problemas de saúde, decorrentes do envenenamento a que foi
submetido nas prisões norte-americanas. A comuna floresceu como
nunca e a sua mensagem continuou se expandindo pelo mundo,
apesar de várias pressões de toda ordem. Em abril de 1989,
Osho entrou em silêncio e assim permaneceu até deixar o corpo
em 19 de janeiro de 1990. Ainda naquele mesmo mês de abril,
Osho criou o que chamou “Círculo Interno”, um grupo de
vinte um discípulos que passou a tomar conta da administração
da comuna em suas questões práticas e funcionais. Osho
deixou claro que o propósito desse Circulo Interno não era
oferecer orientação espiritual. O propósito era cuidar dos
aspectos práticos da tarefa de tornar cada vez mais disponível
a obra do Osho.
Até aqui essa história já é
conhecida por todo mundo. Não há novidade alguma no que foi
dito. É mais ou menos como uma história oficial. O que
queremos aprofundar um pouco neste artigo são as nossas impressões
a respeito do que poderíamos chamar de “o dia seguinte”.
Logo após Osho deixar o corpo, houve
uma tranqüila continuidade na vida da comuna: os mesmos trabalhos
continuaram sendo
executados, os mesmos cuidados com todos os quesitos de estética,
de limpeza, e principalmente com aqueles aspectos mais sutis que
propiciavam um ambiente convidativo ao mergulho interior. E,
paralelamente, prosseguiram as atividades voltadas à realização das dimensões humanas de alegria,
criatividade, prazer, relaxamento, etc Também prosseguiram
normalmente as funções administrativas não só da comuna como
da expansão da mensagem do Osho pelo mundo.
Mas, muitas
dificuldades seriam logo enfrentadas pelo Circulo Interno ao ter
que
resolver, sem a presença física do Osho, as mil e uma questões
que a toda hora surgiam. E também muitas críticas
e contestações surgiram por várias decisões que tiveram que tomar. É importante notar que as críticas aos
administradores já existiam mesmo quando Osho ainda estava no
corpo, mas, naquela época, as coisas eram mais fáceis de serem
conduzidas. Quando ele orientava a criação ou implementação
de alguma coisa, por mais estranha e esdrúxula que fosse, ninguém
contestava ou colocava em dúvida, pois era uma orientação do
próprio Osho. Um exemplo simples foi o pedido do Osho para
pintarem todos os prédios da Comuna de preto, o que gerou
muitas críticas, mas pouco depois quase todos estavam
afirmando: "O preto é lindo!”.
Mas aconteceu de algumas de suas orientações e recomendações
não terem sido implementadas antes dele deixar o corpo. E
tornaram-se objetivos prioritários para as pessoas que ficaram
à frente da comuna posteriormente. E o que aconteceu?
Questionamentos de todo tipo surgiram e continuam surgindo. Há
quem coloque em dúvida se determinada orientação partiu mesmo
do Osho, há quem conteste a composição do grupo que está no
comando de toda essa estrutura, e sobretudo há quem conteste as
medidas que vieram a ser tomadas. Osho sempre foi um crítico da
democracia e exaltou a meritocracia. O próprio Osho indicou os
primeiros integrantes do Círculo Interno e orientou como
deveria se dar a substituição de quem se afastasse por
qualquer motivo. Então este não é um assunto que se resolve como numa
eleição para o novo síndico do prédio.
Um assunto que provocou muita
polêmica foi a transformação da comuna num Resorte. Mas foi o próprio Osho
quem disse: “Eu quero
criar o maior e mais belo clube de saúde espiritual do mundo
– um Clube de Meditação.”
E o que é o Resorte Internacional de Meditação do Osho
senão um imenso e internacional clube de meditação?
