E essa é
uma das leis fundamentais da vida: tudo aquilo que você
esconde, se for errado, continuará crescendo. Aquilo que você
expõe, se for errado, desaparece, evapora ao sol, e se for
correto será nutrido. Exatamente o oposto ocorre quando você
esconde alguma coisa correta, ela começa a morrer porque não
está sendo nutrida. Ela precisa do vento, da chuva e do sol.
Ela precisa de toda a natureza disponível para ela. Ela
consegue crescer somente com a verdade, ela se alimenta com a
verdade. Pare de lhe dar seu alimento e ela começa a diminuir.
E as pessoas estão acabando com
aquilo que é real nelas e reforçando aquilo que não é real. A
sua face não verdadeira se alimenta com mentiras, por isso você tem
que continuar inventando mais e mais mentiras. Para dar
sustentação a uma mentira você terá que mentir cem vezes
mais, porque uma mentira só pode ser sustentada por mentiras
ainda maiores. Assim, quando você se esconde atrás de
fachadas, o real começa a morrer e o não real prospera,
torna-se mais robusto. Se você expuser-se, o não
verdadeiro
irá morrer, ele estará pronto para morrer, porque o não
verdadeiro
não consegue permanecer no aberto. Ele consegue permanecer
apenas em sigilo, na escuridão, nos túneis da sua
inconsciência. Se você o trouxer à consciência, ele
começará a evaporar. (......)
Se você conseguir expor-se religiosamente, não na privacidade, não com seu psicanalista,
mas simplesmente em todos os seus relacionamentos, isso é o que
significa o sannyas. Isso é auto-psicanálise. Isso é vinte
quatro horas de psicanálise, todos os dias. Isso é
psicanálise em todo tipo de situação: com a esposa, com o
amigo, com os parentes, com o inimigo, com o estranho, com o
chefe, com o seu funcionário. Por vinte e quatro horas você
está se relacionando.
Se você continuar se expondo....
No começo vai ser ser realmente muito assustador, mas logo
você começará a ganhar força porque uma vez que a verdade é
exposta, ela se torna mais forte e a não verdade morre. E com a
verdade tornando-se mais forte, você se tornará mais enraizado
e centrado. Você começa a se tornar um indivíduo. A
personalidade desaparece e o indivíduo aparece.
A personalidade é falsa e a
individualidade é substancial. A personalidade é simplesmente
uma fachada e a individualidade é a sua verdade. A
personalidade lhe é imposta de fora, é uma persona, uma
máscara. A individualidade é a sua realidade, ela é como Deus
a fez. A personalidade é uma sofisticação social, um
polimento social. A individualidade é crua, selvagem, forte e
com tremendo poder.
Somente no começo, Gita, haverá
medo. Por isso a necessidade de um Mestre, para que no começo
ele possa segurar suas mãos, para que no começo ele possa lhe
dar suporte, para que ele possa levar-lhe a dar alguns passos
com ele. O Mestre não é um psicanalista. Ele é muito mais. O
psicanalista é um profissional e o Mestre não é um
profissional. Não é sua profissão ajudar as pessoas, é a sua
vocação, é o seu amor, é a sua compaixão. E por causa dessa
compaixão ele a conduz apenas o tanto que você precisa dele.
No momento em que ele sente que você pode ir por si mesma, ele
começa a soltar as suas mãos. Embora você quisesse
continuar agarrada, ele não pode permitir isso.
Uma vez que você esteja pronta,
corajosa e desafiadora; uma vez que você tenha experimentado a
liberdade da verdade, a liberdade de expor a sua realidade,
você poderá seguir por si mesma. Você conseguirá ser uma luz
para si mesma.
Mas o medo é natural porque
desde o início da infância, lhe foram ensinadas falsidades, e
você se tornou tão identificada com o falso que abandoná-lo
quase parece cometer suicídio. E o medo surge porque uma grande
crise de identidade aparece.
Por cinqüenta, sessenta anos,
você tem sido um certo tipo de pessoa. Agora a Gita deve estar
atingindo os sessenta. Por sessenta anos você tem sido um certo
tipo de pessoa. Agora, nesta última fase de sua vida, abandonar
aquela identidade e começar a aprender a respeito de si mesma
desde o ABC é assustador. A cada dia a morte está se
aproximando mais. Será esse o tempo para aprender uma nova
lição? Quem sabe se você será capaz de completá-la ou não?
