Cheguei no início de dezembro, época em que a maior parte das pessoas começa
a chegar para a chamada “alta estação”, de dezembro a fevereiro. Ao
longo do mês, a cada dia havia um grande grupo de pessoas chegando,
culminando com o período do Ano Novo, celebrado com uma grande festa ao ar
livre.
Há
bem mais brasileiros do que no ano passado, provavelmente devido ao dólar
mais barato. Em compensação, os preços do Resort subiram bem mais do que a
inflação indiana, reforçando o sentimento de muita gente de que este lugar
não é mais um ashram ou uma comuna, mas realmente um resort. Apesar disso,
continuo achando que é um lugar maravilhoso para estar se a gente aprende a
ver aquilo que está acontecendo no momento, ao invés de comparar com o que já
foi ou com o que achamos que deveria ser.
Reconheço
muitas faces familiares de vários anos atrás, mas também vejo muitas
pessoas que estão chegando pela primeira vez ou que começaram a vir mais
recentemente. Algumas destas parecem não se encaixar ou não se sentir muito
à vontade, enquanto que outras parecem “embarcar na onda” logo que
chegam. De certa forma, contrastes, opostos aparentemente conflitantes, altos
e baixos sempre estiveram presentes por aqui. Vejo, vivo e sinto situações
que me transportam imediatamente para o mesmo espaço interior que vivi alguns
atrás quando Osho estava fisicamente presente e, às vezes, sinto um espaço
bem diferente. Sob muitos aspectos não é mais realmente um ashram centrado
na figura do Mestre. As fotos do Osho, outrora presentes em toda parte, não
mais são vistas em lugar algum. Entretanto, a sua visão e orientação
parecem continuar presentes nos grupos de terapia, nas meditações e no Evening
Meeting (Encontro Noturno), que antes tinha o pomposo e esotérico nome de
Encontro da Fraternidade dos Robes Brancos.
Outra
coisa que mudou foi o Sannyas Celebration, a celebração onde os novos
discípulos do Osho recebem a iniciação, adotando um novo nome. Este nome
era escolhido pelo próprio Osho e, mais tarde, por alguns de seus, digamos
assim, “representantes”. Agora o nome de sannyas perdeu um pouco de
seu mistério. Você pode simplesmente escolher o seu nome numa lista. A história
do mala, o colar de contas com a foto do Osho, também está diferente.
Agora não mais se recebe o mala durante a iniciação e ele sequer está
disponível para ser adquirido no Resort. Quem quiser usá-lo, deve adquiri-lo
em alguma loja no lado de fora. Os tempos de mistério e esoterismo talvez
tenham se esgotado, o que leva muitas pessoas a buscar experiências “místicas”
nas mãos das dezenas de supostos “iluminados” que pululam em Puna, no
Brasil e na Europa e se multiplicam como cogumelos, que crescem da noite para
o dia, à sombra da grande árvore que Osho deixou plantada.
A
cerimônia de iniciação tornou-se mais simples. Depois de iniciar com música
ao vivo bem vibrante, todo mundo dança, depois faz-se silêncio e as pessoas
que receberão o sannyas são chamadas em grupos de 5 ou 6 para sentar
no centro do auditório em forma de pirâmide. São tocados trechos de
discursos do Osho onde ele fala sobre o significado do sannyas,
seguidos de alguns minutos de silêncio e então música suave. Neste momento,
os amigos de cada pessoa que recebe a iniciação sentam-se ao seu redor numa
calorosa acolhida. A música segue num crescendo até que todos se levantam e
recomeçam a dançar.
O
que mais me impressiona é que, apesar da simplicidade da cerimônia, uma incrível
energia amorosa parece preencher todo o auditório, emocionando, tocando todos
os corações. Observo tantas pessoas de origens tão diversas, de todas as
idades, rindo, pulando e dançando de uma forma tão genuína e inocente, como
crianças tomadas de uma alegria incontida. Lágrimas de alegria me correm
pela face, um calor no peito, uma suavidade silenciosa me percorre todo o
corpo. Se eu não fosse cético, chegaria a acreditar que, nestes momentos,
uma luz amorosa parece descer do topo da pirâmide envolvendo todo o auditório
num cone de luz amorosa, como se o próprio Osho estivesse presente aqui mais
uma vez.
Ansu
.
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