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Sannyas:
uma experiência do dia-a-dia
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Mensalmente
apresentamos nesta seção o depoimento de um discípulo do Osho que
adotou a meditação em seu dia-a-dia e aqui compartilha conosco essa
sua experiência. O texto abaixo, em negrito e itálico, é sempre de
responsabilidade do depoente.
Neste mês estamos apresentando o depoimento da Ma Anand Samashti
Samashti, saniássin há 19 anos, é bastante conhecida
em nosso meio. Ela já traduziu vários livros do Osho
para o português e,
juntamente com o Sw. Prem Abodha, coordena o Centro de Meditação Osho
Sukul, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Aposentada
há mais de 5 anos, atualmente faz hidroginástica e
longas caminhadas. Também faz tricô manualmente, lê,
dorme e "aprende a ser idosa", segundo ela
própria diz. Disse-nos ainda: "tenho cinco filhos
e oito netos - com estes troco amor. Eu vivo e me
aproximo cada vez mais e mais de mim a cada
dia".
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Creio que Osho apareceu na minha vida como apareceu na
vida de quase todo mundo. Dentro de mim, não havia nenhum
impulso nessa direção. Nem imaginava que “tal coisa”
existisse na modernidade. Para mim então, essas eram coisas dos
primórdios da humanidade. Lembro-me apenas de, ao sentir Jesus
dentro de mim profundamente, lamentar internamente o fato de não
tê-lo conhecido pessoalmente. Como eu gostaria de tê-lo
conhecido! Mas isso era um desejo que não poderia se repetir,
segundo o que eu sabia.
Mas... vale mais um verdadeiro amigo do que muito
dinheiro no bolso. Esse amigo para mim foi o Abodha. Nós éramos
colegas de profissão e amigos, já havia oito anos, quando ele
encontrou um cara muito esquisito – eu os chamava a todos de
“esses Mararishes Mareshes”, dos quais eu queria distância.
Uma pessoa que tinha sido católica de carteirinha, sentia o
cheiro de repressão à distância. Podia ser um outro tipo de
repressão, mas era repressão. E eu já seguia o caminho de
lealdade a mim mesma. Nesse tempo, eu vivia no centro do meu ego
como quem vivia no centro de seu ser – ficava o tempo todo
controlando os vários egos, para nenhum deles me levar para a
miséria outra vez. Um sufoco!
Tive muita preocupação, durante dois anos, com a
“perdição” de meu amigo, metido com umas pessoas muito
esquisitas. Sempre que ele chegava, eu perguntava: ‘E o velho,
como vai ele?’ E ele me dava as notícias e eu ia
“controlando” a situação para ele não se perder. Ele também
tinha sido “bem-criado” como eu, tinha quase os mesmos
valores... Era o que eu achava.
Um belo dia, vi-me na condição de não suportar mais
nada, de estar a ponto de “arrebentar” – acho que quase
todos que queiram controlar seus egos tornando-os um só, acabam
assim, quando não tomam remédios nem fazem terapias.
Abodha e seus amigos tinham acabado de alugar uma casa
velha lá em Santa Cruz, um bairro distante do centro do Rio de
Janeiro. Fui até lá fazer um trabalho que ele facilitava, algo
que eu nunca tinha feito. Nesse trabalho, não houve a Meditação
Dinâmica, “apenas” uma Nataraj ao meio dia e a Kundalíni
à noite... O restante eram jogos para desreprimir e relaxar. Eu
me diverti muito e fui muito longe dentro de mim sem saber. Ao
meio-dia ele nos preparou para a Nataraj. Começou fazendo cada
couraça se movimentar, e lembro-me que requebrei pela primeira
vez na minha vida, aos 49 anos. A partir daí, tudo foi conseqüência
em minha vida. Costumo dizer que entrei nesse grupo em agosto de
85 e nunca mais saí dele...
Resumindo: nunca mais deixei de ir ao lugar todas as
semanas, até conseguir mudar-me para lá. Para ficar lá,
apenas. Somente fazia a Kundalíni. Dois meses depois, estava
morando com eles, e dançando de três em três horas –
lembro-me bem: Tears for Fears, todo o LP. E eu ia representando algumas das
letras. Algumas tinham a ver comigo.
Detalhe: nunca havia lido Osho. Não suportava.
Abodha havia me dado “A Semente de Mostarda”, mas o
livro falava de tudo que “eu já sabia”, assim pensava meu
ego, pois eu era uma estudiosa das religiões e já contestava a
Igreja Católica nas suas mentiras – tudo o que ela afirma e
que não batia com a minha experiência, tornava-se uma mentira
perigosa. Engraçado é que, quando me aparecia alguém pouco
ilustrado sobre o assunto religião, eu emprestava o livro para
ela. Quando a pessoa me devolvia o livro, vinha com uns olhos
enormes e me perguntava a minha opinião. Meu ego
invariavelmente respondia que não tinha lido aquele livro, mas
que eu sabia de tudo aquilo – conclusão tirada da leitura das
primeiras páginas. E como um alerta, invariavelmente, todas
disseram: “Você devia ler, é muito bom.”. Eu controlava
minha feição de desprezo e reforçava o que já havia dito,
isto é, reforçava meu ego.
