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Conexão
Brasil agosto de
2005 |
O
fazer e o não-fazer
.
A
mente é a queda original, a queda do estado de ser. A mente é o
pecado original. Estar na mente é estar no mundo; não estar na
mente é estar em Deus. A diferença é muita.
A queda tem
que ser entendida. Medite sobre três palavras: ser, fazer e ter.
Do ser ao ter é a queda, e o fazer é o processo de se ir do ser
ao ter. Ser é Deus, ter é o mundo, e fazer é o processo de cair
do ser para o ter.
A mente é uma fazedora. A mente constantemente quer estar ocupada.
Um grande desejo de permanecer atarefada, isto é a mente. A
pessoa não consegue se sentar só; não consegue se sentar em passiva
receptividade, nem mesmo por uns poucos momentos. Isto é uma
grande tortura para a mente, porque no momento em que você pára
de fazer, a mente começa a desaparecer.
Se você
for a um mestre Zen e perguntar 'O que vocês fazem aqui? O que estas pessoas, seus seguidores, estão fazendo?' ele dirá, 'Eles
estão apenas sentados. Eles não fazem coisa alguma'. (...)
A mente é
uma fazedora. Observe sua própria mente e você compreenderá. O
que estou dizendo não é uma declaração filosófica, é
simplesmente um fato. Não estou propondo nenhuma teoria para
você acreditar ou desacreditar, mas alguma coisa que você pode
observar em seu próprio ser. E você verá isto, sempre que
estiver só, você imediatamente começa a procurar: alguma coisa
tem que ser feita, você tem que ir a algum lugar, você tem que
ver alguém. Você não consegue estar só. Você não consegue
ser um não-fazedor.
Fazer é o
processo pelo qual a mente é criada; ela é um fazer condensado.
Conseqüentemente, meditação significa um estado de não-fazer.
Se você puder sentar silenciosamente, nada fazendo, de repente
você estará de volta para casa. De repente você verá a sua
face original, a fonte. E esta fonte é satchitanand: verdade,
consciência e felicidade, chame isto Deus, ou nirvana, ou o que você quiser.
Do ser ao
fazer, e do fazer ao ter, é como a consciência de Adão chega ao
mundo. Mover-se de volta, do ter ao fazer, e do fazer ao ser, é o que significa consciência de Cristo. Mas os Sufis têm uma
mensagem tremendamente significante para o mundo. Eles dizem que o
homem perfeito é aquele que é capaz de se mover do ser ao fazer,
ao ter, ao fazer e ao ser, e assim por diante. Quando o círculo
está perfeito, então o homem é perfeito.
A pessoa deve ser
capaz de fazer. Não estou dizendo que você deve tornar-se
incapaz de fazer; isso não tem valor algum, isso simplesmente é impotência. Você deve ser capaz de fazer, mas
não
deve ficar absorvido nisto. Você não deve ficar envolvido no
fazer, não deve ficar possuído por isto; você deve permanecer o
senhor da situação.
E não
estou dizendo que tudo o que você tem terá que ser abandonado, não estou lhe dizendo para renunciar a tudo o que você
possui. Use, mas não seja usado pelo que possui, isso é tudo.
Assim nasce o homem perfeito.
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Becoming Centered
Osho Neo Tarot
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A esse
homem perfeito eu chamo sannyasin: ele será ambos, Adão e
Cristo. O homem mundano é Adão e, até agora, o homem além do
mundano esteve envolvido com a consciência de Cristo. Mas cada
qual continua sendo apenas a metade.
O homem
precisa tornar-se uma totalidade, um todo. E a minha definição
de ser santo nada mais é que ser o todo, a capacidade de estar no
mundo e, ainda assim, permanecer acima dele, além dele; a
capacidade de usar a mente e, ainda assim, permanecer centrado em
seu ser. A mente é um mecanismo de imenso valor;
não é um pecado ter uma bela mente. Você tem um belo
instrumento de imensa complexidade, e é um prazer usá-lo, da
mesma maneira que é um prazer dirigir um belo carro que tenha um
mecanismo perfeito.
