Trabalhar como terapeuta na visão do Osho tem sido uma tremenda
experiência de aprendizado para mim. Gostaria de compartilhar
um pouco do que compreendi nesses vinte anos trabalhando tão próximo
de um Mestre de meditação.
Existe um mapa simples que sempre norteia o meu trabalho de
terapia. Neste mapa a primeira camada, a mais superficial, é
composta pelo complexo corpo-mente. Na segunda camada, mais
interna, se encontram todos os processos emocionais, as dores,
os traumas, as feridas, e todos os tipos de repressões
psico-emocionais. Entre essas duas camadas encontramos uma
camada intermediária de resistências e estratégias de defesa
que objetivam evitar sentir as dores e as feridas. Na quarta
camada encontramos os sentimentos puros, ou sentimentos primários.
No centro desse mapa encontramos a nossa essência que contêm
qualidades como leveza, paz interior, vazio, silêncio,
preenchimento... Osho gosta de chamar esse espaço de estado
meditativo ou simplesmente de meditação.
Compreender esse mapa ajuda bastante entender o que é ser um
terapeuta do Osho que, na minha visão, é aquele que faz tudo,
ou não faz nada, em certos momentos, com a consciência focada
no centro, presente no seu espaço meditativo.
Osho foi perguntado sobre se podemos resolver nossos problemas indo
fundo na meditação ou temos necessidade de voltar ao passado
através de uma gama enorme de terapias que conhecemos. Ele
respondeu: “Primeiro, não há necessidade absoluta de voltarmos ao passado. Se
você realmente medita, tudo será automaticamente resolvido.
Mas, se sua meditação não está indo bem, então voltar ao
passado pode ser de grande ajuda. (...) Então isto resolverá
as dificuldades da meditação, mas isso é um fenômeno secundário
e complementar.” Um pouco depois ele diz: “... se um bloqueio vem e você não pode ultrapassar, significa que
seu passado está muito entulhado – você terá que voltar ao
passado”.
Se observarmos, Osho está sempre visando abrir espaço interno
para a meditação. O terapeuta do Osho não quer simplesmente
tratar da sua cabeça, do seu ego, nem melhorar o seu corpo. Ele
está sempre de olho no centro, na expansão do seu espaço
meditativo.
Mas, voltando ao nosso mapa. Existem terapias que trabalham
focadas no corpo. Quando bem feitas, elas ajudam, pois podem
liberar tensões e nós físicos permitindo uma liberação da
bioenergia. Um bom exemplo dessa terapia é a Bioenergética de
Alexander Lowen e as massagens em geral, que movem, quando bem
executadas, a primeira camada.
O mesmo acontece quando trabalhamos com os processos psíquicos.
Mudar alguns padrões psíquicos e condicionamentos mentais
ajuda a destravar energias psíquicas que encontram-se
congeladas. É bom ressaltar que isto acontece com poucas e boas
psicoterapias. A maioria das psicoterapias continua patinando no
gelo. Isto é, passam anos sem sair do lugar. Osho compara esses
psicoterapeutas com os padres de antigamente. A sala de
psicoterapia ocupa atualmente o lugar do confessionário.
Existem outras terapias que atingem o segundo plano, ou nível
emocional. Nesse plano estão as modernas terapias, como o
Renascimento, as hipnoses, PNL, Regressão, Avatar e muitas
outras. Elas visam chegar à origem dos traumas e curá-los.
Quando bem aplicadas elas podem levar a espaços de meditação
e relaxamento, mas muitas delas trabalham simplesmente com a
reprogramação mental. O Renascimento de Leonard Orr, por
exemplo, utiliza o pensamento positivo como principal
ferramenta. A PNL e o Avatar usam métodos de reprogramação
que são úteis quando queremos atingir determinadas metas no
plano material, mas me parecem inúteis quando a meta é o amor ou
a meditação.
Então, que ferramentas utiliza um terapeuta do Osho? A resposta
é simples, não importa a ferramenta, o que importa é a consciência
de quem a utiliza. Sabemos que na Osho Multiversity ainda hoje são
utilizadas dezenas de modernas técnicas de terapia, que sob a
supervisão do próprio Osho foram se transformando em
verdadeiros diamantes prontos para operar os mais profundos cânceres
da alma, com uma única compreensão, a compreensão da meditação.
Uma outra característica do terapeuta do Osho é que ele próprio
vivenciou profundos processos internos de alquimia e meditação
e transformou o seu próprio ser num laboratório para sua própria
pesquisa, até o momento que ele se sentiu pronto para
experimentar no laboratório do outro. Ser terapeuta do Osho é
olhar o outro como a si mesmo. É compreender que estamos no
mesmo barco e o que eu tenho a mais do que aquele que me pede
ajuda é uma ferramenta associada a uma compreensão do que já
vivi. Nossos problemas e nossa essência são absolutamente os
mesmos.
Mergulhar na quarta camada, a dos sentimentos primários, como a
dor e o abandono, por exemplo, somente pode ser facilitada se o
terapeuta já tiver tido experiências semelhantes. Pois esse é
o espaço que é rodeado pelo odor da morte psicológica. E é
exatamente aí onde acontece o mergulho que vai levá-lo
diretamente ao vazio e onde é possível experimentarmos espaços
profundos de transformação.
Penetrar nesses espaços conscientemente é conhecer a chamada
experiência mística, transcendental, é ir além da mente, além
da psicologia, além da terapia. É ter a experiência do
divino, do uno, do imortal. Ou dito de forma simples
experimentar a meditação.
Gostaria de encerrar com a resposta que Osho deu a um terapeuta
que se sentia frustrado quando o cliente abandonava a terapia
antes dele sentir que o paciente estava pronto para partir e
completa perguntando se ele está querendo brincar de Deus,
interferindo com a forma que as pessoas querem viver suas vidas.
E Osho responde:
“Não precisa temer
porque você está brincando de Deus. Muitos estão fazendo
isto. Ninguém tem o direito de fazer isto. O melhor que você
pode fazer é não brincar de Deus, mas ser um amigo verdadeiro.
O terapeuta tem que
ser um amigo verdadeiro. Ele tem que mostrar sua compaixão, seu
amor, sua compreensão. Ele tem que fazer com que o paciente
sinta que pela primeira vez ele está sendo respeitado como individuo, como um ser humano. Se você começa a brincar de
Deus ele é humilhado novamente. Isto é o que ele vem sofrendo
por toda a vida no mundo. (...)
Um terapeuta tem que
ser humilde, tem que ser um amigo. Ele não é um padre. Ele não
está lá para ditar sua vida. Ele está lá simplesmente para
ficar a seus pés. Ele não tem que andar por você. Se você
cai, ele está lá para ajudá-lo a se levantar novamente. Mas
você tem que andar por si mesmo. Todo mundo tem que andar por
si mesmo.” (Osho).
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