Mas o tempo passou e três meses depois de eu morar com
eles na casa velha, o Abodha recebeu o nome que havia pedido
para a comunidade que eles estavam começando a formar, como nome
de um Centro de Meditação – Sukul.
Eu só conhecia centro comercial e espírita, nem fazia
idéia do que era aquilo. Apenas vi um movimento muito estranho:
os moradores resolveram ir embora, porque não queriam ter a
responsabilidade de um Centro de Meditação. Não entendia
ainda a explicação dada – estava iniciando minhas meditações,
a aplicar as técnicas em mim. Meu entendimento era puramente
intelectual e nada daquilo fazia sentido. Mas o Abodha aceitou e
eu fiquei com ele. Como eu disse, eu não sabia mais o que fazer
da vida, ela não me interessava mais.
Muitos anos depois, fortuitamente, tornei-me uma leitora
assídua de Osho e só de Osho; e mais, tornei-me uma tradutora
dos livros dele. Foi assim que aprendi a ouvi-lo no que ele
dizia, pois a tradução pode ser uma leitura muito profunda.
Foi assim que descobri o que ele sugere ser um saniássin
ou uma saniássin: um experimento do Mestre. Alguém que tendo
ouvido e compreendido, vai experimentar em si o que foi
sugerido, segundo sua própria compreensão. Só depois de
experienciar, o saniássin pode descartar a sugestão do Mestre,
caso aquilo não tenha a ver com ele. Digo-lhes: até hoje não
encontrei nada que não tivesse a ver comigo. Por isso Osho é
meu Mestre.
Comecei a meditar mesmo, uns três meses depois de estar
morando lá. A tal da Dinâmica, para mim, seria a última coisa
no mundo que eu procuraria. Talvez por isso foi a única
recomendada por um terapeuta. Tentei loucamente durante alguns
meses, até que engrenei e fui de quarta marcha durante três
anos... A Kundalíni era um presente ao entardecer, e outras
meditações também. Costumava fazer a Nataraj à tarde, mas
era muito forte fazer três técnicas por dia. A pessoa pode
ficar fora do ar. Melhor seguir o que diz Osho, no máximo duas
e sempre as mesmas, nos mesmos horários.
Um belo dia, eu me vi em plena meditação ao viver minha
vida e meus trabalhos. Foi algo extremamente prazeroso e
tornou-se meu modo de vida – estar aqui e agora em tudo o que
faço é toda a minha alegria. Essa foi a transformação que a
meditação trouxe para a minha vida.
Estive duas vezes com Osho. Da primeira vez, quando
fiquei um mês e tinha somente um ano de meditação, fiquei
mais contente de sair de lá do que de estar lá. Só gostava
dos bolos e pães e dos discursos noturnos. Mas aquele convívio
com os saniássins brasileiros era extremamente penoso – eu não
falava inglês. E eu era muito esquisita: tinha muito medo e
muito julgamento saindo pelos olhos. Não havia muito o de que
se gostar em mim.
Na segunda vez, fiquei quatro meses e já tinha dois anos
de Dinâmica. Já sabia observar meu ego. Ainda era muito
defensiva, mas eu já sabia que estava sendo defensiva. Cada um
tem sua história de abuso. A minha levou-me a isso. Além do
mais, quase todos eram muito jovens, eu já tinha 51 anos... Mas
fiz poucos ótimos amigos.
Quanto ao Osho Sukul, ele é coordenado pelo Abodha, eu
sou mera ajudante dele. É pura gentileza dele dizer que eu sou
coordenadora junto com ele. É como eu me sinto bem e à
vontade. Ele me fez tão bem que quero que continue ajudando as
pessoas a se aproximarem delas mesmas. Os que queiram conversar
comigo sobre alguma coisa, sempre me encontram à disposição.
Só não me interesso por mundanalidades.
Se eu tivesse de dizer algo, eu diria aos novos que nunca
confundam técnica de meditação com a meditação propriamente
dita. As técnicas são a única oportunidade que eu conheço de
chegarmos ao distanciamento do ego, de poder olhar para o próprio
ego - aí sim, de meditar. E não é preciso fazer nada, basta olhar para ele que ele
derrete. E você vive mais, verdadeiramente. Osho nunca nos enganou.
samashti@iis.com.br
Ma Anand Samashti - foto no Osho Sukul
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