Quem sabe? Você pode perder a sua velha identidade e pode
não ter tempo suficiente, energia suficiente, coragem
suficiente para alcançar uma nova identidade. E, nesse caso,
você iria morrer sem uma identidade? Isso será uma espécie de
loucura, viver sem uma identidade. O coração desmonta e se
encolhe. A pessoa pensa: "Agora, tudo bem levar isto
adiante por mais alguns dias. É melhor viver com o velho, o que
é familiar, o seguro e conveniente." Você se torna
competente para lidar com isso. E isso foi um grande
investimento: você colocou sessenta anos de sua vida nisso. De
alguma maneira você administra isso, de alguma maneira, você
criou uma idéia de quem você é, e agora eu digo a você para
abandonar tal idéia porque você não é isso. Nenhuma idéia
é necessária para conhecer-se. Na verdade, todas as
idéias têm que ser abandonadas, somente então você poderá
saber quem você é.
O medo é natural. Não o condene
e não sinta que ele é algo errado. Ele é apenas parte de toda
essa educação social. Nós temos que aceitá-lo e ir além
dele. Sem condená-lo, nós temos que ir além dele.
Exponha pouco a pouco, não há
qualquer necessidade de você dar saltos que você não possa
administrar. Vá passo a passo, gradualmente. Mas logo você
irá descobrir o sabor da verdade e você ficará surpresa de
que todos esses sessenta anos foram puro desperdício. Sua velha
identidade será perdida e você terá uma concepção
totalmente nova. Não será, na verdade, uma identidade mas uma
nova visão, uma nova maneira de ver as coisas, uma nova
perspectiva. Você não será capaz de dizer "Eu"
novamente, com alguma coisa por trás. Você usará essa palavra
porque ela é útil, mas você estará sabendo todo o tempo que
a palavra não carrega qualquer significado, qualquer
substância, definitivamente qualquer substância existencial.
Por trás desse "Eu" está escondido um oceano
infinito, vasto e divino.
Você nunca alcançará uma outra
identidade. A sua velha identidade terá ido embora e, pela
primeira vez, você começará a sentir-se como uma onda
no oceano de Deus. Isso não será uma identidade porque você
não estará ali. Você terá desaparecido. Deus terá se
apoderado de você.
Se você colocar em risco o falso, a
verdade poderá ser sua. E ela vale isso, porque você coloca em
risco apenas o falso e ganha a verdade. Você nada arrisca
e ganha tudo.
Todo o meu trabalho é para, de
alguma maneira, persuadir você, seduzir você, desse jeito ou
daquele, para que abandone a velha identidade. Muitos medos
virão. Muitas coisas você fez no passado e foi capaz de
esconder com sucesso. Agora, sem qualquer propósito, de novo abrindo os capítulos
fechados, os espaços fechadas e liberando
os fantasmas do passado....
Você pode não ter sido fiel ao
seu marido uma vez ou outra, mas você foi capaz de manter uma
certa face de sinceridade e de fidelidade. Agora, expor-se
desnecessariamente vai lhe criar medo. Você pode não ter sido
fiel, mas qual é a razão de expor isso agora? Ou você tem
sido leal em ações mas não em pensamentos. Mas, qual é a
razão de expor isso? A mente lhe dirá: 'Não há qualquer
necessidade! Já existem tantos problemas, porque criar mais
um?'
Você pode ter sido bem sucedida
ao contar muitas mentiras e espalhando tais mentiras como
verdades. Você pode ter sido bem sucedida e, para os outros,
aquelas mentiras são quase verdades agora, e mesmo para você.
Agora, voltando lá atrás e olhando de novo, é muito natural
ficar com medo e não querer olhar para trás e não voltar
àqueles pesadelos. (...)
É melhor ficar quieto, diz a
mente. É melhor não trazer todos os velhos fantasmas, não
liberá-los. É melhor deixá-los sentados lá. Por sessenta
anos você tem sido capaz de manter uma certa conduta, uma
certa graciosidade, uma certa personalidade - polida,
civilizada, respeitável - agora, de repente, expor-se sem
qualquer razão? Você ficou maluca? A mente lhe dirá: 'você
já agüentou tanto tempo, você pode agüentar um pouco mais.'
(....)
Depois de sessenta anos de vida,
a idéia simplesmente surge em sua mente: 'você já
agüentou tanto tempo, por que você não pode agüentar alguns
dias mais? Por que criar perturbações? Por que criar agitações
desnecessariamente?' As coisas estão acomodadas, todo
mundo respeita você, as crianças, o marido, toda a sociedade
respeita você. Tem sido uma luta árdua, uma luta com o mundo
externo e com o mundo interno. De alguma maneira você reprimiu
tudo aquilo que era selvagem dentro de você. Você
reprimiu sexo, raiva, ambição, inveja; você reprimiu
tudo o que a sociedade condena. Você, de alguma maneira,
desenvolveu um belo caráter. Agora, na última fase de sua
vida, por que expor isso? Com que objetivo? O que você vai
ganhar com isso?
A mente lhe dará todas essas
razões astutas, essas racionalizações.
