O
que você está fazendo aqui?
Osho,
Algumas
vezes eu me pergunto o que eu estou fazendo aqui, sentado diante de
você. E então, de repente, você é demais para mim, luz e amor
demais; contudo, eu fico querendo deixá-lo. Você pode explicar-me
isto?
.
"Sim. Esta é
uma questão que mais cedo ou mais tarde vai aparecer para todo
mundo. O que você está fazendo aqui? A questão surge
porque a minha ênfase não está no fazer. Eu estou lhe ensinando
não-fazer. A questão é relevante. Se eu estivesse lhe ensinando
alguma coisa para ser feita, a questão não iria surgir, porque
você estaria ocupado. Se você for a alguma outra pessoa -
existem mil e um ashrams no mundo onde eles ensinam a fazer alguma
coisa. Eles não o deixam desocupado porque eles pensam que uma
mente desocupada é oficina do diabo.Meu entendimento é
totalmente, diametralmente oposto. Quando você está
absolutamente vazio, Deus preenche você; somente quando você está
não-ocupado, você é. Enquanto você está fazendo alguma coisa,
isto é apenas na periferia. Todos os atos estão na periferia;
todos, sejam eles bons ou maus. Sendo um pecador, você está na
periferia; sendo um santo, você está periferia. Para fazer o
mal, você tem que sair de si e para fazer o bem, você também
tem que sair de si.
|
Letting Go - Osho Zen Tarot
|
O fazer é do lado de fora; o não-fazer
é do lado de dentro. O não-fazer é o seu ser privado, o fazer
é o seu ser público. Eu não estou lhe ensinando que se torne
santo. Se assim fosse, seria muito fácil: não faça isto, faça
aquilo; simplesmente mude a periferia, mude os seus atos. Eu
estou tentando uma coisa totalmente diferente: uma mutação. Não
é uma mudança de uma parte da periferia em outra parte da
periferia, mas uma transmutação da periferia para o centro. O
centro está vazio, ele é absolutamente vazio. Ali, você é.
Ali é ser, não-fazer.
Algumas vezes isto vai acontecer: sentado diante de mim,
você vai se perguntar o que está fazendo aqui. Nada. Você
nada está fazendo aqui. Você está aprendendo como estar
simplesmente, não como fazer; como não fazer coisa alguma: não
ação, não movimento... como se tudo parasse, o tempo parasse.
E em tal momento sem movimento, você está em sintonia com o
presente, você está em sintonia com Deus.
|
Ações se tornam parte do passado. Ações podem estar no
futuro e podem estar no passado. Deus está sempre no presente.
Deus não tem passado nem futuro. E Deus não fez coisa alguma.
Quando pensa que ele criou o mundo, você está criando a imagem
dele de acordo consigo mesmo. Você não consegue permanecer sem
fazer alguma coisa, logo fica impaciente, incomodado. Assim você
tem que conceber Deus também como um criador. E não apenas como
um criador... os cristãos dizem que em seis dias ele criou e que
no sétimo dia, no domingo, ele descansou. A bíblia diz que Deus
criou o homem à sua própria imagem. Parece que o inverso é o
caso: o homem criou Deus à sua própria imagem. Como você não
consegue permanecer sem ocupação, você pensa: o que Deus faria
se ele não estivesse criando o mundo? E porque você fica cansado
quando faz as coisas, você pensa que Deus também deve ter ficado
cansado depois dos seis dias, então, no sétimo dia, ele
descansou. Isto é simplesmente antropomorfismo. Você está
pensando a respeito de Deus exatamente como você pensaria a
respeito de si mesmo. Não, Deus não criou o mundo; o mundo surge
a partir da sua não-atividade, o mundo surge a partir do seu não-fazer.
O mundo é um florescimento de Deus, assim como acontece com uma
árvore.
Você acha que uma árvore está criando as flores? Você
acha que ela está se esforçando muito, fazendo exercícios,
planejando, consultando os especialistas? A árvore não está
fazendo coisa alguma. A árvore simplesmente está ali,
absolutamente sem ocupação. Em tal estado de não-ocupação, as
flores desabrocham naturalmente. E lembre-se, se algum dia as árvores
tornarem-se tolas, tão tolas quanto os homens, e começarem a
tentar provocar o aparecimento das flores, então as flores deixarão
de aparecer. Elas deixarão de aparecer porque elas só aparecem
sem esforço. Observe uma flor. Você consegue ver algum esforço
nela? O próprio ser de uma flor é sem esforço, ela simplesmente
se abre. Mas não conseguimos conceber isto. As aves cantando pela
manhã... Você acha que elas foram ao Ravi Shankar para aprender?
Você acha que elas estão fazendo alguma coisa de manhã, quando
elas começam a cantar? Não, nada disso. O sol nasce e a canção
surge do nada. O maior milagre do mundo é que Deus criou sem ter
feito coisa alguma. É do nada.
