A
segunda pergunta:
O
propósito dos grupos de terapia é levar os participantes
para seus eus naturais? Se for assim, o esforço para ser
natural não é artificial? Se não, qual é a diferença
essencial entre natural e artificial?
O
propósito dos grupos de terapia não é levar os
participantes a seus eus naturais — de modo nenhum. O
propósito é levá-los ao ponto onde possam perceber suas
artificialidades. Ninguém pode levá-lo a seu eu natural;
não pode haver método, técnica ou estratégia que possa
levá-lo a seu eu natural, pois tudo que você faça o
tornará mais e mais artificial
Então
qual é o propósito de um grupo de terapia? Ele
simplesmente o deixa consciente dos padrões artificiais
que você desenvolveu em seu ser, ele simplesmente o ajuda
a perceber a artificialidade de sua vida, isso é tudo. Ao
perceber isso, ela começa a se dispersar. Percebê-la é
aniquilá-la, pois uma vez percebido algo artificial em
seu ser, você não pode persistir com ele por muito mais
tempo. E ao perceber algo como artificial, você também
sentiu o que é natural — mas isso é indireto, vago, não claro. O que é
claro é isto: você percebeu que algo é artificial
em você, e com isso você pode sentir o natural. Ao
perceber o artificial, você não pode apoiá-lo mais. Ele
existe devido a seu apoio — nada pode existir sem o seu
apoio; sua cooperação é necessária.
Se
você coopera, algo existe. Certamente o artificial não
pode existir sem a sua cooperação. A partir de onde ele
obterá a energia? O natural pode existir sem a sua
cooperação, mas o artificial não. O artificial precisa
de constantes suporte, cuidado e controle. Uma vez
percebido que algo é artificial, sua ligação a ele se
torna frouxa, seu punho se abre espontaneamente.
O
grupo não é uma estratégia para abrir o seu punho, mas
simplesmente para ajudá-lo a perceber que o que você está
fazendo não é natural. Nessa própria percepção, a
transformação.
Você
pergunta: O propósito
dos grupos de terapia é levar os participantes para seus
eus naturais?
Não,
este não é o propósito. O propósito é simplesmente
torná-lo consciente de onde você está, do que você fez
a você mesmo — que mal você fez continuamente, e ainda
está fazendo, que feridas você está criando em seu ser.
Em cada uma das feridas está sua assinatura — este é o
propósito do grupo, torná-lo alerta sobre a sua
assinatura, perceber que ela é assinada por você, que
ninguém mais fez isso, que todas as correntes que você
tem à sua volta são criadas por você, que a prisão na
qual você vive é o seu próprio trabalho; ninguém está
fazendo isso para você.
Ao
perceber isto, que “Estou criando minha própria prisão”,
por quanto tempo você pode continuar a criá-la? Se você
quer viver na prisão, esse é um outro caso — mas ninguém
jamais deseja viver na prisão. As pessoas vivem lá
porque pensam: “Os outros estão criando as prisões, o
que podemos fazer?”. Elas sempre ficam atirando a
responsabilidade sobre uma outra pessoa. Através dos
tempos, elas criaram novas e diferentes estratégias, mas
o propósito permanece o mesmo: jogar a responsabilidade
sobre outro alguém.
E
você ficará surpreso com as desculpas que o ser humano
tem tentado encontrar. Antigamente as pessoas costumavam
pensar: “Essa é a maneira que Deus nos fez, então a
responsabilidade é dele — o que podemos fazer? Somos
apenas criaturas, e somos da maneira que ele nos fez.
Temos que viver essa miséria, isso está destinado”.
Esse era um truque. Você se livra de toda
responsabilidade. Mas acontece que quando um truque é
usado por muito tempo, ele se torna um chavão e não
funciona mais; as pessoas ficam fartas dele e começam a
procurar por novas idéias, mas o propósito permanece o
mesmo.
Marx diz que é a sociedade, a estrutura econômica da
sociedade — a exploração, os exploradores, os
imperialistas, os capitalistas, eles estão fazendo o mal,
são a razão. Novamente você se livra da
responsabilidade. O que você pode fazer? A escravidão é
imposta sobre você, você foi feito
miserável. A menos que a revolução venha, nada vai
acontecer. Assim você pode adiar.
E a
revolução nunca vem, ela ainda não aconteceu. Nem na Rússia,
nem na China, nem em lugar algum. A revolução nunca vem,
ela é apenas um adiamento. As pessoas estão tão
infelizes na Rússia quanto em qualquer outro lugar, tão
no lamaçal da mente quanto em qualquer outro lugar. A
inveja, a raiva, a violência são iguais tanto na Rússia
quanto em qualquer outro lugar... nada mudou.
Freud diz que é por causa da educação. Você foi
educado de uma maneira errada em sua infância — o que
você pode fazer? Isso já aconteceu, agora não há como
desfazê-lo. No máximo, você pode aceitar e viver isso,
ou pode continuar a brigar desnecessariamente, mas não há
esperança.
