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Conexão
Brasil
janeiro de 2007 |
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Divertimento
e Silêncio
Querido Osho,
No Ocidente, a celebração está associada à idéia americana de
divertimento que é sinônima de barulho, música alta, ir ao
cinema, fumar, fazer sexo e liberação de energia, enquanto que
silêncio e serenidade estão automaticamente associados a tédio
e excessiva acumulação de energia, o que resulta em tensão e
ansiedade. Você poderia dizer algo a respeito de silêncio,
celebração e vida?
Chidananda, a questão que você levantou tem muitas
implicações. Não é uma simples questão; ela compreende muitas
questões importantes. Eu gostaria de entrar em cada dimensão da
questão e somente então você será capaz de encontrar a
resposta.
A
primeira coisa para se lembrar é que o homem compreende dois
mundos, um que o leva para fora e o outro que o leva para dentro.
O homem é uma dualidade: ele é um corpo e é uma alma. E por
causa desta tremenda dualidade, surgem todos os problemas do
mundo. A dualidade não é apenas uma. Ela é aquilo que chamamos
de “dualidade gestalt”. Numa dualidade gestalt você nunca vê
ambos os mundos juntos. Se você escolhe ver um, o outro fica
esquecido. Como exemplo, eu tenho falado a respeito de um pequeno
livro de crianças onde existe um desenho feito com linhas
simples, mas nessas linhas existem duas possibilidades: se você
fixar seus olhos no desenho, você pode ver ou uma velha mulher ou
uma bela garota. Você consegue ver cada uma separadamente. Se você
olhar fixamente para a velha mulher, de repente você perceberá
uma estranha mudança: a velha mulher desaparecerá e uma bela
garota estará diante de você.
Se
você persitisse em olhar fixamente... mas em geral os olhos não
olham fixamente, eles se movem continuamente. O movimento é intrínseco
aos seus olhos. Eles ficam cansados de olhar fixamente para uma
coisa. Eles estão sempre em busca de algo novo. Por causa disso,
você logo percebe a bela garota desaparecendo e a velha mulher
voltando novamente ao seu lugar. Ambas são feitas com as mesmas
linhas, apenas as combinações são diferentes, mas você não
consegue ver ambas ao mesmo tempo. Isto é impossível. Porque se
você ver a garota, onde estarão as linhas que fazem a velha
mulher? E se você ver a velha mulher, você não terá linhas
extras para criar a garota. Você consegue ver cada uma
separadamente, mas não consegue vê-las juntas. Isto é dualidade
gestalt, e esta é a realidade do homem.
O
Oriente tem visto o homem somente como uma alma, como uma consciência,
como um ser introvertido. Mas porque foi escolhida uma gestalt, a
outra foi negada. É por isto que no Oriente, por séculos, os místicos
têm negado consistentemente a realidade do mundo. Eles dizem que
ela é apenas um sonho, que é maya, uma ilusão. Que esta
realidade do mundo é feita da mesma matéria que os sonhos são
feitos. Aquilo não está verdadeiramente ali, é apenas uma
miragem, uma aparência. O Oriente tem negado o lado externo – e
tem que negar devido à necessidade interna da dualidade gestalt.
O
Ocidente escolheu o mundo externo e tem que negar o mundo interno.
O homem é visto apenas como um corpo. Psicologia, biologia e
quimica, mas não uma consciência, não uma alma. A alma é
apenas um epifenômeno. E porque somente o lado externo é
considerado como sendo verdadeiro, foi possível desenvolver a ciência
no Ocidente. Tecnologia, milhares de aparelhos, possibilidades de
pousar na lua e no vasto universo que circunda você. Mas mesmo
conhecendo tudo isto, tem havido um profundo vazio na mente
ocidental: algo está faltando.
É
difícil para a lógica ocidental localizar com precisão o que
está faltando, mas é absolutamente certo que algo está
faltando. A casa está cheia de convidados, mas está faltando o
anfitrião. Você tem todas as coisas do mundo, mas você não está
ali. O resultado é uma tremenda miséria. Você tem todos os
prazeres, todo o dinheiro, tudo o que o homem jamais sonhou, e ao
final de séculos de esforços, de repente descobre que você não
existe. O seu interior está oco, não há ninguém.
O
Oriente também tem enfrentado sua própria miséria. Ao pensar
que o mundo externo não é verdadeiro, não há qualquer
possibilidade de progresso científico. A ciência tem que ser
objetiva, mas se os objetos são apenas aparências, ilusões,
qual o sentido em dissecar ilusões para tentar descobrir os
segredos da natureza? Conseqüentemente o Oriente permaneceu
pobre, faminto e submetido a todo tipo de escravidão por séculos.
