Conexão Brasil                               março de 2009
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Religião e Organização(*)

 

    Osho,
    É necessário uma organização para uma religião sobreviver?"

    “Infelizmente é. 
    A religião necessita de algum tipo de organização, embora surjam problemas. A organização em si mesma é uma entidade política; ela não precisa de religião alguma.
    Para sobreviver, a religião necessita de uma organização.
    Para sobreviver a organização não necessita de religião alguma.
    Esse é o xis de todo o problema.
    No passado ocorreram esforços para se criar religião sem qualquer organização, por se perceber que todas as organizações de algum modo acabam sendo anti-religiosas. Por exemplo, a Igreja Católica – ela é uma organização muito sólida, mas é apenas uma organização, nenhuma religião restou. 
    A religião é uma perturbação para os interesses da hierarquia de uma organização. A religião é um problema contínuo; as pessoas religiosas são problemas.
    A Igreja Católica colocou para fora todas as pessoas que eram realmente religiosas porque essas pessoas não suportavam esse ato criminoso de destruir a religião. Elas se opuseram a isso, se rebelaram contra isso. Mas a Igreja tem muita autoridade. O chefe da Igreja, o papa, é um chefe religioso e também um chefe temporal, o Vaticano é o seu reinado, uma nação política. Ela já foi grande, vasta. Hoje tem apenas oito milhas quadradas, mas ainda assim, ele é o chefe temporal e o chefe espiritual. 
    Existem religiões em que há separação entre o chefe temporal e o chefe religioso, mas aí surgem conflitos. O chefe temporal tem todo o poder do exército, da lei, do estado e o chefe espiritual não tem poder temporal algum. Por exemplo, no hinduismo, o Shankaracharya é apenas um chefe espiritual. Mas isso cria outro problema: um conflito contínuo entre o estado e a religião – e naturalmente o estado é mais poderoso.
    Você tem que se lembrar de que quanto mais elevada é uma coisa, mais frágil ela é. Quanto mais baixa ela for, mais forte ela é. As raízes são fortes e as flores não; embora as raízes não tenham significado se as flores desaparecerem – as raízes somente têm sentido por causa das flores. Mas a árvore não é tão estúpida como o homem, por isso existe uma harmonia entre as flores e as raízes, não existem conflitos. 
    As flores representam a fragrância espiritual e as raízes representam o estado, o exército e todo o seu poder.
    As raízes podem negar alimento às flores e elas morrerão e desaparecerão em pouco tempo. Mas nenhuma árvore é tão estúpida: existe uma harmonia; as raízes dão suporte para as flores, para as folhas, para os ramos. E isto não acontece apenas de um lado. As flores, as folhas e os ramos vão recolhendo os raios do sol e o dióxido de carbono do ar, e continuamente os enviam para as raízes.
    Isso é uma comunhão, não existe a questão de conflito. 
    Mas na religião, isso tem sido um problema. Se você os mantiver separados, logo o estado irá tentar controlar a religião. Por exemplo, na Inglaterra a religião é separada, mas a rainha é na verdade a chefa de ambos: da igreja e do estado. A igreja tem seu próprio chefe, mas existe uma chefa coroada que está acima dele. O que pode o arcebispo de Canterbury fazer contra a rainha? (...)
    Mas o problema acontece quando o homem se torna politicamente poderoso. É que o poder político tende a corrompê-lo. Ele pode fazer mal uso do poder; e é quase certo que ele faça mal uso. 
    Em primeiro lugar, se a chefia incluir ambos os poderes, o temporal e o espiritual, as pessoas que são espirituais não farão qualquer esforço para se tornar chefe, porque pessoas espirituais não querem se envolver com o poder político. 
    Então, apenas as pessoas que têm a mente voltada para a política... Elas podem usar vestimentas religiosas, podem ser bispos, cardeais ou ministros, podem ter estudado teologia, mas elas não são pessoas espirituais. Se elas estivessem no mundo, teriam tentado se tornar presidente ou primeiro-ministro; é apenas acidental que elas estão com vestimentas religiosas. A ambição delas somente pode ser preenchida se elas se tornarem papa. Por isso, elas fazem todos os esforços para se tornar papa.
    Quando elas chegam ao poder, é muito provável que elas façam mal uso dele.
    Em primeiro lugar, essas pessoas nunca foram espirituais.
    O hinduismo tentou uma outra coisa também. Se você fizer de uma pessoa um chefe espiritual, existe a possibilidade de que essa pessoa não seja realmente espiritual. Você pode ter errado, porque não existe critério algum para julgar e isso não pode ser decidido numa eleição, pois as pessoas não têm idéia do que seja espiritualidade. Como elas poderão decidir quem é espiritual? Elas podem apenas nomear. Isso não pode ser escolhido numa eleição – e se houver uma eleição, você atrairá políticos para ela.