Eu estava lendo a respeito da vida de Wagner, o grande músico
e compositor alemão. Alguém lhe perguntou, 'Você pode dizer
alguma coisa sobre o segredo do porquê e como você criou tantas
músicas belas?'
Wagner disse, 'Porque eu estava infeliz. Se eu estivesse
feliz, eu não teria escrito uma simples nota. Pessoas que estão
infelizes têm que preencher suas vidas com imaginação porque na
realidade delas está faltando algo.' E ele está certo em muitos
aspectos. Pessoas que nunca amaram, escrevem poesias sobre o amor.
É um substituto. Se o amor realmente tiver acontecido em sua
vida, quem vai se importar em escrever poesia a respeito? A pessoa
teria sido a própria poesia, não haveria qualquer necessidade de
escrever a respeito.
Wagner disse, 'Poetas escrevem sobre o amor porque eles
perderam o amor.” E então ele fez uma afirmação que é
tremendamente significante. Ele disse, “Eu acho que Deus criou o
mundo porque ele estava infeliz.' Uma grande sacada. Mas a sacada
é relevante para o homem, não para Deus. Se você me perguntar
se Deus criou o mundo... Em primeiro lugar ele não é um
‘criador’, mas ‘uma criatividade’... ainda que usemos essa
velha expressão, Deus criou o mundo não porque estava infeliz, e
sim porque estava tão feliz que a criação foi um
transbordamento, pois ele tinha felicidade demais.
A árvore está florindo lá no jardim, não porque ela
esteja infeliz. A flor surge apenas quando a árvore tem muito
para compartilhar e não sabe o que fazer com esse muito. A flor
é um transbordamento. Quando a árvore não está bem alimentada,
não está bem aguada, não recebeu a quantidade certa de raios
solares, de cuidados e amor, ela não floresce, porque o
florescimento é um esplendor. Ela só acontece quando você dispõe
de muito, mais do que necessita. Sempre que você dispõe de
muito, o que você faz? Aquilo se torna um peso, uma sobrecarga;
aquilo tem que ser liberado. A árvore explode e floresce, ela
chega ao seu momento de esplendor.
|
O mundo é o esplendor de Deus, um florescimento. Ele tem
tanto... O que fazer com isso? Ele compartilha, ele coloca para
fora, ele começa a expandir-se, ele começa a criar. Mas
lembre-se sempre, ele não é um criador como um pintor que pinta.
O pintor está separado da pintura. Se o pintor morrer, a pintura
ainda viverá. Deus é um criador como um dançarino: a dança e o
dançarino são um. Se o dançarino pára, a dança pára.
Você não consegue separar a dança do dançarino, você não
pode dizer ao dançarino, 'Dê a sua dança para mim, eu vou levá-la
para casa. Eu quero comprá-la.' A dança não pode ser vendida.
Ela é uma das coisas mais espirituais do mundo porque ela não
pode ser vendida. Você não pode carregá-la, você não pode
fazer dela uma mercadoria. Quando o dançarino está dançando,
ela está ali; quando o dançarino pára, ela desaparece como se
nunca tivesse existido.
|
Flowering -
Osho Zen Tarot
|
Deus é criatividade. Não que ele tenha criado em algum
lugar no passado e depois parado e descansado. Senão, o que ele
tem feito desde então? Não, ele está continuamente criando.
Deus não é um evento, ele é um processo. Não que ele tenha
criado uma vez e depois parado. Senão o mundo estaria morto. Ele
está criando continuamente, assim como os pássaros estão
cantando, as árvores estão florescendo e as nuvens estão se
movendo no céu. Ele está criando... e não necessita de descanso
algum porque a criatividade não é um ato; ele não pode estar
cansado. É a partir do seu nada que ele cria.
Isto é o que significa no Oriente quando dizemos que Deus
é vazio. Apenas o nada pode ser infinito; 'alguma coisa' sempre
é finita. Somente a partir do nada é possível uma infinita
extensão da vida e da existência; não a partir de “alguma
coisa”. Deus não é ‘alguém', ele é ninguém. Deus não é
'alguma coisa', ele é nada. Ele é um vazio criativo, ele é
aquilo a que Buda chamava shunya. Ele é um vazio criativo. O
que eu estou lhe ensinando? Eu estou lhe ensinando o mesmo: a
tornar-se um vazio criativo, um não-fazedor, deliciando-se em
apenas ser.
É por isso que a questão mais cedo ou mais tarde vai
aparecer para a mente de todos. Você disse: 'Algumas
vezes eu me pergunto, o que eu estou fazendo aqui.'
