OSHO CONEXÃO BRASIL                                                      setembro de 2004    


Sannyas: uma experiência do dia-a-dia

 

Mensalmente apresentamos nesta seção o depoimento de um discípulo do Osho que adotou a meditação em seu dia-a-dia e aqui compartilha conosco essa sua experiência. O texto abaixo, em negrito e itálico, é sempre de responsabilidade do depoente.
Dúvidas e questionamentos sobre o conteúdo do texto devem ser encaminhados diretamente ao endereço de e-mail do depoente indicado ao final.  
Neste mês estamos apresentando o depoimento do Swami Prem Prabhu. 

Sw. Prabhu, tornou-se sannyasin em 1975. Foi coordenador de um Centro do Osho em Porto Alegre (RS) denominado Purnam RMC. Coincidentemente era o mesmo nome de um outro Centro naquela mesma cidade dirigido pelo Sw, Goutama. Osho mudou então o nome de seu Centro para Amrito e recomendou-lhe que se mudasse para outra cidade. Prabhu mudou-se então para Brasília e em novembro de 1978 promoveu, já na capital federal, o primeiro Campo de Meditação aberto ao público no Brasil. Até então os Campos eram fechados e deles só participavam os sannyasins vinculados a um determinado Centro.

 


 

E aí pessoal?

                     Aquele abraço!

      O Champak me pediu para escrever algumas coisas sobre a minha caminhada como sannyasin, e há muito para ser dito... Porém, a essência deste "muito" pode ser reduzida a uma frase que foi dita por Osho: "A vida não é um enigma a ser resolvido, mas um mistério a ser vivido". E de fato tudo é um grande mistério.


Sw. Prabhu em seu atelier                             .

      Para mim, não há nada mais a fazer senão mergulhar nesse mistério. E, quanto mais a gente se aprofunda, ele fica ainda maior.
      Há muitos anos atrás ( em 1977), Osho me enviou uma carta que dizia: 
            "Eu estou guiando você ao desconhecido. Você não sabe nada sobre ele.
            Você não sabe os seus porquês. E eu não posso fazer você entender
            aonde eu estou te guiando, porque não há maneira de explicar isto. A
            sua própria natureza é inexplicável.
            Assim, você só tem que me amar e confiar em mim, e você só tem que me
            seguir no desconhecido, através daquilo que não é familiar, daquilo que é
            estranho. Você não pode imaginar previamente o que é isto. A única coisa
            a fazer é ir e experienciar".
      E esta tem sido a minha caminhada: o mergulho no desconhecido.
      Dentro desse mergulho, algumas coisas surgiram, como o meu trabalho de arte, que é uma expressão daquilo que vem acontecendo comigo desde que me tornei sannyasin, em 1975. 


A Fabulosa Nebulosa de Tamanduá Lua
(Têmpera acrílica/Tela)

      Eu iria ser um arquiteto, mas depois que voltei da Índia (1976/1977) a minha vida tomou outro rumo. O "ferrolho" que trancava o coração desmontou e surgiu para mim um sentido para a vida mais real e mais verdadeiro, que, no fim das contas, é o que vem me acompanhando desde criança: o espírito de artista. E me tornei um. Reencontrei um canal de expressão totalmente em sintonia comigo mesmo. 
      A partir de então, trabalhei muitos anos com a arte do Batik, que é uma técnica oriental e atualmente faço têmperas, aquarelas e outras técnicas de pintura á base de água.
       O Reiki também tem sido algo de grande importância para mim, não só aplicando, como também iniciando pessoas nessa técnica. 

