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Conexão
Brasil
fevereiro
de 2009
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O
medo de estar só
Querido Osho,
Meu maior medo e
limitação, até onde posso checar, é o medo de ser
abandonada, de ser deixada só. Eu sinto que isso sempre
teve e ainda tem uma influência forte em minha vida e em
meus relacionamentos. Existe outra maneira de livrar-me
desse medo, além de senti-lo e permitir que ele esteja ali
– o que obviamente eu não fiz o bastante? Querido mestre,
você poderia falar a respeito desse medo de ser abandonada
e ficar só?
Sadhan, o medo de ser deixada só é algo natural, porque
todo mundo nasceu em uma família. Assim, desde o início
estamos sempre dentro de um certo grupo, dentro de um certo
aglomerado, de uma certa religião. Sempre existem pessoas
ao nosso redor. Assim, estar entre pessoas tornou-se quase
natural para nós, embora isto seja apenas um costume.
Isso não é natural. No que
diz respeito ao que é natural, todo mundo nasce só. Não
importa se a pessoa nasce numa família. Por nove meses, no
útero de sua mãe, você esteve só. Depois que você
nasceu, sempre que fechar os seus olhos, você se encontrará
só. Mesmo numa praça de mercado, simplesmente feche seus
olhos e você se encontrará só.
Estar só é a sua verdadeira
natureza, e a aglomeração é apenas um costume. Mas o
costume se tornou tão forte e você se tornou tão
inconsciente de sua natureza que existe sempre o medo de que
se todo mundo abandoná-la, o que você irá fazer? Na
verdade você não saberá quem você é se todo mundo
abandoná-la. A opinião das pessoas é que cria uma
identidade para você.
Alguém lhe diz, ‘Sadhan,
você é muito bonita.’ Ele está lhe dando uma certa
identidade. Alguém lhe diz, ‘Você é muito
inteligente,’ outro lhe diz, ‘Você é muito alegre,’
e mais um outro lhe diz, ‘Você é tão amorosa’. Tudo
isso são opiniões. Elas podem ter sido expressadas apenas
como uma forma de etiqueta, elas podem não significar coisa
alguma, mas você capta essas opiniões. E a sua
personalidade é isso.
A sua personalidade depende
do que as pessoas dizem a seu respeito. É por isso que todo
mundo está tão preocupado com sua reputação, com seu
nome, com seu prestígio. E a sociedade explora essa situação
muito espertamente. Ela mantém todo mundo tremendo, com
medo, porque ela tem o poder de lhe tirar a respeitabilidade
e a honra. Sem perceber, você é uma escrava, pois depende
da sociedade para a sua identidade. Sem essa identidade, você
não sabe quem você é. Esse é o medo maior de ser deixado
só, é o de não saber quem você é.
Eu lhes contei uma história
Sufi... Um místico Sufi foi a Meca. Era uma época de
festival, quando os muçulmanos de todo o mundo vão a Meca.
Faz parte da religião deles que todo muçulmano, pelo menos
uma vez na vida, deve ir a Meca. (...)
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E esse místico Sufi, um
pobre muçulmano, foi a Meca. Todos os hotéis estavam
cheios, todos os caravanserai (grandes pousadas) estavam
cheios. E ele não era um homem rico. Ele bateu em muitas
portas, mas em todos os lugares ele foi recusado – milhões
de pessoas estavam reunidas ali. E no meio do deserto,
numa noite fria, com fome e sede, como ele iria
sobreviver? Por fim, ele disse a um gerente de hotel,
‘Eu deitarei em qualquer lugar – nas escadas, no porão.
Mas, pelo menos por esta noite... Eu estou cansado, eu
caminhei milhas e milhas até chegar aqui.’
O gerente disse, ‘Eu
posso ver que você está cansado, e parece que você é
um homem muito simples e humilde. Eu não posso recusá-lo.
Mas o problema é o seguinte: nós não temos quarto
algum, lugar algum. Somente uma coisa é possível. Eu dei
um quarto para um homem – ele é rico. É um quarto de
casal e ele está só, mas ele pagou pelo quarto. Eu posso
perguntar a ele. Talvez ele sinta alguma compaixão por
você. Venha comigo.’
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O gerente pensou,
‘Não haverá problema, pois uma cama está vazia. Por
que mandar esse pobre homem embora...? Ele pode dormir.’
