"A rebelião da qual eu tenho falado não tem que ser feita contra
ninguém. Ela não é na verdade uma rebelião, mas somente uma
compreensão. Não, você não tem que lutar contra os padres, as
freiras e os pais externos. E você não tem também que lutar contra os
padres, freiras e pais internos. Porque, internos ou externos, eles
estão separados de você. O externo está separado, e o interno também
está separado. O interno é apenas o reflexo do externo.
Você está
perfeitamente certo ao dizer: 'parece que não vale a pena rebelar-me
contra aquelas pessoas velhas e desamparadas'. Eu não estou dizendo a
você para se rebelar contra aquelas pessoas velhas e desamparadas.
E eu também não estou dizendo a você para se rebelar contra
tudo o que eles incutiram em você. Se você se rebelar contra sua
própria mente, isso será uma reação, não uma rebelião. Note a
diferença. A reação surge a partir da raiva; a reação é violenta.
Numa reação você se torna cego de raiva. Numa reação você passa
para o outro extremo.
Por exemplo, se
os seus pais ensinaram você a ficar limpo e tomar um banho todo dia, e
mais isso e mais aquilo, e se foi ensinado a você desde pequenino que a
limpeza está próxima de Deus; o que você fará, se um dia você
começar a se rebelar? Você vai parar de tomar banho. Você vai
começar a viver imundo.
Isso é o que os
Hippies seguiram fazendo ao redor do mundo. Eles pensavam que isso era
rebelião. Eles passaram para o outro extremo. A eles foi ensinado que a
limpeza era divina; agora eles estão pensando que a imundície é
divina, que a sujeira é divina. De um extremo, eles passaram para o
outro. Isso não é rebelião. Isso é raiva, isso é ira, isso é
desforra.
Enquanto você
estiver reagindo aos seus pais e às suas idéias de limpeza, você
ainda está apegado àquelas mesmas idéias. Elas ainda estão dentro de
você, elas ainda têm um poder sobre você, elas ainda são dominante,
elas ainda são decisivas. Elas ainda decidem a sua vida, embora você
tenha se tornado o oposto delas; mas elas decidem. Você não pode tomar
um banho tranqüilo, pois você se lembrará de seus pais que o
forçavam a tomar banho todos os dias. Agora você não quer tomar mais
banho, de jeito algum.
Quem está
dominando você? Ainda os seus pais. O que eles fizeram com você, você
ainda não foi capaz de desfazer. Isso é uma reação, isso não é
rebelião.
Então o que é
rebelião? Rebelião é pura compreensão. Você simplesmente compreende
qual é o caso. Então você não fica mais obcecado por limpeza, e isso
é tudo. Isso não quer dizer que você vá se tornar sujo. A limpeza
tem sua própria beleza. Mas a pessoa não deve ficar obcecada por ela,
porque obsessão é doença.
Por exemplo, uma
pessoa lavando suas mãos continuamente por todo o dia - isso é
neurose. Lavar as mãos não é uma coisa ruim, mas lavar suas mãos por
todo o dia é loucura. Mas se, de lavar as mãos por todo o dia, você
passar a não lavá-las; se você parar de lavá-las para sempre, então
de novo você terá caído na armadilha, num outro tipo de loucura, o
tipo oposto.
Um homem de
compreensão lava suas mãos quando é necessário, ele não está
obcecado com isso. Ele é simplesmente espontâneo e natural a respeito
disso. Ele vive inteligentemente e isso é tudo.
Mas, se você
não prestar muita atenção nos pequenos detalhes, não verá muita
diferença entre obsessão e inteligência . Por exemplo, se você
cruzar com uma cobra no caminho e você der um salto, naturalmente você
deu um salto devido ao medo. Mas esse medo é inteligência. Se você
não for inteligente, for estúpido, você não vai pular para fora do
caminho e, desnecessariamente, estará colocando a sua vida em perigo. A
pessoa inteligente irá pular imediatamente - a cobra está ali. Isso é
devido ao medo, mas esse medo é inteligente, positivo, está a serviço
da vida.
