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Conexão
Brasil
dezembro de
2007
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Sem
Zorba não há Buda
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Querido
Osho,
É
realmente possível o encontro de Zorba e Buda? Se
assim for, por que outros líderes religiosos nunca
pensaram a esse respeito?
A primeira coisa a ser entendida: eu não sou um líder
religioso. Um líder religioso não consegue pensar nem
ver da maneira como posso – pela simples razão que ele
tem um imenso investimento na religião e eu não tenho.
(...)
Os
líderes religiosos não podiam ter pensado no encontro de
Zorba e Buda porque isso teria sido o fim da liderança
deles e o fim de suas chamadas religiões. Zorba, o Buda
é o fim de todas as religiões. Ele é o início de um
novo tipo de religiosidade que não precisa de rótulo –
cristianismo, judaismo ou budismo. A pessoa simplesmente
curte a si mesma, curte este imenso universo, dança com
as árvores, brinca na praia com as ondas do mar,
coleciona conchinhas do mar sem qualquer propósito –
apenas por pura alegria. A maresia, a areia fresca, o sol
nascente, uma boa corrida – o que mais você quer?
Para
mim, isto é religião – curtir o ar, curtir o mar,
curtir a areia, curtir o sol – porque não existe outro
Deus além da própria existência.
Zorba, o Buda, por um lado, é o fim do velho
homem – de suas religiões, suas políticas, suas nações,
suas discriminações raciais e todos os tipos de
estupidezes. Por outro lado, Zorba, o Buda é o início de
um novo homem – um homem totalmente livre para ser ele
mesmo, permitindo sua natureza desabrochar. Não existe
conflito algum entre Zorba e Buda. O conflito foi criado
pelas chamadas religiões.
Existe
algum conflito entre seu corpo e sua alma? Existe algum
conflito entre a sua vida e a sua consciência? Existe
algum conflito entre a sua mão direita e sua mão
esquerda? Todos eles são um em uma unidade orgânica.
O
seu corpo não é algo a ser condenado, mas sim algo ao
qual se deve estar agradecido, porque ele é uma das
grandes coisas da existência, a mais milagrosa; o seu
funcionamento é simplesmente inacreditável. Todas as
partes de seu corpo funcionam como uma orquestra. Os seus
olhos, as suas mãos, as suas pernas têm uma comunhão
interna. Não acontece de seus olhos quererem ir para o
leste e suas pernas irem para o oeste, ou que você esteja
faminto, mas sua boca se recuse a comer: a fome está no
estômago, e o que isto tem a ver com a boca? - a boca está
fazendo greve. Não, o seu corpo não tem conflito algum.
Ele se move com uma sincronicidade interna, sempre
junto.
E
sua alma não é algo oposto ao seu corpo. Se o seu corpo
é a casa, a alma é a sua hóspede. E não há qualquer
necessidade do hóspede e o anfitrião brigarem
continuamente. Mas as religiões não conseguiriam existir
sem que você brigasse consigo mesmo.
A
minha insistência em sua unidade orgânica, para que o
seu materialismo não seja mais oposto ao espiritualismo,
é basicamente para demolir todas as religiões sobre a
terra. Uma vez que seu corpo e sua alma comecem a se mover
de mãos dadas, dançando juntos, você se torna Zorba, o
Buda. Então você pode curtir tudo desta vida, tudo o que
está fora de você, e também pode curtir tudo o que está
dentro de você.
Na
verdade, o dentro e o fora são dimensões totalmente
diferentes; eles nunca entram em conflito. Mas, milhares
de anos de condicionamento, de que se você quiser o
interior tem que renunciar ao exterior, criaram raízes
profundas em você. Do contrário, isto é uma idéia tão
absurda... Você tem que desfrutar o interior – E qual o
problema em desfrutar o exterior? O desfrute é o mesmo;
este é o elo de ligação entre o interior e o exterior.
Ouvir uma bela canção, ou ver uma grande pintura,
ou assistir um dançarino como Nijinski – isto está do
seu lado de fora, mas não é de jeito algum uma barreira
para o seu desfrute interior. Ao contrário, é uma grande
ajuda. A dança de Nijinski pode despertar uma qualidade
dormente de sua alma de modo que você também possa dançar.
A música de um Ravi Shankar pode começar a tocar nas
cordas de seu coração. O exterior e o interior não estão
divididos. É uma só energia, dois polos de uma existência.
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Zorba pode se tornar Buda mais facilmente que o
papa polaco. Não há qualquer possibilidade do papa
polaco, nem dos seus chamados santos, se tornarem
realmente espirituais. Eles nem mesmo conhecem as alegrias
do corpo. Como você pode achar que eles serão capazes de
conhecer as verdadeiras alegrias sutis do espírito?
O corpo é a escola onde você aprende a nadar em
águas rasas. E uma vez que você tenha aprendido a nadar,
então não interessa qual a profundidade da água. Então
você pode ir para a parte mais profunda do lago; tudo será
a mesma coisa para você. (...)
Mas é preciso lembrá-lo a respeito da vida do
Buda. Até os seus vinte nove anos, ele era um puro Zorba.
Ele tinha disponível, às dúzias, as melhores garotas de
seu reino. Todo o seu palácio era cheio de música e dança.
