Esta
palestra foi extraída do Capítulo 10 do livro
"Extase: A Linguagem Esquecida", publicado
em português pela Editora Global/Ground em 1982.
Esgotado, não foi reeditado.
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A
Escolha é sua
Osho,
Você
é a única pessoa iluminada neste ashram? Caso seja, é
impossível iluminar-se ou ficar iluminado perto de uma
pessoa iluminada?
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“Desde
que me tornei iluminado, nunca mais encontrei alguém que
não fosse iluminado. Você só vê aquilo que é. Antes
de me iluminar, acontecia o mesmo comigo – o mundo todo
me parecia adormecido, na escuridão, na morte, não
iluminado, porque você está sempre se refletindo em todo
lugar. Todas as pessoas são apenas espelhos; você vê a
si mesmo. Portanto, não se preocupe com os outros; pense
em si mesmo. Este deve ser o seu problema.
Os outros não são
problemas seus. Se são iluminados ou não, o que lhe
interessa? Por que você teria que se preocupar? Se alguém
quer permanecer não iluminado, é absolutamente da conta
dele decidir sobre isso. Se quiserem, brincar com o jogo
de não serem iluminados, está perfeitamente bem. Se você
estiver cansado do mundo, cansado de sua angústia e
ansiedade, e compreender que agora é hora de acordar, então
não há dificuldade. Ninguém pode impedi-lo. A decisão
de jogar como um ser não iluminado ou jogar como um ser
iluminado é somente sua. É só uma questão de decisão
interior.
Num único momento, num
golpe, você pode se tornar iluminado. Não é um processo
gradual, pois a iluminação não é algo que você tenha
de inventar. É algo a ser descoberto. Já está aí. Não
é uma coisa que você tenha de manufaturar. Se tivesse de
manufaturar, é claro que levaria tempo; mas já está aí.
Feche os olhos e sinta. Fique em silêncio e prove o
sabor. A sua própria natureza é o que chamo de iluminação.
Iluminação não é algo alheio, algo que está fora de
você. Não está em nenhum outro lugar do tempo e do espaço.
É você, é o seu próprio centro.
Eu estava hospedado na casa de Mulla Nasrudin. Uma manhã,
quando tomávamos chá, a mulher de Mulla lhe disse,
‘Mula você me xingou terrivelmente esta noite enquanto
dormia’. Mulla Nasrudin riu e disse: ‘Quem estava
dormindo?’
Você não
está dormindo. Tudo o que você está fazendo é o que
escolheu fazer; a escolha é sua. E insisto em que a
escolha é sua, pois sendo sua pode ser abandonada
imediatamente, no momento em que você estiver pronto para
escolher outra coisa. Você escolheu que a sua vida fosse
dessa maneira – de angústia e de agonia.
Você certamente perguntará:
‘Por que alguém escolheria uma vida de angústia, de
agonia, de ansiedade , de dor e de sofrimento? Por que?
Por que escolheria uma vida de sofrimento?’ Existem razões,
grandes razões, por trás disso: porque você só pode
existir no sofrimento. No êxtase, você desaparece.
Somente na dor você pode existir como entidade. Na graça
você se perde, assim como uma gota se perde no oceano.
Você teme perder-se a si mesmo; e por isso escolheu os
caminhos da agonia. Eles criam o ego; quanto mais você
sofre, mais sente que existe. Sofrer lhe dá uma definição.
Faz com que você se sinta sólido; dá a sensação de
que você está separado do todo. É por isso que você
escolheu esse caminho. Ninguém escolhe a dor e o
sofrimento diretamente. Indiretamente você escolhe ser
egoísta. Por isso tem de escolher o sofrimento: sem
sofrer você não pode ser egoísta. O ego não pode
existir sem um mar de sofrimento ao seu redor. O ego é
como uma ilha num mar de sofrimento.
Você está gostando do seu
ego. Está fortalecendo-o constantemente, enfeitando-o,
tornando-o mais valioso. Essa escolha é sua.