Mas esse medo
pode se tornar obsessivo. Por exemplo, você pode não querer sentar
dentro de uma casa. Quem sabe? Ela pode desmoronar. E sabe-se que
casas se desmoronam, isso é verdade. Algumas vezes, elas têm
desmoronado; você não está absolutamente errado. Você pode
argumentar: 'se outras casas desmoronaram, por que não esta?' Agora
você está com medo de viver sob qualquer teto - ele pode desabar. Isso
é uma obsessão. Isso agora se tornou não-inteligente.
É bom estar
alerta de que você está comendo um alimento limpo. Mas eu conheço um
homem, um grande poeta... Certa vez ele viajava comigo. Sua esposa me
contou, 'Agora você saberá o quanto é difícil viver com esse homem.'
Eu perguntei: 'Qual é o problema?'. Ela disse: 'Você vai saber por si
próprio.' Ele não bebia nenhum chá, nem água, em nenhum lugar. Era
muito difícil, porque ele dizia, 'quem sabe se não existem germes no
chá ou na água?' Ele não comia em nenhum hotel. Isso se tornou um tal
problema... E nós tínhamos que viajar trinta e seis horas de trem e
ele estava morrendo de fome e com sede e ele não bebia água.
Eu tentei de toda
maneira persuadi-lo. Ele dizia, 'Não. Quem sabe? E se houver germes? É
melhor,' dizia ele, 'passar fome por trinta e seis horas e não comer.
Eu não vou morrer, não se preocupe,' Mas eu podia ver que o homem
estava torturando a si mesmo. Era um verão muito quente e ele estava
com sede. E eu tentava em toda estação - eu trazia soda, trazia
coca-cola, eu trazia tudo que podia. Mas ele dizia, 'Esqueça isso - eu
não posso tomar nada a não ser que eu esteja absolutamente seguro.
Qual é a segurança? Qual é a garantia?'
E ele não estava
absolutamente errado, isso é verdade. Você conhece a Índia, e você
conhece as estações indianas e os hotéis indianos. Você sabe. Ele
está certo, mas agora ele está levando essa lógica longe
demais.
Então eu disse a
ele, 'Pare de respirar também!' Ele disse: 'Por que?' Eu disse: 'Quem
sabe, qual é a garantia? Pare de respirar! Ou beba esta água ou pare
de respirar!' Então ele olhou para mim assustado, porque eu estava
realmente raivoso. 'Por que você segue respirando? Quem sabe, podem
existir germes, existem germes em toda parte.'
Ele tomou uma
xícara de chá, mas a maneira como ele tomou...! Sua face... Eu não
consigo esquecer. Já se passaram dez anos, mas eu não consigo esquecer
a sua face - era como se eu estivesse matando aquele homem! Eu era um
assassino! E ele estava obrigando-me a isso.
Na estação
seguinte, ele desceu e disse, 'Eu não posso viajar com você; eu vou
voltar para casa. 'Eu disse, 'Qual é o problema? 'Ele disse, 'Você
estava com tanta raiva, e parecia que você ia começar a me bater ou
alguma coisa assim. E você disse: Não respire mais. Como eu posso
parar de respirar?' Eu disse, 'Eu só estava dando a você um argumento,
que se você pode respirar, por que não beber a água? É a mesma água
indiana e o mesmo ar indiano. Não há com que se preocupar.'
Ele se recusou a
viajar comigo. Eu tive que viajar sozinho. Ele retornou e desde então
eu nunca mais o vi.
A pessoa pode se
tornar obsessiva a respeito de qualquer coisa. Qualquer coisa que pode
ser inteligente dentro de certos limites, pode se tornar uma neurose se
você ampliar esses limites. Reagir é passar para o outro extremo.
Rebelião é uma compreensão muito profunda, compreensão profunda de
um certo fenômeno. A rebelião sempre mantém você no meio, ela dá a
você um equilíbrio.
Você não tem
que brigar com ninguém, as freiras e os padres e os pais, externos e
internos. Você não tem que brigar com ninguém, porque numa briga
você nunca sabe onde vai parar. Numa briga a pessoa perde a
consciência; numa briga a pessoa passa logo para os extremos. Você
pode observar isso.