Se você viveu por sessenta anos
de uma maneira falsa, então chega! Já foi o bastante. Já é
hora de abandonar toda essa falsidade. O que as pessoas podem
tirar de você agora? Mais cedo ou mais tarde você vai estar
morta e todo o respeito, todo o caráter, tudo irá se perder e
logo você será esquecida. Algumas poucas pessoas irão se
lembrar de você por uns poucos dias, e depois elas irão
morrer. Então, até mesmo a sua memória vai desaparecer da
Terra. (...)
Quantos milhões de pessoas
viveram na Terra? Ninguém nem mesmo sabe seus nomes agora. Na
época em que elas viveram elas devem ter se gabado de suas
personalidade, caracteres, força, verdade, coragem,
religiosidade, santidade, e disso e daquilo. Agora, ninguém nem
mesmo sabe os seus nomes. (...)
Agora, o que você tem a perder,
Gita? Você nada tem a perder e tem tudo a ganhar. Você foi
afortunada por, na última fase de sua vida, ter entrado em
contato com este campo de energia. Você foi afortunada pois no
final da tarde de sua vida uma porta está aberta e a pessoa que
volta para casa, ainda que no final da tarde, não deve ser
considerada perdida.
Existe um provérbio na Índia: 'mesmo no final da tarde, quando o sol está se pondo, se alguém
volta para casa, ele não é considerado perdido.' Ele chegou,
finalmente ele chegou.
Não perca essa última fase da
vida. E a última é a mais importante fase, porque ela lhe
trará a morte. E se você conseguir morrer como verdade, você
não nascerá novamente. Se você puder morrer com todas as
falsidades abandonadas, com todas as falsas identidades
desconectadas de você, renunciadas, se você puder morrer
completamente nua diante de Deus, absolutamente nua diante de
Deus como uma criancinha diante de seus pais, a sua morte será
a mais bela experiência que você jamais conheceu.
Aqueles que conheceram a morte
sabem que a vida é nada comparada a ela. A vida tem uma
extensão, setenta, oitenta anos, ela se espalha por todos esses
anos. Daí, ela não conseguir ter a mesma intensidade que a
morte pode ter, e que somente a morte consegue ter, porque a
morte acontece num momento. Por oitenta anos você vive
e num momento você morre. A morte tem intensidade,
não extensão mas intensidade. Ela tem profundidade.
A vida é um longo caminho para
viver. Você pode adiar para amanhã e viver de uma maneira sem
entusiasmo. Mas a morte é tão total... E se você puder morrer
conscientemente... E você só pode morrer conscientemente se
você expor-se totalmente, de modo que tudo o que o
inconsciente estiver carregando seja colocado para fora, tudo o
que o inconsciente estiver reprimindo seja liberado, e assim o
inconsciente se torna vazio e nada há para esconder. Você pode
se expor no momento da morte e morrer conscientemente.
Lembre-se, uma pessoa que tiver
qualquer repressão não poderá morrer conscientemente. A
repressão cria o inconsciente. Quanto mais reprimido você for,
maior o inconsciente que você tem. O que na verdade é o
inconsciente? Ele é aquela parte de sua mente que fica de lado,
é aquela parte de sua casa onde você nunca vai, o porão.
Você vai atirando ali todo tipo de coisas e nunca você vai
lá. (...)
O inconsciente é uma criação
da civilização. Quanto mais civilizado você for, mais
inconsciente você será. Se você for absolutamente civilizado,
você será um robô, você será absolutamente inconsciente.
Isso é o que está acontecendo. Esta calamidade está
acontecendo em todo o mundo. Isso tem que parar. E a única
maneira de parar isso é ajudando as pessoas a colocar para fora
os seus inconscientes nas meditações.
Gita, exponha-se. Isso
será um alívio. E eu estou aqui. Não fique preocupada e não
tenha medo. Eu estou indo com você. Eu vou lhe fazer companhia
até o ponto em que você não precise mais de mim. Eu só
deixarei você no desconhecido quando eu sentir que agora você
pode caminhar por si mesma. E aí não haverá mais medo.
Mas não perca esta oportunidade.
Desta vez, morra conscientemente. Mas você tem que começar
neste exato momento a viver conscientemente. Somente então
você poderá morrer conscientemente. Mesmo que você consiga
viver conscientemente por poucos anos, isso será o suficiente.
Mesmo alguns meses ou mesmo alguns dias, se a intensidade for
grande, mesmo alguns minutos serão suficientes para viver
conscientemente. Então a pessoa se torna capaz de morrer
conscientemente. E morrer conscientemente é ressuscitar numa
dimensão totalmente diferente, a dimensão do divino.
Eu gostaria que todos os meus
sannyasins morressem tão profundamente que eles nunca nascessem
de novo, assim eles poderiam desaparecer no cosmos e se tornar
parte do todo. " |