alguém morre e você começa a chorar.
Imediatamente, algum sábio vai lhe dizer: “Não seja
emotivo; a morte é uma coisa natural, acontece a todo
mundo. Não há nada nela. E não é másculo... – lágrimas...!?
Você é uma mulher?”.
Mesmo a garotos pequenos se diz: “Não seja
maricas!”. Seus
pais morreram e eles não podem chorar, porque isso os
deixaria expostos... – eles não seriam homens, fortes,
não-emotivos, corajosos, que podem encarar tudo.
Esse choro e lágrimas são permitidos às
mulheres.
Mas isso não quer dizer que essa afirmação é
verdadeira somente em relação aos homens e não às
mulheres. Ela é mais verdadeira quanto aos homens, mas
também é verdadeira quanto às mulheres. Elas também vão
suprimindo suas tristezas, suas misérias, de modos
diferentes. Apenas o modo é diferente. Elas se distraem
com suas jóias, com a televisão, fazendo compras, indo
daqui para ali, falando sem parar: “yakety-yak,
yekety-yak...”. Elas estão evitando algo, fugindo
de algo. Elas não querem ver aquilo; elas querem se
esquecer das feridas que existem dentro.
Assim, de certo modo, elas são felizes, mas não
realmente. Os verdadeiramente afortunados são aqueles
sobre quem Gurdjieff diz:
“(...) um homem que por vontade própria assumiu a
extraordinária e desnecessária sobrecarrega do trabalho(...)
Olhe
para suas palavras: nenhum mestre foi capaz de fazer tais
afirmações... – é por isso que ele foi o homem mais
mal compreendido que se possa imaginar. Ele está dizendo:
“Um homem que por vontade própria assumiu a
extraordinária e desnecessária sobrecarrega do
trabalho...”. E por “o
trabalho” ele quer dizer cavar dentro da sua inconsciência,
indo tão fundo quando possível. A menos que você
alcance a verdadeira fonte da sua vida, você terá de
sofrer muito.
É desnecessário,
diz ele, porque você pode viver como um homem comum.
Ninguém o está obrigando. É extraordinário,
porque as pessoas comuns vão à igreja, não para dentro
de si mesmas. Elas lêem a
Bíblia,
elas não lêem seus próprios inconscientes. Elas fazem
adoração no templo, mas elas não se expõem na meditação.
Gurdjieff
costuma dar o nome de “trabalho”, porque ele é
assumido somente por pessoas muito inteligentes,
corajosas, fortes – pela simples razão de que você
pode viver sem entrar em tudo isso, você pode apenas ser
um agente ferroviário por toda a sua vida, ou um
negociante, ou um funcionário, ou um padre. Não há
nenhuma necessidade de se entrar em tal sofrimento e
tristeza.
Mas
você não escapará disso. Mesmo na sua próxima vida,
isso continuará, e acumulará mais sofrimento desta vida.
Cada vida, camada após camada, vai coletando tudo que não
foi vivido, expresso, que ficou inacabado, não-vivido, o
reprimido.
No
budismo – e talvez somente no budismo – há uma técnica
para se descobrir quantas vidas você já viveu antes. E o
modo é contar as camadas – da mesma forma que ao cortar
a árvore você sabe da vida da árvore pelos círculos,
quantos anos ela tem, porque a cada ano um círculo é
feito. Assim, se a árvore tem duzentos anos de idade, você
encontrará duzentos círculos na madeira.
Exatamente
do mesmo modo, cada vida deixa um círculo de sofrimento e
tristeza dentro de você. Isso pode ser contado, a quantas
vidas você vem reprimindo, quantas vidas você viveu
antes. Mas, quanto mais você viveu, mais difícil se
torna entrar no seu reino interior.
O
sacerdote comum, o pregador vão falando sobre coisas
lindas – boas ações, virtude, caridade,
compartilhar... e você entrará no reino de Deus. Não é
tão fácil assim. Primeiramente, você tem de acabar com
todo o seu inconsciente. E esse inconsciente é o que os místicos
chamam de “a noite escura da alma”.
Somente
gente muito inteligente assumirá essa carga desnecessária,
porque:
“somente
ele sabe o sabor da verdadeira tristeza e do mal do coração,
pois ele sofrerá a dor e as pressões que a vida
comumente não requer.”.
Você
pode viver muito superficialmente, você pode evitar a
noite escura da alma, mas se você evitar a noite escura
da alma, você estará evitando todos os seus tesouros.
Você estará evitando o próprio significado da sua vida
e existência. Desse modo, o homem inteligente assume o
desafio e entra no túnel escuro, que parece ser sem fim.
Mas ele termina um dia. Se você for com coragem, sabendo
que pessoas foram além dele – essa é a beleza de se
estar com um mestre, porque você sabe que, pelo menos, um
exemplo está diante de você e com você, alguém que está
esperando fora do túnel e que o está chamando
constantemente para entrar no túnel... porque, a menos
que você entre, você não pode sair dele. Não há como
se desviar dele.
Há
milhares de impostores no mundo, e o trabalho deles é o
de lhes dizer como se desviar da escuridão e do
sofrimento e da tristeza e simplesmente tornar-se
iluminado. Basta uma meditação transcendental, repetindo
um certo nome, e você se tornará uma alma realizada. Não
há nenhuma conexão nisso, não há nenhum trabalho autêntico.
O que acontecerá ao seu inconsciente? O que acontecerá
ao seu inconsciente coletivo? Você está tentando
desviar-se deles, simplesmente abandonando-os. Esse não
é o caminho.
O
caminho vai através deles.
Você tem de cortá-los e passar através deles, sabendo
perfeitamente que há alguém com você que já os
atravessou e foi além.
Não que você precise, como uma absoluta
necessidade, da presença de um mestre. Se você tem o
coração e a confiança, até mesmo um Gautama Buda, de
vinte e cinco séculos atrás, servirá. Depende da sua
confiança, porque sempre houve pessoas, por todo o mundo,
confirmando isto: “Simplesmente entre atentamente na
escuridão do inconsciente, acordado, alerta, porque esse
é o único modo de se passar através disso.”. A consciência
é a única ponte entre você e o seu supremo
florescimento.
OSHO – The Mystic Rose - Cap. 14
Tradução:
Ma Anand Samashti
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION,
Suiça.
Todos os direitos reservados
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