Conexão Brasil                                                              junho de 2005
 

Um Toque de Mestre

Todos os meses apresentamos nesta coluna, uma dica do Osho, uma técnica que podemos 
incorporar ao nosso dia-a-dia, ampliando mais a consciência e trazendo mais centramento. 

 

Os comentários do Osho sobre os 112 métodos de meditação que constituem o Vigyan Bhairav Tantra de Shiva estão reunidos no livro "The Book of the Secrets". Apenas os primeiros 47 métodos estão disponíveis em português, nos volumes 1 e 2 do "Livro dos Segredos", da Ícone Editora. Nesta seção, a cada mês estamos traduzindo os comentários do Osho sobre algum dos métodos ainda não publicados no Brasil. Neste mês de junho apresentamos o método nº 65 -  "Não julgue". A tradução é do Sw. Bodhi Champak.
Sobre o Vigyan Bhairav Tantra, Osho diz: "Estes sutras de Shiva são as técnicas mais antigas, as mais ancestrais. Mas você pode chamá-las de as mais recentes também, porque nada pode ser adicionado a elas. Elas incluíram todas as possibilidades, todos os meios para se limpar a mente, para se transcender a mente. Nem um único método pode ser adicionado aos cento e doze métodos de Shiva."  "Estes cento e doze métodos de meditação constituem toda a ciência da transformação da mente." 
 

                               Não julgue
                O sutra: A pureza do outro ensinamento é uma impureza para nós.
                            Na verdade, nada reconheça como puro ou impuro.

          "Esta é uma das mensagens básicas do tantra. É muito difícil compreendê-la porque ela é absolutamente não-ética, não-moral. Eu não direi imoral porque o tantra não está interessado em moralidade ou imoralidade. O tantra diz que isso é irrelevante. Esta mensagem é para ajudá-lo a crescer além da pureza e da impureza, além da divisão, além da dicotomia, dualidade. O tantra diz que a existência é não-dual, ela é una e todas as distinções são criadas pelo homem, todas as distinções, lembre-se. Bom e mau, puro e impuro, moral e imoral, virtude e pecado: todos esses conceitos são criados pelo homem.  Eles são atitudes do homem, eles não são reais. O que é puro e o que é impuro? Depende da sua interpretação. O que é moral e o que é imoral? Depende da sua interpretação.
          Nietzsche disse em algum lugar que toda moralidade é interpretação. Assim, alguma coisa pode ser moral neste país e imoral no país vizinho; algo pode ser moral para um muçulmano e imoral para um hindu, moral para um cristão e imoral para um jaina. E algo pode ser moral para a geração mais velha e imoral para a geração mais nova. Isto é uma questão de atitude. Basicamente, isto é uma ficção. O fato é simplesmente o fato. O fato nu é simplesmente o fato; ele nem é moral nem é imoral, nem puro ou impuro.
          Imagine a terra sem os seres humanos. O que seria puro e o que seria impuro? Tudo seria, simplesmente seria. Nada seria puro e nada seria impuro, nada seria bom e nada seria mau. Com o homem, a mente entra. A mente divide. Ela diz: isso é bom e aquilo é mau. Essa divisão não apenas cria uma divisão no mundo, essa divisão cria uma divisão também naquele que divide. Se você divide, você também está dividido naquela divisão. E você não consegue transcender a sua divisão interna, a não ser que você esqueça as divisões externas. O que você fizer para o mundo, você também terá feito para si.
          Naropa, um dos maiores mestres de siddha yoga diz: 'um milímetro de divisão e o inferno e o céu estarão separados', um milímetro de divisão. Mas nós continuamos dividindo, rotulando, condenando, justificando. Olhe para o fato nu da existência e não o rotule. Somente assim os ensinamentos do tantra podem ser compreendidos. Não diga bom nem mau, não traga a sua mente para o fato. No momento em que você traz a sua mente para o fato, você cria uma ficção. Agora ele não é um fato, não é uma realidade: ele é a sua projeção. Este sutra diz: A pureza do outro ensinamento é uma impureza para nós. Na verdade, nada reconheça como puro ou impuro. (...)

