"Esta é uma das
mais belas declarações: 'Olhe para o seu coração. Siga a sua
natureza'.
Buda não está
dizendo, siga as escrituras. Ele não está dizendo, siga-me. Ele não
está dizendo, siga certas regras de conduta. Ele não está ensinando a
você qualquer moralidade. Ele não está tentando criar um certo
caráter em você, porque todo caráter é uma bela cela de uma prisão.
Ele não está dando a você um certo caminho para viver. Ao invés
disso, ele está lhe dando coragem para seguir a sua própria natureza.
Ele quer que você seja corajoso o bastante para ouvir o seu próprio
coração e seguir, de acordo com ele.
'Siga a sua natureza'
quer dizer: flua com você mesmo. Você é a escritura... e escondido
lá no fundo de você ainda está uma pequena voz. Se você se tornar
silencioso, você será guiado por ela.
O Mestre tem
apenas que tornar você consciente de seu Mestre interior. Aí a sua
função estará completa. Aí ele poderá deixar você consigo mesmo,
ele poderá mandar você de volta para você mesmo. A proposta de um
Mestre não é escravizar um discípulo, a proposta de um Mestre é
libertá-lo, é lhe dar total liberdade. E essa é a única
possibilidade de se atingir a liberdade total: 'Siga a sua natureza'.
Por 'natureza',
Buda quer dizer Dhamma. Assim como é da natureza da água fluir para
baixo e é da natureza do fogo se expandir para o alto, assim existe uma
certa natureza escondida dentro de você. Se todos os condicionamentos
que foram impostos a você pela sociedade forem removidos, de repente
você irá descobrir a sua natureza.
A sua natureza é
tornar-se Deus. Ais Dhammo sanantano - essa é a lei eterna e
inesgotável: sua natureza é tornar-se Deus.
O homem é um
Deus em potencial, um bodhisattva. O significado do homem é
tornar-se Deus. Menos do que isso não irá satisfazer você, menos do
que isso não terá utilidade. Você pode ter todo o dinheiro do mundo,
todo o poder, todo o prestígio possível, e ainda assim você
permanecerá vazio.A não ser que a sua natureza divina floresça, abra
os seus botões, a não ser que você se torne um lótus, mil pétalas
de lótus, a não ser que a sua divindade seja revelada a você, você
nunca estará satisfeito.Ao homem religioso comum é dito para que
permaneça satisfeito e contente, em qualquer que seja a situação. Os
chamados santos religiosos seguem ensinando às pessoas: 'fique
satisfeito'. A satisfação é um de seus ensinamentos fundamentais.
Esse não é o caminho dos verdadeiros Mestres.
O Mestre
verdadeiro cria o descontentamento em você, um tal descontentamento que
nada neste mundo poderá satisfazê-lo. Ele cria um tal anseio em você,
que a não ser que você alcance o máximo, você irá permanecer sem
fogo, sem chama. Ele cria dor em seu coração, ele cria
angústia...porque a vida está escorregando a todo momento, e cada
momento que se foi, se foi para sempre, e você ainda não alcançou
Deus e mais um dia já se passou.
Ele cria um tal
anseio profundo em você, uma tal dor em seu coração! Ele cria
lágrimas em seus olhos, porque somente através desse divino
descontentamento, você irá se mover, você dará o salto quântico, o
salto maior em direção ao desconhecido. Somente através desse divino
descontentamento é que você reunirá todas as suas energias e se
arriscará, indo até a aventura maior que é descobrir quem você
é.
Siga a sua
própria natureza. A sua natureza é a consciência. Mas os padres
disseram a você: siga certas regras de conduta, os Dez Mandamentos,
siga certos princípios, não a sua natureza. Os padres têm muito medo
da sua natureza, porque se você seguir a sua natureza você irá sair
de seu controle, você não será mais um escravo. Você não irá mais
às igrejas, aos templos e aos mosteiros, e você não irá mais ouvir
seus estúpidos padres, políticos, os chamados líderes. Eu digo que
eles são os 'chamados líderes' porque o que na verdade está
acontecendo é que pessoas cegas estão guiando pessoas cegas.
Se você ouvir à
sua própria natureza, você não irá ouvi-los mais. Se você conhecer
a sua própria voz interior, você se tornará livre. Então, a sua voz
interior tem que ser esmagada, destruída, completamente destruída, ou
pelo menos distorcida de tal maneira que mesmo se você ouvi-la, você
não poderá entendê-la. E eles têm sido bem sucedidos. A não ser que
você lute arduamente contra eles, não haverá possibilidade de
sucesso. A exploração deles é tão velha, a opressão deles é tão
antiga, as estratégias deles são tão espertas... e eles têm um poder
infinito em suas mãos. E quem é você individualmente contra eles?
Mas se você for
para dentro, se você ouvir o seu coração, você irá alcançar um tal
poder que nenhum poder na Terra poderá escravizá-lo de novo.
Siga a sua
natureza. Mas como seguir a sua natureza, se você não sabe o que ela
é? E não lhe é permitido saber o que ela é! Você recebeu
instruções precisas sobre o que fazer: o que comer, quando levantar-se
de manhã, quando ir para a cama...Você recebeu instruções precisas.