    O papa católico é eleito, por isso, naturalmente, os cardeais que têm a mente voltada para a política fazem todos os esforços para abordarem todas aquelas pessoas – talvez sejam duzentos cardeais que escolhem o papa – assim existe continuamente uma campanha que corre às escondidas, uma campanha eleitoral. Mesmo depois que já existe um papa, a campanha continua porque um papa não vive muito tempo, pela simples razão de que quando uma pessoa se torna papa ela já está próxima dos setenta. Assim, você pode esperar que dentro de dois, três, quatro ou cinco anos ele já esteja indo. (...)
    O hinduismo tentou assegurar-se de que sua religião teria muitos chefes; todos seriam nomeados. Mas então outro problema surgiu: uma grande confusão. O hinduismo é uma grande confusão – você nem pode dizer que é uma religião. São mil e uma religiões juntas, porque não existe nenhum controle central. Qualquer um pode reunir discípulos, tornar-se um chefe e ninguém pode impedi-lo.

    A idéia era dar liberdade, mas acabou virando uma confusão. Qualquer idiota pode encontrar alguns outros idiotas que sempre estão disponíveis em qualquer lugar. Existem muitas seitas no hinduismo e cada seita tem muitas sub-seitas e cada sub-seita tem seu próprio chefe. Eles nem mesmo tem um relacionamento dialogal com os outros chefes da mesma religião. Eles estão continuamente brigando nos tribunais porque algumas vezes acontece de duas pessoas proclamarem que elas é que são as chefes, e se elas puderem dar alguma prova... (...)
    O sânscrito é uma língua que, apenas com um pouco de lógica, tudo pode ser interpretado de muitas maneiras. Cada palavra tem muitos significados; o que lhe dá beleza, lhe dá poesia, pois você pode brincar com as palavras de muitas maneiras, elas não têm um significado fixo. Mas isso também é perigoso: você não pode escrever em sânscrito, senão haverá muitas interpretações, e isso é o que está acontecendo. No Gita existem mil comentários famosos, sem considerar os não famosos, que são outros muitos milhares. Mas existem mil comentários muito famosos. 
    Considera-se que qualquer um que escreva um comentário sobre as três escrituras – os Vedas, os Brahmasutras de Badarayana e o Shrimad Bhagavagita de Krishna – se torna um acharya, um chefe, e ele pode criar grupo de adeptos. Ora, não é difícil escrever comentários sobre essas três escrituras. (...)
    Por isso, o hinduismo não é uma religião como o cristianismo, o judaísmo ou o islamismo. No islamismo existe um profeta, um deus e um livro – e isso é tudo. No hinduismo são milhares de escrituras, todas de tremendo valor, e em cada escritura existem mil comentários, e todo comentário tem algum valor, algum insight. E depois existem os comentários sobre os comentários...
    Shankara escreve um comentário sobre o Gita, então, entre os seguidores de Shankara, um escreve sobre os comentários do Shankara, e um outro seguidor escreve um outro comentário sobre o comentário sobre o comentário do Shankara – porque o comentário é também tão vulnerável à interpretação quanto o original. Assim os seus discípulos continuaram escrevendo mais comentários. (...)
    Vendo tal situação, os seguidores ortodoxos de Mahavira... Eles são chamados digambaras porque eles vivem nus, os seus monges vivem nus. Digambara significa aquele cuja única roupa é o céu – nada existe entre ele e o céu. Para evitar confusão, para evitar comentários, para evitar organização, eles simplesmente destruíram todas as escrituras de Mahavira. Assim, os digambaras não têm qualquer escritura de Mahavira – um ato estranho. Exatamente para preservar seus ensinamentos, eles são repassados aos discípulos palavra por palavra, oralmente, não através de livros. Você não consegue comprá-los no mercado, ninguém pode escrever um comentário sobre eles. Os ensinamentos seguem silenciosamente, sendo transferidos de uma geração de monges a outra geração de monges. Foi um grande esforço, uma tremenda coragem, destruir todas as escrituras, de modo que você não possa imprimi-las. Mas o que aconteceu foi que mesmo transferindo de um indivíduo a outro indivíduo, existem diferentes versões, porque naturalmente...
