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Conexão
Brasil
outubro
de 2007
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A
mente humana é um milagre
Querido
Osho,
Você nos disse que a mente se torna mais e mais quieta se
meditamos regularmente. No ano passado, quando eu estava
morando na Europa, fora de uma comuna, os pensamentos se
tornaram mais e mais fortes durante minhas meditações até
eu começar a ficar amedrontada ao sentar.
Agora
que eu estou com você novamente, este problema foi embora.
Mas eu me pergunto: como pode alguém ser uma sannyasin por
dez anos, meditando todos os dias, e ter uma mente que se
torna mais e mais barulhenta?
“Sagarpriya,
a questão que você formulou tem muitas implicações.
Primeiro, é preciso entender que a sua mente é muito
antiga – doze anos nada são comparados à história da
mente; é a história de todo o universo desde o exato começo.
Ela tem
trabalhado por tanto tempo e tão eficientemente que os
cientistas dizem que não são capazes de criar um
computador que possa competir com a mente humana. E a mente
humana está ocupando um pequeno espaço, no seu crânio; os
computadores deles estão ocupando grandes salas. Um
cientista calculou que seria necessário mais de um quilômetro
quadrado de espaço para um computador comparável à mente
humana. A mente humana é um milagre.
Sentada comigo,
você está sentada com um milagre ainda maior. Você está
sentada com uma não-mente. Naturalmente o silêncio se
torna mais fácil, a meditação vem por si mesma, assim
como uma brisa fresca. Quando você fica só, a mente é
tudo o que você tem. Este problema continuará a acontecer,
a menos que sua meditação vá a uma tal profundidade que
você tenha algo mais valioso que a mente.
Comigo você
pode ter um vislumbre, só por um momento. E esse vislumbre
cria o anseio por ter aquele momento esticado pela
eternidade. Ele é tão cheio de paz, tão fresco, quem não
gostaria disso?
Mas, quando você
volta para o mundo, existem apenas computadores andando por
todos os lados; você tem que se comunicar com computadores.
Um psicólogo definiu o corpo do homem como nada mais que um
mecanismo para facilitar o funcionamento da mente. O psicólogo
está dizendo exatamente o contrário: é a mente que está
carregando você; todos o seu corpo está funcionando só
pelo bem da mente.
Assim, no
momento em que você vai para o mundo – isto aqui não é
parte do mundo; nós estamos tentando criar pequenas ilhas
onde a mente não seja mais exigida como um computador. Mas
no mundo você precisará da mente. E o problema continuará,
Sagarpriya, até que você tenha algo mais que a mente. Ter
apenas um vislumbre de silêncio não é suficiente.
Você precisa de
um centramento, você precisa de uma percepção, você
precisa exatamente da iluminação – somente então você
poderá permanecer no mundo, sem sua mente funcionar, a
menos que você queira usá-la.
A mente é um
mecanismo tremendamente valioso, um dos maiores milagres na
biologia, na evolução do homem. A mente é simplesmente
inacreditável, a maneira como ela funciona... Porque você
nada sabe a respeito dela, embora ela seja a sua mente. Você
não sabe como ela acumula milhões de memórias.
Os cientistas
calcularam que uma simples mente humana pode conter todas as
bibliotecas do mundo. Ela pode memorizar tudo o que foi
escrito ao longo das eras. Essa é a capacidade; você pode
usá-la, você pode não usá-la.
E você não
conhece as bibliotecas. Apenas a Biblioteca do Museu Britânico
tem livros suficientes para dar três voltas em todo o
mundo, se você colocar um livro ao lado do outro, da
maneira como você os coloca na prateleira da biblioteca. E
essa é apenas uma biblioteca! Moscou talvez tenha a maior
biblioteca, e todas as grandes universidades do mundo têm
bibliotecas semelhantes. Só na Índia existem cem
universidades com bibliotecas extraordinariamente
grandes.
E a própria idéia
de que uma simples mente humana tem a capacidade de
memorizar tudo o que está escrito em todos os livros que
existem em todo o mundo...Isso simplesmente nos deixa
perplexos, parece inacreditável.
Você não sabe
o que a sua mente está fazendo por você. A sua mente está
regulando tudo em seu corpo. De outra forma, como você
pensa que por setenta ou oitenta anos, ou mesmo por cem anos
– e existem pessoas que tem até passado disso; elas têm
alcançado o aniversário de cento e cinqüenta anos, e
existem umas poucas centenas de pessoas na União Soviética
que ultrapassaram a idade de cento e oitenta anos.