Aquelas instruções, se seguidas, fazem de você um escravo. Se não
seguidas, fazem de você um criminoso. Se seguidas, você se torna um
santo, mas um escravo. As pessoas irão adorá-lo, respeitá-lo, mas
todo esse respeito é um entendimento mútuo: 'Se você seguir as nossas
instruções, nós respeitaremos você. Se você não seguir, você irá
para a prisão.'
Ou você se
tornará espiritualmente um escravo ou fisicamente um prisioneiro: essas
são as duas alternativas que a sociedade dá a você. E isso nunca
permite a você se tornar consciente de que existe dentro de você uma
fonte de infinita orientação e direcionamento. E é de lá que Deus
fala.
Deus ainda fala,
ele não parou de falar. Ele não é parcial. Não é que ele tenha
falado a Maomé e a Moisés e que ele não fala a você. Ele está
falando a você tanto quanto ele falou para Maomé. A única diferença
é que Maomé estava pronto para ouvi-lo e você não está pronto para
ouvi-lo. Maomé estava disponível e você não está disponível.
Tornar-se
disponível à sua própria natureza interior é o que eu chamo de
meditação.
Lembre-se dessas
duas palavras. O caráter é uma invenção dos políticos e dos padres,
é uma conspiração contra você. A consciência é a sua natureza.
Sim, o homem de consciência tem um certo caráter, mas esse caráter
segue a sua natureza. Não lhe foi imposto por alguém, esse caráter é
a sua própria decisão. E ele não está preso a esse caráter, ele
está totalmente livre para mudá-lo a qualquer momento. As
circunstâncias mudam, a sua consciência lhe dá diferentes direções
e ele muda o seu caráter.
O homem de
caráter, o 'chamado homem de caráter', está preso. Mesmo se as
circunstâncias mudarem ele segue repetindo o mesmo caráter, mesmo que
não seja mais relevante, mesmo que não seja mais adequado. O contexto
no qual ele tinha um significado desapareceu, mas ele segue repetindo as
mesmas tolices. Ele é como um papagaio. Ele é uma máquina: ele não
responde, ele simplesmente reage.
Um homem de
consciência responde e suas respostas são espontâneas. Ele é como um
espelho. Ele reflete tudo aquilo que se confronta com ele. E a partir
dessa espontaneidade, a partir dessa consciência, um novo tipo de
ação surge. Essa ação nunca cria qualquer escravidão, qualquer
carma. Essa ação liberta você. Você alcança a liberdade se você
ouvir a sua natureza.
Mas esse simples
conselho parece ser muito difícil para as pessoas. Ele deveria ser a
coisa mais simples do mundo. Cada criança nasce seguindo sua natureza,
mas na medida em que você cresce, pouco a pouco você vai perdendo o
contato com ela. Você é forçado a perder o contato com ela. O contato
pode ser recuperado, ele pode ser redescoberto. Anos mais tarde, quando
você tiver se tornado uma pessoa culta, preso dentro de um certo
caráter, completamente cego para com seu coração e sua natureza,
você começa a formular muitas perguntas.
Outro dia, o Prem
Vijen perguntou: 'Osho, o que você quer dizer quando você diz Vá para
dentro?'
Uma declaração
tão simples, 'Vá para dentro', e você me pergunta 'o que eu quero
dizer com ela?' Você não consegue entender estas simples palavras,
'vá para dentro'? Eu sei que você conhece as palavras, mas ir para
dentro tornou-se muito difícil porque você só aprendeu como ir para
fora. Você só pode ir para fora, você só sabe como ir, se for para
fora.A sua consciência está voltada para os outros, ela esqueceu o
caminho para ela mesma. Você segue batendo na porta dos outros e sempre
que é dito a você, 'vá para casa' você diz: ' Osho, o que você quer
dizer com ir para casa?' Você só conhece as casas dos outros, você
não conhece o seu próprio lar. E você está carregando esse lar
dentro de você. Você foi forçado a ser extrovertido. Você tem que
aprender de novo o caminho de ir para dentro.
Soren Kierkegaard
disse: 'Religião significa ir para dentro', ir para a sua própria
interioridade. Mas as simples palavras 'ir para dentro' tornaram-se tão
difíceis de entender. A mente conhece apenas como ir para fora, e nela
não há qualquer marcha a ré....
Eu estou
ensinando a você aqui que a marcha a ré está aí, embutida, você
apenas se esqueceu dela. Você sabe como ir para fora. Ninguém pergunta
'O que você quer dizer quando diz 'vá para fora'?'. Mas todo mundo
quer perguntar 'O que você quer dizer quando diz 'vá para dentro'?'.
Simples palavras!
Pensar é ir para
fora e não pensar é ir para dentro. Pense e você já começou a se
mover para fora de si mesmo. O pensamento é a maneira de levar você
para longe. O pensamento é um projeto. Não-pensamento... e de repente
você está dentro. Sem pensamento você não pode ir para fora, sem
desejo você não pode ir para fora. Você precisa do combustível do
desejo e do veículo do pensamento para ir para fora.
