Amor,
Sexo, Relações e Relacionamentos
na Comuna de Osho
Sempre fomos ensinados a amar os outros: amar a Deus, amar a natureza,
amar a humanidade, amar a esposa, amar os pais, amar os filhos. Não podíamos
imaginar que isso não passava de um truque ardiloso arquitetado pelas
religiões para nos manter espiritualmente débeis e fracos, para nos explorar. Parece absurdo, e é um absurdo! mas é o
que acontece.
O papa, os assim chamados santos, os políticos, os líderes religiosos,
declaram que amam a humanidade. Afirmam que estão orando e trabalhando
com amor pela paz e pela salvação do homem. De acordo com as religiões
amar a si mesmo é ser egoísta.
Aqui
na comuna de Osho em Puna aprendemos a amar a nós mesmos. Aprendemos a
aceitar a nós mesmos como somos. Aprendemos que amando a nós mesmos o
ego desaparece, evapora. Como fruto da meditação, aprendemos que só
amando a nós mesmos temos algo para compartilhar com os outros.
Segue
a tradução do trecho de um discurso de Osho sobre o assunto:
Amar
a si mesmo
"Amor
é a única religião, o único Deus, o único mistério que tem que ser
vivido, entendido. Quando o amor é entendido, você entendeu todos os
mistérios do mundo.
Não é algo difícil. É
tão simples como as batidas do seu coração ou como sua respiração.
Você nasce com ele, ele não é dado a você pela sociedade. O amor é
o alimento da alma. Assim como a comida é
para o corpo, o amor é para a alma. Sem comida o corpo enfraquece, sem
amor a alma enfraquece. E nenhum estado, nenhuma igreja e nenhum
interesse investido jamais quiseram que as pessoas tivessem almas fortes
pois uma pessoa com energia espiritual está fadada a ser rebelde.
O
amor o faz rebelde, revolucionário. O amor lhe dá asas para voar alto.
O amor lhe dá insight nas coisas, assim ninguém pode enganá-lo,
explorá-lo, oprimi-lo. E os padres e os políticos só sobrevivem com o
seu sangue – eles só sobrevivem na exploração. Eles são parasitas,
todos os sacerdotes e todos os políticos.
Para
torná-lo espiritualmente fraco eles descobriram um método seguro, cem
por cento garantido, e esse é ensinar a você a não amar a si mesmo
– pois se um homem não pode amar a si mesmo ele também não pode
amar a mais ninguém. O ensinamento é muito ardiloso. Eles dizem: Ame os
outros – porque eles sabem que se você não puder amar a si mesmo você
não poderá amar de maneira alguma. Mas eles continuam dizendo: Ame os
outros, ame a humanidade, ame a Deus, ame a natureza, ame sua esposa,
seu marido, seus filhos e seus pais, mas não ame a si mesmo, porque,
segundo eles, amar a si mesmo é egoísta.
Eles
condenam o amor-próprio mais do que qualquer outra coisa – e eles
fizeram seu ensinamento parecer muito lógico. Eles dizem: Se você amar
a si mesmo você se tornará um egoísta, se você amar a si mesmo você
se tornará um narcisista. Isso não é verdade. Um homem que ama a si
mesmo descobre que não existe nenhum ego nele. É amando os outros sem
amar a si próprio, é tentando amar os outros que surge o ego.
Um
homem que ama a si mesmo respeita a si mesmo e um homem que ama e
respeita a si próprio respeita os outros também, porque ele sabe,
‘Assim como eu sou, os outros também são. Assim como gosto do amor,
do respeito, da dignidade, os outros também gostam’. Ele torna-se cônscio
de que não somos diferentes, no que diz respeito ao essencial, nós
somos um. Estamos debaixo da mesma lei: Es dhammo sanantano.
O homem
que ama a si mesmo desfruta tanto do amor, torna-se tão contente, que o
amor começa a transbordar, começa a afetar os outros. Tem que afetar!
Se você vive o amor, você começa a compartilhá-lo. Você não pode
continuar a amar a si mesmo para sempre porque uma coisa ficará
absolutamente clara para você: que se amando você mesmo é
um êxtase tão tremendo e tão belo, tanto mais êxtase estará
esperando por você se você começar a compartilhar seu amor com muitas
pessoas!
