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Sannyas:
uma experiência do dia-a-dia
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Mensalmente
apresentamos nesta seção o depoimento de um discípulo
do Osho que adotou a meditação em seu dia-a-dia e aqui compartilha
conosco essa sua experiência. O texto abaixo, em negrito e itálico, é
sempre de responsabilidade do depoente.
Dúvidas e questionamentos sobre o conteúdo do texto devem ser
encaminhados diretamente ao endereço de e-mail do depoente indicado ao
final.
Neste mês estamos apresentando o
depoimento do Swami Prem Prabhu.
Sw.
Prabhu, tornou-se sannyasin em 1975. Foi coordenador de um Centro do
Osho em Porto Alegre (RS) denominado Purnam RMC. Coincidentemente era o
mesmo nome de um outro Centro naquela mesma cidade dirigido pelo Sw,
Goutama. Osho mudou então o nome de seu Centro para Amrito e
recomendou-lhe que se mudasse para outra cidade. Prabhu mudou-se então
para Brasília e em novembro de 1978 promoveu, já na capital federal, o
primeiro Campo de Meditação aberto ao público no Brasil. Até então
os Campos eram fechados e deles só participavam os sannyasins
vinculados a um determinado Centro.
E
aí pessoal?
Aquele abraço!
O Champak me pediu para escrever algumas coisas sobre a minha
caminhada como sannyasin, e há muito para ser dito... Porém, a
essência deste "muito" pode ser reduzida a uma frase
que foi dita por Osho: "A vida não é um enigma a ser
resolvido, mas um mistério a ser vivido". E de fato tudo
é um grande mistério. |
Sw. Prabhu em seu
atelier
. |
Para mim, não há nada mais a fazer senão mergulhar nesse mistério.
E, quanto mais a gente se aprofunda, ele fica ainda maior.
Há muitos anos atrás ( em 1977), Osho me enviou uma carta que
dizia:
"Eu estou guiando você ao desconhecido. Você não sabe nada sobre
ele.
Você
não sabe os seus porquês. E eu não posso fazer você entender
aonde
eu estou te guiando, porque não há maneira de explicar isto. A
sua
própria natureza é inexplicável.
Assim, você só tem que me amar e confiar em mim, e você só tem que
me
seguir no desconhecido, através daquilo que não é familiar, daquilo
que é
estranho. Você não pode imaginar previamente o que é isto. A única
coisa
a
fazer é ir e experienciar".
E esta tem sido a minha caminhada: o mergulho no desconhecido.
Dentro desse mergulho, algumas coisas
surgiram, como o meu trabalho de arte, que é uma expressão daquilo que
vem acontecendo comigo desde que me tornei sannyasin, em 1975.
A Fabulosa Nebulosa de Tamanduá Lua
(Têmpera acrílica/Tela)
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Eu iria ser um arquiteto, mas depois que voltei da Índia
(1976/1977) a minha vida tomou outro rumo. O "ferrolho"
que trancava o coração desmontou e surgiu para mim um sentido
para a vida mais real e mais verdadeiro, que, no fim das contas,
é o que vem me acompanhando desde criança: o espírito de
artista. E me tornei um. Reencontrei um canal de expressão
totalmente em sintonia comigo mesmo.
A partir de então, trabalhei
muitos anos com a arte do Batik, que é uma técnica oriental e
atualmente faço têmperas, aquarelas e outras técnicas de
pintura á base de água.
O Reiki também tem sido algo
de grande importância para mim, não só aplicando, como também
iniciando pessoas nessa técnica. |
Gostaria de falar algumas coisas sobre o tempo em que estive na Índia,
mas antes, apenas um recado sobre meditação e os caminhos que a
envolvem, e isto porque tenho visto uma pequena confusão sobre esse
assunto, ao longo dos anos.
Quando Osho falou sobre Lao Tzu e o Tao
Te King, na série intitulada "The Three Treasures" (entre
1974 e 1975) ele falou sobre os dois caminhos:
- um deles é o testemunhar, quando você apenas é o observador e tudo
o mais é
a periferia. Este caminho pode ser seguido por 50% das pessoas.
Porém, se os
outros 50% seguirem este caminho, podem se tornar
esquizofrênicos pois pode
haver uma divisão na personalidade. Osho nos fala que isso
aconteceu com muitos
seguidores de Gurdjieff.