Sentando-se
silenciosamente, nada fazendo... nem mesmo pensando, nem mesmo
desejando... e onde você estará?
Ir para dentro
não é verdadeiramente ir para dentro. É simplesmente parar de ir para
fora... e de repente você encontra a si mesmo dentro.
Prem Vijen, você
não precisa ir para dentro porque se você for, você irá sempre para
fora. Ir significa ir para fora. Pare de ir! Pare de ir a qualquer
lugar! Você consegue sentar-se silenciosamente sem ir a qualquer lugar?
Sim, fisicamente você pode sentar-se, isso não é muito difícil.
Você pode aprender uma postura de yoga e você pode fazer de seu corpo
quase uma estátua, mas o problema é: o que você está fazendo do lado
de dentro? Desejos, pensamentos, memórias, imaginação, todos os tipos
de projetos? Pare com eles também.
Como parar com
eles? Simplesmente torne-se indiferente a eles, despreocupado. Mesmo que
eles estejam ali, não dê atenção a eles. Mesmo que eles estejam ali,
não lhes dê qualquer importância. Mesmo que eles estejam ali,
deixe-os estar. Sente-se silenciosamente do lado de dentro, observando.
Lembre-se dessa palavra: observando, testemunhando, simplesmente estando
alerta.
E na medida em
que esse observar cresce, se torna mais profundo, a mesma energia que
estava se tornando desejos, pensamentos, memórias e imaginação, essa
mesma energia é absorvida em nova profundidade. A mesma energia é
usada por esse aprofundamento interno. E você saberá o que quero dizer
quando digo 'Vá para dentro'.
Não comece a
procurar nos dicionários ou na Enciclopédia Britânica. Não é uma
questão de palavras. Palavras são simples para compreender. Quando eu
digo 'Vá para dentro', é isso exatamente o que eu quero dizer: vá
para dentro! Não comece a perguntar sobre as palavras. Escute a
mensagem oculta, senão você irá perder o trem. O que eu quero dizer
com 'perder o trem'?.........
Se você se
tornar muito interessado em palavras, 'O que quer dizer com ir para
dentro? O que isso quer dizer...?' Verbalmente, lingüisticamente, Vijen,
você vai perder o trem. Não desperdice tempo com palavras!
E essa é
particularmente uma nova espécie de doença que tem atingido os
intelectuais do mundo. Pelo menos por cinqüenta anos, o mundo
filosófico tem se tornado muitíssimo interessado em palavras e
análises lingüísticas. Eles não perguntam mais o que é Deus. Eles
não perguntam mais se Deus existe ou não. Os filósofos
contemporâneos perguntam, 'O que quer dizer quando você usa a palavra
Deus?' A questão não é se Deus existe ou não. A questão não é o
que é Deus. A questão não é como se alcança Deus. Agora a questão
tomou uma nova direção: 'O que você quer dizer quando você usa a
palavra Deus?' O que você quer dizer quando você usa a palavra rosa?
Essa questão é mais fácil. Você pode pegar o filósofo, forçá-lo a
ir até o jardim e mostrar a ele a rosa. 'Isso é o que eu quero dizer
quando eu uso a palavra rosa'. Mas isso não pode ser feito com a
palavra Deus, isso não pode ser feito com a palavra meditação, isso
não pode ser feito com as palavras 'vá para dentro'. Estes são
fenômenos sutis. Não se torne um interessado em lingüística. Eu não
estou aqui para ensinar análise lingüística a você.
Toda a minha
abordagem é existencial. Se você realmente quer saber o que significa
ir para dentro, então vá para dentro! E o caminho é: observe os seus
pensamentos e não se identifique com eles. Simplesmente permaneça um
observador, completamente indiferente, nem contra nem a favor. Não
julgue, porque qualquer julgamento traz identificação. Não diga,
'Estes pensamentos são errados' e não diga, 'Estes pensamentos são
bons'. Não faça comentários sobre os pensamentos. Deixe que eles
passem como se eles fossem apenas a passagem do tráfego e você está
de pé ali ao lado da rodovia despreocupado, olhando o tráfego. Não
interessa o que está passando, um ônibus, um caminhão ou uma
bicicleta. Se você puder observar o processo de pensamentos de sua
mente com tal despreocupação, com tal desapego, não estará longe o
dia em que todo o tráfego desaparece... porque o tráfego somente pode
existir se você seguir dando energia para ele. Se você parar de dar
energia para ele... E isso é o observar: parar de dar energia para
isso, parar a energia que se move dentro do tráfego. É a sua energia
que faz aqueles pensamentos se moverem. Quando a sua energia não os
está alimentando, eles começam a cair, eles não conseguem se manter
em pé por si mesmos.
E quando a
rodovia da mente estiver completamente vazia, você está dentro. Isso
é o que eu quero dizer, Vijen, quando eu digo 'Vá para dentro'. E isso
é o que Buda quer dizer quando ele diz: 'Siga a sua natureza'."
OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 3
Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda
tradução: Sw.Bodhi Champak
Copyright
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