Assim, o gerente deixou-o no quarto, e o místico foi para
a cama com seu turbante, com sapatos, com o casaco – nem
mesmo tirou os sapatos. Ele estava todo vestido, e
naturalmente estava difícil dormir. Ele ficou tossindo e
se virando na cama, e por causa disso o homem a quem
pertencia o quarto não conseguia dormir.
Por fim, o homem disse,
‘Escute, eu permiti que você dormisse aqui, mas você não
dorme, você simplesmente tosse e se vira na cama. E eu
posso ver que em tal situação ninguém vai conseguir
dormir: você nem mesmo tirou os sapatos, ainda está com
seu turbante e está dormindo com um casaco apertado. Isso
é impossível. E você também não está me deixando
dormir.’
O místico disse, ‘Isso
é um grande problema.’
O homem
disse, “Qual é o grande problema?’
Ele disse, “Você está
dormindo nu; eu também tenho o costume de dormir nu.’
O homem disse, “Então
qual é o problema? Simplesmente fique nu e vá dormir!’
O místico disse, ‘Isso não
é tão fácil. O problema é: se eu dormir nu, de manhã
como eu vou descobrir quem sou eu – você ou eu? Porque
minha única identidade são minhas roupas: meu turbante,
meus sapatos. Nu, eu não tenho identidade alguma. Assim,
de manhã, quem dirá quem eu sou?’
O homem riu de tal
estupidez. E disse, ‘Eu vou lhe sugerir uma coisa. Dê
uma olhada naquele canto – um brinquedo – talvez seja
das pessoas que estiveram aqui antes no quarto, seus
filhos devem tê-lo deixado.’ Assim, ele disse, ‘Faça
uma coisa, pegue aquele brinquedo, amarre-o em seu pé e vá
dormir. De manhã você poderá ver que o brinquedo está
ali, assim, esse certamente é você.’
O místico disse, ‘Isso
me soa absolutamente correto.’ Ele tirou as roupas e
ficou nu. O outro homem ajudou-o a amarrar o brinquedo em
seu pé e ele caiu no sono, começando a roncar
imediatamente. De fato, ele estava cansado.
O outro homem teve uma idéia.
Ele desamarrou o brinquedo, amarrou-o em seu pé e foi dormir. De manhã,
o místico acordou, olhou para seu pé e para o pé do
outro homem e disse, ‘Meu Deus, eu sei que você é eu,
mas quem sou eu? É absolutamente certo que você é eu,
porque o brinquedo está ali no seu pé. Mas agora surgiu
o problema, quem sou eu?’
Os místicos têm
usado essa história por séculos, para lhe dizer que toda
a sua identidade consiste em coisas não essenciais, que são as opiniões que lhe são dadas pelos outros.
Eles podem voltar atrás em suas opiniões, por isso as
pessoas estão sempre com medo de fazer algo que vá
contra a tradição, a religião, a ideologia política,
as atitudes nacionalistas. Ainda que elas pareçam ser
totalmente erradas, as pessoas continuam apoiando-as pela
simples razão de terem medo de que se elas levantarem
suas vozes contra alguma coisa tradicional, a sociedade
poderá retirar a identidade que ela lhes deu. Então você
não saberá quem você é.
Este é o medo, Sadhan, de
que se você for deixada só, como saberá quem você é?
Todas aquelas pessoas que fizeram de você alguma coisa,
um alguém, todos elas já se foram. E o medo permanecerá
até que você venha a conhecer a si mesma diretamente, não
através dos outros.
Estas são as duas coisas a
serem lembradas. Quando você conhece a si mesma através
dos outros, essa é a sua personalidade, apenas uma camada
fina de opiniões. Quando você conhece a si mesma
diretamente, você conhece a sua individualidade. E uma
vez que você conhece a sua individualidade, o medo de
ser deixada só desaparece. Não existe outra
maneira.
Você está perguntando,
‘Meu maior medo e limitação, até onde posso checar, é o medo de ser
abandonada, de ser deixada só’ Este não é somente
seu medo, este é o medo de que sofre todo ser humano. E
é bom que você tenha ficado consciente dele, porque esse
é o primeiro passo para se livrar dele.