- O outro caminho é o oposto. Não há nenhum observador e é só uma
questão de
você ser total. É você ficar totalmente absorvido naquilo que
estiver fazendo e
esquecer o observador e o ato de testemunhar. Aí, não há
divisão, você é a única
energia.
E como decidir por qual caminho? Fazer
aquilo que faz você sentir-se bem. Para mim, o caminho para o Nirvana
deve ser prazeroso e, sobre isso, gostei muito de uma outra carta que
recebi do Mestre, também em 1977:
"Lembre-se que minhas meditações não são somente técnicas.
Ame-as.
Alegria é mais fundamental. Assim, enquanto as estiver fazendo,
não
carregue seriedade na sua mente. Nada é sério. Leve as coisas
mais na
brincadeira. Enquanto estiver fazendo meditações, não leve a
idéia de que
você está fazendo um grande trabalho religioso. Não.
Você as está
desfrutando como uma dança, como uma canção. Faça-as
de maneira mais
engraçada. Então você relaxará mais profundamente e
muito mais será possível."
E agora a Índia...
Era dezembro de 1976 e eu estava chegando em Poona. O dia amanhecendo , o
ônibus chegando e uma misteriosa neblina pairando sobre as árvores...
Naquele dia à tarde, dentro do 'Ashram', senti uma enorme alegria, uma
'fragrância' até então desconhecida para mim... Uma 'alegria
orgástica'.
Dias depois, era o 'darshan', o encontro do
mestre e discípulo... Um pouco antes das sete da noite, umas 15 ou 16
pessoas no máximo...Maneesha chama um por um, deixamos os sapatos e
chinelos ali mesmo, entramos e sentamos no chão. A cadeira à nossa
frente ainda está vazia.
Dali a pouco, entra Mukta, Laxmi, Vivek e
Ele, 'namastê', saudando a todos. Laxmi começa a chamar o pessoal. As
pessoas chegam, sentam à frente d'Ele, algumas recebem sânias, algumas
perguntas, respostas e... silêncio também.
Eu estava ali, sentado, esperando a chamada
da Laxmi. Lá pelas tantas, ela me chama e, antes de sentar à Sua frente,
Ele abre um sorriso e...
- "Hello, Prabhu!"
Conversamos sobre algumas coisas, quanto
tempo eu ficaria em Poona...
- 3 meses!
- "That will do!"
Me disse que eu iria passar por muitos
processos e perguntou pelas terapias. Me falou para fazer o Encounter,
danças sufis e mais a terapia primal.
De repente, ficamos em silêncio, ele me
olhando, eu nos olhos dele...
Depois de um tempo, que pareceu uma
eternidade, ele falou aquilo que eu estava precisando ouvir há 'milenia'
- era a resposta de todas as minhas perguntas...
- "Deve-se procurar uma janela, a fim
de que o coração possa ser encontrado...
aquele ponto que prova ser o de
menos resistência... e quando o coração é
encontrado, 'everything goes
on'..."
Dias depois ele começou os discursos sobre
'Kabir'... 'The Heaven is the way to the Heaven'.
Pegando uma forte gripe, fui passar uns
dias em Goa. Um lugar incrível... beira-mar. Freqüentemente quando
caminhava para a praia, não sabia mais quem movimentava o meu corpo, ele
se movia sozinho... e este swami onde estaria?
Voltei a Poona e fiz a terapia primal... 21
dias intensivos. Quando terminaram aqueles 21dias me senti como uma
criança novamente, sem pai nem mãe, totalmente solta no mundo.
Me lembro de estar olhando um livro de
estórias de criança, e vendo aquelas ilustrações, aquelas cores, tudo
tão mágico, tão divino!
Peguei nova gripe e retornei para Goa. Era
então fevereiro de 1977, praia de Chapora: um dia daqueles, tarde, um
sannyasin inglês apareceu e me convidou para tomar um banho de fonte.
Descemos para a praia e chegamos a uma fonte, na beira de um morro. Tomei
um banho e fomos para a casa dele. Lá chegando, sentei no chão e, no
momento em que fechei os olhos, senti o meu ser descer da cabeça para a
região do peito, como se um peso muito sutil fizesse aquele percurso.