Os cientistas
dizem que não há razão para o corpo morrer senão aos
trezentos anos. É apenas uma velha hipnose, autohipnose,
que gerou a idéia predominante de que você tem apenas
setenta anos de vida. Isso vai fundo em sua consciência, de
que por volta dos setenta anos você começa a achar que está
desabando, que você já se foi.
E, de qualquer
maneira, com o tempo, na idade dos sessenta, você está
aposentado e nada existe para fazer. A morte parece ser um
alívio, não um risco. Nós não temos sido suficientemente
capazes e humanos para oferecer uma situação onde os
nossos idosos possam ter alguma dignidade, algum
auto-respeito, algum orgulho. Nós não temos sido capazes
de encontrar dimensões onde eles possam contribuir para o
mundo. E eles têm experiência e certamente são capazes de
contribuir bastante – o suficiente para o auto-respeito
deles, o suficiente para eles viverem e não se sentirem
como um fardo. (...)
Os cientistas
dizem que o corpo do homem tem a capacidade, pelo menos –
isto é o mínimo – de viver trezentos anos. Mas, por que
o homem não vive tanto tempo? Talvez o homem não saiba
como viver, talvez ele não saiba como usar o seu corpo,
como usar a sua mente.
Sagarpriya, você
tem que entender duas coisas muito claramente: primeiro, a
mente é um grande milagre.
A existência não
foi capaz de criar algo maior que a sua mente. O seu
funcionamento é tão complexo que deixa perplexos os
maiores cientistas. Ela administra todo o seu corpo que é
um sistema muito complexo. Quem cuida para que uma certa
parte de seu sangue vá para o cérebro? Quem cuida para que
parte de seu alimento se transforme em ossos, se transforme
em sangue, se torne pele? Quem cuida para que parte de sua
pele se torne unhas, que parte de sua pele se torne olhos e
orelhas?
Certamente você
não está administrando isso, e eu não vejo qualquer outro
administrador por perto. Assim, primeiro você tem que estar
agradecida à mente. Este é o primeiro passo para ir além
da mente, não como uma inimiga, mas como uma amiga. Ao me
ouvir dizer continuamente que você tem que ir além da
mente, você pode cair num mal entendido. Eu tenho tremendo
respeito pela mente, não existe maneira de retribuir a
nossa gratidão.
Assim, a
primeira coisa é: meditação não é contra a mente, ela
é além da mente. E além não é equivalente a contra.
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Esse mal entendido mais se espalha quanto mais pessoas
falam sobre meditação, particularmente pessoas que não
compreendem meditação – aquelas que já leram a respeito,
aquelas que já ouviram a respeito, aquelas que conhecem as técnicas...
E as técnicas são simples; você as pode ler, elas estão
disponíveis em muitas escrituras. E agora existem livros que
ensinam como fazer qualquer coisa – mecânica de carro,
engenharia elétrica, qualquer coisa – você pergunta e o
vendedor de livro está pronto para lhe dar um livro sobre como
fazer aquilo.
Um mestre nunca se tornará irrelevante por uma simples
razão: quem lhe ensinará a amar a mente e ir além dela? A
amar e respeitar seu corpo? A ter gratidão para com sua mente e
seu funcionamento extraordinário e milagroso? Isso criará uma
grande amizade, uma ponte entre você e a mente.
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Com
o aprofundamento dessa amizade, sempre que você estiver
meditando, a mente não perturbará, porque a sua meditação não
é contra ela. Na verdade, é a sua própria realização, é o
seu florescimento maior. Ir além dela não é uma atitude
hostil, mas uma evolução amigável.
Assim,
isso deve ser a base de todo meditador: não ser um lutador. Se
lutar, talvez você seja capaz de aquietar a mente por algum
tempo, mas isso não será uma vitória. A mente voltará de
novo, você precisará dela. Você não consegue viver sem ela;
você não consegue existir no mundo sem ela.
E
se você criar um relacionamento amigável com a mente, uma
ponte amorosa, ao invés de ser um obstáculo para a meditação,
ela começará a se tornar uma ajuda. Ela protege o seu silêncio,
porque aquele silêncio é também um tesouro dela, ele não é
apenas seu. Ela se torna um solo no qual as rosas da meditação
irão florescer, e o solo será tão feliz quanto as rosas.