Lentamente
as ondulações começam a se expandir cada vez mais longe. Você ama
outras pessoas; daí você começa a amar os animais, os pássaros, as
árvores, as pedras. Você pode preencher todo o universo com o seu
amor. Um simples indivíduo é suficiente para encher todo o universo
com amor, assim como um simples seixo pode encher todo o lago de ondulações
– um pequeno seixo.
O
amor começa com você mesmo, assim ele pode se espalhar. Ele vai
se espalhando à sua própria maneira; você não precisa fazer nada para
espalhá-lo. Crie energia ao redor de si mesmo. Ame seu corpo e ame sua
mente. Ame todo seu mecanismo, todo seu organismo.
“Ame
a si mesmo... “ Diz Buda. E então imediatamente ele
acrescenta:...”e observe”. Isso é Meditação, esse é o nome de
Buda para a meditação.
Sócrates
diz: Conhece a ti mesmo, Buda diz: Ame a si mesmo. E Buda é muito mais
verdadeiro porque a menos que você ame a si próprio você nunca
conhecerá a si mesmo – conhecer só vem mais tarde, o amor prepara o
terreno. Amar é a possibilidade de conhecer a si mesmo. O amor é a
maneira certa de conhecer a si mesmo."
Osho - The
Way of the Buddha
Sexo
como Diversão
Algumas pessoas ficam intrigadas quando chegam na comuna para
registrar-se no centro de boas-vindas – um teste de AIDS é exigido
– logo elas imaginam que essa exigência é devido ao sexo ser
livre na comuna.
Na verdade, o
teste de AIDS foi instituído por Osho no início dos anos oitenta quando
a doença começou a se espalhar pelo mundo. Ele declarou na ocasião
que a comuna seria uma zona livre de AIDS.
Relacionamentos entre
visitantes
realmente acontecem aqui na comuna. Mas aqui está longe de ser o ‘paraíso do amor’.
Os primeiros impedimentos são os próprios condicionamentos,
inibições e repressões de cada um. As pessoas os receberam em seus
ambientes originais e os trazem para a comuna.
Depois
vale ressaltar que a comuna está situada na Índia – uma sociedade
sexualmente reprimida. A nudez, por exemplo, não é permitida na comuna. Além
disso o lugar não é mais oficialmente tido como uma comuna e sim, como
um resorte de meditação. O namoro, o sexo não são reprimidos, mas também
não são abertamente incentivados no resorte.
Osho
foi taxado de ‘guru do sexo’ pela imprensa mundial porque declarou
que o sexo era algo divino. O próprio Osho se dizia o maior inimigo que
o sexo já teve pois ensinava que o sexo pode ser transcendido não
através da renúncia, não pela repressão, mas pela sua compreensão
mediante a prática intensa,
apaixonada, total do mesmo. E fazer isso de um modo divertido, nada sério.
Essa é a única maneira de ir além do sexo.
Vejamos como Osho aborda a questão do sexo em um dos seus discursos:
“Isso
é seu condicionamento: Você ouviu tantas vezes que sexo é pecado, que
sempre que você faz amor, esse condicionamento imediatamente surge
entre você e sua amante. Você começa a sentir-se culpado e sério.
Você está fazendo algo contra todos os grandes religiosos do mundo.
Você
está sozinho, um ser humano minúsculo, pequeno e você está contra a
história inteira de milhares de profetas e messias de todos os lugares,
de todas as nações. Naturalmente você se torna sério e sua seriedade
faz você sentir-se morto. Seriedade pertence aos mortos. Você já viu
algum morto rindo? Ou mesmo sorrindo? O riso pertence a vida; seriedade
é parte da morte.
A
pessoa viva é sempre brincalhona, não séria. E porque eu digo que
fazer amor não é outra coisa senão diversão... lhe disseram que é
pecado e eu estou lhe dizendo que é diversão. A diferença é tamanha
que você fica perplexo. Não é pecado, se fosse pecado, a existência
o teria criado sem suas genitálias. Qual era a necessidade? A
natureza encontraria algum outro modo de produzir crianças.
A
existência não é contra o sexo. Você precisa estar cônscio do fato
de que isso não é só com relação a humanidade...
Os pássaros, os
animais, toda a existência depende do sexo para dar nascimento à vida.
É
por isso que digo que sexo é brincadeira, é divertimento.
Você não pode aceitar a idéia de diversão devido ao seu
condicionamento de que é um pecado. Isso é um salto quântico do
pecado para a diversão! Mas que posso fazer? Sexo é divertimento.
Meu próprio entendimento é,
se sexo tornar-se diversão, as prostitutas irão desaparecer do mundo.