    Vocês todos estão me ouvindo, mas se forem para casa e escreverem o que eu disse, vocês acham que irão relatar a mesma coisa? Amanhã de manhã poderão verificar todos os cadernos de anotações e ficarão surpresos pois todo mundo pegou alguma coisa a mais, cada um colocou ênfase em algo que o outro tinha ignorado completamente. O que você ouviu ela nem se preocupou a respeito.
    Assim, embora eles tentassem evitar escrever escrituras e permanecer consistente, havia diferentes versões. Atualmente existem apenas vinte e dois monges nus; eu me encontrei com todos os vinte e dois. Eu fiquei confuso, pois todos eles tinham versões diferentes de seus instrutores, e eles estavam dando uma versão diferente ao seu discípulo que um dia iria se tornar um monge nu. Eles estavam treinando o discípulo e eles achavam que dessa maneira a pureza da mensagem estava preservada.
    Mas, eu lhes perguntei, ‘Alguma vez você já comparou os seus comentários com os dos outros vinte e um?’ Eles disseram, ‘Não, isso nunca foi feito. O que o meu instrutor me deu, eu darei ao meu discípulo-chefe, e ele dará ao seu discípulo-chefe.’
    Mas, eu disse, ‘Eu encontrei todos os vinte e dois e vocês todos estão dizendo coisas diferentes.’ Se isto estivesse num livro, pelo menos poderia haver alguma possibilidade de se chegar a um acordo. Agora não tem jeito de se chegar a qualquer acordo. Existem vinte e duas religiões surgindo de um fonte – a qual eles destruíram. Assim, agora não existe algo para se voltar e conferir; e você não pode provar que alguém está errado e que alguém está certo. (...)
    Para evitar organização, Mahavira disse, ‘Agora não haverá sucessor a mim.’ Mas isso não fez qualquer diferença. Sim, não existe um sucessor para ele, mas existem milhares de chefes de pequenas seitas. Eles não se proclamam sucessores de Mahavira, eles não dizem que são tirthankaras; eles são instrutores dos ensinamentos de Mahavira. Mas todos esses instrutores estão continuamente em conflito a respeito de tudo. 
    O mesmo aconteceu com Buda. . Enquanto estava vivo, ele não permitiu que fosse escrito o que ele estava dizendo – você simplesmente teria que compreendê-lo, experienciá-lo. E essa sua experiência e essa sua compreensão, você compartilharia com as pessoas. Senão haveria toda possibilidade de as pessoas começassem a venerar aqueles livros – como os muçulmanos veneram o Alcorão, os cristãos veneram a Bíblia. 
    ‘Assim, é melhor não terem as minhas palavras,’ disse Buda aos seus discípulos, ‘em forma de um livro.’ Quando ele estava ali para dizer isso, naturalmente tudo estava sendo assim. Mas 

quando ele morreu, os discípulos se viram em dificuldades porque havia muitas pessoas dizendo coisas diferentes. Alguma coisa teria que ser decidida, pois já havia um caos.
    Então, trezentos discípulos se juntaram e compilaram o que Buda havia dito. A compilação foi feita num local fechado, porque aconteceram muitos conflitos e eles não queriam que as pessoas soubessem que os discípulos- chefes estavam em conflito, brigando: ‘Isso não foi dito por Buda...’ Assim, num local fechado, de alguma maneira eles chegaram a um acordo, através de negociações, seguindo o caminho do meio. ‘Se duas pessoas estão dizendo duas coisas, então se chega ao meio e mantém aquilo.’ Mas aquilo era uma mistura heterogênea. 