Numa coisa todos concordam: a antiga comuna está
muito bem cuidada, as questões de limpeza, higiene e estética
permanecem como sendo básicas, os jardins estão cada vez mais
lindos. Mais sofisticado, alfinetam alguns. Diversos amigos
nossos que foram recentemente a Puna com o propósito claro
(para eles mesmos) de entrar mais no espaço meditativo, de
estar naquele contexto em que o autoconhecimento se torna mais
accessível, onde as nossas dimensões mais sutis se afloram
mais facilmente, voltaram dizendo que o ambiente convidativo à
meditação permanece o mesmo, que o silêncio continua quase
tangível como sempre, que a presença do Osho se faz sentir o
tempo todo, etc. Mas, e o que dizer das outras pessoas que
voltaram com várias reclamações e críticas? A verdade deve
ser dita. A maioria dessas pessoas já partiram daqui com o “pé
atrás”, já estavam indo a Puna em busca de formação
profissional (fora do Resorte), ou já estavam indo em busca de
outros mentores espirituais que vendem atalhos para a iluminação
(também fora do Resorte), ou simplesmente foram até lá sem um
maior comprometimento com a meditação. Registramos até o caso
de uma pessoa que escreveu um depoimento, colaborando numa matéria
negativa que foi publicada contra Osho, no final do ano passado,
numa revista de repercussão nacional. Essa pessoa disse ter ido
pela primeira vez a Puna e que se arrependeu quando lá chegou,
pois viu que tudo estava completamente diferente do que era
antes. Mas, se ela estava indo pela primeira vez, como poderia
saber como era antes, para fazer a tal comparação? É sabido
também que muita gente critica mesmo sem nunca ter
ido a Puna. Fazem questão de dizer que a comuna já não é a
mesma e que os atuais dirigentes estão acabando com ela. Parece
que algumas pessoas, por não terem seus projetos pessoais
acolhidos pela comuna, se tornam propagadores de críticas e as
repassam como se fosse uma cartilha para todos aqueles que
conseguem influenciar. E nesse grupo se encontram muitos
daqueles que por uma razão ou outra discordam das medidas
tomadas pelos atuais dirigentes. Passam a agir como se fossem de
um partido político e ficam acusando de “cegueira
espiritual” todos aqueles que continuam indo lá e que voltam
tecendo elogios.
O
que existe por trás desses desencontros, dessas defesas e
ataques, dessas fofocas e dessas brigas?
O que existe são compreensões
distintas, e às vezes conflitantes, a respeito da mensagem do
Osho. Ele deixou absolutamente claro que não haveria sucessores
e seria impensável a idéia de se organizar uma religião em
torno dele. Osho indicou que a continuidade de seu trabalho
estaria nas mãos de cada um que assumisse a sua própria história
individual. Ele nunca endossou a idéia de um movimento ao seu
redor. Essas considerações, dentre muitas outras, levaram os
atuais dirigentes do Resorte e da Osho International a zelar
pelo que se denomina a “visão do Osho”. Eles optaram por
patrocinar e proteger a “visão” do Osho. Assim, a antiga
comuna ao invés de se tornar um local de peregrinação, de
rituais para lembrar a presença física do Osho, de culto a relíquias,
ela se tornou um Resorte de Meditação onde a “experiência
Osho” pode ser sentida e vivenciada. É um local onde se
medita, onde há um convite permanente ao mergulho no espaço
interior, mas também se dança, ri, se alegra, onde se é
criativo, enfim onde as potencialidades de Zorba e Buda se
expressam. Cuidaram para que ali permanecesse um local onde a
visão do Osho pode ser experienciada por quem vai até lá. Não
cuidaram para que ali fosse um local para se reverenciar a memória
do Osho. Essa é a diferença.
Ao assumir essa orientação voltada
para a Visão do Osho, esse grupo dirigente enfrentou muitas reações por parte daqueles que insistiam na opção pelo
que foi denominado como “devoção”, aqueles que queriam a
abertura dos aposentos do Osho às romarias, aqueles que queriam
manter a iniciação ao sannyas nos velhos moldes, com seus
rituais, queriam manter o mala e uma série de coisas mais.
Quando se adota uma posição de
contestação, de radicalização, facilmente outras críticas
afloram e assim passaram também a contestar a administração
dos direitos autorais do Osho. Questionam o controle exercido
sobre as publicações de livros e sobre a exibição de
vídeos.
E ainda existem outros
grupos de contestadores, como aqueles que reclamam porque o
Resorte mantém as portas fechadas para os sannyasins que se
declaram iluminados, sem reconhecer neles a iluminação.
Pode-se imaginar quanta argumentação esse grupo tem em defesa
da abertura do Resorte aos novos iluminados. Mas não vamos nos
estender nessa questão. Só ela mereceria um outro artigo.