Não há nenhuma necessidade de qualquer mulher descer tão baixo para
vender seu amor. Ao menos deixe uma coisa, o amor, fora do sistema de
mercado – apenas uma coisa que não é um produto. O amor não tem um
rótulo com o preço nele. Ele é imensamente valioso, mas não tem
nenhum preço.
Foram os sacerdotes que forçaram milhões de mulheres a serem
prostitutas pois eles criaram a idéia do pecado na mente delas. Todas
essas coisas estão interconectadas. E eu sempre vou até a própria raiz.
É por isso que enfatizo, deixe que o sexo seja uma brincadeira, uma
diversão.
E
desde a invenção da pílula, não há nenhum problema, você não
precisa preocupar-se com filhos. Agora é totalmente diversão, sem
qualquer responsabilidade, sem qualquer
problema resultante disso. Desfrute-o! Deixe sua mente de lado.
Diga ao padre que está continuamente em sua mente, falando a você
blá, blá, blá, – Vá para o inferno!
Você
está fazendo amor e o padre está dando seu sermão dominical! Não,
amor é um fenômeno tão bonito que você deve aprender a arte de amar,
assim como você deve aprender a arte de viver.
Criar
um espaço divertido para o amor
Se você puder fazer isso, seu quarto para o amor deve ser separado,
pois é um templo.
E quando você entrar no quarto do amor, você deve deixar seus calçados
fora – e suas cabeças também; basta deixá-las nos sapatos. E antes
de fazer amor, tome um bom banho, fique limpo. Medite por alguns
minutos. Faça disso uma bela experiência.
Deixe que o
quarto seja iluminado não por eletricidade, mas por velas. Deixe que
haja alguma fragrância assim como nos templos; queime fragrância
(incenso). E no quarto de seu amor, nunca faça outra coisa – nenhuma
luta, nenhuma discussão. Se você não estiver de bom humor, então é
melhor não entrar no quarto do amor.
Você está inconsciente
de muitas coisas... a mesma cama na qual o marido e a esposa dormem,
eles brigam ali, eles discutem, eles jogam travesseiros um no outro, e
depois eles também fazem amor – na mesma cama.
Eles não
compreendem que cada ação, cada pensamento, cada sentimento tem sua própria
vibração. O quarto do amor deve ficar cheio da vibração do amor.
Seja brincalhão, alegre. É simplesmente uma questão de entendimento
que está acontecendo a você, e o próprio entendimento irá mudar a
coisa toda”.
Osho: From Death to Deathlessness
Relações
& Relacionamentos
Os
relacionamentos aqui na comuna geralmente são
temporários. A maioria dos visitantes – sejam sannyasins, turistas ou
apenas curiosos – estão aqui de passagem por algum tempo. Muitos em
busca de crescimento espiritual através da meditação, outros vieram
para participar dos cursos e terapias oferecidos aqui pela Osho
Multiversity, outros atraídos pelo relacionamento com estrangeiros de
todas as partes do planeta e alguns outros são turistas de
passagem pelo resorte.
Naturalmente,
depois de certo período, eles precisam retornar para suas casas, suas
famílias, para seus afazeres, etc...
Logo você
descobre que os relacionamentos aqui na comuna, apesar de intensos, não
são tão duradouros.
Neste discurso
Osho fala sobre a diferença entre relacionar-se e relacionamento:
“Porque
reduzimos a beleza do relacionar-se a um relacionamento?
Porque relacionar-se é inseguro e relacionamento é seguro. O
relacionamento tem uma certeza.
Relacionar-se é apenas um encontro de dois estranhos – talvez por
apenas uma noite juntos – e de manhã dizemos adeus. Quem sabe o que
irá acontecer amanhã? Ficamos tão
assustados que queremos fazer disso uma coisa certa; queremos tornar
isso algo previsível. Gostaríamos que amanhã fosse de acordo
com nossas idéias; não permitimos que a liberdade tenha seu próprio
modo de dizer. Imediatamente reduzimos cada verbo a um substantivo.
Você
está apaixonado por uma mulher ou por um homem e imediatamente você
começa a pensar em casar-se – tornar isso um contrato legal. Porque?
Como a lei vem para o amor? A lei chega para o amor porque o amor não
está presente. É apenas uma fantasia, e você sabe que a fantasia irá
desaparecer. Antes que isso desapareça estabeleça-se. Antes que isso
desapareça faça alguma coisa para que seja impossível separar.