Estes
dois mil anos de escravidão não foram por acaso. O Oriente
estava preparado para isto. Ele aceitou isto. O que interessa num
sonho, se você é o senhor ou o escravo? O que interessa, se no
sonho você está sendo servido com um alimento delicioso ou se
você está com fome? No momento em que você acorda, ambos os
sonhos se revelarão inválidos. O Oriente consentiu em permanecer
morrendo de fome, em ser escravizado, e a razão é que ele
escolheu uma gestalt diferente: o verdadeiro é o interior.
O Oriente aprendeu como estar silencioso e em paz, para
curtir a felicidade que surge quando você mergulha fundo em sua
interioridade. Mas você não consegue compartilhar isto com outra
pessoa; isto é absolutamente individual. No máximo, você
consegue falar a respeito. Assim, por milhares de anos, o Oriente
tem falado a respeito de espiritualidade, consciência, iluminação,
meditação e externamente tem permanecido um mendigo, doente,
faminto e escravizado.
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Quem vai querer ouvir esses escravos e suas grandes
filosofias? O Ocidente simplesmente tem rido disso. Mas o riso não
tem sido só de um lado. O Oriente também tem rido ao ver que as
pessoas estão acumulando coisas e perdendo a si mesmas.
Por
milhares de anos nós temos vivido num estado de mente muito
estranho e esquizofrênico.
Chidananda,
você disse, ‘No Ocidente, celebração está associada com a idéia
americana de divertimento.’ Isto traz uma outra implicação.
Somente um homem miserável necessita de divertimento. Assim como
um homem doente precisa de medicamento, um miserável necessita de
divertimento. Isto é apenas uma estratégia muito engenhosa para
evitar a sua miséria.
A miséria não é evitada;
você somente se esquece por um tempo que é miserável. Sob a
influência de drogas, do sexo ou sob a influência do que você
chama de divertimento, o que na verdade você está fazendo? Você
está escapando de seu vazio interior. Você está se envolvendo
em todo tipo de coisas. Uma coisa da qual você sente medo é do
seu próprio ser.
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Stress
Osho Zen Tarot
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Isto tem criado uma certa loucura, mas porque no Ocidente
todo mundo está no mesmo barco, isto se torna muito difícil de
ser reconhecido. Milhões de pessoas estão assistindo futebol
americano, e você chama essas pessoas de inteligentes? Então,
quem você vai chamar de retardado? E não é que essas pessoas
estejam apenas envolvidas em jogos como o futebol americano,
elas estão pulando, estão gritando, estão brigando. E porque
não existem estádios suficientemente grandes para acomodar
todo o país, todo mundo está sentado grudado em sua cadeira
diante da televisão. E elas estão fazendo as mesmas coisas estúpidas:
sentadas em suas cadeiras, gritando...
Eu conheço um homem que,
porque seu time estava perdendo, ficou tão enlouquecido que
quebrou sua televisão. Eu estava com este homem e lhe disse,
‘Você está preparado para ser internado num asilo de loucos?
Em primeiro lugar, futebol americano deveria ser para crianças.
Você já passou dessa idade, mas mentalmente você não tem
mais que doze ou treze anos. E o que você fez com sua televisão
me leva a suspeitar que você não é apenas retardado, mas
louco também.’ (...)
As
pessoas têm se tornado tão voltadas para fora que não
conseguem, nem mesmo por um simples momento, sentar em silêncio.
Esta é a coisa mais difícil no mundo. As pessoas não param
quietas. Qual é o medo? O medo é que você pode encontrar o
seu vazio e uma vez que ele seja encontrado, a sua vida perde
todo o interesse, todo o sabor, todo o sentido e significado.
Todo
mundo está fugindo de si mesmo. E chamam de divertimento a essa
fuga de si mesmo.
A
vida do homem ocidental pode ser dividida em duas partes: a
primeira é se divertindo e a segunda é tendo ressaca. Com o
tempo, a ressaca se torna mais prolongada que o divertimento. E
ele segue, num círculo vicioso, entre essas duas partes,
desperdiçando sua vida e não chegando a lugar algum.
Não
se pode dizer que chegar ao cemitério significa chegar a algum
lugar. Isto simplesmente significa que agora a roda está tão
cansada e tão entediada com os divertimentos e com as ressacas
sofridas que ela quer descansar dentro de uma sepultura.
As
pessoas descansam apenas em suas sepulturas.
Fora
da sepultura, não há tempo para descansar.
