Conexão Brasil                            junho de 2007
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Além da Psicologia  

                                                         por Sw. Ashara 

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      Trabalhar como terapeuta na visão do Osho tem sido uma tremenda experiência de aprendizado para mim. Gostaria de compartilhar um pouco do que compreendi nesses vinte anos trabalhando tão próximo de um Mestre de meditação. 

      Existe um mapa simples que sempre norteia o meu trabalho de terapia. Neste mapa a primeira camada, a mais superficial, é composta pelo complexo corpo-mente. Na segunda camada, mais interna, se encontram todos os processos emocionais, as dores, os traumas, as feridas, e todos os tipos de repressões psico-emocionais. Entre essas duas camadas encontramos uma camada intermediária de resistências e estratégias de defesa que objetivam evitar sentir as dores e as feridas. Na quarta camada encontramos os sentimentos puros, ou sentimentos primários. No centro desse mapa encontramos a nossa essência que contêm qualidades como leveza, paz interior, vazio, silêncio, preenchimento... Osho gosta de chamar esse espaço de estado meditativo ou simplesmente de meditação.

      Compreender esse mapa ajuda bastante entender o que é ser um terapeuta do Osho que, na minha visão, é aquele que faz tudo, ou não faz nada, em certos momentos, com a consciência focada no centro, presente no seu espaço meditativo.

      Osho foi perguntado sobre se podemos resolver nossos problemas indo fundo na meditação ou temos necessidade de voltar ao passado através de uma gama enorme de terapias que conhecemos. Ele respondeu: “Primeiro, não há necessidade absoluta de voltarmos ao passado. Se você realmente medita, tudo será automaticamente resolvido. Mas, se sua meditação não está indo bem, então voltar ao passado pode ser de grande ajuda. (...) Então isto resolverá as dificuldades da meditação, mas isso é um fenômeno secundário e complementar.” Um pouco depois ele diz: “... se um bloqueio vem e você não pode ultrapassar, significa que seu passado está muito entulhado – você terá que voltar ao passado”.

      Se observarmos, Osho está sempre visando abrir espaço interno para a meditação. O terapeuta do Osho não quer simplesmente tratar da sua cabeça, do seu ego, nem melhorar o seu corpo. Ele está sempre de olho no centro, na expansão do seu espaço meditativo.

      Mas, voltando ao nosso mapa. Existem terapias que trabalham focadas no corpo. Quando bem feitas, elas ajudam, pois podem liberar tensões e nós físicos permitindo uma liberação da bioenergia. Um bom exemplo dessa terapia é a Bioenergética de Alexander Lowen e as massagens em geral, que movem, quando bem executadas, a primeira camada.

      O mesmo acontece quando trabalhamos com os processos psíquicos. Mudar alguns padrões psíquicos e condicionamentos mentais ajuda a destravar energias psíquicas que encontram-se congeladas. É bom ressaltar que isto acontece com poucas e boas psicoterapias. A maioria das psicoterapias continua patinando no gelo. Isto é, passam anos sem sair do lugar. Osho compara esses psicoterapeutas com os padres de antigamente. A sala de psicoterapia ocupa atualmente o lugar do confessionário.

      Existem outras terapias que atingem o segundo plano, ou nível emocional. Nesse plano estão as modernas terapias, como o Renascimento, as hipnoses, PNL, Regressão, Avatar e muitas outras. Elas visam chegar à origem dos traumas e curá-los. Quando bem aplicadas elas podem levar a espaços de meditação e relaxamento, mas muitas delas trabalham simplesmente com a reprogramação mental. O Renascimento de Leonard Orr, por exemplo, utiliza o pensamento positivo como principal ferramenta. A PNL e o Avatar usam métodos de reprogramação que são úteis quando queremos atingir determinadas metas no plano material, mas me parecem inúteis quando a meta é o amor ou a meditação.

      Então, que ferramentas utiliza um terapeuta do Osho? A resposta é simples, não importa a ferramenta, o que importa é a consciência de quem a utiliza. Sabemos que na Osho Multiversity ainda hoje são utilizadas dezenas de modernas técnicas de terapia, que sob a supervisão do próprio Osho foram se transformando em verdadeiros diamantes prontos para operar os mais profundos cânceres da alma, com uma única compreensão, a compreensão da meditação.

      Uma outra característica do terapeuta do Osho é que ele próprio vivenciou profundos processos internos de alquimia e meditação e transformou o seu próprio ser num laboratório para sua própria pesquisa, até o momento que ele se sentiu pronto para experimentar no laboratório do outro. Ser terapeuta do Osho é olhar o outro como a si mesmo. É compreender que estamos no mesmo barco e o que eu tenho a mais do que aquele que me pede ajuda é uma ferramenta associada a uma compreensão do que já vivi. Nossos problemas e nossa essência são absolutamente os mesmos.

      Mergulhar na quarta camada, a dos sentimentos primários, como a dor e o abandono, por exemplo, somente pode ser facilitada se o terapeuta já tiver tido experiências semelhantes. Pois esse é o espaço que é rodeado pelo odor da morte psicológica. E é exatamente aí onde acontece o mergulho que vai levá-lo diretamente ao vazio e onde é possível experimentarmos espaços profundos de transformação.

      Penetrar nesses espaços conscientemente é conhecer a chamada experiência mística, transcendental, é ir além da mente, além da psicologia, além da terapia. É ter a experiência do divino, do uno, do imortal. Ou dito de forma  simples experimentar a meditação.

      Gostaria de encerrar com a resposta que Osho deu a um terapeuta que se sentia frustrado quando o cliente abandonava a terapia antes dele sentir que o paciente estava pronto para partir e completa perguntando se ele está querendo brincar de Deus, interferindo com a forma que as pessoas querem viver suas vidas. E Osho responde:

      “Não precisa temer porque você está brincando de Deus. Muitos estão fazendo isto. Ninguém tem o direito de fazer isto. O melhor que você pode fazer é não brincar de Deus, mas ser um amigo verdadeiro.

      O terapeuta tem que ser um amigo verdadeiro. Ele tem que mostrar sua compaixão, seu amor, sua compreensão. Ele tem que fazer com que o paciente sinta que pela primeira vez ele está sendo respeitado como individuo, como um ser humano. Se você começa a brincar de Deus ele é humilhado novamente. Isto é o que ele vem sofrendo por toda a vida no mundo. (...)

      Um terapeuta tem que ser humilde, tem que ser um amigo. Ele não é um padre. Ele não está lá para ditar sua vida. Ele está lá simplesmente para ficar a seus pés. Ele não tem que andar por você. Se você cai, ele está lá para ajudá-lo a se levantar novamente. Mas você tem que andar por si mesmo. Todo mundo tem que andar por si mesmo.”   (Osho).

 

 

 

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