Quando as rosas dançarem no sol, na chuva, no vento, o solo
também se alegrará.
Minha
abordagem é totalmente diferente da abordagem que até agora
tem sido feita. Por milhares de anos, todas as religiões
estiveram ensinando algo contra o corpo, contra a mente. (...)
As
religiões têm ensinado contra o corpo. Isso é tão ridículo
– você tem que viver no corpo, tem que alimentá-lo, tem que
mantê-lo saudável, ele é a sua casa. Elas têm falado contra
a mente. Isto agora é a última coisa – Israel fez um
trabalho pioneiro. O parlamento de Israel parece ser constituído
verdadeiramente por idiotas de primeira classe.
Eu
não acho que eles conheçam mesmo algo a respeito de meditação,
mas o medo... Os judeus estão com medo, os muçulmanos estão
com medo, os hindus estão com medo, os jainas estão com medo
– todos eles estão com medo de meditação. Embora eles falem
a respeito de meditação, eles têm medo dela. Eles falam
porque, sem falar sobre meditação, a religião deles parece
estar incompleta, mas, basicamente, eles são contra ela porque
o homem que se torna meditador, simplesmente escapa,
sorrateiramente, de qualquer religião organizada. Ele não é
mais um hindu, não é mais um judeu, nem um muçulmano. Ele não
consegue continuar acreditando em todos os tipos de superstições
e estupidezes das quais todas as religiões estão cheias.
Os
judeus acham que eles são o povo escolhido de Deus. Ora, nenhum
meditador consegue achar isso. Pensar que ‘somente nós, os
judeus, somos o povo escolhido de Deus, e toda a humanidade, de
alguma maneira, é inferior a nós’... Mas não são apenas os
judeus que têm cometido esse pecado. Eles têm sofrido muito
por isso; eles ainda estão sofrendo. Eles continuarão a
sofrer, porque a própria idéia é tão estúpida que ela cria
hostilidade, particularmente num mundo onde os germânicos nórdicos
pensam que eles são o povo escolhido, onde os hindus pensam que
eles são o povo escolhido, porque o seu livro sagrado é o mais
antigo e é a primeira escritura sagrada escrita por Deus. Eles
não conseguem tolerar uma idéia como a de Moisés dizendo a
seu povo que ‘vocês são o povo escolhido de Deus; vocês têm
o direito básico de serem superiores a todo mundo.’ Quem pode
tolerar isso? Os hindus pensam que eles é que são superiores a
todo mundo. (...)
Se a meditação se tornar mais preponderante, então você
ficará livre de todos esses preconceitos; conseqüentemente,
nenhuma religião quer meditação, embora elas possam falar
sobre ela.
Para
mim nem Deus é importante, nem céu, nem inferno, nem anjos –
todos eles são apenas hipóteses. Para mim, a meditação é a
alma exata da religião. Mas ela pode ser alcançada apenas se
você se mover corretamente. Um simples passo na direção
errada... Você está sempre se movendo no fio da navalha!
Comece
com amor ao corpo, que é a sua parte mais externa. Comece a
amar sua mente – e se você ama a sua mente, você irá enfeitá-la,
assim como você enfeita o seu corpo. Você o mantém limpo, viçoso;
você não quer que seu corpo cheire mal para as pessoas, você
quer que seu corpo seja amado e respeitado pelos outros. A sua
presença deve ser não apenas tolerada, mas bem-vinda.
Você
tem que decorar a sua mente com poesia, com música, com arte,
com ótima literatura. O seu problema é que a sua mente está
cheia apenas com coisas corriqueiras. Essas coisas medíocres
circulam pela sua mente de maneira que você não consegue amá-la.
Você não pensa em alguma coisa que seja grandiosa. Coloque-a
em sintonia com os grandes poetas, coloque-a em sintonia com
pessoas como Fyodor Dostoievski, Leon Tolstoi, Anton Chekov,
Turgenev, Rabindranath, Kahlil Gibran, Mikhail Naimy, preencha-a
com as maiores alturas que a mente já alcançou.
Então,
você não ficará hostil à mente. Então você irá se alegrar
na mente; mesmo se a mente estiver ali no seu silêncio, ela terá
uma poesia e uma música própria, e transcender uma mente tão
refinada é muito fácil. É um passo amigável em direção a
picos mais altos: a poesia se transformando em misticismo, a
grande literatura se transformando em grandes insights sobre a
existência, a música se transformando em silêncio.