    Buda não seria capaz de reconhecer aquilo como sendo as suas palavras. Aquilo era o acordo de trezentas pessoas. Ora, trezentas pessoas em desacordo, chegando a um acordo – você pode imaginar que resultado seria. Sim, para o mundo eles puderam então mostrar que tinham uma escritura... Mas como eles podem enganar aqueles que de fato compreendem? Buda evitou criar qualquer chefe para sua religião. Isso gerou trinta e duas seitas imediatamente após a sua morte. 
    Existiram também outros instrutores na época de Buda e Mahavira. Um deles foi Sanjay Vilethiputta. Ele evitou até mesmo a iniciação. Ele dizia, ‘Vocês simplesmente me ouçam. Se vocês sentirem que gostam de fazer o que eu estou dizendo, então façam, mas eu não iniciarei vocês. Se eu iniciá-los, logo vocês irão criar uma organização. Vocês precisarão de uma organização para manter juntos todos os que são meus discípulos. Existem muitas razões para eles estarem juntos – para sua segurança, para sua proteção, pois eles serão perseguidos pelas outras religiões. E se eles forem deixados sós no vasto oceano de inimigos, eles serão destruídos.’ (...)
    Assim, Sanjay Vilethiputta dizia, ‘Se eu iniciá-los, uma organização será necessária. Eu não lhes darei iniciação, então os outros não irão saber que vocês são meus seguidores. Vocês simplesmente continuam suas vidas, experienciando, fazendo aquilo que eu lhes disser. E se vocês sentirem que querem repassar isso a alguém, vocês podem repassar, mas sem essa questão de iniciação. Assim ninguém saberá que vocês pertencem a Sanjay Vilethiputta.’
    Mas, o que aconteceu? Nós não temos escrituras de Sanjay Vilethiputta. O homem deve ter sido de uma inteligência imensa, pois Buda o criticava, Mahavira o criticava. Caso contrário, Mahavira e Buda não iriam criticar um homem que não tivesse status. Ele deve ter tido um status exatamente igual ao de Buda e Mahavira. (...)
    Um dos grandes monges hindus, Karpatri, escreveu um livro inteiro contra mim e quando eu vi, fiquei curioso para saber como ele conseguiu. Declarações que eu nunca fiz, ele colocou em meu nome, e em seguida criticou-as. Ora, alguém lendo esse livro pensará que ele acabou comigo completamente. E ele nem mesmo tocou-me.
    O seu secretário escreveu a introdução ao livro, e parecia ser um homem inteligente porque naquela introdução ele disse, ‘Nós somos agradecidos a Osho porque ele criou esta oportunidade e o desafio para todos aqueles que pensam em reconsiderar tudo e não simplesmente aceitar qualquer coisa sem reconsiderá-la.’
    O secretário é um seguidor de Karpatri e por isso ele lhe agradece por fazer um grande trabalho, aceitando o desafio de Osho e criticando-o. Ele veio pessoalmente me dar o livro. Eu olhei aqui e ali e lhe perguntei, ‘Você é o secretário do Karpatri’ – ele próprio era um sannyasin hindu – ‘Você observou que essas declarações não são minhas? Muito provavelmente o livro foi ditado para você.’ 
    Ele disse, ‘Eu estava com medo de que você fosse dizer isso.’
    Eu simplesmente dei uma folheada no livro e lhe disse, ‘Esta declaração não é minha. Não apenas não é minha, ela é contrária a mim, totalmente contrária às minhas declarações. Você é uma pessoa educada: como você permitiu isso acontecer? Você deveria ter impedido, porque este livro é totalmente falso e qualquer um que lê-lo terá um conceito totalmente errado de mim.’ 
    Por isso você não pode confiar nessas pessoas – eu estou comparando o que Buda disse a respeito de Sanjay Vilethiputta com o que foi dito por Mahavira e são coisas diferentes. Buda cita a filosofia de Sanjay Vilethiputta de maneira diferente do que faz Mahavira. Isso mostra certamente que ninguém está descrevendo a outra pessoa cuidadosamente. Isso é desonestidade. A pessoa honesta deve declarar primeiro o argumento da outra pessoa em sua totalidade, em sua total força, e depois ele pode criticar.