‘Eu
sinto que isso sempre teve e ainda tem uma influência
forte em minha vida e em meus relacionamentos’ Se o
medo existe, é provável que ele tenha influência em sua
vida, porque você sempre agirá de uma maneira para que não
fique só, seja qual for o preço que tenha que pagar,
mesmo que você tenha que permanecer uma escrava por toda
a sua vida. Se você tiver que vender a sua alma, você
venderá, mas você permanecerá cercada pela multidão.
Isso parecerá aconchegante, seguro, protegido. Você
saberá quem é você. |
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Isso destruirá toda a sua beleza espiritual, sua glória
espiritual. Isso destruirá todas as possibilidades de seu
crescimento interior. E isso vai influenciar seus
relacionamentos. Milhões de pessoas continuam em
relacionamentos que são simplesmente infernos; mas devido
ao medo de que possam ser deixadas sós, elas continuam
agarradas. Isso é miserável, é um grande sofrimento, é
uma tortura, mas pelo menos alguém está com você.
Fazendo a comparação, é
melhor ser miserável estando com alguém do que ser
deixado só. Esta é uma das razões porque milhões de
pessoas continuam sofrendo e continuam agarradas aos
mesmos relacionamentos que não estão lhes dando qualquer
alimento e simplesmente são destrutivos e suicidas. |
Somente um homem ou mulher que é capaz de estar só, será
também capaz de estar num relacionamento sem ser destruído
por ele – porque estar só já não será mais um medo.
Se algum relacionamento está criando miséria, você pode
simplesmente sair dele. Ninguém pode impedi-lo. É uma
situação muito patética, a de milhões de pessoas que
estão agarradas umas às outras apenas devido ao medo de
que elas possam ser deixadas sós. E estar só é a nossa
natureza. Não há nada para se temer, você apenas tem
que experienciar isso. Uma vez que você tenha
experienciado, nos profundos silêncios de seu coração,
a beleza e o êxtase de sua solitude, todos os medos vão
embora. E você irá rir de seu passado: quão estúpida
você estava sendo! O que você esteve fazendo consigo
mesma?
‘Existe
outra maneira de livrar-me desse medo, além de senti-lo e
permitir que ele esteja ali – o que obviamente eu não
fiz o bastante?’ Só existe uma maneira e ela é:
aprenda a entrar em sua solitude quantas vezes for possível.
Sempre que tiver uma chance, não arrume uma ocupação
desnecessária para evitar a solitude. Sempre que tiver
uma chance, feche seus olhos, sente-se silenciosamente,
relaxada, e olhe para dentro. Pouco a pouco o tumulto será
colocado em ordem, a mente se tornará quieta, e um silêncio
profundo predominará. E de repente você começará a
sentir o seu centro mais profundo, o verdadeiro centro de
sua vida, o qual está só. Ali não existe e nunca poderá
existir mais alguém.
Ninguém consegue chegar
ali, exceto você. Ali é seu território. É o único
lugar que pertence a você. Ninguém consegue tirar de você,
nem mesmo a morte. Isso acontecerá com o seu lado de
fora, o corpo, a mente, mas não com o espaço mais
interno, que por séculos temos chamado de alma, espírito,
ou o deus interno em você – ou qualquer nome que você
queira dar. Mas essa solitude, uma vez conhecida,
simplesmente remove todos os medos. Na verdade ela traz
uma nova dimensão de êxtase. Ao invés de sentir medo da
solitude, você se tornará mais e mais intrigada com seu
mistério. Você irá querer estar mais e mais só.
No meio da noite, você
acordará, sentará na cama e simplesmente entrará em sua
solitude. E isto é apenas uma questão de seguir
repetindo. Na medida em que você vai se movendo para
dentro e para fora, vai ficando mais fácil, o caminho se
torna mais leve. Isso se torna tão fácil que a qualquer
momento você simplesmente fecha os olhos e imediatamente
alcança o centro, sem perder um átimo de segundo. Então,
até na praça do mercado você pode estar só, no meio da
multidão. E você sentirá uma certa alegria crescendo em
você, uma certa canção surgindo em seu silêncio, uma
certa fragrância que você nunca conheceu antes.
Sadhan, este não é um
grande problema. É uma coisa muito simples. Apenas porque
as pessoas esqueceram a idéia de ir para dentro, isso
parece algo difícil. Mas eu lhe digo que é a coisa mais
simples do mundo.