Fiquei um tempinho curtindo aquela sensação...
Na hora de voltar, levantei e, quando desci
os degraus da entrada da casa, senti uma total mudança de percepção.
Era como se eu estivesse numa 'viagem' de alucinógenos... mas de uma
qualidade totalmente diferente... A terra estava respirando, inalando e
exalando... Fiquei com receio de pisar e machucar o chão da floresta; era
tudo tão vivo!
...'Holy Ground'.
Era como se o universo estivesse abrindo
suas portas para mim.
Fomos caminhando pelo meio do mato e era
tudo tão mágico!... as folhas secas espalhadas pelo chão...
Voltando à minha casa, já era noite e era
tudo muito estranho, o estado de percepção totalmente alterado.
Na sala, sentei no chão e, quando fechava
os olhos, sentia um vazio absoluto e um calor insuportável. Era como se
todo o corpo estivesse queimando por dentro. E aquela 'viagem' continuava
com toda a intensidade. Estava olhando para uma vela acesa e fiquei com
medo de desaparecer naquela chama... estava muito fácil, era só querer!
Um tempo depois, e isso já era umas nove
da noite, alguém bateu à porta. Levantei para atender e caminhei uns dez
passos... No momento em que comecei a caminhar, senti o corpo desaparecer
e se transformar em pura luz. Não era mais o corpo caminhando e sim um
halo de luz, claro e brilhante, uma sensação muito suave e sutil... Um
vislumbre do 'outro lado do Oceano', daquilo que é o sonho mais
longínquo e mais acalentado do ser humano...
Nos três próximos dias, aquela sensação
de ainda estar vivendo num 'espaço diferente daqueles que estão ao meu
redor' continuava, e às vezes me dava uma certa angústia. Será que
nunca voltarei ao estado normal de percepção? (Se é que existe algum
estado normal de percepção...). No final do terceiro dia resolvi ir para
outra praia - 'Calangute'.
Cheguei lá, era bem cedinho, sentei na
areia, frente ao mar, um golfinho brincava à minha frente...
O 'terremoto' estava terminando...
E senti a mesma sensação, longínqua,
quando brincava num final de tarde de verão, à beira-mar, em Atlântida
(praia do litoral gaúcho), com um ano e meio de idade... puro nirvana,
puro êxtase!
Voltando a Poona, e assistindo um discurso
do Osho (da série 'Tao: The Pathless Path), lá pelas tantas Ele falou:
- "Se você acha que eu estou fazendo
alguma coisa, você está redondamente
enganado. Se as coisas estão
acontecendo é porque você está perto de um
mestre, e se você permitir
que elas aconteçam, elas acontecerão mais e mais..."
Fiz o Encounter com Teertha, e alguns dias
depois, tive o último 'Darshan' com Osho.
Já estava voltando ao Brasil e Ele me
perguntou quando eu ia voltar. Disse que não sabia e Ele, num sorriso:
- "You will come back!"
Finalmente aconteceu o aniversário de
iluminação, 21 de março de 1977, inauguração do Buddha Hall... e foi
a última vez que O vi na Índia.
Em janeiro de 1990, Osho deixou o corpo e
dissolveu-se na existência inteira...
Mas a grande aventura continua...
Às vezes bate um vento, a porta do quarto
se abre e o vento parece dizer:
- "Hello Prabhu!"
E a gente responde:
- Hi Osho!
Tudo isso que foi contado aqui é apenas um
vislumbre, porque, de fato, muito mais pode ser dito, quando você se abre
para um Mestre de verdade, quando você se abre para a Existência, quando
você se abre para a chuva de Bênçãos que a vida está a oferecer...
Swami Prabhu
Agosto de 2004
Swami
Prem Prabhu, Mestre em Reiki, vive e trabalha em Brasília, como artista
plástico e terapeuta holístico, sempre procurando alguém para vender os
seus trabalhos e galerias para fazer exposições...
Para um contato com Prabhu, e se você quiser receber gratuitamente um
catálogo explicativo sobre a sua arte:
e-mail: prabhunitya@hotmail.com
website: www.opengate.com/swprabhu
Atelier na SQN 403 - Bloco H - apt. 206 - 70835-080 Brasília
DF
Tel: (61) 326-8218
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