      Gostaria de falar algumas coisas sobre o tempo em que estive na Índia, mas antes, apenas um recado sobre meditação e os caminhos que a envolvem, e isto porque tenho visto uma pequena confusão sobre esse assunto, ao longo dos anos. 
      Quando Osho falou sobre Lao Tzu e o Tao Te King, na série intitulada "The Three Treasures" (entre 1974 e 1975) ele falou sobre os dois caminhos:
- um deles é o testemunhar, quando você apenas é o observador e tudo o mais é
  a periferia. Este caminho pode ser seguido por 50% das pessoas. Porém, se os
  outros 50% seguirem este caminho, podem se tornar esquizofrênicos pois pode
  haver uma divisão na personalidade. Osho nos fala que isso aconteceu com muitos
  seguidores de Gurdjieff.
- O outro caminho é o oposto. Não há nenhum observador e é só uma questão de
  você ser total. É você ficar totalmente absorvido naquilo que estiver fazendo e
  esquecer o observador e o ato de testemunhar. Aí, não há divisão, você é a única
  energia.
      E como decidir por qual caminho? Fazer aquilo que faz você sentir-se bem. Para mim, o caminho para o Nirvana deve ser prazeroso e, sobre isso, gostei muito de uma outra carta que recebi do Mestre, também em 1977:
            "Lembre-se que minhas meditações não são somente técnicas. Ame-as. 
            Alegria é mais fundamental. Assim, enquanto as estiver fazendo, não 
            carregue seriedade na sua mente. Nada é sério. Leve as coisas mais na
            brincadeira. Enquanto estiver fazendo meditações, não leve a idéia de que 
            você está fazendo um grande trabalho religioso. Não. Você as está 
            desfrutando como uma dança, como uma canção. Faça-as de maneira mais
            engraçada. Então você relaxará mais profundamente e muito mais será possível."

      E agora a Índia...