E
à medida que essas coisas começam a se transformar em picos
mais altos, além da mente, você estará descobrindo novos
mundos, novos universos para os quais nós nem mesmo temos
nomes. Nós podemos dizer felicidade, êxtase, iluminação, mas
nenhuma palavra descreve isso verdadeiramente. Está
simplesmente fora do poder da linguagem reduzir isso em explicações,
em teorias, em filosofias. Isso está simplesmente além... Mas
a mente se alegra em sua transcendência.
Eis
o que é a minha única contribuição para você. Com absoluta
humildade eu quero lhe dizer que estou muito à frente mesmo de
Goutama Buda pela simples razão de que ele ainda está lutando
com a mente. Eu amei a minha mente e através do amor eu a
transcendi.
Isso é um começo totalmente novo. Naturalmente eu tenho
que ser condenado. Muitos virão até a mim, mas não serão
capazes de caminhar comigo, nem mesmo alguns passos, porque logo
descobrirão que seus preconceitos os estarão impedindo de
seguir comigo. |

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Os seus preconceitos são antigos e naturalmente – eu
posso compreender – eles nâo podem pensar que alguém possa
ir além de Goutama Buda, da mesma maneira que os contemporâneos
de Goutama Buda não podiam acreditar que ele tinha ido além
dos VEDAS e além dos profetas dos UPANISHADS, da mesma maneira
que os contemporâneos de Lao Tzu e Chuang Tzu não podiam
acreditar que eles tivessem ido além de Confúcio.
E
se, apenas por questão de humildade, eu não disser a verdade,
eu estarei cometendo um crime contra a verdade. Não me
interessa tal humildade; o que eu quero é exatamente que o caso
seja explicado a você.
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A minha abordagem a respeito de meditação é totalmente
nova, totalmente fresca, porque ela depende do amor – não da
luta, não da guerra. Eu deixei Mahavira vinte e cinco séculos
atrás. O seu nome não era Mahavira – mahavira significa ‘o
grande guerreiro’. O seu nome era Vardhamana, mas as pessoas
mudaram seu nome porque ele era um grande guerreiro. Um
guerreiro contra quem? – contra seu corpo, contra a sua mente.
E eu não acho que alguém que seja contra seu corpo e contra
sua mente seja capaz de alcançar o além.
Somente o amor é o
caminho.
Sagarpriya, faça a
sua mente tão bela quanto for possível. Enfeite-a com flores.
Eu fico realmente muito triste quando vejo pessoas que não
conhecem O LIVRO DE MIRDAD, que nunca viram as histórias
absurdas de Chuang Tzu, que nunca se preocuparam em compreender as
histórias totalmente irracionais do Zen. Eu não consigo
conceber como você consegue viver belamente se não
conhece os livros de Dostoievsky... Para mim, OS IRMÃOS
KARAMAZOV é mais importante que A BÍBLIA. Ele tem tantos
insights grandiosos, que A BÍBLIA não deve ser considerada de
jeito algum, nem mesmo por comparação. Mas A BÍBLIA será
lida – e quem vai se preocupar com OS IRMÃOS KARAMAZOV, no
qual Dostoievsky colocou toda a sua alma? Ou ANA KARENINA de
Leon Tolstoi, ou PAIS E FILHOS de Turgenev, OFERENDA DE CANÇÕES
de Rabindranath? E estes são apenas poucos nomes; existem
milhares que alcançaram o melhor florescimento da mente.
Primeiro deixe sua
mente ser enfeitada. Somente além desse jardim perfumado da
mente você será capaz de ir silenciosamente, sem qualquer
luta; a mente será uma ajuda, não um obstáculo; então eu
posso dizer com total autoridade: ela não é um obstáculo. Você
simplesmente não sabe como usá-la.
Ela é bela,
Sagarpriya, e quando você vem aqui, você se sente meditativa.
Pelo menos estes pequenos espaços, estes poucos dias, irão
gradativamente começar a se tornar mais fortes, mais profundos.
Um dia, você terá ido e estes momentos estarão com você,
mesmo no mundo dos negócios, e este será um dia de grande
alegria.
Mas isso leva tempo.