Você perguntou corretamente, e aqui você nada está fazendo. A
sua mente pode fornecer respostas, mas não as escute. Ouça a
minha resposta. Você nada está fazendo aqui; eu não estou lhe
ensinando a fazer coisa alguma. A sua mente pode dizer que você
está aprendendo meditação: você está fazendo meditação,
yoga, isso, aquilo, ou você está tentando alcançar a iluminação,
satori, samadhi; todas essas tolices.
Isso é o que a sua mente está lhe dizendo, porque a mente
está sempre almejando alcançar algo, ela não consegue
permanecer sem atividade. Ela continua criando uma ou outra
atividade. Ganhar dinheiro; e se você já conseguiu isso, então
ganhar meditação; sempre conseguir ganhar. Alcançar alguma
coisa, fazer alguma coisa.
Você fica com medo quando você não está fazendo coisa
alguma, porque então, de repente, você se vê face-a-face com o
vazio criativo. Esta é a face de Deus: quando você está no
caos, caindo no abismo infinito e não consegue ver o fundo. Não
existe fundo algum.
Sentado diante de mim, o que você está fazendo? Apenas
sentado. Este é o significado do zazen. No Zen eles chamam
meditação de ‘zazen’. Zazen significa apenas sentar,
nada fazer. Se você conseguir simplesmente sentar-se perto de
mim, isto é o suficiente, mais do que suficiente; nada mais é
preciso. Se você conseguir simplesmente sentar-se sem fazer coisa
alguma, nem mesmo montar um pensamento, nem mesmo pensar ou
sonhar. Se você conseguir simplesmente sentar-se perto de mim,
isso será o suficiente. Você diz: 'De
repente, você é demais para mim.' Sim, se você simplesmente sentar-se, eu serei demais, porque de
repente eu estarei fluindo dentro de você. Se você simplesmente
sentar-se, imediatamente tornar-se-á consciente da luz e do amor.
E então você diz, 'eu
fico querendo deixá-lo',
porque você tem medo do amor e da luz.
Você tornou-se um habitante da escuridão. Você viveu
tanto tempo na escuridão que os seus olhos estão com medo. Não
interessa o que você diga – que você gostaria de viver na luz
– os seus hábitos profundamente enraizados encolhem-se e dizem:
'onde você está indo?'. Você fez um grande investimento na
escuridão. Todo o seu conhecimento está relacionado à escuridão.
Na luz você será absolutamente ignorante. Toda a sua sabedoria e
experiência estão baseadas na escuridão. Na luz você estará
nu, despido. Tudo o que você sabe pertence à escuridão; na luz
você verá a si mesmo como um bebê inocente, uma criancinha que
nada sabe.
Você tem vivido na escravidão e agora você tem medo de
ser livre. Você continua falando sobre liberdade e moksha
– a liberdade absoluta – mas se você observar a si mesmo, irá
saber que sempre que a liberdade chega no seu caminho, você
escapa. Você tornou-se medroso. Talvez você fale sobre liberdade
apenas para enganar a si próprio, talvez isto seja um substituto,
o substituto do qual Wagner estava falando. Você está na
escravidão e nunca conheceu a liberdade. Você fala sobre a
liberdade, canta canções de liberdade, e através dessas canções,
você tem a satisfação de um vigário, como se você tivesse se
tornado livre. Isto é 'como se fosse' uma liberdade. Mas comigo,
isto não vai ser 'como se fosse', isto vai ser uma realidade. Você
ficou com medo da realidade.
Você continua pedindo por amor, mas quando ele vem, você
escapa porque o amor é perigoso. Um dos maiores perigos na vida
é o amor. A mente pode se acomodar com o casamento, mas não com
o amor. A mente sempre quer a lei, não o amor. A mente sempre ama
a ordem, não o caos que é o amor. A mente quer permanecer na
segurança, e o amor é a maior insegurança pela qual você pode
cruzar na vida. Sempre que o amor chega você treme de medo nas
bases, porque se permitir que o amor entre em você, ele destruirá
a sua mente. A mente diz: 'Escape! Escape imediatamente!' A mente
está tentando salvar a si mesma.
Você tem vivido profundamente em contato com a mente e
tornou-se muito apegado a ela. Você acha que tudo o que a mente
diz é certo; você acha que tudo o que é seguro para a mente é
seguro para você. Existe todo um mal-entendido. A morte da mente
será vida para você, e a vida da mente nada mais é que a morte
para você. A identificação tem que ser quebrada. Você tem que
ficar consciente de que você não é a mente. Somente então você
poderá estar junto a mim, somente então o esforço para ir
embora e escapar se dissolverá. De outra maneira, você pode
encontrar razões para partir, mas tais razões serão todas
falsas. A verdadeira razão será esta: que você não é capaz de
permitir que a luz entre, que o amor entre e destrua a sua mente,
o seu ego e lhe traga um renascimento."
OSHO – Come Follow To You - Cap. 6 – 2ª
pergunta
Tradução:
Sw. Bodhi
Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.
|
|