Ele tinha as melhores comidas, as melhores roupas, belos
palácios para viver, jardins fantásticos. Ele vivia mais
profundamente que o pobre Zorba o Grego. |
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Zorba
tinha apenas uma Babulina – uma mulher velha e enrugada,
uma prostituta que tinha perdido todos os seus clientes.
Ela tinha dentes e cabelos postiços – e Zorba era seu
cliente somente porque ele não tinha como pagar. E você
o chama de Zorba? – Você se esqueceu completamente dos
vinte e nove anos da vida do Buda que era muito mais
rica.Dia sim, dia não, ele vivia no luxo, cercado por
tudo que ele podia imaginar. Ele estava vivendo numa terra
de sonhos. Foi essa experiência que o tornou um Buda.
Isto não tem sido analisado desta maneira. Ninguém se
preocupa com a primeira parte de sua vida – que é a
verdadeira base.
Ele
ficou enfastiado daquilo. Ele experimentou todas as
alegrias do lado de fora, agora ele queria algo mais, algo
mais profundo, que não estava disponível no mundo
exterior. Para ir ao mais profundo você tem que se lançar
para dentro de si. Com a idade de vinte e nove anos ele
deixou o palácio à noite em busca do interior. Era o
Zorba partindo em busca do Buda.
Zorba
o Grego nunca se tornou um Buda pela simples razão que a
sua qualidade de Zorba estava incompleta. Ele é um belo
homem, cheio de vivacidade, mas um pobre homem. Ele quer
viver a vida em sua intensidade, mas ele não tem
oportunidade de vivê-la. Ele dança, ele canta, mas ele não
conhece as nuances mais altas da música. Ele não conhece
a dança na qual o dançarino desaparece.
O
Zorba no Buda conhecia as partes mais altas e mais
profundas do mundo exterior. Conhecendo tudo isso, ele
estava pronto agora para continuar uma busca mais
interior. O mundo é bom, mas não é bom o suficiente;
algo mais é necessário. Ele lhe dá uns vislumbres
momentâneos; o Buda quer algo eterno. E todos esses jogos
acabarão com a morte. Ele quer conhecer algo que não se
acaba com a morte.
Se
eu tivesse que escrever a vida de Goutama Buda, eu começaria
do Zorba. E quando ele já conhece completamente o mundo
exterior e tudo o que ele pode dar e descobre que ali está
faltando sentido, ele parte em busca – porque ir para
dentro era a única direção que ele não tinha olhado.
Ele nunca olhou para trás – não havia motivo para ele
olhar para trás, ele já tinha vivido tudo aquilo. E ele
não era um buscador religioso que desconhecia o mundo
exterior, de modo algum. Ele era um Zorba – ele foi para
dentro de si com a mesma vivacidade, com a mesma força,
com o mesmo poder. E, obviamente, ele descobriu em seu ser
mais interno o contentamento, o preenchimento, o sentido,
a benção que ele estava procurando.
É
possível que você consiga ser um Zorba e pare nisso. É
possível que você possa não ser um Zorba e comece a
procurar pelo Buda – você não irá encontrá-lo.
Somente o Zorba pode encontrar o Buda; de outra forma você
não terá a força: você não viveu no mundo exterior,
você o evitou. Você é um escapista.
Para
mim, ser um Zorba é o começo da jornada, e tornar-se um
Buda é alcançar a meta. E isto pode acontecer no mesmo
indivíduo – isto só pode acontecer no mesmo indivíduo.
É por isto que eu estou insistindo continuamente: não
crie qualquer divisão em sua vida, não condene coisa
alguma de seu corpo. Viva-o – não de má vontade –
viva-o totalmente, intensamente. Este próprio viver torná-lo-á
capaz de uma outra busca.
É
por isto que eu digo que meus sannyasins não têm que ser
ascetas, que meus sannyasins têm que deixar suas esposas,
seus maridos, seus filhos. Todas essas tolices têm sido
ensinadas há séculos, e quantas pessoas – dentre esses
milhões de monges e freiras – quantas pessoas
floresceram? Nem mesmo uma simplesmente. Eu quero que vocês
vivam a vida sem divisão. E primeiro vem o corpo,
primeiro vem o seu mundo exterior.
No
momento em que a criança nasce e abre os olhos, a
primeira coisa que ela vê é todo o panorama da existência
ao seu redor. Ela vê tudo, exceto a si mesma – isto é
para as pessoas mais experientes. Isso é para aqueles que
viram tudo do mundo externo e se libertaram dele.
Livrar-se
do mundo externo não acontece através do escapismo. A
libertação do mundo externo chega, quando se vive esse
mundo totalmente, até já não mais haver para onde ir.
Resta então apenas uma dimensão e é natural que você
queira buscar internamente essa dimensão remanescente. E
ali está o seu buda, a sua iluminação.
Você
está dizendo, ‘É possível o encontro de Zorba e
Buda?’ Esta é a única possibilidade. Sem Zorba não
há Buda. Zorba, naturalmente, não é o fim completo. Ele
é a preparação para o Buda. Ele é a raiz; Buda é o
florescimento.
Não
destrua as raízes; de outra forma não haverá
florescimento algum. Aquelas raízes suprem continuamente
a nutrição das flores. Todas as cores nas flores vêm
das raízes. Toda a dança das flores no vento vem das raízes.
Não
divida. Raízes e flores são dois lados de um mesmo fenômeno.
Osho
– From Bondage do Freedom
– capítulo 40
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION,
Suiça.
Todos os direitos reservados
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