Freud é um dos maiores pessimistas que jamais existiu.
Ele diz que não há esperança para o ser humano, pois o
padrão é estabelecido na infância — e para sempre.
Então você fica repetindo o padrão, e novamente a
responsabilidade é jogada fora. Assim, sua mãe é a
responsável. E a mãe pensa, o que ela
pode fazer? Sua própria mãe é responsável... e
assim por diante.
Essas são todas estratégias, mas o propósito é o mesmo
— diferentes estratégias para o mesmo propósito. Qual
é o propósito? Tirar a responsabilidade de seus ombros.
A
terapia de grupo é para torná-lo consciente que nem Deus
nem a sociedade nem seus pais são responsáveis. Se
houver alguém que é responsável, é você. Um processo de grupo é um martelar neste simples fato: você
é o responsável. E esse martelar tem uma grande
importância, pois quando você entende que “Isso sou eu,
eu próprio estou fazendo mal a mim mesmo”, então as
portas se abrem, há esperança e algo é possível.
A
revolução é possível
através da responsabilidade, da responsabilidade
individual. Você pode se transmutar, pode abandonar esses
velhos padrões. Eles não são o seu destino, mas se você
os aceitar como o seu destino, eles se
tornam o seu destino. É tudo uma questão de apoiá-los
ou não.
E não
estou dizendo que os pais ou a sociedade não fizeram algo
a você, lembre-se. A sociedade, os pais, a educação e
os sacerdotes fizeram muito. Mas ainda assim, a chave
suprema está em suas mãos. Você pode abandonar
isso, pode abandonar todo o condicionamento. Tudo que eles
fizeram, você pode eliminar, pois no cerne mais profundo
sua consciência permanece sempre livre. Esse é o propósito
de um grupo de terapia, trazer esta verdade para casa: você
é responsável.
“Responsabilidade” é a palavra mais
importante num processo de terapia de grupo. Ninguém
deseja assumir a responsabilidade, pois ela machuca. Só
de perceber: “Sou a causa de minha infelicidade”,
machuca muito. Se alguém mais é a causa, a pessoa pode
aceitá-la, a pessoa é impotente. Mas se eu
sou a causa de minha infelicidade, isso machuca, vai
contra o ego, contra o orgulho.
É
por isso que a terapia de grupo é um processo difícil e
árduo. Você quer escapar — dos grupos Encontro, Tao,
Terapia Primal... Por que você quer escapar? Porque você
sempre acreditou que estava perfeitamente certo e bem —
os outros tem prejudicado você.
Agora toda a coisa precisa ser mudada, você precisa
colocar tudo de ponta cabeça. Ninguém está fazendo
nenhum mal a você, e se eles estiverem fazendo, é através
de sua cooperação. Portanto, no final das contas você
é responsável, você escolheu isso. Você diz:
“Meu companheiro está me prejudicando”, mas você
escolheu este companheiro,
e na verdade, somente para que ele possa fazer mal a você.
Você queria se prejudicar, por isso escolheu este
companheiro, esta
companheira.
Observe os homens que ficam mudando de companheiras. Você
ficará surpreso — repetidamente eles encontram o mesmo
tipo de mulher. É difícil encontrar o mesmo tipo de
mulher, mas eles encontram. E dentro de seis meses elas
estão de novo se queixando, e as queixas são exatamente
as mesmas.
Ouvi dizer de um homem que se casou oito vezes, e
repetidamente conseguia encontrar o mesmo tipo de mulher.
Perceba o ponto: ele tem um certo tipo de mente, um certo
condicionamento. Neste condicionamento, somente um certo
tipo de mulher lhe interessa. Uma loira ou uma morena —
um certo tipo de mulher lhe interessa. O nariz comprido,
os olhos escuros, ou qualquer coisa. Ele fica sempre atraído
por um certo tipo de mulher. E então essa mulher começa
a fazer as mesmas coisas, e ele fica perplexo, pois estava
pensando que estava mudando de mulher.
Você
está mudando de mulher, mas não mudou sua mente! Assim, sua
escolha permanece a antiga, pois aquele que escolhe é
antigo. Isso não vai ajudar; você estará na mesma
armadilha. A cor ou o material da armadilha pode mudar,
mas a armadilha está lá, e você será constantemente
pego. E a mesma infelicidade surgirá.
Terapia de grupo é um grande processo de entender “O
que fiz para mim mesmo!”. E se você for ainda mais
fundo... onde nenhum grupo de terapia já foi, nem mesmo a
terapia primal. Mas Buda foi mais fundo; ele diz: “Se
você escolheu um certo tipo de pais, isso também é sua
escolha”.
Perceba o sentido. Milhões de tolos estavam fazendo amor
quando você estava pairando para nascer. Mas você
escolheu um certo casal — por quê? Você deve ter uma
certa idéia; trata-se de sua escolha. E então você diz:
“Meus pais me prejudicaram”. Em primeiro lugar, por
que você os escolheu? Então sua companheira, seu
companheiro... e você acha que eles causaram dano? Então
a sociedade — quem criou esta sociedade? Você
a criou! Ela não vem do nada.