Para nós,
este não é um jogo do “oito ou oitenta”. Não é o caso de
“quem não está comigo está contra mim”. Entendemos que
esta é uma questão bastante relevante e que merece um esforço
de compreensão maior, pois envolve a administração do legado
deixado por Osho. Algo muito precioso está no meio a esse
debate. É preciso centramento, isenção e um coração aberto
para se entender cada posicionamento adotado. É totalmente
imatura a atitude de simplesmente se jogar pedra em quem está
no poder. Por isso, temos procurado conhecer e examinar todas as
razões que norteiam as decisões desse atual grupo dirigente. E
temos que ser sinceros neste ponto: nós temos enxergado nesse
grupo e em suas decisões uma coerência, uma fidelidade à
mensagem do Osho e uma sincera procura de sintonia com tudo o
que ele nos deixou. É claro que podemos discordar, e temos
discordado de vários procedimentos que foram e estão sendo
adotados. Muitas vezes são apenas detalhes e não damos uma
importância maior, mas, quando se trata de algo que realmente
é significativo, nós podemos e devemos antes de tudo nos inteirar das
razões que levaram aquelas pessoas a tomarem tais atitudes e
nos colocar à disposição para fazer as críticas
construtivas, se for o caso, apresentar nossas sugestões, para pensarmos
juntos. Desta forma, estamos agindo como guardiões do legado
deixado pelo Osho. Eu posso construir junto. Pela minha própria
experiência pessoal, eu posso dizer que este convite está
sempre aberto. Eu mesmo já apresentei sugestões que foram
amplamente aceitas.
Mas, vamos colocar nossa atenção em dois temas que envolvem
a questão do poder nas mãos de quem decide o que fazer
com o legado que Osho nos deixou.
Osho foi um crítico
severo de todas as religiões organizadas e da manipulação
exercida pelos sacerdotes das diversas religiões. Como preservar o legado do Osho sem correr o risco de
criarmos mais uma igreja, mais uma organização religiosa? Este é um terreno extremamente delicado, é como pisar na areia
movediça. Tudo que se fizer para não se criar religião poderá
ser um argumento de que se está tentando criá-la, ainda que
inconscientemente. E quando se procura, em sintonia com o que
Osho disse, desmontar as armadilhas “espirituais” em que as
pessoas se agarram, isto também é imediatamente apontado como
insensibilidade ou descaso para com a memória do Osho. É o
caso das fotos do Osho que foram retiradas do Resorte em Puna,
as músicas em que se suprimiram as referências ao seu nome,
como uma forma de adoração, as romarias que citamos acima,
etc.
Mais recentemente, foram feitas várias
alterações nos procedimentos da iniciação no sannyas. Se o
pessoal do Resorte estivesse numa suposta “viagem de poder”,
nada seria mais interessante que manter o controle desse
processo através da Osho Academy of Initiation. E o que estamos
assistindo? Progressivamente eles foram acabando com a própria Academia e
transferindo todo o procedimento para a própria
pessoa interessada em tomar sannyas. Primeiro aboliram o ritual
ou cerimônia de entrega do sannyas, minimizaram o significado
do mala e passaram a vendê-lo como simples lembrança a quem
quisesse comprar. Agora, simplesmente pararam de vendê-lo.
Depois ofereceram à própria pessoa a opção de escolher seu
nome sannyas e agora uma última alteração foi anunciada.
Doravante, o interessado em se tornar sannyasin simplesmente
acessará o site www.neosannyas.org
e seguirá os passos ali indicados. A própria pessoa tomará
todas as providências para se tornar um sannyasin, sem passar
por qualquer academia. Todo o processo ficará nas mãos do
interessado. É claro que os dirigentes do Resorte poderiam
ter mantido essa prerrogativa de poder, controlando assim todos
os que se sentem atraídos pelo sannyas. Mas, não é este o
entendimento deles e não foi esta a sua atitude. E isto é
preciso que seja reconhecido.
Para não nos alongarmos em demasia,
vamos abordar apenas mais um assunto que gera muita polêmica e
muita crítica. É a atuação da Osho International na
administração dos direitos autorais do Osho. Para isto,
precisamos voltar mais um pouco na história.
Conforme publicamos na edição de
junho de 2006 deste boletim, Osho nunca se ocupou pessoalmente
de assuntos administrativos da sua obra. Ao contrário, ele
cedeu toda a sua propriedade intelectual, seus direitos
autorais, os direitos de usar seu nome e imagem a uma organização
pública sem fins lucrativos: a Osho International Foundation.
