Todos os
meses apresentamos nesta coluna, uma dica do Osho, uma técnica que
podemos
incorporar ao nosso dia-a-dia, ampliando mais a consciência e trazendo
mais centramento.
Os comentários
do Osho sobre os 112 métodos de meditação que
constituem o Vigyan Bhairav Tantra de Shiva estão
reunidos no livro "The Book of the Secrets". Apenas
os primeiros 47 métodos estão disponíveis em português,
nos volumes 1 e 2 do "Livro dos Segredos", da
Ícone Editora. Nesta seção, a cada mês estamos
traduzindo os comentários do Osho sobre algum dos métodos
ainda não publicados no Brasil. Neste mês de junho
apresentamos o método nº 65 - "Não julgue".
A tradução é do Sw. Bodhi Champak. |
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Sobre
o Vigyan Bhairav Tantra, Osho diz: "Estes sutras de
Shiva são as técnicas mais antigas, as mais
ancestrais. Mas você pode chamá-las de as mais
recentes também, porque nada pode ser adicionado a
elas. Elas incluíram todas as possibilidades, todos os
meios para se limpar a mente, para se transcender a
mente. Nem um único método pode ser adicionado aos
cento e doze métodos de Shiva." "Estes
cento e doze métodos de meditação constituem toda a
ciência da transformação da mente." |
Não julgue
O sutra: A pureza do outro ensinamento é uma
impureza para nós.
Na verdade, nada reconheça como puro ou impuro.
"Esta é uma das mensagens básicas do tantra. É
muito difícil compreendê-la porque ela é absolutamente
não-ética, não-moral. Eu não direi imoral porque o
tantra não está interessado em moralidade ou
imoralidade. O tantra diz que isso é irrelevante. Esta
mensagem é para ajudá-lo a crescer além da pureza e da
impureza, além da divisão, além da dicotomia,
dualidade. O tantra diz que a existência é não-dual,
ela é una e todas as distinções são criadas pelo
homem, todas as distinções, lembre-se. Bom e mau, puro e
impuro, moral e imoral, virtude e pecado: todos esses
conceitos são criados pelo homem. Eles são
atitudes do homem, eles não são reais. O que é puro e o
que é impuro? Depende da sua interpretação. O que é
moral e o que é imoral? Depende da sua interpretação.
Nietzsche disse em algum lugar que toda moralidade é
interpretação. Assim, alguma coisa pode ser moral neste
país e imoral no país vizinho; algo pode ser moral para
um muçulmano e imoral para um hindu, moral para um
cristão e imoral para um jaina. E algo pode ser moral
para a geração mais velha e imoral para a geração mais
nova. Isto é uma questão de atitude. Basicamente,
isto
é uma ficção. O fato é simplesmente o fato. O fato nu
é simplesmente o fato; ele nem é moral nem é imoral,
nem puro ou impuro.
Imagine a terra sem os seres humanos. O que seria puro e o
que seria impuro? Tudo seria, simplesmente seria. Nada
seria puro e nada seria impuro, nada seria bom e nada
seria mau. Com o homem, a mente entra. A mente divide. Ela
diz: isso é bom e aquilo é mau. Essa divisão não
apenas cria uma divisão no mundo, essa divisão cria uma
divisão também naquele que divide. Se você divide,
você também está dividido naquela divisão. E você
não consegue transcender a sua divisão interna, a não
ser que você esqueça as divisões externas. O que você
fizer para o mundo, você também terá feito para si.
Naropa, um dos maiores mestres de siddha yoga diz: 'um
milímetro de divisão e o inferno e o céu estarão
separados', um milímetro de divisão. Mas nós
continuamos dividindo, rotulando, condenando,
justificando. Olhe para o fato nu da existência e não o
rotule. Somente assim os ensinamentos do tantra podem ser
compreendidos. Não diga bom nem mau, não traga a sua
mente para o fato. No momento em que você traz a sua
mente para o fato, você cria uma ficção. Agora ele não
é um fato, não é uma realidade: ele é a sua
projeção. Este sutra diz: A pureza do outro
ensinamento é uma impureza para nós. Na verdade, nada
reconheça como puro ou impuro. (...)
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O tantra
diz que o fato é real e a interpretação não é real.
Não interprete. Na verdade, nada reconheça como puro
ou impuro. Por que? Porque pureza e impureza são
nossas atitudes impostas sobre a realidade. Tente isto. Esta técnica é difícil, não é simples, porque nós
somos muito orientados em direção ao pensamento dual,
baseados e enraizados no pensamento dual, de modo que nem
nos damos conta de nossas condenações e justificações.