Confiar
no Amor
Num mundo melhor, com pessoas mais meditativas, com um pouco mais
de iluminação espalhado pela terra, as pessoas irão amar imensamente,
mas o amor delas permanecerá um relacionar-se, não um relacionamento.
Não estou dizendo que o amor delas será somente momentâneo. Existe
toda possibilidade de que o amor delas se aprofunde mais do que seu
amor, possa ter uma qualidade de intimidade mais elevada, algo mais poético
nele. Há toda possibilidade de que o amor delas possa durar mais tempo
do que o seu chamado relacionamento: Contudo, isso não estará
garantido pela lei, pela corte, pelo policial.
Esqueça
dos relacionamentos e aprenda como relacionar-se. Uma vez que vocês estão
num relacionamento, vocês começam a tomar um ao outro como coisa certa.
Isso é o que destrói todos os casos de amor. A mulher pensa que ela
conhece o homem, o homem pensa que conhece a mulher. Ninguém conhece.
É impossível conhecer o outro; o outro permanece um mistério. Tomar o
outro como certo é insultante, desrespeitoso.
Pensar
que você conhece sua esposa é bem desagradável. Como você pode
conhecer a mulher? Como você pode conhecer o homem? Eles são
processos; não são coisas. A mulher que você conheceu ontem não está
aí hoje. Tantas águas desceram pelo Ganges; ela é outro alguém,
totalmente diferente.
Relacione-se
de novo, comece novamente, não a tenha como coisa certa.
Olhe para o homem que você dormiu com ele na noite passada. Olhe para o
rosto dele novamente pela manhã. Ele não é mais a mesma pessoa. Tanta
coisa mudou. Essa é a diferença entre uma coisa e uma pessoa. A mobília
no quarto é a mesma, mas o homem e a mulher, eles não são mais os
mesmos. Explore novamente. Comece de novo. Isso é o que quero dizer com
relacionar-se.
Relacionar-se
significa que você está sempre começando: você está continuamente
tentando ficar familiarizado. De novo e novamente, vocês estão
apresentando-se um ao outro. Vocês estão tentando ver muitas facetas
da personalidade do outro. Vocês estão tentando penetrar cada vez mais
fundo na esfera dos sentimentos internos um do outro. Vocês estão
tentando desemaranhar um mistério que não pode ser desemaranhado.
A
Constante Aventura do Amor
Essa é a alegria do amor: A exploração da consciência. Se
você relaciona-se, e não reduz isso a um relacionamento, assim o outro
tornar-se-á um espelho para você. Explorando-o você estará
explorando a si mesmo também. Aprofundando-se no outro, conhecendo seus
sentimentos, seus pensamentos, seus mais profundos movimentos, você
estará conhecendo suas mais profundas agitações também. Amantes
tornam-se espelhos um para o outro, e assim o amor torna-se uma meditação.
Relacionamento é feio, relacionar-se é belo.
No
relacionamento, ambos ficam cegos um para o outro. Basta pensar; quanto
tempo faz que você olhou para sua esposa olho no olho? A quanto tempo
você não olha para seu marido? Talvez anos. Quem olha para a própria
esposa? Você já tem como certo que a conhece. Que há mais lá para
olhar? Você está mais interessado nos estranhos do que nas pessoas que
você conhece – você já conhece toda a topografia do corpo dela, você
sabe como ele responde, você sabe que tudo que aconteceu irá
repetir-se novamente e novamente. É um ciclo repetitivo.
Isso
não é realmente assim. Nada nunca se repete; tudo é novo a cada dia.
Somente seus olhos envelhecem, sua presunção envelhece, seu espelho
acumula poeira e você se torna incapaz de refletir o outro. Desse modo
eu digo, relacionem-se. Ao dizer relacionem-se eu quero dizer permaneçam
continuamente numa lua de mel. Prossigam procurando, buscando um ao
outro, encontrando novas maneiras de amar um ao outro, encontrando novas
maneiras de estar um com o outro. E cada pessoa é um mistério tão
infinito, inexaurível, insondável, que jamais será possível que você
possa dizer, “eu a conheci”, ou, 'eu o conheci'. No máximo você
pode dizer, 'eu tentei o melhor que pude, mas o mistério permanece um
mistério'.
Na verdade, quanto mais você conhece mais o outro se torna
misterioso.
Desse modo o amor é uma aventura constante”.
Osho: The Book of Wisdom
Puna,
31 de agosto de 2003
Swami
Prasado
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