Nada existe
como a mente, se você conseguir usá-la. Então, a mente também
é divina. Mas se você for usado por ela, e se o seu céu ficar
perdido nas nuvens da mente, então, você permanecerá na
miséria, na ignorância.
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O advento
da mente acontece ao se ficar identificado com os conteúdos da
consciência. É preciso apenas uma pequena mudança, um simples
passo, e este passo faz a passagem. Este simples
passo faz a passagem do mundo para Deus, do externo para o
interno, do mundano para o sagrado. E qual é este simples passo?
A não-identificação.
Permaneça
uma testemunha. Lembre-se sempre de permanecer uma testemunha;
saiba perfeitamente bem que, seja o que for que passe pela sua
mente, você não é aquilo. Você não é esta coisa chamada
mente. Uma vez que você se torna identificado com qualquer coisa
da mente, você caiu numa armadilha, numa prisão. Daí, você
pode seguir mudando e ajeitando esta coisa repetidas vezes, mas
nada acontecerá.
Isso é o
que as pessoas seguem fazendo: melhorando a si mesmas, criando um
belo caráter, tornando-se mais santos e religiosos; mas a coisa
básica ainda não foi feita. Elas estão simplesmente ajeitando
as coisas da mente.
Você pode
continuar ajeitando os móveis de sua casa; você pode ajeitar da
melhor maneira, com mais estética, mas o material continuará
sendo o mesmo. O pecador e o chamado santo não são muito
diferentes; ambos são diferentes arranjos da mesma mente.
O
verdadeiro sábio é aquele que se torna consciente de que ele
não é a mente, definitivamente. A idéia de pecado surge e
ele permanece indiferente; a idéia de se tornar um santo surge e ele permanece indiferente. Com nada ele se identifica,
raiva ou compaixão, ódio ou amor, bom ou ruim. Ele permanece sem
julgamento, ele não condena coisa alguma em sua mente. Se você
é apenas uma testemunha, qual é o sentido em condenar alguma
coisa? E ele não elogia nada em sua mente. Se você é apenas uma
testemunha, elogio é simplesmente fútil. Ele permanece
tranqüilo, recolhido e centrado. Enquanto a mente continua esbravejando ao
seu redor.
Por
milhares de anos você tem permanecido identificado com a mente,
tem despejado muita energia nela. Ela segue girando e girando, por
meses e anos. Mas se você conseguir permanecer um observador
silencioso, um observador na colina, então pouco a pouco a
energia, o momentum, é perdido e a mente chega a parar.
No dia em
que a mente parar, você chegou. A primeira visão do que é Deus
e de quem é você acontece imediatamente, porque uma vez que a
mente pára, toda a sua energia que tinha permanecido envolvida
com ela, é liberada. E essa energia é tremenda, é infinita: ela
começa a descer em você. É uma grande bênção, é graça.
Os chamados
revolucionários seguem fracassando porque eles continuam tentando
dar um jeito nas mesmas coisas da mente. Alguém acredita em Deus
e daí aparece um revolucionário que diz, 'Não há Deus algum e
eu não acredito em Deus'. Mas ele é tão fanático com suas
idéias como as pessoas que acreditam em Deus.
Crente e
descrentes, ambos são fanáticos. Uns se apegam ao sim e outros
se apegam ao não, mas sim e não, ambos são partes da mente.
Você escolhe uma parte e um outro alguém escolhe a outra
parte. Um é cristão e o outro é hindu, mas ambos são mentes.
Um escolheu a Bíblia e o outro escolheu os Vedas, mas ambos são
partes da mente.