No
Oriente, nós escolhemos a gestalt oposta. Nós descobrimos
tesouros, mistérios e segredos, mas a dificuldade com o
interior é que você não consegue materializá-lo. Você não
consegue prova-lo no tribunal, você não consegue nem mesmo ter
uma testemunha. A não ser você, ninguém, mais é permitido
entrar em seu mundo interior. Naturalmente, o Oriente pouco a
pouco criou indivíduos isolados. Esses indivíduos isolados
foram constantemente molestados pela multidão, pelo mundo dos
negócios. Eles queriam o silêncio interior, sua calma, sua
serenidade sem perturbação. A conclusão foi: renuncie ao
mundo, mude para o Himalaia ou para o meio da floresta onde você
pode ser totalmente você mesmo.
Mas
ambas as alternativas estão escolhendo metade do homem. E no
momento em que escolhe metade do homem, você cai na mesma miséria.
As misérias podem ser diferentes, mas é absolutamente
garantido que se trata de miséria. O Oriente é miserável,
devido aos seus Goutamas Budas, seus Mahaviras, Bodhidharmas,
Kabirs. Ele está na miséria devido aos seus grandes
exploradores do mundo interior. E o Ocidente está miserável
devido a Galileu, Copérnico, Colombo, Albert Einstein, Bertrand
Russell. Estas são as grandes pessoas do Oriente e do Ocidente
e todas estas grandes pessoas escolheram o homem em sua metade.
E esta tem sido a miséria do homem até agora.
Eu
lhes ensino o homem total. A dimensão interna é tão
verdadeira quanto a dimensão externa. E a externa é tão
significante quanto a espiritual. Você tem que alcançar um
certo equilíbrio, no qual nem o interior nem o exterior
predominem, mas ambos sejam igualmente complementares, um ao
outro. Isto não aconteceu até agora. Mas, a não ser que isto
aconteça, não há possibilidade alguma para qualquer
humanidade existir no mundo.
O
Ocidente está morrendo devido ao seu próprio sucesso. O
Oriente já morreu devido ao seu sucesso. É uma história muito
estranha, essa que as pessoas morrem devido às suas vitórias.
Escolher a metade é perigoso. Mas escolher o todo necessita
coragem, insight e uma imensa compreensão. E uma mobilidade...
Ir para fora e para dentro de seu ser deve ser tão simples como
entrar e sair de sua casa.
Sempre
que for preciso você estar no mercado, você deve estar lá com
sua totalidade. O mercado não pode destruir a sua alma. Todo
aquele que prega a renúncia ao mundo, está contra a
humanidade. O fato de ir para dentro de si e estar num silêncio
meditativo não tira coisa alguma do mundo externo. Você não
tem que condenar o mundo externo, nem tem que declará-lo ilusório.
Isso deveria ter sido tão simples de se ver que eu fico
admirado porque milhares de anos se passaram e isto ainda não
é um fato reconhecido em todo o mundo. (...)
Estas
duas ideologias idiotas têm destruído toda a humanidade, a sua
paz, o seu amor, a sua grandeza e a sua dignidade. Isto tem que
ser restaurado. Eu nego Adi Shankara e também nego Karl Marx,
ao mesmo tempo. Eu sou contra o ateísta e contra o teista,
porque ambos estão tentando dividir a realidade, a qual é
indivisível. O exterior não consegue existir sem o interior.
Nem o interior existe sem o exterior. Eles são os dois lados de
uma mesma moeda.
Mas, acredite ou não, não existe uma simples declaração
em toda a história do homem afirmando que ele é um, que o seu
exterior e interior não são contraditórios, mas
complementares, que cada um deles não pode existir em separado
e que eles devem ser usados juntos. Somente então o homem
consegue crescer à sua verdadeira altura e desabrochar em seu
florescimento máximo.
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Sorrow
Osho Zen Tarot
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Chidananda, você está perguntando, ‘...associada com
a idéia americana de divertimento, que é sinônima de de
barulho, música alta, ir ao cinema, fumar, fazer sexo e liberação
de energia.’ Isto é apenas o lado de uma metade, o das
pessoas que escolheram ser extrovertidas e se esqueceram de seu
próprio centro interior. Mas elas estão ficando cheias disto.
Agora os maiores filófos do Ocidente, como Sorem Kierkegaard,
Martin Heidegger, Karls Jasper, Marcel, Jean Paul Sartre, todos
estão em absoluto acordo de que a vida é sem sentido, que ela
nada mais é que tédio. E a única conclusão de todas essas
filosofias é simples: a não ser o suicídio, não há outro
caminho. Mas existem surpresas e surpresas: de todos esses
grandes filósofos que eu citei, nenhum cometeu suicídio.
