De volta ao Osho
Ashram
Os sinais de uma das mais festejadas economias
emergentes estão presentes em qualquer cidade de grande
porte na Índia. Não seria diferente em Pune, a cidade que
Osho escolheu para erigir um local destinado a desenvolver a
sua visão do que ele chamou de “O Novo Homem”.
Muito tráfego, poluição, riquishás barulhentos em
toda parte, vendedores ambulantes e mendigos em meio a
modernos prédios e shopping centers, pequenos templos nas
esquinas fumegantes de incensos, camelos de aluguel para
passeios e até um elefante portando um cartaz de propaganda
andando calmamente em meio ao trânsito. Como diz o escritor
Salman Rushdie, “a Índia é o caos que faz sentido”.
Tudo acontece ao redor da tranqüilidade do Osho Ashram,
depois chamado de Osho Commune, agora de Osho Resort, o seu
nome mais recente. Apegado ao passado de outras estadas por
lá, continuo a chamá-lo simplesmente de “ashram”.
Depois de 7 anos sem aparecer, enquanto eu esperava o
resultado do meu teste de AIDS na recepção, pensava nos
paralelos e nas diferenças entre o ashram e os centenários
mosteiros do budismo tibetano que eu recém havia visitado
no Himalaia indiano e no Nepal. O frescor da atmosfera do
ashram lembrava-me o silêncio e a beleza das semanas
anteriores em que eu havia caminhado por dias a fio nas
trilhas das montanhas mais inebriantes do planeta. Assim
como nos mosteiros, os discípulos do Osho vestem longas túnicas
cor de vinho, fazem várias meditações por dia, às vezes
iniciando antes do sol raiar, e estão envolvidos numa
busca. Mas as semelhanças param por aí. Os sannyasins do
Osho não perdem uma oportunidade de paquerar, namoram,
fazem grupos de terapia, dançam e se divertem nas festas
que acontecem duas vezes por semana no próprio ashram, ao
som do melhor música eletrônica.
Depois de alguns dias sentindo-me um pouco deslocado,
sensação inicial comum em quem chega pela primeira vez,
logo me sinto à vontade com as novidades, como o grande
auditório climatizado em forma de pirâmide onde acontecem
as principais meditações e o “vazio” do piso de mármore
que restou do antigo auditório ao ar livre onde o Osho
falava e vinha para o encontro dos Robes Brancos. Depois de
tantos anos, fico dividido entre a sensação de estar
chegando pela primeira vez e as inevitáveis comparações
com o ashram de alguns anos atrás quando Osho percorria
estes caminhos.
Dentre as coisas que não mudaram estão a constante
alegria apenas por circular pelo ashram e observar as tantas
pessoas de diferentes origens com um astral que raramente se
vê em outros lugares, as várias oportunidades para dançar
nas mais diversas horas do dia, durante ou fora das meditações,
tomar um capuccino no café-bar onde sempre se encontra
algum amigo. Uma atmosfera docemente estranha e familiar,
alternando silêncio e um clima de festividade, me deixam
com lágrimas de gratidão por voltar a este espaço. Desta
vez, eu havia viajado ao Oriente com outros planos, iria
apenas “passar” por Pune para ver o que andava
acontecendo, mas terminei ficando por 40 dias, até esgotar
o período da minha viagem. Escrevendo agora no Brasil, já
com planos de voltar novamente quando puder, lembro as
palavras de um amigo que também gostou de descobrir que o
ashram ainda tem a sua “magia” e que dá uma vontade
danada de estar lá.
Ansu
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