Quando puder ver que o ego
está profundamente ligado ao sofrimento e que sem sofrer
ele não pode existir, então, se você não quiser
sofrer, terá de abandoná-lo, esquecer tudo sobre a
linguagem do ego. A linguagem do ego é a linguagem da
agonia. E então as coisas serão muito mais simples.
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Ouvi
contar:
Um garotinho, sentindo-se aflito no primeiro dia de
escola, levantou a mão a fim de pedir permissão para ir
ao banheiro. Voltou logo depois dizendo que não o havia
encontrado. Despachado uma segunda vez, agora com uma direção
explícita, ainda assim não conseguiu encontrá-lo. Na
terceira vez, a professora pediu a um aluno mais velho que
o acompanhasse. O sucesso coroou seus esforços.
‘Finalmente encontramos’, contou o mais velho à
professora. ‘Ele estava usando as calças de trás para
a frente.’
Esta é
a situação. Vocês são seres iluminados, só que as
suas calças estão de trás para a frente. Você precisa
de um rapaz mais velho para guiá-lo, só isso. É para
isso que serve um Mestre.
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Nada está faltando; nada pode estar
faltando. Você nasceu iluminado. Depois escolheu uma vida
de sofrimento e agonia. Você pode viver iluminado e pode
morrer iluminado. Depende de você. É uma questão de
pura escolha.
‘Você é a única
pessoa iluminada neste ashram?’ Neste ashram você não encontrará nem uma planta que não seja
iluminada.
‘Caso seja, é
impossível iluminar-se ou ficar iluminado perto de uma
pessoa iluminada?’ Não é uma questão de estar
perto de uma pessoa iluminada. Se você não quiser
escolher, poderá permanecer aqui para sempre e não
escolherá nunca. Se escolher ser iluminado, poderá se
iluminar em qualquer lugar.
Eu sou
necessário, um Mestre é necessário, porque o seu desejo
de se tornar iluminado não é tão forte, não é muito
intenso. Você não sente a urgência, não tem sede
suficiente para isso. Não é a sua prioridade. Talvez
esteja em algum item de sua lista de compra – quase no
final. Se sobrar algum dinheiro, se sobrar algum tempo e
as lojas continuarem abertas, aí você verá. Mas não é
prioritário. Primeiro vem o mundo e depois vem Deus. É
claro que assim você nunca chegará a Deus, pois o mundo
é vasto – uma coisa leva a outra e assim por diante.
Deus tem de ser a sua prioridade. Eu sou necessário
apenas para ajudá-lo a pôr Deus na sua lista como uma
prioridade, só isso. Se você mesmo puder fazer isso, então
poderá se iluminar em qualquer lugar.
Tornei-me iluminado sem
nenhum Mestre, portanto pode não haver qualquer problema
para você. Se pôde acontecer comigo, pode acontecer com
você. O Mestre não é uma necessidade. Tornou-se uma
necessidade porque você é letárgico, sem vontade de
mover-se para o êxtase; isto porque você está ligado
demais aos caminhos do sofrimento e da angústia.
Você se tornou tão
agarrado à prisão, que não quer sair dela. Mesmo que as
portas fiquem abertas, você não foge. Fica enganando a
si mesmo sem olhar para a porta. Fica fingindo que a porta
está fechada e os guardas estão lá. Mas você quer
ficar na prisão; está preso demais. Investiu muito nessa
prisão. Na verdade, você começou a ver a prisão como
seu lar. O mundo exterior parece estranho e selvagem e você
sente medo.
As pessoas têm medo da
liberdade e temem conhecer a vida mais profundamente. As
pessoas têm medo de amar, têm medo de ser. Viveram muito
tempo na escuridão, agora temem a luz – com medo, elas
não são capazes de abrir os olhos; com medo, elas estão
ofuscadas, seus olhos quase destruídos; com medo, porque
suas vidas na escuridão tornaram-se rotinas
estabelecidas. É seguro. Por que arriscar? Por que ir
para o desconhecido e inexplorado?
