Conexão Brasil                                                            outubro de 2004
 

Um Toque de Mestre

Todos os meses apresentamos nesta coluna, uma dica do Osho, uma técnica que podemos 
incorporar ao nosso dia-a-dia, abrindo mais a consciência e trazendo mais centramento. 

 

Os comentários do Osho sobre os 112 métodos de meditação que constituem o Vigyan Bhairav Tantra de Shiva estão reunidos no livro "The Book of the Secrets". Apenas os primeiros 47 métodos estão disponíveis em português, nos volumes 1 e 2 do "Livro dos Segredos", da Ícone Editora. Nesta seção, a cada mês estamos traduzindo os comentários do Osho sobre algum dos métodos ainda não publicados no Brasil. Neste mês de setembro apresentamos o método nº 83 -  "Mude o seu foco para o espaço em branco'". A tradução é do Sw. Bodhi Champak.
Sobre o Vigyan Bhairav Tantra, Osho diz: "Estes sutras de Shiva são as técnicas mais antigas, as mais ancestrais. Mas você pode chamá-las de as mais recentes também, porque nada pode ser adicionado a elas. Elas incluíram todas as possibilidades, todos os meios para se limpar a mente, para se transcender a mente. Nem um único método pode ser adicionado aos cento e doze métodos de Shiva."  "Estes cento e doze métodos de meditação constituem toda a ciência da transformação da mente." 
 

           Mude o seu foco para o espaço em branco

         " Antes de desejar e antes de conhecer, como posso dizer 'eu sou'?
          Um desejo surge e com o desejo, surge o sentimento de que 'eu sou'. Um pensamento surge e com o pensamento, surge o sentimento de que 'eu sou'. Olhe para isso em sua própria experiência. Antes de desejar e antes de conhecer, não há ego.
          Sente-se silenciosamente e olhe para dentro. Um pensamento surge e você fica identificado com o pensamento. Um desejo surge e você fica identificado com o desejo. Na identificação você se torna o ego. Então pense: não há qualquer desejo e não há qualquer conhecimento ou pensamento. Você não consegue se identificar com coisa alguma. O ego não consegue surgir.
          Buda usava essa técnica e dizia a seus discípulos para nada fazerem, exceto uma coisa: quando um pensamento surgir, observe-o. Buda costumava dizer: quando um pensamento surgir, observe que um pensamento está surgindo. Dentro de você, observe isso: agora, um pensamento está surgindo, agora um pensamento surgiu, agora um pensamento está desaparecendo. Simplesmente lembre-se de que agora o pensamento está surgindo, agora o pensamento surgiu e agora o pensamento está desaparecendo. Assim, você não fica identificado com ele. 
          Isso é muito belo e é muito simples. Um desejo surge. Você está andando na rua, um belo carro passa ao lado. Você olha para ele, e você nem mesmo olhou e o desejo de possuí-lo surge. Faça isso. No começo, simplesmente verbalize, simplesmente diga devagar: 'Eu vi um carro. Ele é belo. Agora um desejo de possuí-lo surgiu.' Simplesmente verbalize.
          No começo será bom e se você puder dizer isso bem alto será muito bom: 'Eu estou simplesmente observando que um carro passou, que a mente disse que ele é bonito, e agora o desejo surgiu e eu preciso possuir esse carro.' Verbalize tudo, fale alto para si mesmo e imediatamente você sentirá que você está diferente. Observe isso.
          Quando você estiver eficiente em observar, não há necessidade de falar em voz alta. Simplesmente dentro de você observe que o desejo surgiu. Uma bela mulher passa e o desejo aparece. Simplesmente observe, como se você não estivesse interessado, você está simplesmente observando um fato que aconteceu, e então, você de repente estará fora disso.
          Buda disse: observe qualquer coisa que aconteça. Simplesmente continue observando e quando desaparecer, de novo observe que agora aquele desejo desapareceu, e você sentirá um distanciamento do desejo, do pensamento. 
         Esta técnica diz: Antes de desejar e antes de conhecer, como posso dizer 'eu sou'? 
          E se não existir desejo e se não existir pensamento, como posso dizer 'eu sou'?
Então, tudo é silêncio, não há qualquer agitação. E sem qualquer agitação, como posso criar agora essa ilusão de 'eu'? Se existir alguma agitação, posso me apegar a ela e através dela posso sentir 'eu sou'. Quando não há qualquer agitação na consciência, não há qualquer 'eu'. 

          Assim, antes do desejo, lembre-se; quando o desejo chegar, lembre-se; quando o desejo se for, continue lembrando-se. Quando um pensamento surge, lembre-se. Olhe para ele. Simplesmente observe que um pensamento surgiu. Mais cedo ou mais tarde irá embora, porque tudo é momentâneo, e haverá um espaço em branco. Entre dois pensamentos existe um espaço em branco, entre dois desejos existe um espaço em branco, e no espaço em branco não há qualquer 'eu'.
          Observe um pensamento na mente e em seguida você sentirá que existe um intervalo. Ainda que pequeno, existe um intervalo. Depois outro pensamento vem e de novo vem um intervalo. Nesses intervalos, não existe qualquer 'eu'. E nesses intervalos você é o seu ser real. Pensamentos estão se movendo no céu. Nesses intervalos, você pode olhar entre duas nuvens e o céu é revelado.
          Perceba. Dissolva-se na beleza.
          E se você perceber que um desejo surgiu, um desejo se foi e você permaneceu no espaço em branco e o desejo não perturbou você... Ele veio e ele foi. Ele esteve aí, agora ele não está aí e você permaneceu imperturbado, você permaneceu como você estava antes dele. Não houve qualquer mudança em você. Ele veio e passou como uma sombra. Ele não tocou você. Você permanece sem cicatriz.
          Perceba esse movimento do desejo e esse movimento do pensamento, mas sem movimento em você. Perceba. Dissolva-se na beleza. E aquele intervalo é belo. Dissolva-se naquele intervalo; deixe-se cair no espaço em branco e seja o espaço. Ele é a mais profunda experiência de beleza. E não apenas de beleza, mas de bondade e de verdade também. Nesse espaço em branco você é. 


by Nartan

          Toda a ênfase tem que se mover de espaços preenchidos para espaços vazios. Você está lendo um livro: existem palavras e existem sentenças, mas entre as palavras existem os espaços, entre as sentenças existem espaços. Naqueles espaços você é. Você é o branco do papel, e os pontos pretos são exatamente as nuvens de pensamentos e desejos movendo-se em você. Mude a ênfase, mude a gestalt. Não olhe para os pontos pretos, olhe para o branco. 
          Em seu ser mais interno, olhe para os espaços em branco. Seja indiferente aos espaços preenchidos, aos espaços ocupados. Esteja interessado nos espaços em branco, nos intervalos. Através desses intervalos você pode dissolver-se na maior das belezas."

 

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