Então,
quem é realmente religioso? Aquele que não fez escolhas a partir
da mente. Você não pode chamá-lo cristão, nem hindu, nem
comunista; você não pode chamá-lo teísta nem ateu. Ele
simplesmente é. Ele é indefinível. Você não consegue
rotulá-lo. Ser é tão vasto que não pode ser rotulado. Nenhuma
palavra é adequada o suficiente para descrever o ser. Em tal
vastidão, a liberdade; em tal vastidão, a felicidade.
Esta é a
verdadeira revolução: pular da mente para o ser. E o processo será o mesmo. Se o fazer é o processo da queda do ser para
o ter, então, o não-fazer será o processo de voltar para
casa.
Meditação
não é algo que você faça; meditação é algo que acontece
quando você não está fazendo coisa alguma. Você pode
sentar-se, aparentemente imóvel, aparentemente nada fazendo, mas
no fundo a mente pode continuar. É assim que acontece nos
mosteiros e nas cavernas. Você pode não ter muito o que fazer,
mas você pode continuar fazendo algumas poucas coisas repetidas
vezes. Você pode seguir repetindo um mantra: isso será o
suficiente para a mente. Ela seguirá fazendo o mesmo ato
novamente, repetindo a mesma fita cassete por anos, e ela não
morrerá.
Três
iogues estão sentados numa caverna meditando. Um cavalo se
aproxima, olha para dentro e vai embora. Alguns anos se passam e
um dos iogues diz 'Um cavalo esteve aqui'.
Mais alguns
anos se passam e um outro diz, 'Não, era uma égua'.
Depois de
mais alguns anos, o terceiro diz, 'Se for começar uma discussão,
eu vou-me embora'.
Nada havia
acontecido por muitos anos, quando um cavalo apareceu e deu uma olhada
dentro da caverna, mas isto foi o suficiente para mantê-lo
ocupado pelos anos seguintes. Isto é o bastante, a mente pode viver, mesmo com
essas poucas coisas. É preciso ficar alerta: a
questão não é se você está envolvido em muitos trabalhos ou
se você está apenas fazendo umas poucas coisas. Esta não é uma
questão de quantidade. A questão é de qualidade.
Você pode
ser muito rico, você pode ser um rei, ter muitas posses e ter que
permanecer envolvido em mil e uma coisas. Daí, você pode
renunciar ao reinado e a todas as suas posses, tornar-se um
mendigo e viver num barraco. Isto não fará diferença alguma, em
absoluto. Para quem está do lado de fora, para os espectadores,
parecerá que ocorreu uma grande revolução: o imperador
tornou-se um mendigo, ele fez uma grande renúncia. Mas nada
aconteceu internamente.
Primeiro
você estava envolvido com os afazeres do reinado, agora você está envolvido com os afazeres do pequeno barraco. Apenas a
quantidade foi reduzida, mas a qualidade de sua consciência nunca
muda com a redução da quantidade. O homem pobre está preocupado
com seu carro de boi e o homem rico está preocupado com sua
carruagem dourada. Mas a preocupação é a mesma; a preocupação
é da mesma qualidade. O homem pobre preocupa-se com a comida do
amanhã e o rei preocupa-se com o país vizinho; o objeto da
preocupação é diferente, mas o processo da preocupação é o
mesmo.
A questão é, como mudar o seu foco, da mente para o ser. O fazer
trouxe-o para o mundo, o fazer é a escada que o trouxe para o
mundo; o não-fazer será a escada... E o não-fazer não é
inatividade. Este ponto tem que ser bem compreendido.
O
não-fazer não é inatividade, ele não é inação. A ação
está ali, porque ação é vida. Se a ação desaparecer
completamente, você estará morto. Mesmo respirar é uma ação;
comer, digerir, dormir, tudo são atividades. Viver é estar
ativo. Então o que é não-fazer, se não é inatividade? Se você
entender o não-fazer como inatividade, você não terá entendido
coisa alguma. Daí, a inatividade irá se tornar a sua ocupação.