Por exemplo,
você está sentado com seus amigos e, no meio da conversa, você diz,
'Aquele filme que eu vi ontem não vale a pena ser visto.' Isso pode ter
sido um comentário à-toa, mas então alguém diz, 'Você está errado.
Eu também vi o filme. Ele é um dos mais belos filmes que já foram
feitos.' Você foi provocado, desafiado; e agora você se enche de
argumentos. Você diz, 'ele não tem valor, é a coisa mais sem valor
que existe!' E você começa a criticar. E se o outro também
insistir, você vai se tornar mais e mais raivoso e vai começar a dizer
coisas que você nem mesmo tinha pensado a respeito. E mais tarde, se
você olhar para trás e ver todo o fenômeno que aconteceu, você
ficará surpreso pois quando você mencionou que o filme não valia a
pena ser visto era uma afirmação muito moderada, mas com o passar do
tempo você adotou argumentos e você já estava numa posição
extremada. Você usou tudo que era possível, todas as palavras mais
desagradáveis que você conhecia. Você condenou de toda maneira, você
usou toda a sua habilidade para condenar. E você não estava com
disposição para fazer isso no começo. Se ninguém tivesse contestado
você, você poderia ter esquecido aquele assunto, você não iria nunca
fazer aquelas afirmações pesadas.
Isso acontece -
quando você começa a brigar, a tendência é você passar para os
extremos.
Eu não estou
ensinando você a brigar com seus condicionamentos. Compreenda-os.
Torne-se mais inteligente a respeito deles. Simplesmente veja como eles
dominam você, como eles influenciam o seu comportamento, como eles
modelam a sua personalidade, como eles seguem atingindo você pela porta
dos fundos. Simplesmente observe! Seja meditativo. E um dia, quando
você tiver visto o funcionamento dos seus condicionamentos, de repente
um equilíbrio será alcançado. Em sua real compreensão você estará
livre.
Compreensão é
liberdade, e essa liberdade eu chamo rebelião.
O verdadeiro
rebelde não é um lutador; ele é um homem de compreensão. Ele
simplesmente cresce em inteligência, não em raiva, não em ira. Você
não consegue transformar a si mesmo tendo raiva de seu passado. Dessa
maneira, o passado irá continuar dominando você, o passado continuará
sendo o centro de seu ser, o passado permanecerá o seu foco. Você
permanecerá focado, preso ao passado. Você poderá passar para o outro
extremo, mas você ainda continuará preso ao passado.
Fique alerta
quanto a isso! Esse não é o caminho de um meditador, esse não é o
caminho de um sannyasin. Sannyas é rebelião - rebelião através da
compreensão. Simplesmente compreenda.
Você passa ao
lado de uma igreja e um profundo desejo surge em você de ir ao interior
e orar. Ou você passa ao lado de um templo e inconscientemente você se
curva diante de uma divindade do templo. Simplesmente observe. Por que
você está fazendo essas coisas? Eu não estou dizendo para brigar. Eu
estou dizendo para observar. Por que você se curva diante do templo?
Porque foi ensinado a você que esse é o templo certo, que a divindade
desse templo é a imagem verdadeira de Deus. Você sabe? Ou isso foi
simplesmente dito a você e você continua seguindo isso? Observe!
Vendo isso, que
você está simplesmente repetindo um programa que foi dado a você, que
você está simplesmente repetindo um mesmo disco em sua cabeça, que
você está sendo um autômato, um robô, você irá parar de se curvar.
Não que você tenha que fazer qualquer esforço, você simplesmente
irá se esquecer de tudo a respeito disso. Isso irá desaparecer, isso
abandonará você sem deixar qualquer traço.
Quando você
reage, o traço permanece lá. Mas, na rebelião não fica nenhum
traço; é liberdade completa.
Você tem
simplesmente que ser um observador. E o observar é a sua face original;
aquele que observa é a sua consciência verdadeira. Aquilo que é
observado é o condicionamento. Aquele que observa é a fonte divina de
seu ser.
OSHO - The Secret - discurso n. 14 - pergunta n. 5
(Tradução: Sw. Bodhi Champak)
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