Todos
estes cinco grandes filósofos do Ocidente – e eles são os
mais destacados – não estão interessados em cometer suicídio,
eles estão apenas interessados em escrever a respeito de náusea,
falta de sentido e angústia. Todos eles chegaram à conclusão
que o suicídio parece ser a única saída, mas nenhum abandonou
o seu caminho. (...)
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Devido ao seu sucesso, o Ocidente alcançou seu maior
fracasso. E este fracasso é muito perigoso porque eles têm sob
seu controle enorme poder destrutivo, bombas nucleares. (...) Os
políticos estão preparados para destruir este planeta setenta
vezes. Este é o sucesso da abordagem ocidental de tomar a dimensão
externa do homem como sendo toda a realidade. E nada melhor
aconteceu com o Oriente. Quase cinqüenta por cento da população
do Oriente está faminta, morrendo, subnutrida. E ao final do século
XX a previsão é de que pelo menos quinhentos milhões de pessoas
morram, somente na Índia, sem contar as que morrerão na China,
em Taiwan, na Coréia, no Japão. Este planeta terra não consegue
suportar essa imensa humanidade que continua crescendo, a não ser
que nós comecemos também a ser científicos e tecnológicos.
A
ciência é capaz, mesmo agora, de dar suporte a uma humanidade
sete vezes maior que a atual. Hoje existem cinco bilhões de
pessoas no mundo. A ciência tem a capacidade de propiciar agora
que sete vezes mais pessoas vivam confortavelmente. Mas a ciência
não consegue fazer isto por conta própria. Ela precisa de mentes
científicas, de pessoas que sejam tecnologicamente
especialistas.
O
meu entendimento a respeito do Oriente é que mesmo aquelas
pessoas que foram para o Ocidente serem bem educadas em ciência e
tecnologia, continuam internamente com suas velhas estupidezes. Eu
tenho visto Doutores adorando um deus macaco. Eu não posso
acreditar no que vejo. Às vezes eu penso que teria sido melhor
ser cego. Essas pessoas que estão adorando deuses macacos, deuses
elefantes – elas não têm mentes científicas. Elas podem ter
tido uma educação científica, mas isto é uma coisa totalmente
diferente.
Ter
conhecimento a respeito de ciência é uma coisa e ser criativo a
respeito de ciência é outra coisa. Ter conhecimento a respeito
de meditação é uma coisa e meditar é algo totalmente
diferente. O Ocidente precisa de uma mente mais meditativa e o
Oriente precisa de uma mente mais científica. Então nós seremos
capazes de criar uma humanidade que possa viver, sem pobreza e sem
fome, uma vida mais saudável e mais prolongada, da qual não
temos nem idéia.
Há
cálculos científicos de que este corpo que temos é capaz de
viver pelo menos trezentos anos – com alimentação correta,
cuidados médicos corretos, ambiente ecológico correto, as
pessoas podem viver trezentos anos. Eu nem consigo conceber que
tesouros seriam revelados se um Goutama Buda conseguisse viver
trezentos anos, se Albert Einstein pudesse ter vivido trezentos
anos, ou Bertrand Russell.
Até
agora, a maneira como temos vivido é um puro desperdício.
Pessoas que são treinadas, educadas, cultas, tornam-se velhas e
morrem com a idade de setenta anos. E novos visitantes,
absolutamente bárbaros, sem educação continuam saindo dos úteros.
Temos que forçar as pessoas a se aposentarem, e estas são as
pessoas que sabem as coisas. E temos que empregar pessoas que nada
sabem.
A
vida das pessoas poderia se tornar mais prolongada e o controle da
natalidade ser mais estrito. Uma criança deveria nascer somente
quando nós estivéssemos prontos para permitir que um Bertrand
Russell deixasse o mundo – apenas uma substituição, e a não
ser que possamos encontrar uma substituição melhor, nós não iríamos
deixar que o Bertrand Russel deixasse o mundo. E existe toda
possibilidade de encontrarmos uma substituição, porque nós
podemos ler todo o programa genético, todas as possibilidades
pelas quais a pessoa irá passar – se ela será um pintor da
qualidade de um Picasso ou se será um poeta genial como
Rabindranath Tagore; quanto tempo ela irá viver, se será saudável
ou doente. E não apenas podemos ler o programa futuro dos genes,
mas podemos mudar esse programa também. Podemos fazer com que uma
pessoa doente, desde o início seja mais saudável, e que os
idiotas possam ser evitados, assim como os retardados.