      Era dezembro de 1976 e eu estava chegando em Poona. O dia amanhecendo , o ônibus chegando e uma misteriosa neblina pairando sobre as árvores... Naquele dia à tarde, dentro do 'Ashram', senti uma enorme alegria, uma 'fragrância' até então desconhecida para mim... Uma 'alegria orgástica'.
      Dias depois, era o 'darshan', o encontro do mestre e discípulo... Um pouco antes das sete da noite, umas 15 ou 16 pessoas no máximo...Maneesha chama um por um, deixamos os sapatos e chinelos ali mesmo, entramos e sentamos no chão. A cadeira à nossa frente ainda está vazia.
      Dali a pouco, entra Mukta, Laxmi, Vivek e Ele, 'namastê', saudando a todos. Laxmi começa a chamar o pessoal. As pessoas chegam, sentam à frente d'Ele, algumas recebem sânias, algumas perguntas, respostas e... silêncio também. 
      Eu estava ali, sentado, esperando a chamada da Laxmi. Lá pelas tantas, ela me chama e, antes de sentar à Sua frente, Ele abre um sorriso e...
      - "Hello, Prabhu!"
      Conversamos sobre algumas coisas, quanto tempo eu ficaria em Poona...
      - 3 meses!
      - "That will do!"
      Me disse que eu iria passar por muitos processos e perguntou pelas terapias. Me falou para fazer o Encounter, danças sufis e mais a terapia primal.
      De repente, ficamos em silêncio, ele me olhando, eu nos olhos dele...
      Depois de um tempo, que pareceu uma eternidade, ele falou aquilo que eu estava precisando ouvir há 'milenia' - era a resposta de todas as minhas perguntas...
      - "Deve-se procurar uma janela, a fim de que o coração possa ser encontrado...
        aquele ponto que prova ser o de menos resistência... e quando o coração é
        encontrado, 'everything goes on'..."
      Dias depois ele começou os discursos sobre 'Kabir'... 'The Heaven is the way to the Heaven'. 
      Pegando uma forte gripe, fui passar uns dias em Goa. Um lugar incrível... beira-mar. Freqüentemente quando caminhava para a praia, não sabia mais quem movimentava o meu corpo, ele se movia sozinho... e este swami onde estaria?
      Voltei a Poona e fiz a terapia primal... 21 dias intensivos. Quando terminaram aqueles 21dias me senti como uma criança novamente, sem pai nem mãe, totalmente solta no mundo.
      Me lembro de estar olhando um livro de estórias de criança, e vendo aquelas ilustrações, aquelas cores, tudo tão mágico, tão divino!
      Peguei nova gripe e retornei para Goa. Era então fevereiro de 1977, praia de Chapora: um dia daqueles, tarde, um sannyasin inglês apareceu e me convidou para tomar um banho de fonte. Descemos para a praia e chegamos a uma fonte, na beira de um morro. Tomei um banho e fomos para a casa dele. Lá chegando, sentei no chão e, no momento em que fechei os olhos, senti o meu ser descer da cabeça para a região do peito, como se um peso muito sutil fizesse aquele percurso. Fiquei um tempinho curtindo aquela sensação...
      Na hora de voltar, levantei e, quando desci os degraus da entrada da casa, senti uma total mudança de percepção. Era como se eu estivesse numa 'viagem' de alucinógenos... mas de uma qualidade totalmente diferente... A terra estava respirando, inalando e exalando... Fiquei com receio de pisar e machucar o chão da floresta; era tudo tão vivo!
      ...'Holy Ground'.
      Era como se o universo estivesse abrindo suas portas para mim.
      Fomos caminhando pelo meio do mato e era tudo tão mágico!... as folhas secas espalhadas pelo chão...
      Voltando à minha casa, já era noite e era tudo muito estranho, o estado de percepção totalmente alterado.
      Na sala, sentei no chão e, quando fechava os olhos, sentia um vazio absoluto e um calor insuportável. Era como se todo o corpo estivesse queimando por dentro. E aquela 'viagem' continuava com toda a intensidade. Estava olhando para uma vela acesa e fiquei com medo de desaparecer naquela chama... estava muito fácil, era só querer!
      Um tempo depois, e isso já era umas nove da noite, alguém bateu à porta. Levantei para atender e caminhei uns dez passos... No momento em que comecei a caminhar, senti o corpo desaparecer e se transformar em pura luz. Não era mais o corpo caminhando e sim um halo de luz, claro e brilhante, uma sensação muito suave e sutil... Um vislumbre do 'outro lado do Oceano', daquilo que é o sonho mais longínquo e mais acalentado do ser humano...
      Nos três próximos dias, aquela sensação de ainda estar vivendo num 'espaço diferente daqueles que estão ao meu redor' continuava, e às vezes me dava uma certa angústia. Será que nunca voltarei ao estado normal de percepção? (Se é que existe algum estado normal de percepção...). No final do terceiro dia resolvi ir para outra praia - 'Calangute'.
      Cheguei lá, era bem cedinho, sentei na areia, frente ao mar, um golfinho brincava à minha frente...
      O 'terremoto' estava terminando...
      E senti a mesma sensação, longínqua, quando brincava num final de tarde de verão, à beira-mar, em Atlântida (praia do litoral gaúcho), com um ano e meio de idade... puro nirvana, puro êxtase!
      Voltando a Poona, e assistindo um discurso do Osho (da série 'Tao: The Pathless Path), lá pelas tantas Ele falou:
      - "Se você acha que eu estou fazendo alguma coisa, você está redondamente
         enganado. Se as coisas estão acontecendo é porque você está perto de um 
         mestre, e se você permitir que elas aconteçam, elas acontecerão mais e mais..."
      Fiz o Encounter com Teertha, e alguns dias depois, tive o último 'Darshan' com Osho. 
      Já estava voltando ao Brasil e Ele me perguntou quando eu ia voltar. Disse que não sabia e Ele, num sorriso:
      - "You will come back!"
      Finalmente aconteceu o aniversário de iluminação, 21 de março de 1977, inauguração do Buddha Hall... e foi a última vez que O vi na Índia.
      Em janeiro de 1990, Osho deixou o corpo e dissolveu-se na existência inteira...
      Mas a grande aventura continua...
      Às vezes bate um vento, a porta do quarto se abre e o vento parece dizer:
      - "Hello Prabhu!"
      E a gente responde:
      - Hi Osho!
      Tudo isso que foi contado aqui é apenas um vislumbre, porque, de fato, muito mais pode ser dito, quando você se abre para um Mestre de verdade, quando você se abre para a Existência, quando você se abre para a chuva de Bênçãos que a vida está a oferecer...

                                                                                   Swami Prabhu

                                                                                                              Agosto de 2004


Swami Prem Prabhu, Mestre em Reiki, vive e trabalha em Brasília, como artista plástico e terapeuta holístico, sempre procurando alguém para vender os seus trabalhos e galerias para fazer exposições...
Para um contato com Prabhu, e se você quiser receber gratuitamente um catálogo explicativo sobre a sua arte:
e-mail: prabhunitya@hotmail.com
website: www.opengate.com/swprabhu
Atelier na SQN 403 - Bloco H - apt. 206  -  70835-080 Brasília DF
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