Desde a época de Puna I, esta fundação (antes era Rajneesh
Foundation) ficou responsável pela gravação de seus discursos
em fitas cassete, sua transcrição em livros, sua edição e
ilustração, sua publicação, compilações, etc. Em
Beyond Psychology, cap. 24, ele disse, “Na verdade, todos os
meus royalties, todos os meus livros, todo o lucro deles
advindos estão indo para a comuna. Eu dei tudo para a comuna.
Agora, quatrocentos livros em línguas diferentes trouxeram
milhões de dólares em royalties e esses dólares foram para a
comuna (no Oregon)”.
Os políticos, as igrejas e os meios de comunicação
utilizaram a ocasião de sua prisão e deportação dos Estados
Unidos para manipular a opinião pública com a intenção de
silenciar ou, pelo menos, desacreditar Osho por completo. Em
todo o mundo os editores retiraram os livros de Osho de seus catálogos
e abandonaram os planos já programados de futuras publicações.
Sem dar importância à demanda crescente por parte dos
leitores, as livrarias devolviam às editoras os livros do Osho
existentes em seus estoques. Em pouco tempo, Osho tornou-se um
autor censurado e quase todas as editoras em escala mundial
cancelaram seus contratos com a Osho International Foundation.
Seus livros chegaram mesmo a serem incluídos nas listas negras
do Vaticano e de vários estados totalitários.
Entre 1985 e
1994, os livros do Osho foram pouco a pouco desaparecendo das
livrarias, das bibliotecas e da memória do público. Muita
gente chegou a pensar que com a deportação dos Estados Unidos
e sua morte em 1990, o trabalho do Osho teria se acabado.
Osho havia deixado um pedido para que
sua obra estivesse disponível ao redor do mundo. Esse foi o
foco do trabalho da Osho International que, ao longo dos anos
90, sentiu a necessidade de uma perspectiva nova e mais
abrangente para a produção editorial e distribuição dos seus
livros. Foi assim que a Osho International Foundation abriu a
Osho Gallery no coração de Londres para reintroduzir os livros
do Osho no mercado onde eles estavam ausentes por uma década.
As dificuldades em se conseguir um
ampla distribuição dos livros do Osho, levou a Fundação a
perceber que um passo maior teria que ser dado. Foi então
estabelecido um escritório da Osho International na cidade de
Nova York, onde centralizou-se a administração dos direitos
autorais do Osho para todo o mundo. Nova York é o centro do
mundo editorial. Todas as grandes editoras do mundo passam por lá
antes de definirem seus programas de publicações.
Um grande impulso de venda foi dado
quando a Osho International definiu preferência por publicações
pelas grandes editoras. As grandes editoras mantêm suas próprias
redes de distribuição e fazem pressões junto às livrarias
para darem destaque aos seus lançamentos.
Por exemplo, o livro Meditação: Primeira e Última
Liberdade vendia cerca de 1.000 cópias ao ano nos Estados
Unidos, editados pela Rebel. Quando a St.Martin’s Press de
Nova York assinou contrato para publicar este livro em 1997,
foram vendidos 10.000 exemplares só no primeiro ano.
Em
meados de 2006, existiam 2.537 contratos de publicação ativos
num total de 54 idiomas diferentes em todo o mundo. Cada
contrato representava um título do Osho que geralmente chega a
um mínimo de mil leitores. As vendas totais anuais estão agora
próximas de 3 milhões de exemplares, o que significa mais de
10 vezes o volume das vendas que haviam quando Osho estava no
corpo.
Há
quem não goste das compilações nos
livros mais recentes. Mas foram essas compilações que
funcionaram como trampolim para as correntes majoritárias do
mercado, aumentando a procura por livros do Osho. De fato, os
editores agora têm mais confiança nele como autor e começaram
a assinar contratos para títulos originais como A Semente de
Mostarda que durante o ano de 2004 foi assinado para 24
idiomas. Um dos últimos títulos do Osho, de uma série
bastante provocativa, foi publicado em português como O Deus
que Nunca Existiu, e também em espanhol, alemão e russo.