    Mas, sem uma organização, Sanjay Vilethiputta está completamente perdido – nós não temos qualquer coisa dele para comparar. E nós não temos qualquer anotação de discípulos porque ele jamais iniciou alguém. Assim, talvez depois de uma ou duas gerações, a coisa deve ter desaparecido – e a contribuição daquele homem deve ter sido de imenso valor.
    Krishnamurti está fazendo exatamente o que Sanjay Vilethiputta fez. Ele abandonou a organização e por quase sessenta anos ele tem tentado ajudar as pessoas individualmente a compreender – mas nada tem acontecido. Ele tem sido sempre o mestre mais frustrado. E agora, ao chegar à idade de oitenta e cinco anos, ele criou a Fundação Krishnamurti na Inglaterra. Essa foi a sua experiência de sessenta anos – quando compreendeu que no momento em que ele morrer não haverá ninguém para preservar as suas palavras. O que dizer então de sua experiência? Se nem mesmo as suas palavras estão preservadas...
    O que está acontecendo em torno de mim é totalmente diferente do que tem sido feito até agora, pois nada foi bem sucedido. De uma maneira ou outra todos os esforços fracassaram.
    Agora, o esforço ao meu redor não é criar uma organização como os católicos, porque então todo o poder se torna concentrado em uma pessoa – e isso é perigoso. 
    Isso cria ambição nos outros para alcançar o posto mais elevado. Eles esquecem tudo a respeito de espiritualidade, crescimento. 
    Daí, todo o esforço passa a ser como se tornar papa. Bem no fundo, aquele desejo... Assim, isso se torna um outro mundo, uma outra política mundana.
    E é sempre perigoso deixar todo poder nas mãos de uma pessoa.
    Em torno de mim, o esforço desde o início tem sido o de descentralizar o poder.
    Por isso, ao meu redor, pouco a pouco, muitas organizações paralelas foram sendo criadas, e cada organização é autônoma, funcionando em uma direção.
    Por exemplo, a Osho International Foundation estará cuidando das minhas palavras e assuntos com outras religiões.
    A Academia, uma outra organização, será puramente esotérica. Para a Academia eu criei três círculos de pessoas. Elas serão a Academia; elas terão todo o poder espiritual em minha ausência física. Ela terá tudo que houver de melhor, os sannyasins mais inteligentes estarão nela. A inteligência delas combinada será o suficiente – um poder para si mesmo. 
    Então a comuna terá um corpo separado de si própria. (...)
    Os nossos sannyasins, sob vários aspectos, são pessoas muito inocentes. Eles podem ser muito educados, mas são pessoas inocentes – e depois que se tornaram sannyasins, se tornaram ainda mais inocentes. E por essa razão não existe problema; é preciso um simples senso comum. 
    A organização não pode ser evitada.
    Nós apenas temos que ser um pouco mais sofisticados, mais científicos e mais matemáticos a respeito disso. 
    Nós temos que usá-la ao invés de sermos usados por ela. 
    Assim, eu não sou contra a organização, mas nós podemos aprender com o passado. Tudo aquilo que aconteceu no passado nós podemos evitar. E nós podemos fazer alguma coisa totalmente nova que nunca foi feita antes.
    E se você pode ver todas as possibilidades que destroem religião... Antes que elas peguem a minha religião eu vou acabar com todas essas possibilidades. Os sannyasins podem ter uma organização totalmente diferente. Dessa promessa vocês podem sempre se lembrar: eu não vou deixá-los num estado de caos.