Eu tenho que dizer às pessoas que isso pode acontecer
instantaneamente. Não que isso seja falso – pode acontecer
instataneamente, mas onde encontrar o gênio que consegue
compreender isso instantaneamente?
Quando eu digo que
isso pode acontecer instantaneamente, as pessoas simplesmente
pensam, ‘Isso é impossível para nós.’ Se eu lhes disser
que isso pode acontecer ao longo de algumas vidas, elas acham,
‘Isto parece estar perfeito,’ porque enquanto isso elas têm
tempo de fazer todas as suas coisas estúpidas. Qual é a
pressa, se isso é uma questão de algumas vidas? Primeiro cuide
de seu namorado, de sua namorada; primeiro vá visitar as ruínas
de Roma, da Grécia, da Índia; primeiro faça todas essas
coisas tolas que toda a multidão espera de você. E no que se
refere à iluminação, ela não vai acontecer agora, isso
demora muitas vidas, assim, por que a pressa? Você pode
continuar deixando para depois.
É por isto que as
pessoas amam todas as religiões que falam sobre muitas vidas
– não porque elas compreendem o significado disso, mas porque
elas querem usar isso como uma desculpa.
Isto pode acontecer
neste exato momento, mas não acontecerá. A razão não está
na sua natureza; a razão está em você. Não acontecerá
porque você não quer que aconteça exatamente agora.
Pense apenas por um
momento: Se eu fosse fazer você se iluminar neste exato
momento, você começaria a pensar, ‘Mas eu não pedi ao meu
marido. E o que fazer com meus filhos? Eu tenho que casar a
minha filha. Eu acabei de encontrar a minha namorada, meu Deus!
E isso vai acontecer exatamente agora? Ele não poderia esperar?
Deixe-me só terminar a lua-de-mel.’ Mil pensamenos surgirão
em sua mente: ‘Meu Deus, eu comecei um novo negócio, investi
tudo nele. Se ele tivevesse me falado antes, eu não teria me
envolvido em toda essa bagunça.’ Todo mundo, sem exceção...
Eu contei a vocês a
história de um grande mestre ceilonês que tinha milhões de
discípulos e que, por cinqüenta anos, esteve lhes dizendo
somente uma coisa: Meditem. O dia de sua morte chegou e ele
anunciou, ‘Após sete dias eu vou deixar o corpo, assim deixe
que todos os meus discípulos se reúnam de modo que eu possa vê-los
uma vez mais, porque eu não voltarei novamente.’
Assim, todos os discípulos
se reuniram; foi uma grande reunião. E antes de morrer, o velho
homem disse, ‘Eu sempre disse a vocês para meditar, mas vocês
não me ouviram. Eu dou a vocês uma outra chance. Desta vez vocês
não têm que fazer coisa alguma. Eu vou morrer e eu posso levar
vocês comigo. Tem alguém pronto para vir comigo?’
Todo mundo olhou, um
para o outro: ‘Você ficou muito tempo com ele, você pode
ir.’ As pessoas olhavam umas para as outras e sussurravam,
‘O que você está fazendo? Todos os seus filhos estão
casados, tudo já está terminado, ninguém precisa de você...’
Mas ninguém se levantou.
Ele disse,
‘Simplesmente se levantem e eu levarei vocês comigo.’
Houve um grande silêncio
e as pessoas começaram a olhar para baixo – como encarar esse
velho homem? É tão embaraçoso. Mas todos eles ficaram sem se
mover, porque qualquer movimento ele poderia entender mal –
ele poderia ver alguém se movendo e dizer, ‘Levante!’.
Finalmente um homem levantou a mão. Ele disse, ‘Primeiro, por
favor, compreenda isso: Eu não estou me levantando. Eu
simplesmente levantei a mão para lhe formular uma pergunta.’
O velho homem disse,
‘Por cinquenta anos eu estive respondendo a perguntas e você
ainda está formulando perguntas? E desta vez eu estou lhe dando
a oportunidade de vir comigo.’
Ele disse, ‘Sinto
muito. Algum dia eu irei. Conte-me apenas o segredo de como eu
posso ir me encontrar com você.’
Ele disse, ‘O que
eu estive falando para vocês por cinqüenta anos?’
O homem disse, ‘Só
uma vez mais...’
É possível neste
exato momento abandonar todos os seus preconceitos, limpar sua
mente. É preciso apenas uma resolução absoluta, a maior
confiança e um amor que não conheça limites.