A escuridão tornou-se
muito familiar; de outro modo, você poderia se tornar
iluminado em qualquer lugar. É o seu tesouro. Você pode
reclamá-lo a qualquer momento. É surpreendente que não
o tenha reclamado até agora.
E lembre-se: ninguém pode
iluminá-lo contra a sua vontade. Se você decidiu ficar
como é, então não há possibilidade; Todos os Budas,
todos os Cristos e todos os Krishnas juntos não poderão
fazer nada – e você continuará o mesmo que é. De
certa maneira é bom que seja assim. Se pudesse ser
iluminado por outra pessoa, contra a sua vontade, então a
iluminação não teria muito valor. Não poderia ser uma
liberdade. Se você pudesse ser forçado a iluminar-se,
então seria uma escravidão, um cativeiro, um novo
cativeiro.
Não, a escolha é
absolutamente sua! Escolha ou não escolha, mas, lembre-se
sempre, a responsabilidade é sua.
Existem muitas pessoas que
se rendem a um Mestre só para deixarem de se sentir
responsáveis. É um tipo errado de rendição. Render-se
significa: ‘Estou pronto para cooperar’, só isso. Não
significa: ‘Agora você é responsável, e se eu não me
tornar iluminado você será responsável por isso’. Então,
mesmo que haja rendição, nada acontecerá, porque em
primeiro lugar a rendição aconteceu por razões erradas.
Quando você chega para ser
iniciado por mim, todo o significado da iniciação é:
você me diz, ‘estou pronto’, diz, ‘não impedirei
os seus esforços. A sua ajuda será bem-vinda. Se você
bater à minha porta me encontrará pronto para recebê-lo.
Estou pronto para hospedá-lo; cooperarei; meu sim é
total’. Este é o significado do sannyas, é o que
significa render-se. ‘Não direi não; não resistirei,
não lutarei com você’. Não é livrar-se da
responsabilidade, mas simplesmente abandonar a resistência.
Não abandonar a responsabilidade, mas só a resistência.
E quando a resistência é abandonada, as coisas começam
a acontecer por si mesmas. Eu sou apenas uma desculpa.
Um Mestre é, exatamente, o
que os cientistas chamam de agente catalisador. Ele não
‘trabalha’; a sua presença é suficiente. Ajuda
simplesmente por estar presente. Na realidade, um Mestre não
pode fazer nada por você, mas a sua presença… Você
sente mais confiança. Confia em mim porque não pode
confiar em si mesmo. Se pudesse confiar em si mesmo, não
haveria necessidade. Se você se bastasse, não haveria
necessidade. Se você não se basta, não sente confiança
suficiente, não se sente capaz de escolher o certo, não
sente que está se movendo na direção certa, então a
rendição ajuda muito. Confiar em alguém que você sente
que sabe, que você sente que o ama, não o prejudicará;
alguém que você sente que tem mais do que você. Confie
nele. Segure em suas mãos.
Tudo o que acontece,
acontece sempre dentro de você – e acontece sem que o
Mestre faça nada. A iluminação não é algo que possa
ser ‘feito’ por alguém. Você apenas relaxa e confia,
e ela começa a surgir em você.
É esperar pelo momento em que você possa dizer
sim. Se você disser sim ao todo, ótimo, não há
necessidade de um Mestre.
Se você não puder dizer
sim a todo o céu – pode parecer vasto demais – diga
então a uma janela. O Mestre é uma janela; abre-se para
o céu. Leva-o para o céu. O Mestre é só uma passagem.
Passe pelo Mestre confiando, amando, rendendo-se, e as
coisas começarão a acontecer.
OSHO –
Êxtase: A Linguagem Esquecida –Cap. 10 – pergunta 1
Tradução: Ma Deva Sandhya, Ma Prem Arsha, Ma Prem
Komala,
Swami Anand Shunyo.
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Suiça.
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