O
mendigo na rua não aparece de repente do nada. Nós
o criamos. Se você quer ser rico, alguém tem que ser
mendigo. E ao ver o mendigo você lamenta muito. A quem
você está tentando enganar? E você ainda carrega a idéia
de ficar rico. Se você quer ficar rico, alguém vai ser
mendigo. Se você quer se tornar alguém, então alguém não
será capaz de alcançar essa fama, esse nome. Este é um
mundo competitivo. Você não quer guerras, mas você é
violento — em tudo. E você condena as guerras.
E
você viu os pacifistas e suas passeatas? Quão violentos
eles parecem! Seus slogans, seus gritos contra
a guerra — e mais cedo ou mais tarde a passeata se
transforma num tumulto. E eles estão queimando carros,
destruindo lojas, incendiando ônibus e trens, atacando a
polícia... e eles foram para protestar contra a guerra!
Ora, o que está acontecendo? Essas são pessoas
violentas; a guerra é apenas uma desculpa. Seus protestos
nada mais são do que suas expressões de violência. Eles
não estão preocupados com a guerra, e a estão usando
como um pretexto.
Esta sociedade é criada por você, e então você diz que
a sociedade é responsável.
Ninguém é responsável,
exceto você.
Esta é uma das verdades mais difíceis de aceitar, porém
quando você a aceita, ela traz grande liberdade e cria
grande espaço, pois com isso, uma outra possibilidade
imediatamente se abre: “Se eu sou responsável, então
posso mudar. Se eu não for responsável, como posso
mudar? Se eu próprio estou fazendo isso, então isso
machuca, mas também traz uma nova possibilidade — posso
parar de me ferir, posso parar de ser infeliz”.
Um
processo de grupo não é para torná-lo natural, mas para
torná-lo ciente de sua falta de naturalidade, de sua
falsidade.
O
propósito dos grupos de terapia é levar os participantes
para seus eus naturais?
Não,
de modo nenhum. O propósito é apenas deixá-los cientes
do eu não-natural. E então o eu natural vem
espontaneamente. Ninguém pode trazê-lo — quando o
artificial desaparece, o natural é encontrado. O natural
sempre esteve presente, oculto sob o lixo. Uma vez ido o
artificial, você é natural. Você não se torna natural;
você sempre foi natural. Como alguém pode se tornar
natural? Todo o tornar-se o levará à artificialidade.
Se
for assim, o esforço para ser natural não é artificial?
Sim,
o esforço para
ser natural sempre é artificial. Mas entender a
artificialidade não é o esforço para ser natural; é
simplesmente entender. Ao perceber que você esteve
tentando tirar óleo da areia, quando você percebe a
inutilidade disso, você abandona todo o projeto. Ao
perceber que você estava tentando atravessar uma parede e
machucou sua cabeça, ao perceber isso, você pára de
tentar. Você começa a procurar pela porta.
Sim, é exatamente assim.
Se
não, qual é a diferença essencial entre natural e
artificial?
Natural
é aquilo que lhe foi dado como uma dádiva — uma dádiva
do todo. O artificial é aquilo que você criou — por
ensinamentos, escrituras, caráter, moralidade. O
artificial é aquilo que você impôs sobre o natural, o
dado. O natural é de Deus, o artificial é de você
mesmo. Tire tudo que você impôs sobre você mesmo, e
Deus explodirá em mil flores em seu ser.
Alguém pergunta a Jesus: “Qual é a sua mensagem
fundamental?”. E ele responde: “Pergunte ao peixe, à
ave e à flor”.
O
que ele quer dizer com isso? Ele está dizendo: Pergunte
à natureza!
Minha mensagem é: Permita que a natureza tome posse de
você; não tente criar nenhum caráter. Todos os caráteres
estão errados. Seja sem
caráter. Não crie nenhum tipo de personalidade; todas as
personalidades são falsas. Não seja uma personalidade.
Então,
lentamente você perceberá algo surgindo do cerne mais
profundo do seu ser. Isso é natureza, e sua fragrância
é notável; ela é boa, jamais ruim. E ela não é
cultivada, de maneira nenhuma. Daí ela não ter qualquer
tensão em si, nenhuma ansiedade; você não precisa mantê-la.
A
verdade não precisa ser mantida. Somente mentiras
precisam ser arranjadas, mantidas, precisam muito cuidado
e manutenção; e ainda assim elas são mentiras e nunca
se tornam verdades. E somente a verdade liberta.
A
terapia disponível aqui não é para torná-lo natural.
Ninguém pode fazer você natural — Deus já fez isso. O
problema não é aprender a ser natural, mas como
desaprender o artificial.
OSHO - Take It Easy - pergunta nº 2 do
discurso nº 12
Tradução: Sw. Anand Nisargan
Copyright
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