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Conexão
Brasil novembro de 2004 |
Sw. Abodha, um
dois coordenadores do Osho Sukul
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Sw. Prem Abodha é um dos coordenadores do Centro
de Meditação Osho Sukul, do Rio de Janeiro. Ele tem
conduzido um trabalho cujo propósito básico é o
acesso à criança interior através do eneagrama. O
Eneagrama é um conhecimento milenar precioso no
processo de compreensão da realidade humana.
Nesta edição do Osho Conexão Brasil, em que o tema
criança aparece, de alguma forma, permeando todas as
seções, Abodha nos fala um pouco sobre esse seu
trabalho com a Criança Interior. |
Trabalhando com a criança Interior
Normalmente, quando ouvimos falar em ‘criança
interior’ temos imediatamente a idéia de algo inocente, puro,
natural, espontâneo, belo. Sempre que anunciamos o trabalho que
fazemos com
a criança interior, dentro do processo de Osho Co-dependency (1), muitas pessoas nos procuram com a idéia de que estamos oferecendo
uma vivência desse espaço original, genuíno, imaculado,
perdido em nossa infância.
Inicialmente o trabalho não é bem esse, embora o
contato com essa parte pura,
verdadeira, real, possa acontecer em diferentes momentos do
processo. Sabemos por diversas fontes que em nossa jornada de evolução
do espírito, temos que nos tornar finalmente ‘como uma criança’.
Em “Zarathustra,
a God that Can Dance” Osho comenta as três fases da
metamorfose do espírito - o camelo, o leão e a criança. A
criança é o último estágio: o sim sagrado, a confiança, a
inocência, que conduzem ao último pico da consciência, à
divindade.
Jesus dizia: “A menos que você nasça novamente como
uma criança...”. Quando
Osho comenta essas palavras de Jesus, ele chama especialmente
nossa atenção para um ponto:
“Lembre-se, ele não está dizendo ‘exatamente como
uma criança’, mas ‘como uma criança’ – algo semelhante
à consciência da criança. Mas isso não significa que você
seja tão ignorante como uma criança; você é simplesmente
inocente como uma criança, mas não ignorante como uma criança.”
(2)
Osho diz que precisamos nos lembrar dessas duas coisas
sobre a experiência de ser uma criança: que a infância tem
duas dimensões – a ignorância e a inocência; e que essas duas dimensões não
devem ficar misturadas:
“Quando dizemos ‘você deve nascer novamente como uma
criança’, é uma coisa; e quando queremos condenar alguém, nós
dizemos: ‘Não se comporte de uma maneira infantil!’.
Essa
‘maneira infantil’ não é o mesmo que ‘como uma criança’.
A maneira infantil abarca apenas a parte ignorante da criança,
e ‘como uma criança’
abarca apenas a parte inocente da criança”.
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O trabalho com a ‘criança interior’
tem por objetivo justamente trazer à consciência esse
comportamento infantil, que governa nossas vidas nos trazendo
dor, incompreensão, frustrações e sofrimentos desnecessários.
Fazendo a distinção nítida entre essas duas dimensões de
‘ser uma criança’, podemos, durante o processo do trabalho,
identificar e compreender a ‘maneira infantil’ que domina
nosso relacionamento conosco mesmos, com o(s) outro(s) e com a
vida. Descobrimos que em nosso interior temos uma criança
ferida, carente de atenção, rejeitada, cheia de medo e de
desconfiança.
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Foto de Gabriel
Oliveira
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E o passo seguinte é aprender a acolher essa criança,
aprender a se relacionar amorosamente com essa parte frágil,
apreensiva, machucada que existe dentro de todos nós. De outra
forma não temos como curar as feridas internas e, assim, não
podemos parar de reagir e nos perdemos de nós mesmos em
conflitos, ofensas e desentendimentos. Sofremos sentimentos de
rejeição, de incompreensão, de desconfiança, de vergonha.
Inconscientemente assumimos papéis a fim de obtermos amor e
aprovação, e sabotamos o amor e as relações com velhos hábitos
de acusar, controlar, exigir, se isolar, se fechar...
E, vivendo dessa ‘maneira infantil’, permanecemos
vendo o mundo, as pessoas e a nós mesmos, não como tudo isso
é na realidade, mas sim como quando éramos crianças, vivendo
na maior parte do tempo num estado mental infantil, totalmente
identificados com os sentimentos e visões de nossa criança
interior. Vivemos com medo da intimidade, temos dificuldades de
estabelecer limites ou até mesmo de expressar nossas
necessidades com naturalidade e clareza.
Assim, o trabalho com a criança interior parte da
compreensão de que temos de crescer, amadurecer, nos afirmar
enquanto ser, ganhar autoconfiança e respeito por si mesmo; só
então poderemos chegar, um dia, ao ponto de nos tornarmos
‘como uma criança’, readquirir as qualidades da alegria, do
puro amor, da inocência e da transparência de uma criança.
“O verdadeiro sábio novamente torna-se uma criança. O
círculo se completa – da criança de volta à criança. Mas a
diferença é grande. A criança, como tal, é ignorante. Ela
terá de passar pelo camelo, pelo leão, e voltar novamente à
criança; e esta criança não é exatamente a velha criança,
porque ela não é ignorante. Ela se moveu pelas experiências
da vida: da escravidão, da liberdade, do sim impotente, do não
feroz e, ainda assim, deixou tudo para trás. Não é ignorância, mas inocência. A primeira criança
era o início da jornada. A segunda infância é a conclusão da
jornada.”(3)
Sw.
Prem Abodha
abodha@centroin.com.br
www.iis.com.br/~samashti
(1)
O trabalho de Osho Co-Dependency foi desenvolvido por Sw.
Krishnananda ( Dr. Thomas Trobe), na Osho Commune, na Índia, e atualmente vem
sendo aplicado nas mais diferentes partes do mundo por ele mesmo
e por muitos outros saniássins que fizeram, com ele, sua formação.
(2)
Osho, Satyam, Shivam, Sundram,
# 22
(3)
Osho, Zarathustra, A God That
Can Dance, # 7
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