Na época
de maior calor, de março a maio, e das chuvas de monções,
de junho a setembro, o resort
fica gradualmente mais vazio, com poucos grupos acontecendo
e suas atividades mais centradas no pessoal residente, os
que moram dentro da comunidade e lá trabalham em período
integral. De outubro a novembro, pouco a pouco, novos
visitantes chegam para diferentes períodos, de algumas
semanas a vários meses. Mas a chamada “alta estação”
só acontece mesmo de fins de dezembro a fevereiro, quando
os principais grupos acontecem e o ashram fica mais
fervilhante de gente vinda de todo o mundo como pássaros
migratórios que numa determinada época do ano recebem um
misterioso chamado para retornar.
Quando
cheguei, a maioria dos pássaros ainda não havia chegado,
mas já havia um astral ao mesmo tempo tranqüilo e
divertido, com algumas vantagens: bastante espaço durante
as meditações no auditório, ótimas e concorridas festas
noturnas, quando parecia que “todo mundo” estava lá, e
poucas filas nos restaurantes e no café. Alguns brasileiros
mais jovens que encontrei estavam até meio decepcionados
com uma atmosfera tão cool, quer dizer, sem aquele constante faiscar de olhares, paqueras,
encontros, namoros, etc, que se tornam mais freqüentes no
período da alta estação. Não foi o caso de Nalini, uma
brasileira de Santa Catarina que, em viagem pelo Oriente,
chegou ao ashram em maio, tornou-se residente e começou a
trabalhar no departamento de eventos. Sempre animada, ela e
o restante do pessoal responsável por organizar as festas,
shows e apresentações em geral, criavam decorações novas
a cada festa que acontecia, organizavam noites com shows de
variedades do tipo “venha e apresente o seu talento”,
onde vale qualquer talento ou falta do mesmo, o que torna a
coisa ainda mais divertida. Também não foi o caso de
Antonello, um empresário italiano que conheci na viagem de
volta ao aeroporto de Bombaim e que havia ficado por apenas
21 dias, mas saía extasiado. Casado com uma brasileira de
Fortaleza, falava um português perfeito com o melhor
sotaque nordestino. Contou-me que viera sozinho, não falava
inglês e não conhecia ninguém, então não havia restado
outra alternativa a não ser meditar... Fez dinâmica,
kundalini e a
meditação noturna todos os dias e acabou fazendo um grupo
e se entrosando. Saiu fascinado, vivendo um pouco daquilo
que ele havia lido avidamente em dezenas de livros do Osho.
Na
verdade sempre me surpreendo como se pode ficar tanto tempo
num lugar relativamente pequeno para o número de pessoas
que o freqüentam. Qual é exatamente a atração deste
local? Nunca sei o que responder quando as pessoas me
perguntam porque sempre viajo para a Índia, mas acho que é
um pouco de cada coisa, das pessoas que se conhece aos
alegres dancings
ao ar livre durante o dia, das animadas festas à noite ao
silêncio na entrada da meditação noturna com a pirâmide
de mármore negro iluminada sob focos de luzes cambiantes e
coloridas, pairando refletida no lago artificial a sua
frente, sendo preenchida com a procissão surreal de seres
de longas vestes brancas caminhando lenta e silenciosamente
como almas em direção ao outro mundo. Na meditação
noturna, depois que todos entram e se sentam, um conjunto
começa a tocar uma música calma e meditativa, de ritmos
orientais e ocidentais em harmoniosa fusão, que vai num
crescendo até que todo o auditório começa a dançar
freneticamente. Fim da música, silêncio. A música recomeça
e tudo se repete por três vezes. Ao final, sentamos em
meditação, assistimos a um vídeo com discurso do Osho,
fazemos a gibberish, que pode terminar em total silêncio ou com mais música
bem animada para dançar. Trocamos as roupas brancas
especiais para esta meditação e voltamos aos trajes
“civis”. Depois do jantar à luz de velas em mesas
espalhadas pelos jardins do ashram ao redor da pirâmide, a
noite pode trazer alguma outra meditação ou pode ser outra
noite de festa, de um novo encontro ou de estar só. O
eterno ciclo de euforia e silêncio continua, a cada dia uma
surpresa para aqueles que têm olhos e coração atentos
para senti-las.
Ansu
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