Mas se não puder
acontecer neste momento, eu não quero que alguém fique triste
e entre num estado de desespero. Isso pode acontecer amanhã.
Você pode relaxar, não há pressa. Mas, por favor, compreenda
o processo claramente: ame seu corpo – contra todas as religiões.
Ame sua mente, refine sua mente – contra todas as religiões.
E eu lhes digo que a
luta não é o caminho; o caminho é o amor. Ame seu corpo, ame
sua mente, e este próprio amor criará a energia, a atmosfera para
transcender a mente, para criar o que eu chamo meditação ou o
estado de não-mente. Ele virá. Ele tem que vir. Ninguém sai
deste templo de mãos vazias.
Mas vocês têm que
entender uma coisa: eu não represento qualquer velha tradição,
eu não represento nenhuma velha religião; eu não represento
qualquer Goutama Buda, ou Mahavira, ou Maomé ou Jesus ou Moisés
– eu simplesmente represento a mim mesmo.
E se você puder
amar e confiar num estranho que não pertence a qualquer
organização ortodoxa, então comigo a meditação estará
acontecendo... E logo, sem mim também, ela estará acontecendo.
Levará um pouco de tempo. Levará um pouco de tempo porque é
preciso crescer as raízes.
Assim, Sagarpriya,
sempre que você puder encontrar um tempo, venha. E não se
preocupe com o que acontece do lado de fora; é simplesmente
lixo. O que acontece aqui, conte apenas isso como sendo sua vida
verdadeira. Os momentos em que você está comigo permanecerão
com você mesmo depois da sua morte, e os momentos que você está
desperdiçando no mundo simplesmente irão pelo esgoto.
Mas não há
necessidade alguma de se preocupar. Se mesmo uns poucos momentos
de meditação começarem a se tornar sementes em você, começarem
a criar raízes em você, não está muito longe o dia em que as
primeiras flores de sua consciência estarão crescendo dentro
de você.
E eu a compreendo,
Sagarpriya; compreendo você e sua confiança e seu amor. Poucas
pessoas têm tanto amor e tanta confiança.
Mas, abandone toda
hostilidade para com a mente. Existe uma fase de luta com a
mente, talvez inconsciente – a mente é apenas uma coisa pobre
e bela. (...)
Sinta esta paz,
absorva este silêncio. E à medida que você o absorve, ele se
torna mais profundo... Ele começa a tocar o seu coração.
Não há movimento
algum, mas você sentirá uma dança.
Não há palavra
alguma, mas você sentirá uma canção.
É como se ninguém
existisse, mas uma extraordinária unidade... Todas as
personalidades se foram e somente uma consciência, pulsando em
sincronicidade um com o outro.
Só para concluir
este belo momento... Eu sempre gosto de deixar vocês rindo,
cantando e dançando. Isto é apenas uma indicação de que no
dia em que eu finalmente deixá-los, eu gostaria que vocês
cantassem, dançassem e celebrassem.
Na verdade, nenhum
homem na história do mundo recebeu uma tal celebração quando
morreu como a que vou receber. Uns poucos receberam celebração
apenas dos inimigos, porque os inimigos celebram quando se
morre. Os amigos lamentam.
Eu sou a única
pessoa... Na minha morte os meus amigos celebrarão e meus
inimigos celebrarão. Na minha morte eles estarão juntos em
celebração. Nunca existiu um homem assim antes.
Uma senhora negra em
Nova York recebeu uma chamada telefônica da escola onde seu
filho Leroy estuda. O diretor queria vê-la o mais cedo possível
por causa do comportamento de seu filho.
‘O seu filho,
Leroy,’ começou o diretor, é uma influência
perturbadora.’
‘Exatamente como
seu pai,’ disse a senhora negra.
‘Ele rouba das
outras crianças,’ continuou o diretor.
‘Exatamente como
seu pai,’ disse a mulher.
‘Ele está sempre
entrando em brigas,’ continuou o diretor.
‘Exatamente como
seu pai,’ respondeu a mãe.
‘Ele persegue as
garotinhas e as faz chorar,’ disse o diretor.
‘Exatamente com
seu pai, disse a senhora negra, ‘e, senhor, eu me alegro por
nunca ter me casado com aquele homem!’ "
Osho – The Great Pilgrimage: From Here to Here –
capítulo 13 – pergunta n° 2
Tradução: Sw.
Bodhi Champak
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