A
existência dá tudo com tanta abundância que se você não
escolher, as coisas vão se tornar um caos. Um simples ser humano,
um macho, se não for corrompido pelas religiões, terá pelo
menos quatro mil vezes a oportunidade de gerar uma criança. E a
cada vez ele libera um milhão de espermas. Isso quer dizer que
cada macho humano pode criar toda uma Índia. Tal abundância
simplesmente quer dizer que você tem que ser muito criterioso na
escolha. Naturalmente nesta multidão você não pode encontrar
muitos Rabindranath. O próprio Rabindranath foi o décimo
terceiro filho de seus pais. Antes dele, seus pais geraram doze
crianças sem qualquer genialidade. Elas poderiam ter sido
evitadas. Rabindranath poderia ter sido o primeiro filho. E quem
sabe quantos outros Rabindranath não estão preparando seus
caminhos para entrar no mundo? Nós precisamos de uma abordagem
muito científica a respeito do lado exterior e uma abordagem
muito meditativa para o lado interior.
Chidananda,
você está dizendo, ‘...enquanto
que silêncio e serenidade estão automaticamente associados a tédio
e excessiva acumulação de energia, a qual resulta em tensão e
ansiedade.’ Se as coisas permanecerem do jeito que estão, isto
é verdade. Se você não usar a sua energia... Com sua alimentação,
com sua respiração constante, bebendo água, você está gerando
energia. Ela tem que ser usada, senão ela se transforma em tensão,
e por fim acabará se tornando ansiedade. Mas se a minha idéia
for entendida... Eu estou dizendo que você é metade o lado
externo e metade o lado interno.
Use
a sua energia no mundo externo em atividades criativas, não em
futebol americano. Existe tanto para ser criado, tanto para ser
descoberto, um vasto universo está aí na sua frente como um
desafio para ser explorado. Use a sua energia para tornar o mundo
mais belo, mais poético, mais saudável.
E
quando você sentir que está cansado, exaurido, vá para o lado
interior. Descanse. E o seu descanso se tornará a sua meditação,
porque meditação não precisa de nenhum gasto de energia. Ao
contrário, ela conserva, ela preserva, ela faz de você uma
concentração de grande energia. Quando você sente que a sua
serenidade, seu silêncio e sua alegria interior quer dançar
externamente, então dance, então cante, então crie. E se a sua
criatividade vier do silêncio de seu coração, ela terá uma
qualidade e um sabor diferente.
É
apenas uma questão de um pouco de inteligência e equilíbrio.
Dentro está a fonte de suas energias e fora está o mundo para
permitir que a energia crie – seja um criador.
Mas você não consegue ser um
criador a não ser que seja um meditador.
O
meu sannyas tem uma nova definição; não é a definição do
velho. Na velha definição, o sannyas significa renunciar ao
mundo. O meu sannyas significa alegrar-se no mundo. Mas antes que
possa se alegrar, você deve acumular energia de tal modo que
comece a transbordar amor, sentividade, criatividade, poesia, canção,
dança...
E
certamente essas coisas terão a qualidade da compaixão. Elas não
poderão ser violentas. Eu não consigo conceber um meditador
jogando futebol americano. Eu não consigo conceber um Goutama
Buda numa luta de Box. Mas um Goutama Buda pode criar um lindo
jardim de rosas. Um Goutama Buda pode pintar. E as suas pinturas
serão muito superiores às de Picasso, porque ele era quase
louco. Se você olhar para as pinturas de Picasso irá perceber um
tipo de doença atirada para fora. Mantenha um Picasso pintando em
seu quarto de dormir e você terá pesadelos, porque aquelas
pinturas vieram dos pesadelos de Picasso, pesadelos com ar
condicionado.
Existiram
meditadores que criaram. Você pode ver o Taj Mahal que foi criado
por místicos Sufis. Observe-o numa noite de lua cheia, de repente
você entrará num profundo silêncio que nunca conheceu dentro de
si mesmo. Se você puder sentar silenciosamente ao lado, a beleza
do Taj Mahal começará a mudar alguma coisa dentro de você. O
Taj Mahal não estará mais apenas ali, do lado de fora; ele começará
a se tornar parte de seu próprio ser. (...)
Existem
templos na China, no Japão, na Índia criados por meditadores.
Apenas por estar sentado ali você perceberá que o que era tão
difícil para você, parar o seu pensamento, acontecerá por si
mesmo. Toda a atmosfera do templo, a fragrância, o incenso, as
estátuas... Tudo está criando um certo espaço dentro de você.
Uma
vez que a humanidade aprenda ambas as coisas juntas – o estado
meditativo e a abordagem científica do mundo – nós teremos
entrado numa nova fase, totalmente descontínua do passado feio,
doente e louco.
OSHO – Om Mani Padme Hum – Capítulo 13
Tradução: Sw. Bodhi Champak
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