Conexão Brasil                                                      dezembro de 2006
 

 

Notícias de Puna


O Osho Conexão Brasil volta a apresentar, durante alguns meses, notícias diretamente do Resort de Meditação do Osho, em Puna. O nosso amigo Ansu que nos brindou com duas matérias recentemente, relatando sua experiência em visitas que fez àquela comuna do Osho, está de volta à Índia. E nos enviou seu primeiro artigo, antes mesmo de chegar a Puna. 

 

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O melhor caminho entre dois pontos é uma curva

      Minha recentemente despertada paixão pelas montanhas levou-me a trilhar o caminho mais longo até o Osho Meditation Resort, em Pune, Índia. Resolvi esticar minha viagem para voltar aos Himalayas, onde eu havia estado pela primeira vez um ano antes. Do Brasil ao Nepal, peguei 4 vôos diferentes e, alguns dias 

após chegar a Kathmandu, eu já estava numa jornada a pé pelas montanhas mais altas do planeta, que durou exatamente 21 dias, o ciclo que Osho recomenda para experimentar os reais efeitos de suas técnicas de meditação.
      De fato, trekking em montanhas é uma atividade muito próxima, ou equivalente, à meditação. Não por acaso, os Himalayas estão presentes em histórias, mitos e metáforas de textos sagrados antigos do budismo e do hinduísmo desde os Vedas, em épicos indianos como o Mahabharata, uma fantástica obra literária ainda pouco conhecida no Ocidente, e em muitas estórias contadas pelo Osho. As montanhas da Índia, Nepal e Tibet sempre foram refúgios de silêncio e solitude buscados por antigos mestres para atingir a iluminação. Ainda hoje, nas suas trilhas encontram-se marcas de passagens de buscadores de outros tempos em toda parte. Mosteiros, templos, estupas (monumentos budistas construídos para abrigar lamas ou mestres enterrados) e até a caverna onde Milarepa meditava, um personagem que Osho freqüentemente menciona.
      As longas caminhadas diárias por mais de 300 quilômetros para cruzar a Grande Cordilheira dos Himalayas muitas vezes me lembravam e me faziam sentir ora como a Meditação Dinâmica, ora como a Vipassana. Nas íngremes e intermináveis subidas que, vistas de baixo, pareciam impossíveis, deve-se aprender a caminhar lenta e persistentemente. Nada mais parece existir no mundo além da necessidade de dar o próximo passo. O fôlego parece estar no seu limite, qualquer conversa, qualquer simples troca de palavras faz-nos perder o fôlego, então o melhor é caminhar silenciosamente. Muito parecido com a Vipassana, onde tudo o que parece existir é a próxima respiração. Nos intervalos, a possibilidade da não-mente, da ausência de si mesmo.
      Acima dos 4.000m, o esforço torna-se cada vez mais intenso, é necessário inspirar mais fundo e num ritmo cada vez maior para absorver a quantidade de oxigênio necessário. Esforço, dor, desconforto. De repente, a alegria intensa de vislumbrar os cumes nevados das montanhas com mais de 8.000m de altura, de caminhar na neve fofa, no ar e silêncio cristalinos. Em tudo me lembra a Dinâmica!
      Depois de 3.500m de altura, deixamos para trás as últimas vilas habitadas e restam à frente apenas algumas esparsas contruções simples que são as pousadas para os montanhistas. Na pousada mais alta em que dormimos, a 4.500m, ao me acomodar no meu saco de dormir, contemplo meu cabelo sujo, meu rosto inchado devido à baixa pressão atmosférica, vejo as unhas da mão pretas de sujeira, sinto os odores de todos os fluidos do meu corpo depois de 6 dias sem banho e imediatamente a imagem romântica dos muitos mestres meditando nas suas cavernas se desfaz como a neve sob o sol.
      No dia seguinte, seguimos montanha acima antes do sol raiar para tentar atingir o ponto mais alto da Cordilheira, a 5.416m, onde é possível passar para o outro lado. Meu guia de montanha me avisa para guardar a garrafa d´água dentro da mochila para a água não congelar. São cerca de 11 horas de caminhada até encontrar um lugar seguro para dormir do outro lado, sem comer nada no caminho porque não há nada na aridez gelada da montanha e também porque a náusea e a tontura causadas pela altitude me impedem de comer qualquer coisa ao longo de todo o dia. Pergunto-me o que busco. Silêncio, nenhuma resposta. Então aparece em minha mente o mantra Satyam, Shivam, Sundram (Verdade, Bondade, Beleza). Acho que busco apenas a Beleza, pois o Belo está sempre próximo da Verdade, como dizem as escrituras mais antigas desta terra plena de sabedoria incomum.
      Duas semanas depois, enquanto escrevo sentado ao sol no terraço de um hotel, ainda no Nepal, sinto-me imensamente feliz por ter vivido esta experiência, mas também porque ainda tenho pela frente uma estada no Osho Resort, onde se pode meditar com todo o conforto que o mundo moderno pode oferecer, encontrar amigos, tomar um café expresso, comer uma boa pizza, dançar, se divertir e, quem sabe, atingir alguns cumes de consciência, aos quais aqueles pobres buscadores da antigüidade tinham que penar para tentar chegar.

                                                                                          Ansu    

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