           O tantra diz que o fato é real e a interpretação não é real. Não interprete. Na verdade, nada reconheça como puro ou impuro. Por que? Porque pureza e impureza são nossas atitudes impostas sobre a realidade. Tente isto. Esta técnica é difícil, não é simples, porque nós somos muito orientados em direção ao pensamento dual, baseados e enraizados no pensamento dual, de modo que nem nos damos conta de nossas condenações e justificações. Se alguém começa a fumar aqui, você pode não ter sentido conscientemente, mas você condenou. No fundo, dentro de você, teve uma condenação. O seu olhar pode ter condenado, ou o não olhar pode ter condenado. Você pode nem ter olhado para a pessoa, e ainda assim, ter condenado.
          Será difícil porque o hábito tornou-se profundamente enraizado. E você continua, pelos seus simples gestos, pelo seu sentar, pelo seu estar de pé, continua condenando, justificando, nem mesmo percebendo o que você está fazendo. Quando você sorri para uma pessoa ou quando você não sorri, quando você olha para uma pessoa, ou quando você não olha, quando você


Judgment - O Neo Taro

simplesmente ignora alguém, o que você está fazendo? Você está impondo as suas atitudes. Você diz que algo é belo, então você terá condenado algo como feio. E essa atitude dual está dividindo você simultaneamente, assim, dentro de você, existirão duas pessoas. 
          Se você diz que alguém está raivoso e que a raiva é ruim, o que você fará quando você sentir raiva? Você dirá que isso é ruim, e daí surgirão problemas, pois você dirá que 'isso é ruim e essa raiva em mim é ruim.' Daí, você começou a se dividir em duas pessoas: uma pessoa ruim, uma pessoa má internamente, e uma pessoa boa, um santo. Naturalmente, é provável que você se identifique com o santo internamente, e, em conseqüência, o demônio, o Satã, o ruim dentro de você será condenado. Você está dividido em dois. Agora, haverá uma luta constante, um conflito. Agora você não consegue ser um indivíduo; você será uma multidão, uma casa dividida contra ela mesma. Agora não haverá paz nem silêncio. Você sentirá somente tensões e angústia. Isso é o que você está sentindo, mas você não sabe o porquê. 
          Uma pessoa dividida não consegue estar em paz. Como poderia? Onde colocar o seu lado ruim? Você tem que destruí-lo, e ele é você. Você não pode destruí-lo. Você não é dois. A realidade é una, mas pela sua atitude de dividir, você dividiu a realidade externa. Agora, o seu interior está dividido da mesma forma, por isso todo mundo está brigando consigo mesmo. É como se a sua mão direita estivesse brigando com a mão esquerda, sendo a energia uma só. Na minha mão direita e na mão esquerda, eu sou; eu estou fluindo em ambas. (....)
          O tantra diz: não divida, permaneça sem divisão, só assim você será vitorioso. Como ser, sem divisão? Não condene, não diga isso é bom e aquilo é ruim. Simplesmente jogue fora todos os conceitos de pureza e impureza. Olhe para o mundo, mas não diga o que ele é. Seja ignorante, não seja muito sábio. Não rotule, permaneça silencioso, sem condenação, sem justificação. Se você conseguir permanecer silencioso a respeito do mundo, pouco a pouco esse silêncio penetrará você. E se a divisão não existir do lado de fora, ela desaparecerá na consciência mais interna, porque elas existem interligadas. (...)
          Tente isto. Mova-se no mundo sem qualquer valor, simplesmente com os fatos naturais: alguém é isso e alguém é aquilo. E aos poucos você sentirá uma não divisão dentro de você. As suas polaridades estarão se juntando, o seu 'ruim' e o seu 'bom' estarão se juntando. Eles irão se dissolver em um e você se tornará uma unidade. E nada existirá como puro ou impuro. Conheça a realidade.
          A pureza do outro ensinamento é uma impureza para nós. (...)  Existem ensinamentos que são baseados no celibato. Eles dizem que o celibato é bom e que o sexo é ruim. O tantra diz que o sexo é sexo e o celibato é celibato. Alguém é celibatário e o outro não é. Mas esses são fatos simples, nenhum valor é agregado a eles. O tantra nunca dirá que o celibato é bom e que aquele que está no sexo é ruim. O tantra não dirá isso. O tantra aceita as coisas como elas são. E por que? Exatamente para criar uma unidade dentro de você.
          Esta é uma técnica para criar uma unidade dentro de você, para experienciar uma existência total internamente, sem divisão, sem conflitos, sem oposição. Somente então o silêncio é possível. (...)

 

 

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