O medo de estar só ou de
ser deixado só, não é um fenômeno simples; ele é
muito complexo. Por causa disso muitas outras coisas
acontecem a você: o ciúme é parte disso, a raiva é
parte disso, a tristeza, o apego e a possessividade são
partes disso. Você pode ver: por que você quer dominar,
enquanto esposa, enquanto marido, enquanto pai? Por que
você quer dominar? Apenas para se certificar de que o
outro está absolutamente sob seu controle. Por isso todo
mundo está tentando manter todo mundo sob controle. Mas
no fundo é apenas o medo de ficar só. E isso não é
apenas hoje; talvez desde o início dos tempos – se é
que existe um início – o medo tem estado aí.
E, Sadhan, porque você é
uma mulher, isso é ainda mais complexo, pois o homem tem
retirado todas as possibilidades de sua independência. Na
maior parte das vezes eles não tem permitido que vocês se
eduquem, que aprendam qualquer arte, qualquer habilidade;
eles não tem permitido que vocês sejam livres e
independentes financeiramente. Essa foi a estratégia deles
para mantê-las no cativeiro. Eles também têm medo de serem
deixados sós. Devido ao seu medo, eles têm destruído a
liberdade da mulher. E a mulher tem mais medo de ser
deixada só, porque agora ela se tornou totalmente
dependente. Ela não é capaz de ganhar seu dinheiro, de
se levantar por si mesma. Assim, mesmo que seu marido seja
um torturador, um sádico, ela terá que permanecer com
ele. Pelo menos ele cuidará da alimentação dela, das
suas roupas e de seu abrigo.
Numa
noite em que chegou muito tarde em casa, Adão encontrou
Eva à sua espera com muita raiva. ‘Atrasado de novo,’
ela gritou, ‘você deve ter visto alguma outra
mulher.’
‘Eu considero essa acusação um
absurdo sem motivo,’ disse o ultrajado Adão. ‘Você
sabe muito bem que eu e você somos as únicas pessoas
neste mundo.’ E foi logo pra a cama.
Ele acordou com uma sensação de cócegas
em seu peito. Ao abrir os olhos, ele viu a Eva sobre ele,
contando cuidadosamente as suas costelas.
Porque Deus criou a Eva tirando uma costela do Adão, ela
estava contando. Talvez ele tivesse tirado outra costela e
em algum lugar nas redondezas houvesse uma outra mulher
atrás dos arbustos.
Este medo, embora seja
natural, pode ser abandonado, porque você tem a
possibilidade de crescer acima da natureza. A sua consciência
pode ir mais alto, e das alturas, aquilo que era muito
importante nos vales negros da vida, se torna
absolutamente sem importância e ridículo. O dia em que
você puder rir de todos os seus medos será um grande dia
em sua vida – e eu estou preparando você para esse
dia.
Eu estou preparando você
para que um dia você possa rir de tudo o que tem sido
medo, miséria, possessividade, dominação, e que você
possa fazer piada com tudo o que as pessoas estão levando
tão a sério.
A vida é muito hilariante.
Por que você deve se preocupar desnecessariamente com o
medo, a miséria, com a Latifa e o Om? Eu penso que a
maioria de seus problemas parecem ser importantes porque
eles são os problemas de milhões de pessoas. Assim, você
pensa que certamente os seus problemas são sérios,
grandes e difíceis. Mas essa não é a conclusão
correta.
Hymie e
Betty Goldenberg estavam passando o dia no campo. Betty
viu um lugar bonito debaixo de uma árvore próximo a um
lago e mostrou-o para o Humie.
‘Este é um belo local para um
piquenique’, ela disse.
‘Deve ser, querida,’ disse
duvidando Hymie. ‘Cinqüenta milhões de mosquitos não
podem estar errados.’
Esse é o problema. Mas eu lhe digo, cinqüenta milhões
de mosquitos podem não estar errados, mas cinqüenta milhões
de seres humanos podem estar, porque eles estão
simplesmente imitando uns aos outros. A história é a
mesma. Eles estão jogando os mesmos jogos, os mesmos papéis,
e só porque toda a multidão está sofrendo o mesmo
problema, um problema pequeno se torna uma epidemia. Se
você olhar para o problema e esquecer os cinqüenta milhões
de mosquitos, verá que ele é um problema muito pequeno e
que um método muito pequeno poderá trazer você para
fora dele.
OSHO – The New Dawn - Cap. 33 – Pergunta 2
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
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2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
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