Isto seria impensável há poucos anos, quando nenhum editor se
dispunha a considerar a possibilidade de publicar material tão
controvertido. Mas o Sr. Michael Goerden, o editor da Ullstein,
da Alemanha, chegou a dizer que esse título é “imprescindível
para todo fã de Osho”.
Recentemente,
uma nova questão tem sido levantada. É a da apresentação de
vídeos do Osho no Youtube. Há uma preocupação da Osho
International com o que está sendo veiculado. Como detentora
dos direitos autorais, ela é responsável pela preservação da
autenticidade do material exposto, e tem sido bastante
criteriosa neste caso.
Há
poucos meses recebemos a indicação de um video do Osho que
estava disponível no youtube. Fomos até lá e vimos um clipe
editado em que Osho falava uma série de coisas engraçadas,
debochando e escrachando. Era uma parte de uma palestra, igual a
tantas outras onde às vezes ele esculacha com alguma coisa e
depois dá uma explicação mais abrangente e traz luz para a
questão que lhe foi formulada.
No caso desse clipe, ficou apenas a parte em que ele esculacha.
Era como se fizéssemos uma seleção de piadas contadas por
Osho e apresentássemos o clipe fora dos diversos contextos em
que elas foram contadas. Osho não era um simples contador
de piada, não era um Jô nem um Tom Cavalcante. Cada coisa que
ele falava tinha um propósito. Posteriormente, eu tive acesso
ao vídeo integral e vi o quanto aquele clipe anterior estava
totalmente sem sentido e o pior, distorcia a mensagem dele. Por
isso eu acho mesmo muito arriscado, deixar inteiramente livre o
uso de vídeos do Osho no Youtube. Inclusive sabemos que tem
muita gente com a intenção declarada de detonar com Osho.
Fica fácil para essas pessoas apresentarem trechos de vídeos,
fora do contexto e usarem para suas intenções de sujar o nome
do Osho e lançar o descrédito à sua mensagem.
Outro fato que merece registro foi de que há alguns meses, a Osho International retirou uns vídeos
do Youtube, colocados por terceiros, e em seguida, ela própria
recolocou aqueles videos no Youtube novamente, assegurando assim
que a gravação era autêntica e confiável e que não tinha
havido nenhuma edição. Assim, vários vídeos do Osho estão
disponíveis no Youtube além daqueles que podemos acessar
diretamente no site oficial www.osho.com
.
E aqui cabe uma pergunta: só eles podem dizer o que é autêntico
e o que não é? Bem, esta é a função da Osho International.
Ela é a detentora dos direitos autorais e administra todo o
acervo deixado por Osho. Ninguém está mais qualificado para
cuidar dessa questão.
Osho nos diz repetidas vezes que o “Sannyas não é um
movimento nem uma organização; Ao contrário ele é uma
declaração de independência de todas as organizações, de
todos os partidos e todas as igrejas”. Isto é certo. Mas é
preciso não confundir sannyas com comuna e com organização.
Sannyas é uma coisa.
Outra coisa é a comuna que se reuniu ao redor do Osho e que já
recebeu vários nomes. Ultimamente Osho chamou-a simplesmente de
Escola de Mistérios e em outros momentos ele chama de seu
Buddhafield, o campo de energia búdica, e que geograficamente
compreende uma comuna em Puna e suas ramificações através dos
seus Centros espalhados pelo mundo, que reúnem todo o “seu
povo”. Para o funcionamento desses espaços, um mínimo de
pessoas são necessárias e cada grupo cria o seu próprio jeito
de sobrevivência. Alguns, até por exigência legal, têm que
adotar uma organização formal. Muitas vezes esses espaços
implicam trabalhos voluntários e outras vezes implicam
trabalhos que geram recursos para a manutenção das próprias
pessoas que estão trabalhando. É o caso dos terapeutas e dos
espaços que também são centros de terapia. Essas unidades
organizacionais não se confundem com um movimento sannyas, nem
se torna uma hierarquia. E por trás delas existe uma comuna,
uma sangha, que é como se fosse a sua alma. E esta precisa ser
preservada, precisa ser cuidada. Essas unidades organizacionais
funcionam muitas vezes como “fios terra”, tornando viáveis
os pontos de encontro, os espaços para meditação e para dissolver os
nós que bloqueiam o nosso crescimento e que também funcionam
como portas para a dança
e a celebração. Essas coisas não acontecem num espaço imaginário,
na fantasia de nossas mentes. Elas precisam de espaço físico,
de trabalho vivo concreto. Neste mundo globalizado, não há
lugar para espaços sem um mínimo de organização, sem
cuidados com sobrevivência, sem ações planejadas. Isso faz
parte desse mundo que está aí. “Estar no mundo sem ser do
mundo” é a máxima. Mas para estarmos no mundo temos que
conhecer as regras desse mundo. Então temos que pagar aluguel
da sala, temos que ter uma coordenação para receber uma taxa de participação na
atividade, temos que observar a lei do silêncio, etc. Isto não
quer dizer que vendemos a alma ao diabo. E ainda bem que tem
alguns voluntários que se dispõem a cuidar dessas questões práticas
e funcionais. Na verdade, os problemas e as críticas somente são
levantados por aqueles que não conseguem ligar o seu próprio
“fio terra”, não conseguem se conectar com as exigências
práticas para a sobrevivência da comuna e dos centros.