Você estará constantemente ocupado em não fazer isto, não
fazer aquilo. O seu processo se tornará negativo, mas ele ainda
será um fazer: 'eu não posso fazer isto, eu não posso fazer
aquilo'. Agora você está preocupado. A mesma tensão estará
ali: 'eu não posso comer isto, eu não posso comer aquilo, eu
não posso usar esta roupa, eu não posso usar aquela.' Agora
você está se tornando
negativo, mas o processo, o ego, ainda está ali; a mente ainda
está ali. Ela está ali ao lado, mas é a mesma mente.
O
não-fazer é algo que nada tem a ver com ação, mas tem muito a
ver com o ego, com a idéia de ego. O fazedor é o ego. É preciso
tornar-se um não-fazedor. Aí, Deus é o fazedor e,
você relaxa, você não força o rio e não
cria agonia para si mesmo ao ir contra a correnteza.
Agonia vem
da raiz 'ag'. ' Ag' significa empurrar. Quanto mais você empurra o
rio, mais agonia é criada. E enquanto você está empurrando o
rio, você está certamente tentando nadar contra a correnteza.
Você está indo contra a natureza, contra o Tao, contra Deus.
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O
não-fazedor é aquele que relaxou com o rio, que está flutuando
no rio, fluindo com o rio, aquele que se tornou parte do rio, que
não pensa em si separadamente, aquele que não tem um destino
individual. Esse é o significado de não-fazer. O destino do todo
é o seu destino. 'Para onde o todo estiver indo, eu estou indo
também; para qualquer destino ou não-destino. Para onde esta
bela existência estiver se movendo, eu sou parte dela. Eu sou uma
onda neste grande lago, simplesmente uma pequena onda. Eu não
preciso ter um destino individual.'
A partir do
destino individual é que surge o medo, a angústia e a agonia. A
partir do destino individual, 'eu tenho que fazer algo, eu tenho
que ser alguém, eu tenho que atingir algum lugar', que a mente é
criada. Fazer significa: 'eu tenho alguma idéia de como eu devo
ser, do que eu devo ser'. O não-fazer significa: ' abandonei
todas as idéias do meu ser separado da existência'.
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Innocence
Osho Neo Tarot
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Não-separação é não-fazer. A ação continua, mas ela não é
mais a sua ação. Agora ela é natural. Se uma cobra passa por
uma trilha, você saiu para uma caminhada matinal e vê a cobra
passando, você simplesmente dá um salto para fora do caminho da
cobra. Não é que você tenha feito aquilo, a ação aconteceu,
mas ela é natural. Você não pensa a respeito dela, você não
pondera sobre ela. Você não estava de prontidão para aquela
ação; você talvez não tenha cruzado com uma cobra antes em sua
vida. Você não treinou para fazer aquilo, aquilo não era uma
programação em sua mente. Você simplesmente respondeu. Em forma
de uma cobra, ali estava a morte. E você respondeu,
imediatamente, instantaneamente. A mente nem chegou ali, porque a
mente necessita de tempo para ponderar, para pensar, para
contemplar. E não havia tempo, a morte estava tão perto; você
simplesmente deu um salto.
Sentado
debaixo de uma árvore, depois que a cobra passou, você pode
pensar sobre ela, agora você tem tempo suficiente para pensar.
Mas naquele momento, naquele exato momento, quando a cobra estava
ali à sua frente, você simplesmente agiu, não a partir de sua
mente, mas a partir de sua totalidade. Aquilo foi um ato de
Deus.
O homem que
quer realmente se tornar um não-fazedor, começa agindo como um
veículo do divino, do todo. A ação continua, mas o ator
desaparece. Este é o significado do não-fazer. Você vive a
mesma vida, mas agora você tem uma qualidade totalmente
diferente, ela tem um sabor diferente."
OSHO - Unio Mystica - Vol. II - Capítulo 3
tradução: Sw.Bodhi Champak
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