Se alguém começa a fumar aqui, você pode não ter
sentido conscientemente, mas você condenou. No fundo,
dentro de você, teve uma condenação. O seu olhar pode
ter condenado, ou o não olhar pode ter condenado. Você
pode nem ter olhado para a pessoa, e ainda assim, ter
condenado.
Será difícil porque o hábito tornou-se profundamente
enraizado. E você continua, pelos seus simples gestos,
pelo seu sentar, pelo seu estar de pé, continua
condenando, justificando, nem mesmo percebendo o que você
está fazendo. Quando você sorri para uma pessoa ou
quando você não sorri, quando você olha para uma
pessoa, ou quando você não olha, quando você |
Judgment - O Neo Taro
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simplesmente ignora alguém, o que você está fazendo?
Você está impondo as suas atitudes. Você diz que algo
é belo, então você terá condenado algo como feio. E
essa atitude dual está dividindo você simultaneamente,
assim, dentro de você, existirão duas pessoas.
Se
você diz que alguém está raivoso e que a raiva é ruim,
o que você fará quando você sentir raiva? Você
dirá que isso é ruim, e daí surgirão problemas, pois
você dirá que 'isso é ruim e essa raiva em mim é
ruim.' Daí, você começou a se dividir em duas pessoas:
uma pessoa ruim, uma pessoa má internamente, e uma pessoa
boa, um santo. Naturalmente, é provável que você se
identifique com o santo internamente, e, em
conseqüência, o demônio, o Satã, o ruim dentro de
você será condenado. Você está dividido em dois.
Agora, haverá uma luta constante, um conflito. Agora
você não consegue ser um indivíduo; você será uma
multidão, uma casa dividida contra ela mesma. Agora não
haverá paz nem silêncio. Você sentirá somente tensões
e angústia. Isso é o que você está sentindo, mas você
não sabe o porquê.
Uma
pessoa dividida não consegue estar em paz. Como poderia?
Onde colocar o seu lado ruim? Você tem que destruí-lo, e
ele é você. Você não pode destruí-lo. Você não é
dois. A realidade é una, mas pela sua atitude de
dividir, você dividiu a realidade externa. Agora, o seu
interior está dividido da mesma forma, por isso todo
mundo está brigando consigo mesmo. É como se a sua mão
direita estivesse brigando com a mão esquerda, sendo a
energia uma só. Na minha mão direita e na mão esquerda,
eu sou; eu estou fluindo em ambas. (....)
O
tantra diz: não divida, permaneça sem divisão, só
assim você será vitorioso. Como ser, sem divisão? Não
condene, não diga isso é bom e aquilo é ruim.
Simplesmente jogue fora todos os conceitos de pureza e
impureza. Olhe para o mundo, mas não diga o que ele é.
Seja ignorante, não seja muito sábio. Não rotule,
permaneça silencioso, sem condenação, sem
justificação. Se você conseguir permanecer silencioso a
respeito do mundo, pouco a pouco esse silêncio penetrará
você. E se a divisão não existir do lado de
fora, ela desaparecerá na consciência mais interna,
porque elas existem interligadas. (...)
Tente isto. Mova-se no mundo sem qualquer valor,
simplesmente com os fatos naturais: alguém é isso e
alguém é aquilo. E aos poucos você sentirá uma não
divisão dentro de você. As suas polaridades estarão se
juntando, o seu 'ruim' e o seu 'bom' estarão se juntando.
Eles irão se dissolver em um e você se tornará uma
unidade. E nada existirá como puro ou impuro. Conheça a
realidade.
A
pureza do outro ensinamento é uma impureza para nós.
(...) Existem ensinamentos que são baseados no
celibato. Eles dizem que o celibato é bom e que o sexo é
ruim. O tantra diz que o sexo é sexo e o celibato é
celibato. Alguém é celibatário e o outro não é. Mas
esses são fatos simples, nenhum valor é agregado a eles.
O tantra nunca dirá que o celibato é bom e que aquele
que está no sexo é ruim. O tantra não dirá isso. O
tantra aceita as coisas como elas são. E por que?
Exatamente para criar uma unidade dentro de você.
Esta é uma técnica para criar uma unidade dentro de
você, para experienciar uma existência total internamente, sem
divisão, sem conflitos, sem oposição. Somente então o
silêncio é possível. (...)
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