Imaginam que também nessas questões, a Existência pode cuidar
de tudo, que vai nos dar de graça um espaço físico, com
todos os equipamentos, prontinho para funcionar e sem que precisemos
amarrar nossos camelos.
De tudo isto, só posso chegar a uma
conclusão. Como sannyasin, cabe a mim cuidar do meu próprio
caminho. É uma questão minha, absolutamente pessoal, estar
segurando a tocha da mensagem do Osho. Esta não é uma questão
a ser defendida por um movimento sannyas ou um movimento do Osho
ou pró-Osho. Esta é uma questão absolutamente pessoal. A
mensagem do Osho se manifesta através das experiências de vida
de cada um de nós. Nesse sentido, cada sannyasin é um
representante do Osho.
Mas é bom que o espaço onde Osho viveu e criou a sua comuna
seja preservado, que continue tendo a meditação como tônica,
onde as pessoas possam ir saborear a experiência do Zorba, o
Buda.
Ainda bem que tem um pessoal que está fazendo isto com zelo e
critério.
E também é muito bom saber que a mensagem do Osho está se
espalhando por todo o mundo, que os livros estão sendo lidos
cada vez por mais gente. E que bom que tem um pessoal
administrando tudo isto com a competência exigida pelo mundo
dos negócios, pois seria uma ingenuidade pensar que Osho
entraria no mundo dos livreiros sem que as regras desse mundo
fossem respeitadas.
Que bom que estejam cuidando para que a mensagem do Osho seja
espalhada sem distorções.
Aqui no Brasil a gente vê com alegria os poucos amigos que têm
se dedicado de coração à manutenção de Centros de Meditação,
e aqueles que estão chegando para reforçar essa energia.
Sabemos o quanto é difícil a manutenção desses espaços,
sabemos o quanto este esforço é muitas vezes mal compreendido,
e como o apoio e o retorno deixam a desejar. Mas são esses
esforços, são esses pequenos grupos que mantêm acesa a vela
da nossa Sangha.
De coração, eu digo a todas
essas pessoas, muito obrigado.
“Eu estive só, viajando por todo o país de um canto a outro,
por quase três semanas todos os meses, de trem, de avião,
continuamente viajando e não havia muitos problemas. No dia em
que eu iniciei o sannyas, a sociedade ficou alerta. Por que?
Porque criar um campo búdico, criar uma sangha, significa que
agora você está criando uma sociedade alternativa; você não
é mais um indivíduo sozinho, você está reunindo poder, você
pode fazer alguma coisa. Agora você pode criar uma revolução.
Assim, as pessoas querem destruir todas as comunas. Você sabe,
as comunas não têm vidas longas; muito raramente as comunas
sobrevivem, muito raramente. Milhões de vezes, comunas têm
sido criadas, e a sociedade as destrói mais cedo ou mais tarde,
e mais cedo do que tarde...
Atisha
está lhe dando um grande insight. Particularmente para os meus
sannyasins, isso tem que ser lembrado e meditado. O buda está
aqui, a comuna já começou a acontecer e a verdade está sendo
compartilhada. Agora é por sua conta ajudá-la a sobreviver, a
protegê-la, de modo que ela possa viver por muito tempo e
servir à humanidade por muito tempo..”
(Osho – The Book of Wisdom – cap 17)
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