    O que aconteceu no passado? Aquelas pessoas montaram suas organizações no último momento, quando elas estavam morrendo, ou a maioria das organizações foram criadas depois que os fundadores estavam mortos, porque enquanto ele estava aqui as coisas caminhavam perfeitamente bem, de modo que ninguém se preocupava com isso. Mas quando o fundador morreu, imediatamente surgiu a necessidade... A sua ausência estava ali. E isso era um grande vazio, impossível para as pessoas conectarem. Elas tinham se conectado com o fundador, mas não tinham uma interconexão entre elas mesmas. 
    E isso é na verdade o que a organização é. A palavra é muito significativa; ela vem de órgão. A sua mão é um órgão seu, a sua perna é um órgão seu, o seu nariz, os seus olhos – estes são os seus órgãos. E todo o seu corpo é uma organização. E todos eles funcionam em imensa harmonia.
    Quantas partes você tem – e todas elas funcionando em harmonia; você nem mesmo tem consciência disso. Tudo está acontecendo tão silenciosamente que os cientistas dizem que se nós tivéssemos que montar um mecanismo que funcionasse tão silenciosamente e fizesse todo o serviço que o corpo faz, precisaríamos pelo menos de um área de uma milha quadrada para realizar isso dentro de uma fábrica.
    Mesmo hoje não é possível levar sangue ao cérebro – como o seu corpo faz isso é um milagre que acontece todos os dias. Milhões de células vivas estão dentro de você; você é quase uma cidade. Existem sete milhões de células vivas, talvez cada uma tendo um certo cérebro pequeno próprio, pois o trabalho delas é tão inteligente que não se pode dizer que elas não tenham cérebro. 
    Tudo está sendo substituído e fornecido no local onde é necessário. Os cuidados estão sendo tomados por aquelas pequenas células dentro de você de modo que a nutrição chegue às partes que são mais essenciais. O seu cérebro é alimentado primeiro, as pernas podem esperar um pouco.
    Mas é apenas questão de minutos – eu acho que são seis minutos – se o seu cérebro não tiver oxigênio, ele começa a se desintegrar. Por isso, primeiro o oxigênio deve alcançar o cérebro. E é um mistério como essas pequenas células estão fazendo e decidindo isso. Depois que as necessidades do cérebro estão satisfeitas, então são os órgãos de segundo grau, de terceiro grau, de quarto grau... Dessa maneira ele deve se mover.
    Vocês são uma cidade de sete milhões de seres vivos. Isso é uma organização e isso é o que deve ser. Todos os nossos órgãos separados devem estar conectados, ajudando uns aos outros, lembrando-se de onde a ajuda é mais necessária. E lembre-se primeiro que todo o seu trabalho é para alcançar a iluminação, por isso a tocha da iluminação permanece acesa. Não existe pausa. Eu estou tomando todos os cuidados para que não exista pausa. 
    Bodhidharma sentirá inveja de mim.”

                          OSHO – From Ignorance to Innocence - Cap. 20 – Pergunta 1
                         
Tradução: Sw. Bodhi Champak

Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
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(*) Nota do Tradutor: 
Após anos orientando a montagem e remontagem das atividades ao seu redor, Osho passou a utilizar a expressão organismo para definir a forma de funcionamento e interação das partes no todo, e não mais utilizou para isso o nome organização. Ele passou mesmo a refutar a palavra organização, descrevendo-a como uma coisa morta, oposta ao organismo que é vivo. Na verdade, a sua descrição de organismo é a mesma que ele faz no texto acima, relativamente aos órgãos de nosso corpo. Para ficar mais ainda clara essa questão, sugerimos a leitura das citações do Osho que transcrevemos ao final do artigo publicado nesta edição de março/09 do boletim sob o título "Direitos Autorais do Osho" (clique).

 

           

 

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